Busque Saber

20.10.11

A alegria! (1998)

Hoje eu estou completando 26 anos de ordenação ministerial. Nunca esqueço do Culto do dia 20 de outubro de 1985 em Cidade Gaúcha (PR). Lá estavam minha família, meus pais, toda a Comunidade que chamávamos PANOPA e o Pastor Regional Rudi Kich. Para comemorar, relembro uma poesia que escrevi em Florianópolis no ano de 1998. Abraços!


A alegria é um bichicho,
engraçadinho,
entocado dentro do meu peito.
Quase sempre moleque,
serelepe,
a fazer "arte" em mim
As vezes fica escondido,
encolhido,
ensimesmado no canto do coração.

17.10.11

Cadê o diálogo?


O João escreveu o Apocalipse. Adorei seu estilo. Estou copiando. Olha só! Eu vi o último dia. Nele os representantes mais dignos de todas as Religiões e Denominações do mundo estavam sentados numa sala de espera. A sala onde eles esperavam se parecia muito com estas saletas de consultórios médicos que estamos acostumados a visitar. A porta estava trancada. Ao invés de folhearem revistas, as pessoas ilustres liam textos sagrados como a Torá; o Novo Testamento; o Corão.

Volta e meia os leitores levantavam seus olhos sobre os “colegas de espera” e perguntavam-se: - O que é que essa gente almeja? Quem será o primeiro, o segundo e o terceiro a ser atendido? Será que o tempo será sufiente para que todos sejamos atendidos? Será que alguns de nós seremos preteridos?

Este era o espírito naquela Sala de Espera. O silêncio dava a impressão de que todos estavam calmos. O comportamento externo de cada um era pacífico, mas o interno nem tanto, porque cada um via o outro como concorrente; como suspeito. Aí então, depois de um longo tempo, a porta se abre e o Senhor chama indistintamente a todos, de uma só vez, à Sua sala. Deus olha para cada mulher e para cada homem sentados ali à Sua frente e sorri. Depois de sorrir, encara-os com uma pergunta bem simples: - Por que vocês não dialogaram entre si, enquanto esperavam? Vocês dispunham de tanto tempo...

11.10.11

Tema e lema da IECLB - 2012!


O tema e o lema da nossa querida IECLB para 2012 será “Comunidade jovem - Igreja viva - Antes que eu te formasse no ventre, te conheci” (Jeremias 1.5a). Escrevi um pequeno texto para cooperar nesta reflexão... Convido à leitura. Ele é o começo de uma reflexão que, seguramente, vai nos envolver!

Sim, foi um bem-te-vi que me acordou. Da janela, vi o pássaro de ventre amarelo vocalizando o meu amanhecer. Tomar café na confeitaria da “vila”, por que não? Surpresa! A Aline e o Henrique também estavam lá. Fiz o meu pedido à atendente e sentei-me ao lado deles.

- Olá pessoal!
- Oi Pastor! Lemos a sua coluna no jornal – disse a Aline.
- Algum detalhe chamou a atenção de vocês?
- Aqui, olhe Pastor: A IECLB já depende e ainda vai depender muito mais dos jovens que se achegam para trilhar os caminhos de fé.
- Grande Henrique! A base da nossa Igreja é a fé em Jesus Cristo. Nele experimentamos o perdão dos pecados, a vida abundante. Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, todos estão convidados a terem acesso à proposta de paz, amor e perdão que vem de Deus.
- Em um dos nossos encontros da Juventude Evangélica, a Aline também já se referiu à nossa Igreja como “viva”, aberta a todos.
- Bom, Henrique, a nossa Igreja é “vibrante” porque tem a Bíblia como fonte, como norma para a vida. Alicerçados nesta verdade abrimos os nossos ouvidos para os recados que a Palavra de Deus traz.
- A Bíblia é “fonte”, é “norma” para a vida. Uaaau!
- É Aline! Quem lê a Palavra de Deus com responsabilidade, desenvolve vida espiritual sadia, cresce em amor pelos outros, encorpa o louvor a Deus. Sim, cabe-nos continuar oportunizando a fé às próximas gerações.
- Estamos nessa, Pastor! A Aline e eu também sonhamos com uma Igreja que se renova enquanto caminha.
- Sei disso! Vocês, como eu, articulam o fortalecimento da IECLB dentro dos grupos em que participam. Ah! Parabéns pelo debate que organizaram no “campus” universitário.
- Que debate! Amei a fala do palestrante: O amor vê o sofrimento dos outros. A Igreja é o lugar onde as pessoas, em meio às suas crises, encontram apoio...
- Certo, Aline! Dialogar sobre os problemas que machucam os fracos, dar timbre de voz aos que não têm – essa é a nossa tarefa!
- Gente! Preciso ir. A gente se vê e se fala.

Fui para casa motivado por bons pensamentos. Aqueles jovens dariam seguimento ao Projeto do amor de Deus, à Igreja – isso era mais do que certo.
Tal como eles, o jovem Jeremias também teve perspectivas de fazer carreira na cidade grande. Quando Deus o convocou para passar uma mensagem mais densa aos povos, Jeremias não se mostrou muito disposto a mudar o rumo da sua vida e disse: “Eu não sei falar. Sou muito jovem!”.

Deus percebe “temor de mudanças” no futuro profeta e diz: “Jeremias! Fica tranquilo. Eu já penso em ti antes do teu nascimento. Não presta atenção nos teus mil medos. Quero que te does ao mundo em prol de “mais vida”. Jeremias ouviu, refletiu e fez a boa opção. Não se fixou no que não sabia fazer, nas críticas que poderia vir a sofrer, mas ousou confiar o “momento novo” a Deus. Agindo assim, não se solidificou, mas se moveu com liberdade, fazendo história.

