Busque Saber

17.1.07

Saudade, Alegria e Esperança!




Por aqui o dia estava bonito ontem, 8° com sol e céu de brigadeiro. À noite, encontrei-me pela última vez com minhas amigas e meus amigos estudantes estrangeiros. Vou sentir muita saudade deste povo querido que veio em busca de ser "mais gente" nestas terras estranhas. Perguntei para uma das meninas pelo porquê de tanto sacifício. Durante nosso diálogo, deixei-lhe claro que me impressionava com tanta coragem, tanta disposição ao sacrifício. Sim, por que não é fácil deixar-se a parentela, o lar aquecido pelo carinho dos pais e a cultura encarnada para, aqui, mergulhar nestas terras "geladas" e depois estudar, estudar, estudar... Sua resposta foi simples: "No meu país só as pessoas riquíssimas têm chance de visitar uma universidade. É por isso que me submeto a isso tudo."

Conversas assim mexem muito comigo. No Brasil só poucos têm acesso à Unversidade. Melhor, somente a turma que passou por um boníssimo Segundo Grau. E esse pessoal só chega ao topo, se fôr bem calçado pelos dinheiros da família. Leio jornais latinoamericanos. Converso sobre política com queridos oriúndos de outros países em desenvolvimento. É incrível como somos movidos pela esperança. É ela que nos faz sonhar com tempos melhores. E assim, os dias vão passando e nós, sempre de novo, ensaiando sorrisos outros. Leio nestes dias que uma porção de terra soterrou pessoas em São Paulo. Claro que se poupa na segurança. Os trabalhadores não valem muito. Quando uma catástrofe acontece, logo se culpa o clima ou as muitas chuvas. Na busca pelo "Mamon", até se mente, se preciso fôr. Todo mundo sabe que faltaram vigas de sustentação. A vida continua. Ninguém se levanta conra a injustiça. E neste contexo, lá vou eu para Joinville. Estou contente por estar mais perto de vocês. Vou trabalhar na Igreja, no templo fotografado. A gente se vê...


10.1.07

A Amizade é como a Flor!


Investi seis bons anos anos de minha vida no trabalho da Pastoral Universitária, aqui em Munique. Na foto acima, a nossa "Evangelische Studenten Gemeinde". Nesta casa eu conheci muitas culuras, a partir das conversas que fui mantendo com um sem-número de estudantes estrangeiros que por aqui passaram. Agora vou embora, mas atrás de mim ficam as pessoas amigas. O tempo me ensinou que as amizades precisam ser cuidadas como se cuida uma flor...


SIRLEI

Cadê os teus amigos – perguntas.
A distância os afastou – respondo.
Mas, onde foi que se meteu a Sirlei,
Essa plantinha que nunca aguei?

9.1.07

Dia do Fico!


Hoje, no Brasil, festeja-se o "dia do Fico". Dom Pedro, num dos seus momentos de euforia, teria dito: - "Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, eu estou pronto. Diga ao povo que eu fico." Ai que saudades da minha querida professora Mara Pflug, lá dos idos anos 70. Ela era uma mulher loira, grande e alegre, que sempre tinha suas aulas muitíssimo bem preparadas. Cofesso que fui marcado por sua postura pedagógica no então "Colégio Estadual Ernesto Alves de Oliveira" de Santa Cruz do Sul. Ai que saudades do Rodolfo, do Flávio, da Madalena, da Nilce, do Newton, da Eva e da Liane, colegas com os quais cresci estudando lá em frente ao quartel e, depois, na descida da Avenida Independência, na Várzea.


Interessante como guardo este dia 9 de janeiro tão timbrado na memória. Foi há 16 anos atrás que chegamos à Florianópolis de "mala e cuia" - o Daniel, o Áquila a Valmi e eu. De repente, o caminhão de mudaças do "seu Irineu" encostou num dos primeiros sobrados, à direita de quem sobe o Morro da Cruz, na rua José Boiteux. Nossos olhos viam e registravam tudo. Tínhamos vindo da interiorana Cruz Alta e estávamos cheios de muito sotaque gauchesco na bagagem.


Imagino que o pessoal da "Ilha" muito se deliciou com nosso jeito de falar. Vínhamos marcados pelas cores de um pastorado extremamente engajado. E ali, na beirada do mar, estávamos sendo chamados a nos envolver prioritariamente com jovens. Lá se vai uma década e meia de lembranças. Momentos que não saem da minha cabeça.