Já em casa, escrevi um e-mail: Olá Aline! Olá Henrique! A IECLB conta com pessoas para construir um futuro melhor para o nosso mundo. Vocês têm o perfil da “profetisa” e do “profeta” moderno. Idade e cultura não importam. Se Deus chama, o que vale é a fé, o desejo ardente por mudanças. Essas só acontecerão se movermos as nossas mãos a partir de clara reflexão. Topam o desafio? Acomodei-me na cadeira giratória e dei “enter”. Não demorou e o Henrique entrou na rede:

- Oi! O que eu faço para ser profeta?
- Opa! Um “profeta moderno” tem a tarefa de acabar com os preconceitos, destruir o ódio, construir “pontes” e plantar amor, por exemplo.
- Como faço isso?
- Se você fosse menino, convidaria o seu vizinho mais pobre para brincar. Se fosse parente da pessoa que, depois da briga por causa da herança, decidiu não trocar mais uma palavra que seja com os seus familiares, escreveria um cartão de aniversário. Se percebesse vizinhos recém-chegados, os convidaria para uma xícara de chá. Se fosse pai, doaria tempo e levaria os seus filhos a sério. É isso aí!
- Interessante! Podemos falar mais tarde?
- Beleza!

A vida seguia em frente. Lá longe, o bem-te-vi ainda cantava: Bem-te-vi!

8.10.11

Grande José!


Lembram do José? Do marido da Maria que viveu momentos difíceis antes do seu casamento? O casal tinha combinado abstenção sexual durante o namoro e o noivado. Maria quebrou o trato. Que loucura! Ela lhe falou dum Anjo e duma gravidez estranha. Só faltava essa! Anjos não tinham coisas mais importantes a fazer do que “visitar” jovens mulheres na terra? Anjos não eram assexuados? Anjos eternizavam gerações através do sexo? Não! Aquele tal Anjo não podia ser o pai da criança plantada no útero da sua Maria. Ah sim! Ela dissera o nome do gerador: Espírito Santo. Não podia ser! Até então Deus só falara com profetas. Que história era aquela? Comunicar-se com a humanidade, justamente através da barriga da sua futura esposa? Isso não tinha cabimento! E se o povo ficasse sabendo daquela gravidez extraconjugal? Os amigos fariam piadinhas do tipo: - Nenezinho prematuro esse – hein José! Os parentes iriam franzir a testa e, certamente, sugerir que ele denunciasse Maria às autoridades competentes. O problema é que daí ela seria apedrejada. Não, ele não seria tão radical. Opa! Ele poderia se separar da Maria, pois Moisés tinha permitido dar “carta de divórcio” em casos de infidelidade. Sim, ele iria “dormir uma noite” para pensar melhor no que fazer...

José sonha: - Não temas receber Maria como tua mulher. O que o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Incrível! O tal Anjo lhe sugere que vá ao encontro da amada. José está confuso. Deus quer fazer acontecer Sua obra salvadora a partir das “entranhas” daquela que ele tanto ama. Sem essa! Estava tudo acabado! Fazer o quê? Denunciar Maria aos poderes constituídos? Não! Dar “carta de divórcio”? Não! Ela não merecia administrar aquela “vergonha”. Ele, sim, ele assumiria a “vergonha” da Maria “sumindo do mapa”. A Maria que seguisse o seu próprio caminho. Ninguém sabia que a criança não era dele. O momento é difícil, mas Deus se inclina para José e lhe explica o milagre. José entende que o Salvador nascerá do útero da sua amada. José percebe que a sua Maria carrega o fruto do Espírito Santo em si e adota, assume o Menino. José torna-se o pai de direito do Menino Deus. As dúvidas referentes à sua Maria eram infundadas. Se Deus tinha criado o céu e a terra, Ele também seria capaz de gerar um Filho daquela forma.

Sobre o José? Ora, Deus o viu homem temente, sensível à Sua Mensagem. Maria o vivenciou companheiro, amoroso e cuidadoso. Jesus o vivenciou pai, presenteador de segurança em meio às crises que a vida propõe. Viva o José!

Maria, você engravidou?


Coloquemo-nos na “pele” da Maria. Ela era uma moça centrada em Deus, mas também um tanto inexperiente. Ela era oriunda de boa família e, por isso mesmo, noiva de um homem maduro que exercia a profissão marceneiro, ali pelas redondezas. O seu futuro era seguro. Estava escrito que ela viveria todos os seus dias numa cidadezinha pacata do interior. De repente, muda a história. Um Anjo lhe propõe tarefa dificílima: Ela deve gerar uma Criança e isso, sem ter tido relação sexual com homem algum. O Gerador da criança que ela vai carregar no útero será o Espírito Santo e o Menino que ela vier a dar à luz será ninguém menos do que o Filho de Deus.

Quem é que acreditará nesta história? Será que o José “engoliria” suas explicações? Maria é mulher simples e não faz perguntas complicadas. Não sofre por antecedência. Ela só quer saber como isto tudo vai acontecer. Depois que o Anjo lhe explica o “projeto” nos mínimos detalhes, ela reage dizendo de forma espontânea: - Aconteça como você me disse. Será que Maria recebeu alguma ajuda para tomar esta decisão? Não! A única informação que ela obteve foi que sua parenta também estava grávida. Interessante isso! Só depois que o Menino nasceu e que ela, conforme exigia a tradição judaica, O apresentou no templo, foi que Simeão e a profetisa Ana falaram sobre o futuro que esperava aquele Menino.