Hoje, em 2007, estamos com nossas duas malas repletas dos possíveis 20 kg que poderemos levar, pronta. Mais alguns compromissos e embarcaremos de volta ao Brasil. No nossos coração ficará o perfil de tanta gente querida que aqui vimos e com as quais nos envolvemos. É momento de embarcarmos noutra etapa. Aliás, de quantas etapas é mesmo a nossa vida?... Vou para Joinville cheio de esperanças. Vou marcado pelo "Cântico da Maria" (Lucas 1, 46-55). Olhando para bem dentro de mim, não carrego mínima dúvida. Deus continua usando gente menor como "ferramentas" para o embelezamento do seu "jardim".

7.1.07

O nosso Homem das Neves


O povo alemão está esperando a neve que não cai. Estamos quase na metade de janeiro de 2007 e nada. Assim, publico um texto que escrevi no ano passado. Boa leitura!

Moro num apartamento, nos fundos da “Markuskirche” (Templo São Marcos). Hoje pela manhã, acordei-me com o badalar dos sinos. Acordei um tanto ansiado mas logo me dei conta do porquê daquele sentimento. É que o ar que eu respirava estava viciado. Levantei-me e, sem pestanejar, desliguei os registros do aquecimento interno do quarto para, logo depois, abrir as janelas do mesmo. A brisa gelada tomou conta do ambiente e isso, em poucos segundos. Já com ar puro nos pulmões, fechei tudo de novo. Dali a pouco, sob o gostoso cheirinho de preto quente do café, saboreei uma fatia de pão integral com mel. Depois de toda esta liturgia, percebi o termômetro externo indicando quatro graus negativos.

Juntei minha agenda, alguns documentos para serem lidos e outros apetrechos numa mochila. Vesti-me para o enfrentamento do frio e lá me fui, rumo ao trabalho, com as mãos nos bolsos. A neve que caiu durante a madrugada presenteou a manhã com um tapete branco de dez centímetos, mais ou menos. Vou caminhando sobre ela com meus sapatos de couro brasileiro. Os alemães desconfiam da sua qualidade. Sustentam que não foram feitos para esta temperatura tão baixa. Eles aguentam o tranco, sim senhor. Prova disso é que meus pés não esfriam. Estou bem agasalhado com o sobretudo presenteado pelas Irmãs Diaconisas de Stockdorf. Enquanto caminho, sobre o meu chapéu vai se formando uma pequena camada de gelo. Mesmo assim, com todo esse frio, mostram-se alegres as pessoas que vou encontrando pelo caminho. Aprendi que elas curtem a claridade que o branco do gelo proporciona.

A mulher que entrega as cartas empurra a bicicleta amarela dos Correios que, ao meu ver, parece bem pesada. Ela sempre se mostra sorridente, de bem com a vida. Mais uma vez me cumprimenta com “Grüß Gott” (Deus te saúda!)! O policial que todos os dias circula na área com seu computadorzinho a tiracolo está vestido de verde, é simpático e também nunca deixa de me cumprimentar. As árvores estão recolhidas à sua intimidade e mesmo assim mostram sua força nos galhos desnudos e dormentes. Olho em volta e me dou conta de que 90% dos transeuntes usam roupas escuras. É que vivemos uma época caracterizada pelo preto e branco. Lembro que certo dia, depois de uma consulta, ouvi da minha médica: - “Sr. Becker! Agora, com a neve, tudo vai ficar mais claro, mais bonito. O sr. já vai se sentir melhor.” Fui para casa pensativo. Sim, ela tinha detectado depressão em mim. Depressão por causa da escuridão, da falta de sol, da falta de calor. Agora a neve estava aí, alegrando, impulsionando a vida dos dias que clareiam às 08h da manhã e que já escurecem às 16h da tarde.