Com o seu “sim” ao Filho de Deus, Maria tomou uma decisão contra a normalidade de uma vida feliz e pacata. Ela não sabia quanto medo e quanta dor ainda viria sofrer. Estas tais dificuldades já têm seu início no momento em que precisa fugir para o Egito junto com seu esposo José. Estas tais crises só culminam com a morte de seu Filho na cruz. O fato é que Maria se decidiu a viver uma vida comprometida com Deus. O que será que teria acontecido se ela tivesse reagido com um “não” a Deus?

Quantas e quantas vezes por dia, mulheres e homens são procuradas; procurados no nosso meio? Pessoas que estejam dispostas a viver uma vida inteiramente compromissada com o Pai dos Céus? Qual o tamanho da fé que uma pessoa precisa ter para comprometer sua vida no “Projeto de Amor” que Deus tem para com a humanidade? Maria é o exemplo de uma pessoa que se decidiu caminhar com Deus até as últimas consequências. O que hoje nós sabemos dela, ela, naqueles tempos, só podia se imaginar. O fato é que Deus estava com ela. Foi nesta palavra que ela se segurou. Mas, e José? O que será que passou pela sua cabeça naqueles dias?

5.10.11

Louvor e Compromisso!


Essa será a minha pregação nos Cultos do dia 09 de outubro de 2011. Boa leitura!

O profeta Isaías fez lindas profecias. Já estamos vivendo os maravilhosos tempos previstos pelo profeta. Alegremo-nos e cantemos louvores a Deus porque já podemos experimentar a Sua bondosa mão sobre as nossas cabeças...

Em Isaías 25.6 se lê: “No monte Sião, o Senhor Todo-Poderoso vai dar um banquete para todos os povos do mundo; nele haverá as melhores comidas e os vinhos mais finos.” O Reino de Deus é com uma Grande Festa. Deus quer nos satisfazer e é por isso que Ele nos convida para bebermos bebida deliciosa; alimentarmo-nos com alimentos saborosos – tudo de primeira qualidade. Sim, Deus nos quer festejar conosco; quer comunhão conosco; quer nos presentear com felicidade pessoal e comunitária. Lembram do primeiro milagre que Jesus fez quando transformou água em vinho? Lembram do relato da Criação de Deus em Gênesis? Quando o nosso Deus cria “algo” esse “algo” sempre é da melhor qualidade. A obra de Deus é perfeita e nós, os não judeus, também temos espaço nela porque Jesus Cristo nos oportunizou o mesmo.

Em Isaías 25.7 se lê: “Deus acabará com a nuvem de tristeza e de choro que cobre todas as nações” Lembram do nosso tempo de crianças? Colocávamos um cobertor sobre as nossas cabeças e brincávamos de “fantasma”. Mesmo cobertos, sempre ainda víamos um pouquinho de claridade e escuridão, mas todos os detalhes não. São muitos os que carregam apenas uma “idéia religiosa” de Deus em si. Esse povo “sente” que não pode entender o mundo apenas com os cinco sentidos. Essas “nações” desconfiam que existe Alguém Maior a governar o mundo. Essas pessoas têm uma vaga percepção da Luz que é verdade sobre o tal “cobertor”. Sim, a maioria das pessoas só tem uma idéia parcial de Deus. Alegremo-nos! Foi Jesus quem nos ajudou a tirar o “cobertor” que cobria nossas cabeças. Foi Deus quem nos possibilitou que O reconhecêssemos como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo; como o Deus que bem poderia nos condenar à morte por causa dos nossos pecados, mas que deixou esta idéia de lado; que investiu em nós, a partir da morte e da ressurreição de Seu filho amado.

Em Isaías 25.8 se lê: “O Senhor Deus acabará para sempre com a morte. Ele enxugará as lágrimas dos olhos de todos e fará desaparecer do mundo inteiro a vergonha que o seu povo está passando. O Senhor falou”. Gente querida! Isso já e verdade! Jesus Cristo “matou” a morte com Sua ressurreição (1 Coríntios 15.54). Nós fomos presenteados por Deus com a vida eterna. É em vista disso que podemos suportar as imperfeições; as doenças e os sofrimentos deste mundo. Sim, Deus vai enxugar todas as nossas lágrimas, aliás já está enxugando. Deus ouve as nossas orações! Claro que aqui e ali ainda há alguma razão para se chorar, mas temos a promessa de que Deus não vai nos sobrecarregar além das nossas forças. É só no “Novo Céu e na Nova Terra” que as nossas últimas lágrimas são secas.

Em Isaías 25.9 se lê: “Naquele dia, todos dirão: — Ele é o nosso Deus. Nós pusemos a nossa esperança nele, e ele nos salvou. Ele é o Senhor, e nós confiamos nele. Vamos cantar e nos alegrar porque ele nos socorreu.” É feliz quem pode dar glórias a Deus com cânticos de louvor e de gratidão. Somos participantes da glória de Deus e por isso: adoremos e louvemos ao Senhor!

Quem leva a Palavra de Deus a sério percebe que glorificar a Deus é mais do que só fazer e cantar boa música. O louvor a Deus também é uma confissão. Quem diz: Este é o nosso Deus, Jesus, que morreu por nós e depois ressuscitou; este é o Filho de Deus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus; este é Aquele que deu acesso ao Pai; este é Aquele que me presenteou com a salvação dos pecados; este é o meu Salvador; este é o nosso Redentor, está louvando, glorificando a Deus. É esta a confissão que deve ser o conteúdo permanente do nosso louvor. Quem louva sem compromisso está desconectado de Deus; que faz uma confissão sem louvor demonstra secura; teoria; filosofia; teologia pela teologia. Adoração sem ensino; sem conteúdo, sem qualquer declaração de comprometimento, não passa de música de entretenimento. A nossa música pode ser leve e alegre, mas sempre estará ligada à confissão: “Este é o nosso Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, por meio do Qual a morte foi derrotada.” Amém!