Minha caminhada dura exatamente 30 minutos. Os carros estacionados têm uma camada de 20 centímetros de neve sobre si. Os motoristas manobram com cuidado sobre o asfalto liso. O sinal de pedestres me dá passagem e o carro pára antes da linha branca. Me sinto um cidadão. Logo ali na frente duas mães com carrinhos de criança, passeando. Discretamente olho para as mesmas. Elas não têm mais do que um ano de idade. Elas agem assim a conselho médico. Crianças precisam tomar “Frische Luft” (ar fresco). Ao chegar no trabalho, sou recebido pela minha secretária Bárbara, com um enorme sorriso no rosto: - “Ahaa! Ai vem o nosso “Homem das Neves””. Também sorrio retribuindo o gesto simpático. Digo-lhe que nunca tinha sonhado com este privilégio de poder experimentar momentos tão bons na vida. Entro no meu gabinete e começo a trabalhar. Antes disso, fico alguns instantes em silêncio para, depois, concluir: carecemos da simpatia, do sorriso de uns dos outros. Tenho para mim que essa postura sempre teve lugar comum entre os cristãos da primeira hora.


(Escrito em 26/01/2005)

1.1.07

Eu já sabia!


O dia 1° de janeiro de 2007 amanheceu um tanto sombrio e ventoso. As árvores desnudas permitem o balanço de seus galhos, numa espécie de submissão ao vento contínuo. Já a festa que ontem coloriu o céu com fogos de artifício durou exatamente uma hora. Nós curtimos a beleza da noite de uma das janelas do apartamento da colega Erika, onde estamos hospedados. Aliás, tais atitudes como "ceder lugar", não são muito comuns. O fato é que estamos alegres e, agora, desta mesma vidraça, posso observar o vigia que passeia pelos corredores da "Neue Pinakothek" onde, ao fundo, com um pouco de esforço, observo dois dos quadros pintados pelo amigo de Lutero, Lucas Cranach.
Nossa mudança se foi dentro de uma mala de ferro sobre rodas. Amanhã ou depois estará empilhada com outras, num grande navio com destino à costa brasileira. E nós aqui, permitindo que o tempo nos enrede com pensamentos e saudades. Ah o amor! Eu já sabia disso. No entanto, pude aprender melhor o seu significado nestes últimos seis anos que aqui vivi. O ato de amar desenvolve-se dentro de um sistema dinâmico. Este, com o tempo, vai promovendo subsídios e gerando forças para que se creça na pespectiva de, um dia, desligar-se do "objeto" amado.

26.12.06

Última Noite!

São 22h e 10min deste 26 de dezembro de 2006. Faz quase seis anos que aqui chegei. Neste momento me encontro um tanto cansado de empacotar. Amanhã, bem cedo, carregaremos nossos pertences num caminhão que, logo depois, seguirá para Hamburg. Interessante isso! Foi desta cidade que meus antepassados partiram há exatamente 120 anos atrás. Por aqui, tentei melhorar, ajardinar pelo menos um cantinho do mundo. Para tal, sempre tentei usar a ferramenta da "palavra" falada e escrita. As vezes carrego a impressão que também luto contra "moinhos de vento".

Lá no fundo, na última janela da direita, logo abaixo do telhado, vi a neve caindo. Observei as primaveras e os outonos alemães. Vi pássaros construindo ninhos e, enquanto isso, me deliciei com seus "cantos" afinadíssimos. Foi dali que, olhando o caminho que conduzia à Gabelsbergerstraße, ousei sonhar meus próximos sonhos. Ficarei com saudades da Markuskirche que resistiu a bombardeios e que, hoje, ainda congrega filhas e filhos de Deus. Agora eu vou prá Joinville - tschau! Me sinto forte. Tenho muito o que repartir. Vou feliz! Viajo contente! Carrego muitas sementes...

22.12.06

O Verbo se fez carne!!

"E o Verbo se fez carne e habitou no meio de nós..." (Jo 1.14)

Deus vêm até nós. Como ontem, ainda somos muitos os que, hoje, O procuram em lugares errados. Será que não deveríamos lançar nossos olhares sobre um ou outro muro que ladeia nossas calçadas? Há tantas choupanas crescendo na periferia... Penso que a Luz de Deus pode bem ser percebida nas pessoas simples que até caminham do nosso lado. Obrigado Wolfgang Schürger pela tua mensagem e pela pintura do Ulrich Martini que, por minha vez, também repasso àquelas e àqueles que me são próximos. Feliz Natal gente querida!

17.12.06

Alegria!


A alegria é um bichinho,
(Die Freude ist ein Tierchen,)
engraçadinho,
(das ganz süß ist,)
entocado dento do meu peito.
(und innerhalb meiner Brust wohnt.)

Quase sempre é moleque,
(Fast immer ist es in Bewegung,)
serelepe,
(klever,)
a fazer arte lá dentro de mim.
(und macht Frechheiten in mir selbst.)

As vezes, fica escondido,
(Manchmal bleibt es versteckt,)
encolhido,
(zieht sich zurück)
ensimesmado no canto do coração.
(in ein kleines Eckchen meines Herzens.)

14.12.06

Perspectivas!


Sou filho de terra revolvida e sofrida.
Andei pelo lamaçal e senti cabeças febris.
Vi estúpidos apostando unanimidade ferida.
Olhos opacos, cobertos por películas sem vida.

Quis curar apontando coloridos outros.
Dispensaram-me sob acusações hostis.
Visitei tribunais para explicar sonhos loucos.
Vozes timbradas articulavam ouvidos moucos.

Cicatrizes, marcas de experiências doloridas.
Velhos tempos a gerar e cruzar horizontes anis.
E eu aqui, repromovendo médias e grandes saídas.
Povo, gente, comunidade vivendo perspectivas.

8.12.06

Advento 1!


Mais 50 dias e estaremos de volta ao Brasil. A cidade de Munique está enfeitada para as festas de Natal. As pessoas se movimentam com pressa pelas ruas. Tudo extremamente organizado pela mão humana. Só falta uma coisa – a neve. Os meteorologistas de plantão afirmam que uma tal temperatura amena como a que vivemos neste período de Advento, só foi testemunhada a 250 anos atrás.

Para os bávaros essa “temperatura amena” da qual os jornais falam, significa 6° a 14° positivos. Interessante este povo do sul da Alemanha. Aqui e agora eles gostariam de afundar seus pés na neve, constatar seus termômetros indicando números bem negativos. Há uma crise instalada no ar e a natureza até parece concordar. Em pleno inverno, quando as plantas deveriam estar “dormindo”, há algumas espécies que já deixam explodir seus botões de flor.

Entremeio a estes acontecimentos, estamos empacotando os nossos pretences com vistas à mudança para Joinville. Na nossa cabeça há um misto de alegria e tristeza. Tínhamos sonhado alguns sonhos que não se realizaram. No entanto, também podemos dizer que experimentamos um período bem especial para o nosso crescimento pessoal. Enfim, é a vida que vai passando e, junto, nos cumulando de experiências que, amanhã ou depois, ela mesma colherá.

27.11.06

Gente querida!


Vivi pouco mais de 52 anos de história. Construí a mesma, sempre observando e aprendendo das pessoas que perto de mim circularam. Abaixo, escrevi uma lista quase completa daquelas que marcaram minha existência. A partir de agora vou me dedicar a escrever, pelo menos, uma crônica sobre cada amiga e ou amigo meu (os nomes sublinhados já foram contemplados). Devagarinho me dou conta de que algumas queridas e queridos nem podem mais me ler...