3.10.11

Fitoterapia x Apocalipse!


Humm... “Travamos” em Apocalipse 22.2b onde se lê: “...e as folhas da árvore são para a cura dos povos”. Alguém reagiu: - Ué! Haverá doenças no “Novo Céu e na Nova Terra”? Pra que “Fitoterapia”?

Não, as tais “folhas” não são para corrigir males, uma vez que a “desobediência a Deus” já é coisa do passado na “Cidade Santa”. As tais “folhas” servem apenas para que os “moradores” (judeus e não judeus) do “Reino de Deus” desfrutem plena “saúde física e espiritual”. Isso mesmo! O autor de Apocalipse não entende a “salvação” apenas para um “punhado” de pessoas.

Ah a Fitoterapia! Em 2012, vigorará uma lei que oportunizará a produção de remédios medicinais a baixíssimo custo em Joinville. Pesquisou-se 482 agricultores na nossa região. Descobriu-se que 96% deles já utilizavam plantas para tratar da saúde; que 91% obtiveram o resultado esperado com esse tratamento; que 93% gostariam que os médicos que atendem nos Postos de Saúde prescrevessem plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos aos pacientes.

Não deu outra! A Câmara dos Vereadores aprovou a lei. O prefeito já a assinou. Agora é investir na vida; enfocar o indivíduo e não a doença; implantar a primeira “Escola de Saúde” com suas 800 vagas; aprender o uso dos produtos naturais e das ervas medicinais na prevenção, na cura de doenças e na melhor qualidade de vida.

Sim, por aqui já se experimentará um “pequeno sinal” do que será “bem-viver” na esperada “Nova Jerusalém”.

30.9.11

O medo, a coragem e as mudanças!


Aqui e ali, converso com pessoas ligadas à nossa Comunidade. Outro dia dei atenção a uma senhora que continuava investindo suas forças no sentido de se acostumar com o estilo de vida da nossa cidade. Na nossa despedida ela se saiu assim: - Muito obrigada pelo seu cuidado para comigo! Não mude o seu jeito de ser.

Volta e meia se ouve uma palavra assim. Vamos combinar que o desejo desta senhora em relação a mim foi querido. Claro que foi! Agora, se nós não mudássemos o nosso jeito de ser, “estacionaríamos no tempo”; nos “solidificaríamos na história”. É assim que todas as mudanças que acontecem conosco; que todas as nossas experiências cooperam para o nosso amadurecimento; para o nosso “crescimento” para dentro da Terceira Idade. Se permanecêssemos sempre os mesmos, isso nos seria uma tragédia. Minha avó sempre dizia: - Um ramo verde a gente dobra com facilidade, já um galho seco é rígido. Se lhe aplicarmos um pouco de pressão ele logo se quebra. Quanta sabedoria!

Mudanças pessoais sempre são necessárias. Mesmo assim, muitos não querem mudar. Esse pessoal espera que os outros mudem. Mudar de emprego, de casa, de visual sempre é um bom exercício e até são muitos os que o praticam. Agora, mudar a si mesmo, essa é uma atitude um tanto mais difícil. Os terapeutas sustentam que, em alguns casos, as pessoas até têm a intenção de mudar, quando querem se libertar de algum peso como ansiedade e ou depressão. Problemas esses que sempre geram perda de controle; que sempre promovem pensamentos estranhos; que sempre oportunizam a desestabilização. Livrar-se de situações que provocam dor – quem não quer isso? Mas daí então, livrados do “mal”, como mudar o resto? Como vir a ser uma pessoa diferente sem o uso de alguma negação?

Ninguém consegue se “auto-esculpir” numa nova pessoa. As mudanças sempre vão acontecendo. Daí que levar esse fato em conta; envolver-se com tudo o que acontece à nossa volta é comportamento excelente. Mesmo que eu conseguisse me “formatar” num novo “design” eu teria pelo menos um problema: Como seguir adiante? Como continuar desenvolvendo meus planos? Como alcançar meus objetivos? Será que eles seriam mesmo os meus planos e os meus objetivos? Não seriam eles os planos e os objetivos dos meus pais; da minha parceira; dos meus pares; da publicidade que acabou de fazer “casa” em mim? Será que os planos e objetivos que eu persigo se ajustam ao meu jeito de ser? Luto em prol deles como se eles fossem uma espécie de “canga” que pesa e machuca meu pescoço? Será que não estou gastando muito das minhas energias; perdendo meu fôlego na tentativa de parecer maior do que realmente sou?

Os cristãos esperam que o Espírito de Deus lhes preencha; mova-lhes; promova-lhes mudanças; influencie-lhes. Para tal eles buscam orientação em Jesus Cristo. O apóstolo Paulo formulou esta máxima com maestria quando escreveu: “... Estamos sendo transformados na imagem de Deus de glória em glória pelo Espírito do Senhor!” (2 Coríntios 3.18b) Penso que não precise expressar que isso não significa que, a partir de agora, vamos ter que caminhar com o tipo de sandálias com as quais Jesus caminhava; que passaremos a usar barba comprida como as belas pinturas da Idade Média testemunham que os profetas usavam. Pelo contrário: nós passaremos a viver conforme a vontade de Deus; nós tentaremos nos enraizar no amor de Deus.