Abigair, Adamastor, Alcides, Alexandre, Almerinda, Ana, Andréa, André, Anika, Áqüila, Ari, Arno, Arquimedes, Armindo, Arnóbio, Aron, Átilo, Augusto, Aurélio, Arzemiro, Beatriz, Benhour, Benno, Bento, Carlitos, Carlos, Carmem, Carol, Cátia, César, Charles, Christel, Christore, Cida, Cíntia, Cláudio, Clowes, Dagmar, Daniel, Darclê, Darcy, Débora, Décio, Délcio, Diclea, Dolíria, Donaldo, Dorita, Dorothea, Dorvan, Douglas, Dulce, Edith, Edgar, Edmar, Edson, Elaine, Elisa, Elsbeth, Elzira, Ema, Emil, Ênio, Erdmann, Êrica, Ernâni, Ernesto, Ethel, Eva, Evandro, Fanny, Fátima, Flávio, Fritz, Genésio, Gerda, Gerson, Gilvana, Glací, Godofredo, Gottfried, Graça, Gudrum, Guilherme, Günter, Hannelore, Hardi, Harriet, Heini, Helvino, Hermedo, Hetio, Horst, Hugo, Ilma, Ilmar, Iloni, Ingo, Ingrid, Iracema, Iria, Irineu, Irmgard, Isolde, Ivete, Ivone, João, Jaime, Jairo, Jamile, Joice, Júlio, Kátia, Klaus, Kurt, Ledi, Lili, Lilian, Lindolfo, Lisete, Lysann, Lothar, Luiz, Luís, Lauro, Madalena, Magdalena, Manfredo, Mara, Márcia, Marcos, Marília, Marisa, Marlene, Marli, Margarethe, Martin, Martina, Mauro, Milton, Mônica, Monika, Nair, Neusa, Nelci, Nelson, Nilce, Nilza, Norma, Odálio, Ornélio, Oscar, Osmar, Osvaldo, Osvino, Paula, Paulo, Peter, Ramon, Raquel, Raulino, Reinaldo, Reinbold, Reynoldo, Régis, Reni, Renomir, Ricardo, Roberto, Rodolfo, Rolf, Romana, Romi, Romilda, Roque, Rosana, Rosâne, Rosângela, Roseli, Rosvita, Rubens, Rudi, Sadi, Sérgio, Sílvia, Sílvio, Sônia, Tânia, Tereza, Traudi, Uwe, Walder, Walter, Watson, Wilson, Wolfgang, Valmi, Valmor, Vanda, Vanessa, Valdenir, Valdevino, Vânia, Vanolir, Venilda, Vera, Vilson, Vitor, Zaira...

24.11.06

Mas acabou!...


De manhãzinha,
Rever minha estrela, sonhei.
Então, o olhar pelo céu passeei.
Cantos e recantos, pesquisei.
Nada!
E assim, de opaco me pintei.

À tardinha,
Comunhar o amor, esperei
Com os horizontes brinquei.
Versos e rimas também cantei.
Loucura!
Da pura solidão me molhei.

Já à noitinha,
Nas horas que ali passei,
Com a realidade, dialoguei.
Afagar a sobriedade, tentei.
Mas acabou!...
E, para o lugar, retornei.

22.11.06

Não sorrio mais assim!


Faz mais de 50 anos que sorri assim. Naquele dia meu sorriso brotou grifado pelo brilho dos pequenos olhos amelados. Minha mãe e o fotógrafo foram testemunhas do momento de alegria emoldurado em pura simpatia. Coisa boa descobrir a vida. Sentir o prazer do calor, da roupa leve no corpo. Desfrutar a dor da erupção dos dentes que também vêm para servir. Cooptar o engajamento daqueles que só têm planos bons e estão ao seu lado. Chales Chaplin dizia que “dia sem sorriso era dia perdido”. Eu sei! No entanto, hoje, não sorrio mais como na foto. Talvez, porque esteja ventando muito lá fora...

21.11.06

Hora de retrabalhar!


Outro dia, eu estava chegando em casa quanto senti aquele cheirinho gostoso de aipim, de mandioca frita, como se diz em alguns recantos do Brasil. Não pode ser – pensei. À medida em que eu ia me aproximando, ia ficando mais e mais claro que a Valmi me preparara aquela bela surpesa pro almoço.

Na Alemanha essa iguaria é caríssima e só se consegue a mesma em casas de comércio asiáticas. Comprar uma ou duas raízes acaba sendo como jogar na loteria – isso mesmo. Os comerciantes não permitem que a gente aperte a raiz com os dedos. Isso porque um tal aperto poderá romper a camada protetora da cera que envolve o poduto. Muitas vezes, depois de uma compra tal, a gente chega em casa e, só depois de descascar, que se vai perceber o “desejo” inapropriado ao consumo.

Ah que coisa boa o nosso almoço. Aipim frito com molho vermelho picante, escorrendo pelos lados. Do lado do prato, um cálice de vinho tinto seco. Foi bom aquele tempo que recheamos de boa conversa. De um bate-papo que nos conduziu por caminhos futuros em desaguadouro catarinense. Não vimos o tempo passar. Que pena! De repente era hora de retrabalhar...

18.11.06

Felicitações!


Como vocês sabem, nossa ida a Joinville para trabalharmos no Sacerdócio Especial ficou decidida no último domingo, dia 12 de novembro de 2006. Depois disso recebi muitas felicitações de amigos e colegas. Não posso publicar todas as referidas mensagens. No entanto, contemplo todas elas com a cópia da que meu chefe escreveu. Para quem lê em alemão, aqui vai...

"Lieber Herr Becker, ich war gespannt, wie es ausgehen würde! Nun freue ich mich sehr für Sie und Ihre Familie! Ich wünsche Ihnen von Herzen, dass sich Joinville als ganz richtige und passende Stelle erweist. Am Anfang weiß man das meist ja nie ganz gewiss und es bleibt ein mehr oder weniger großes Wagnis und man muss Vertrauen, dass in und hinter allen menschlichen Entscheidungen Gottes Führung und Segen stecken. Das es so sei, wünsche ich von Herzen!

Ich bin auch dankbar, dass Sie noch einige Zeit hier sind. Aus Erfahrung weiß ich: wenn eine Entscheidung für einen Wechsel gefallen ist, nimmt die neue Situation auch vile unserer Gedanken ein und auch einen teil unseres Handelns, denn es muss ja alles vorbereitet werden. Trotzdem soll und will man an der alten Stelle noch da sein und seine Aufgabe gut machen. Ich wünsche Ihnen, dass auch diese "Übergangszeit" gut gelingt!

Herzliche Grüße
Ihr
Klaus Schmucker Kirchenrat Leiter der Evangelischen Dienste im Dekanatsbezirk München Landwehrstr. 11 - 80336 München
"

14.11.06

Estava batido o martelo!


As senhas diárias de hoje apontam para o Salmo 11,7a (Porque o Senhor é justo, ele ama a justiça;) e para Efésios 5,9 (porque o fruto da luz consiste em toda a bondade, e justiça, e verdade). Na oração que acompanha os dois versos bíblicos está a primeira estrofe do hino n° 154 (Evangelisches Gesangbuch) onde se lê: - “Herr, mach uns stark im Mut, der dich bekennt, dass unser Licht vor allen Menschen brennt! Lass uns dich schaun im ewigen Advent! Halleluja!“ Foi bom meditar sobre este pequeno conteúdo, agora de manhã.

O ano de 2006 foi interessantíssimo para mim, como obreiro da IECLB. Daqui e dali eu ouvia informações de que não seria fácil conseguir uma vaga para atuar como obreiro n’alguma Comunidade da IECLB. Daí que comecei a informar-me sobre possibilidades de trabalho já em 2005. Assim enviei meu “Curriculum” para um sem-número de Comunidades. Junto, passei a conversar com muitas obreiras e obreiros da nossa Igreja. Nestes diálogos, sempre explicitei o desejo de que me auxiliássem quando de minha volta ao Brasil em 2007. E o tempo foi passando…

O contato com a Paróquia São Mateus de Joinville começou a esquentar em julho de 2006. Depois de vários telefonemas e E-Mails, enviei-lhes um vídeo com respostas às suas perguntas e, junto, uma meditação. Soube que as liderancas se reuniram com o Presbitério e trataram do assunto. Ficamos acordados de que a decisão aconteceria no dia 12 de novembro de 2006, depois do Culto Dominical, quando então nos apresentaríamos à Comunidade, a partir de uma video-conferência.

O domingo aconteceu. Assistimos ao Culto pela internet. Depois do mesmo, as lideranças da Paróquia nos fizeram em torno de sete perguntas e, ao cabo das respostas, a membresia presente ainda teve a chance de rever nosso video de apresentação. Feito isso, o presidente perguntou aos presentes se nos aceitavam como obreiros e a Comunidade disse “sim”. Estava batido o “martelo”.

10.11.06

Gaúcho bávaro!

Faz seis anos que moro em Munique. Durante este tempo, minha esposa e eu hospedamos mais de trezentos brasileiros. Eles continuam vindo do Brasil sempre muito alegres, falantes e encharcados de novidades. Tais contatos nos fizeram bem. Ajudaram-nos a matar a saudade da nossa terra. Na medida do possível, smpre levei nossas visitas para um passeio pelos pontos turísticos da capital da Baviera.

Assim, creio que já embarquei pelo menos umas cinqüenta vezes no elevador da torre de 285 metros de altura, construída no Parque (Olympiastadium) onde foram realizadas as Olimpíadas de 1972. Lá do alto pode-se divisar a beleza da nossa cidade e, ao sul, os lindos e majestosos Alpes. Num sábado destes, deixei que minhas visitas subissem o monumento sozinhas. Eu só queria ficar um pouco a sós comigo mesmo.