As mudanças, muitas vezes, não são e nem podem ser planejadas. Muitas vezes elas também nem se encaixam no contexto que estamos vivendo, mesmo se Deus esteja por detrás delas. Aqui pensei em Moisés e em Jeremias. Homens que, chamados por Deus para uma obra bem específica, sentiram medo... Mas isso já é outro assunto.

23.9.11

Não diga não! (Jeremias 1.5a)


O trânsito fluía lento. Os motoristas se mostravam inquietos. No meio do caos eu ouvia música. Já em casa, sentei-me no sofá para relaxar. No que eu estiquei as pernas, não deu outra: tocou o telefone...

- Alô!
- Oi pastor! É a Êlla. O senhor pode falar?
- Claro Êlla! Fale!
- O nosso pessoal quer conversar com o senhor.
- Qual é o assunto?
- É sobre o “chamado” que Deus faz para uns e outros. O senhor está lembrado do Arthur?
- Sim, aquele moço lá da zona sul da cidade.
- Isso! Ele compartilhou conosco que “ouviu” o “chamado de Deus” para “evangelizar no Morro Santa Vitória”! Temos muitas dúvidas sobre esse tema e precisamos da sua ajuda.
- Êlla! Avise o pessoal que a gente se encontra no sábado. Pede que leiam os dois primeiros capítulos do livro de Jeremias...
- Valeu pastor! O nosso encontro será às 20h. Legal que o senhor pode vir. Abraços!
- Tchau Êlla!

Sentei-me... Pensei no Arthur, no moço tímido da família Schweitzer. Lembrei-me então que o jovem Jeremias se entendia incapaz; inexperiente para desenvolver a “tarefa” que Deus lhe sugeria. Sim, Jeremias não se via como um bom orador para assumir tal “função”. Já o Arthur sim. Será que sim!? Será que não!?

Inquietei-me. Levantei do sofá e fui hibernar no gabinete. Sempre carreguei o sentimento de que não me cabe articular qualquer “plano” particular e, então, simplesmente partir para ação, como se Deus, somente Deus, tivesse sido o Sujeito da tal idéia. Folheei a Bíblia durante algum tempo. Paulo sugeriu aos cristãos de sua época que “Deus já nos escolhe no ventre da nossa mãe” para determinada tarefa (Gálatas 1.15-16). Essa informação sublinhava o conteúdo bíblico que eu iria trabalhar com a turma dos jovens. Deus já tinha escolhido Jeremias para engrandecer a Sua obra e isso, antes Dele ter nascido. Deus iria desenvolver Sua Proposta de Vida na pessoa de Jeremias, mesmo que ele se sentisse “incompetente”.

E quanto ao jovem Arthur? Ele tinha tido a “visão” de subir o morro Santa Vitória para “evangelizar”. O que será que ele entendia por “evangelização”? Meus olhos pousaram novamente no texto bíblico. Quando Deus dá uma “ordem” para alguém, esta “ordem” sempre se faz acompanhar de uma “promessa” (Jeremias 1.7-8). O jovem Jeremias poderia contar com a presença; com a proximidade de Deus, acontecesse o que acontecesse. Será que o Arthur desfrutava de tal “segurança”? Como o Arthur resolveria o problema da timidez no contato com as pessoas? Deus assessorou Jeremias (Jeremias 1.9). Será que o Arthur também seria assessorado?

Anoiteceu. Sentei novamente no sofá. Reli os 52 capítulos do livro de Jeremias. Sim, Deus escolheu o homem certo. Ele, durante 50 anos, falou com segurança, sempre alicerçado numa profunda reflexão. Isso, no entanto, lhe pesou sobre os ombros. Por quê? Ora, ele precisava “dizer” a vontade de Deus com extrema clareza às pessoas de sua época. Os historiadores são unânimes: O povo ao qual Jeremias foi enviado era extremamente “duro” de tratar. Aquela gente não gostava de ouvir as verdades nuas e cruas que brotavam da boca do “escolhido” de Deus. Elas faziam pressão constante contra Jeremias que, por causa disso, sempre corria risco de morte. E não era só isso que pesava sobre os ombros do profeta. Deus também o tinha incumbido de escrever suas experiências para que as gerações vindouras pudessem usufruir de bons aprendizados.

O relógio do sino da Igreja bateu 11 vezes. Era tarde da noite. Comecei a examinar meu “coração”. Também sou profeta. Claro que não sofro as agruras que Jeremias sofreu. Os tempos são outros. Mesmo assim, muitos não me entendem. Apesar do meu esforço. Aqui e ali ouço críticas que exercem pressão sobre mim. Coisa boa poder se apoiar na palavra de Deus: - Eu sou contigo! (Jeremias 1.8). Fui deitar. Demorei a dormir. Será que o Arthur tinha consciência do que lhe esperava?

Amanheceu. Malhei. Tomei café e dei andamento ao dia-a-dia da minha Paróquia. Lá pelas onze horas da manhã, escrevi um e-mail para a Êlla...

Oi Êlla! Nossa reunião não me sai da cabeça. Penso muito no “chamado” de Deus que o Arthur diz ter recebido. Hoje, poucas pessoas se engajam nas propostas de “agrandamento” do Reino de Deus. Uns se dizem muito jovens; outros muito velhos; terceiros dizem que lhes falta dinheiro; quartos afirmam dificuldades com a voz e assim por diante. Sabe Êlla! Creio que onde existe amor a Deus, ali também está a solução dos “probleminhas”. Carrego a impressão que parece ser este o sentimento que permeia a vida do Arthur. Concordas comigo?

A resposta da Êlla veio em 15minutos: - Oi pastor! Li com muita atenção os dois primeiros capítulos do livro que o senhor sugeriu. Parece que a “evangelização” não depende muito de se falar com eloquência ou não – isso Deus resolve. Ele sabe exatamente o que conseguimos fazer bem. Ele, com o tempo, mostra como melhor fazê-lo. Que tal? Evangelizar, missionar e diaconar – tudo tem a ver com o engrandecimento do Reino de Deus. Será que a gente não poderia se colocar ao lado do Arthur e, assim, juntos, assumirmos a “construção” de alguma “idéia cristã” geradora de mais vida no Morro Santa Vitória? Pensei em fazer esta proposta ao grupo hoje à noite. Como o senhor vê isso?

A noite prometia. A turma foi se chegando um pouco antes das 20h. Sentamo-nos em roda no salão do sótão. Coisa boa trabalhar com jovens que não resumem suas atividades apenas em festas e brincadeiras. Oramos e, de repente, a palavra estava comigo... Em Jeremias 2.13 se lê: “O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água.”

Vivemos momentos complicados. De modo geral a sociedade se enclausura; se encastela, desenvolve uma espécie de “ensimesmamento” pessoal; familiar e comunitário. Poucos fomentam “sinais de vida” no meio dos “sinais de morte”. Poucos buscam a Palavra de Deus para dar sentido à sua vida. A maioria prefere “alimentar-se” de informações que nada tem a ver com as propostas de Deus. Ora, podemos interferir. Martim Lutero disse que “a fé é a luz que ilumina quando o entendimento perde sua visão”. Proponho debatermos esse conteúdo que reparti. E então?... Arthur!... Levantaste a mão. Queres te manifestar?

- Pastor! Tenho assistido suas pregações. Também tenho lido seu blog. O senhor sempre desafia quem o lê a “escrever a história, não apenas sofrê-la”. Sou formado em Educação Física e nos últimos dias me senti chamado por Deus a fazer diferença no Morro Santa Vitória. O que o senhor me diz disso?

- Arthur! Então você quer repartir os seus dons e talentos no Morro, junto ao povo empobrecido!
- Isso mesmo Pastor. Eu já tinha repartido esta idéia com o grupo. A Êlla e eu conversamos muito.
- É pastor. Na realidade o Arthur não só conversa comigo, mas com todo o pessoal.

O Júlio não se conteve e puxou palmas para a Êlla e para o Arthur. A algazarra foi geral. Todos já desconfiavam que aquela relação já se mostrava mais como namoro. Participei da brincadeira e, logo depois, re-encaminhei o diálogo.

- Pessoal! O profeta Jeremias foi um típico jovem da classe média dos nossos dias. Se vivesse numa grande cidade, certamente estaria estudando numa das nossas Universidades. Sua rotina era igual a de qualquer jovem da nossa turma. Tudo corria normal até o dia em que Deus o “atingiu”. A partir desse momento ele começou a viver uma “revolução interior” que logo “explodiu” exteriormente.

A Êlla queria se manifestar e oportunizei-lhe a palavra:

- Entendo que quando alguém está a serviço de Deus, está a serviço e ponto. Não há como fazer diferente. Todos os caminhos conduzem ao determinado objetivo que Deus apontou para ser buscado. Os impedimentos acabarão sendo todos transpostos. Pessoas tocadas pelos dedos de Deus, não podem ser caladas. Quando, por um ou outro motivo, são amordaçadas, acabam morrendo de tristeza e insatisfação.

- Certo Êlla!

O Arthur e a Êlla entenderam a Palavra de Deus. Não sou mais seu pastor. Sei que seu trabalho vai “de vento em popa”. Mais de cinquenta pessoas voluntárias atuam no projeto que articulam (advogados; professoras; médicos; engenheiros; enfermeiras...).

Ora, Deus “plantou” Suas palavras na boca de Jeremias; “plantou” Sua força no corpo do profeta. Ele também “sonha” plantar Suas Palavras e Sua força nas nossas vidas. Que pena! Falamos demais de Deus; demais da nossa fé; demais nos Cultos. Agimos dessa forma porque ela é forma comum. Sobre o significado dessas falas, pouco nos preocupamos. Jeremias nunca mais calou sua boca, depois de experimentar o poder de Deus em sua vida. Trabalhou empenhando sua juventude e sua terceira idade num projeto de amor que visava a “vida integral” do seu povo. Dedicou sua vida em prol da luta pela experimentação da felicidade coletiva do mesmo. Negou-se a pregar um Deus com sotaque individualista. Para tal, contextualizou-se dentro do mundo, entre os que não queriam que Deus fosse Deus. Experimentou sofrimento, mas venceu. Lutou pela justiça, pela paz e pela integridade da criação. Circulou pela cidade sofrendo seus problemas na carne. Buscou soluções para as dificuldades vividas pelas gentes, sem se esquecer de enfatizar a conversão dos maus caminhos. Jeremias venceu.

Cadê você? A gente se vê, a gente se fala...

19.9.11

Água doce - água viva!