Na meia hora seguinte fiquei por ali, passeando ao pé da torre. Eu vestia camisa branca, chapéu de feltro e calça de couro com suspensórios. Minha barba estava crescida e branca sobre a pele morena de sol. Num dado momento iniciei a liturgia da preparação do meu cachimbo para dentro daquela hora de intimidade com o ócio. O dia estava muito bonito, com céu de brigadeiro, “ein Traumwetter” como dizem os alemães.

Do meio das baforadas da fumaça que adoçava o ar com cheiro de baunilha, vi que do portal da referida torre saia uma família de, pelo menos, quinze japoneses. Eles vinham, com passos incertos, se acercando de mim. Todos sorriam sorriso igual. Senti que, tal qual um barco em meio à tempestade, começava a inundar no meio de tanta simpatia. Falavam comigo em japonês e, pelos gestos, acabei deduzindo que queriam bater fotos comigo. Claro que não me fiz de rogado. Posei com os avós, com as filhas e com os filhos, com as netas e com os netos. Uma vez só com a netinha no colo. Outra, abraçado ao casal mais idoso. Foi uma festa. Claro que eu não entendia nenhuma palavra do que falavam, mas curtimos o momento, mesmo assim.

Antes de irem embora, percebi que me agradeciam efusivamente. Inclinavam-se e estendiam suas mãos desejando-me um bom dia. Deduzi isto, enquanto “ouvia” seus corpos comunicando. Depois de alguns instantes entendi o porquê de todo aquele alvoroço. É que me confundiram com um homem alemão, com um típico bávaro. Penso que ainda hoje, em encontros familiares no Japão, sou visto como tal nas fotos da família viajante. Quando os nossos hóspedes desceram das alturas da torre, contei-lhes o ocorrido e acabamos nos divertindo muito com a cena: um brasileiro gaúcho se passando por bávaro. Mais tarde, sózinho com meus botões, pensei: - quantas e quantas vezes me fiz passar por ateu...

8.11.06

Aspirando Liberdade!


Faz pouco, sentei-me à escrivaninha para rever minha agenda. Nela estava explícito que o tempo para escrever sobre o tema “vocação” expirava. Prazeiroso, ajeitei-me na confortável cadeira e pus mãos à obra.

Cresci numa família pobre. Informei-me no seio da Escola Pública. Aos doze anos, empreguei-me numa oficina mecânica. Enquanto trabalhava, sempre ficava sonhando com o final de semana. O contato com a turma da Juventude Evangélica me era muito caro. Nele aprendi a ser gente que ama, que chora, que ri.

Um dia, procurando pelo sentido de viver, saí a caminhar dentro da madrugada santa-cruzense. Sentei-me na amurada do pequeno viaduto, em frente ao quartel militar. Foi ali que pedi ajuda a Deus. Supliquei-Lhe que me escrevesse um norte nos céus. Devo ter gasto uma boa meia hora na procura dos dos Seus hieróglifos, entre as estrelas.

De repente, brotou-me uma idéia. Iria buscar ajuda junto ao pastor da nossa Comunidade. Dirigí-me à sua casa que distava dois ou três quilômetros de onde eum me encontrava. Ao aproximar-me da mesma, auto-critiquei-me: - não poderia acordar um homem que sofria dores no coração naquelas horas meninas. Mesmo assim, fui até o fim no meu intento. E não é que o falecido Benno estava acordado e disposto!... Contei-lhe sobre minhas sortes e meus azares. Compartilhei-lhe meus sonhos e, ao cabo de boa conversa, ouvi de sua boca: - O Presbitério autorizou-me a alcançar uma Bolsa de Estudos para quem eu quiser. Estou propondo a mesma a você. Depois de tudo, existe a possibilidade do pastorado...

Passaram-se dois meses, e lá estava eu, exposto às "talhadeiras" pedagógicas de um ensino que me catapultou ao Sacerdócio Especial. Hoje, depois de longa jornada por pátios igrejeiros, encontro-me “respirando” ação cristã na universidade, “aspirando liberdade”, como ainda canta a Daniela Mercury.

7.11.06

A pitangueira do meu pomar!