Em 2011 a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) decidiu refletir o tema “Paz na Criação de Deus - Esperança e Compromisso” e o tema “Glória a Deus e Paz na Terra” (Lucas 2.14). Em março deste ano, o Grupo da Legião Evangélica da Paróquia São Mateus (LELUT), composto de treze homens (todos na faixa de 60 a 80 anos de idade) passou a estudar este assunto. Os primeiros dois capítulos de Gênesis nos fizeram entender que o “Jardim do Éden” (Jardim da Felicidade) foi criado por Deus com “doçura” e “fertilidade”; que Deus fez sair desse “jardim” a água que agoa o mundo e que, hoje, infelizmente, este “jardim” tem suas portas fechadas. Nós, no entanto, desejamos retornar às nossas origens. Foi por isso que “mergulhamos” no assunto.

Aprendemos que a água doce pode “sequestrar” tanto ou mais gás carbônico do que as florestas, ou seja, que ela contribui para o controle das mudanças climáticas; que o Brasil é dono de 11% de toda a água doce do planeta e que, por isso, nossa nação está sendo considerada a “potência hídrica” do século 21; que a água escondida no nosso chão é um “tesouro”, um “grande bem”, que está sendo desperdiçado por culpa do consumo inconsciente da nossa população e pela falta de infra-estrutura que nosso Governo disponibiliza para gerir este recurso.

Vimos que se conseguíssemos concentrar toda água doce existente no mundo numa laranja, então esta água corresponderia a uma gota. Assustamo-nos com alguns números: um habitante da Alemanha, por exemplo, consome, em média, 130 litros d’água por dia; um morador dos EUA consome 382 litros diários; já um paulista consome 189 litros. Assim concluímos que se quisermos cuidar da água do planeta, precisaremos ter atitude: reusarmos nossa água; captarmos água da chuva para aproveitamento da mesma em fins não potáveis; contribuirmos com o meio ambiente, disseminando, por meio da prestação de serviços e testemunhos o seu uso consciente.

Ao cabo de algum tempo decidimos fazer algo prático, no sentido de poupar água; de ajudar a natureza. Decidimos então criar uma “ESTAÇÃO ECOLÓGICA PARA CAPTAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA”. Colocamos a mão na massa. A chuva fina não teve força para apagar a nossa vontade de agir. A primeira manhã e a tarde terça-feira foram ocupadas com a manufatura da “caixaria”. Quando foi quarta-feira pela manhã, o sol ainda continuava escondido e a chuva persistia. Mesmo assim se deu “duro”: Misturamos mais de dez carrinhos de brita; de areia e muitos sacos de cimento – tudo na mão. A quinta-feira testemunhou mais esforço. Colocamos o “monstro cinza” na sua “cama” e fizemos todas as instalações hidráulicas. Aí damos tempo ao tempo. Hoje está tudo pronto. O fato é que os aposentados da LELUT contribuíram com os dinheiros de suas aposentadorias; doaram dos seus serviços e, hoje, a referida “estação” já está em uso. Todas as calçadas da nossa Paróquia São Mateus já são sendo lavadas com esta água coletada de uma das “águas” do nosso telhado.

Inauguramos a mesma no nosso Culto do dia 18 de setembro, 09h da manhã. No início todos os homens trouxeram as ferramentas usadas no serviço e as depositaram sobre o altar. Havia muitas irmãs e irmãos presentes no Culto. A prédica versou sobre a “água”. No final aconteceram algumas falas: O presidente do Sínodo Norte Catarinense (SNC), sr. Elemer Kroeger animou-nos a divulgar este testemunho, fruto palpável da reflexão proposta pela IECLB. O Sr. Ivo Ritzmann, representante da Diretoria da Comunidade Evangélica Luterana de Joinville – UP (CEJ-UP) nos parabenizou pelo projeto. A presidenta da Paróquia São Mateus, sra. Sandra Meier, ressaltou a importância desta obra dentro do nosso contexto mundial. Havia brilho nos olhos da Comunidade reunida – sementes de esperança brotando...

Saímos da Igreja e fomos receber a bênção ao lado da referida “Estação Ecológica”. Dali fomos enviados aos nossos lares para celebrarmos a vida, nunca nos esquecendo do mandado de Deus: Somos “administradores” da Sua obra neste mundo; obra esta que carece de continuar sendo criada; cuidada; querida!... Que Deus nos abençoe!

17.9.11

Profeta Jeremias - um operário de Deus!


Ontem à noite, depois de assistir o Jornal na TV, fui visitar o Nestor. Para surpresa minha, ele estava assando um churrasco. Que cheirinho gostoso. Confesso que lutei muito com a água que brotava na minha boca. Foram bons os momentos de comunhão. Depois de tudo sentamos no sofá. Nosso diálogo foi excelente.

- Sabe pastor! O Brasil se prepara para a Copa do Mundo de 2014. Os Canteiros de Obras começam a se multiplicar em todo o país. Quanta transformação já estamos experimentando!

- Verdade Nestor! Crateras estão sendo cavadas. Pontes e viadutos estão sendo edificados. Terrenos estão sendo aplainados e aterrados. Árvores estão sendo cortadas e outras plantadas. Tem muita gente dando “duro” na construção civil. É que tudo precisa contribuir para a beleza da Festa que se aproxima.

- Ainda ontem eu estava conversando com a Édina. Faltam três anos para deixar tudo pronto. Até lá esse nosso povo vai precisar trabalhar arduamente, demolindo; escavando; quebrando; dinamitando; consertando; corrigindo; plantando...

Nossa conversa foi quebrada pela minha esposa, a Valmi, que apontou para o relógio. Já passava das 23h. Despedimo-nos e fomos para casa. Antes de deitar, ainda dediquei alguns minutos para refletir sobre o texto de Jeremias 1.1-5 onde se lê sobre um “construtor” muito jovem que foi “requerido” por Deus para “construir” uma “obra” que encaminhasse a um futuro melhor. Sim, essa conversa com o Nestor e sua esposa seria uma boa idéia para perseguir na elaboração do meu texto...