Hoje, lendo os jornais, assustei-me. Não há mais dúvida de que o mundo se move por ameaças. Como comportar-me no meio desse deserto? Foi por acaso que acabei lendo esta boa Palavra: - “Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste. Cheia está a terra das tuas riquezas” (Salmo 104.24). Interessante notar que o autor deste pequeno conjunto de idéias mostra-se maravilhado e, consequentemente, adorador de Deus. Ao perceber Sua sabedoria, não consegue calar. E é claro que, em vista disso, só consegue escrever poesia.

É de manhã. O silêncio chega a ser cortante. E eu, recolhido no gabinete, tento dialogar com Deus. Lá fora, sobre a grama verde, o pé de pitangas. Suas frutas vermelhas, prá lá de maduras, já colorem o chão. Nos galhos, sustentados por forquilhas, dançam, ao sabor do vento, sabor e beleza. O casal de pássaros trabalha a não mais poder. Voam e voltam com capim escolhido no bico. O ninho já trás as marcas do leiaute milenar, um dia aprendido do Criador. A felicidade? Ora, ela fica traduzida nos alegres pios e nos lépidos pulos que confundem minha visão, enquanto tento olhar por entre as folhas sombreadas.

Nunca vi passarinhos magros. Quando os percebi tristes e ensimesmados, estavam em gaiolas. Infelizmente, depois da Proposta Primeira de Deus, vieram os cercados. A depressão machuca muito mais do que só o coração. O mundo já teme a falta d´água. Leio que já há rios que não chegam ao mar e, assim, ouço a natureza a chorar. Ela tem saudade dos carinhosos dedos Daquele que a projetou. Ela geme, enquanto espera pela interferência dos que têm consciência.

Quanta algazarra, tudo é festa na pequena árvore. Êpa! O vento virou. O telefone tocou. Acordei-me. Tenho assuntos a resolver. Lá fora estão famílias a visitar. Será que ainda sobra tempo prá eu sonhar? Enquanto isso, flui a vida na pitangueira do meu pomar. (Texto escrito em Florianópolis - 1999)

2.11.06

Passamos pelo tempo!


Faz muito tempo que nos conhecemos. Ele ainda passa a impressão de representar a Verdade, aqui na terra. Suas palavras sempre ainda soam duras àqueles que não concordam com seus ensinamentos. Lembro que, dia após dia, mostrava-se um sujeito extremamente doce àqueles que o levavam em conta. Confesso que ouvi-o, durante anos, com todo carinho. Ele tinha vivido vida dura. Mesmo assim, debaixo de luta forte, cresceu e venceu em meio aos ventos de enormes crises. Ainda hoje é um sujeito carismático. Inúmeros continuam ouvindo-o, enquanto segue sua caminhada. Fiquei triste ao perceber que não consegue se dar conta de que a vida passa. De que não é o eixo da existência.

O tempo está parado. O sol está estacionado nalgum lugar do firmamento. A terra gira em torno dele e, dali, nos brinda com dias e noites. Dentro deste sistema estático, estamos dinâmicos, tu e eu. Somos capazes de viajar à Vladivostok, à Atenas, a Beirut e à Santa Cruz do Sul. Enquanto isso, nosso organismo vai incorporando sinais de desgaste. Alguns de nós não percebem e ou até não querem perceber estes tais. Teimamos em ir tocando a vida como sempre a tocamos. Fechamos os ouvidos para os nítidos recados que vem do Criador que, por amor, assim nos prepara para a entrega do bastão às gerações vindouras. Há que se ouvir também essa voz de Deus que soa através dos nossos órgãos.

Meu envelhecido amigo passa ao largo destes recados. Não quer se ocupar com esta questão. Continua querendo ser senhor maior, sempre a partir da hiper-atividade. Não consegue sentar. Quer continuar a lutar como lutava. A interfer nos assuntos como interferia. A dar a pauta como antigamente o fazia. Vi que seu olhar não brilha mais tanto como outrora brilhava. Percebi que seus dedos perderam a elasticidade. Mas também pude notar que ele insiste no seu propósito. Ouvi-o dizer que quer morrer em pé, fiel ao seu passado. Daí, não resisti e desafiei-o a encarnar outro ritmo. Ele fez que não ouviu.

OLHA SÓ!