- Valmi! Podes vir aqui no meu gabinete um instantinho?

- Oi! O que é?

- Escuta isso: Jeremias recebeu o “mandado de Deus” para arrancar o egoísmo do coração humano; para derrubar os muros de hostilidade que separam as nações; para destruir a injustiça e a corrupção dos governantes da sua época; para acabar com as diferenças existentes entre os ricos e os pobres; para construir a paz e justiça em seu país; para plantar o amor no coração das pessoas.

- Marido! Com certeza isso não foi tarefa fácil pra ele.

- Não foi não! O Jeremias fez fez de tudo para cair fora do tal “projeto”. Argumentou que era muito jovem para esse trabalho; que não era bom de discurso e que, por isso, minguém o levaria a sério. Que queria mesmo era ficar de fora, só assistindo...

- E Deus aceitou seu desejo?

- Claro que não Valmi! Deus lhe disse: - Jeremias, tu tens capacidade para fazê-lo. Vamos! Te “reveste” de coragem e assume esta tarefa porque Eu vou te ajudar!

- Interessante!... Lamento Renato. Estou cansada e não posso te ajudar no momento. Vou me deixar surpreender pela tua prédica no domingo. Já vi que estás bem aceso. Eu vou dormir. Boa noite...

A Valmi sumiu pela porta. Já eu me deixei levar pela reflexão. Jeremias ouviu a Palavra de Deus e reagiu. Começou a trabalhar com paixão. Por um lado, lamentou a injustiça que grassava em seu país, mas, por outro, lutou contra a opressão que o governo fazia sobre o seu povo; denunciou a falta de compromisso com Deus e, junto, consolou a sua gente. Sim, Jeremias entendeu que Deus não o deixaria só; que Deus iria fazer acontecer um “novo tempo”; que Deus iria mudar toda aquela conjuntura e que isso seria para já!

Acomodei-me na minha cadeira giratória e soltei meus pensamentos. Mudar o mundo... Que “projeto de vida” esse do Jeremias. Não, isso não foi uma tarefa fácil como bem tinha sugerido a Valmi. As verdades que ele precisava dizer nunca eram bem aceitas pelos que as ouviam. O que Jeremias tinha a dizer machucava os ouvidos de muitos conterrâneos que se sentiam ofendidos; desinstalados até com aqueles verbos. Vai daí que suas palavras duras faziam com que os “tocados” reagissem com ridicularizações; com gozações e até com peseguições. O fato é que Jeremias não arredou o pé. Continuou a sua “obra” movido pela “força” oriunda da sua crença. Em algum momento haveria de acontecer um mundo melhor para se viver - pensava.

Foi nesse instante que a Irma entrou no MSN....

- Oi Renato! Ainda acordado?

- Sim Irma! Trabalhando o texto que vou apresentar por ocasião do nosso encontro da Missão entre Universitários amanhã à noite. Vou falar sobre Jeremias, o moço que Deus separou desde o ventre de sua mãe para um “servicinho” especial...

- Legal! Não quero te atrapalhar...

- Atrapalha não querida Irma! Estou vendo aqui no meu estudo que o nosso mundo precisa ser melhorado, tal como o mundo dos tempos do profeta foi. Como ontem, também hoje estamos carecendo de profetas; de pessoas que se coloquem à disposição para, juntas, construírem um futuro melhor para nós.

- O que é que um profeta dos tempos modernos tem a fazer; quem seriam estes profetas de hoje Renato?

- Olha Irma! Creio que hoje, um profeta tem a tarefa de acabar com os preconceitos existentes. Ele poderia, por exemplo, ser o menino que convida o seu vizinho mais pobre para brincar. Creio que hoje, um profeta tem a tarefa de destruir o ódio. Ele poderia, por exemplo, ser aquele que escreve um cartão de aniversário para a parente que, depois da briga pela herança, jurou não trocar mais uma palavra que seja com os da sua família. Creio que hoje, um profeta tem a tarefa de construir pontes. Ele poderia, por exemplo, convidar o vizinho que recém chegou de mudança para uma xicara de chá ou de café. Creio que hoje, um profeta tem a terefa de plantar amor. Ele poderia, por exemplo, ser um pai que doa tempo e leva seus filhos a sério. Que tal?

- Entendi pastor! Então um profeta moderno se assemelha a um profeta da antiguidade?

- Na mosca Irma! Construir e destruir; edificar e derrubar; depois plantar, sempre com vistas num caminho que visa futuro melhor – essa é a tarefa a ser desincumbida também pelos profetas de hoje. Hoje, tal como antigamente, esta tarefa continua sendo árdua. Aqui e ali, de repente, tu e eu poderemos ser acusados de tolos – se nos engajarmos.

- Eu não tenho tanta experiência como tu, mas percebo que há pessoas que ainda continuam a se doar na construção deste “bom caminho”. Elas fazem isso porque acreditam num mundo melhor, não apenas na vida após a morte, mas num “espaço mais integral”, já aqui e agora na terra.

- É isso que me anima Irma. Hoje, tal como antigamente, cada um de nós pode vir a ser um profeta; uma profetisa. A idade e a educação não importam. O que importa é se ser senhor de uma grande porcentagem de confiança em Deus e, junto, de um forte desejo de se querer mudar alguma coisa neste mundo...

- Veja só! Então não só o mundo da Bíblia careceu de profetas. O mundo onde vivemos também carece. Joinville carece. A Paróquia São Mateus carece de gente chamada por Deus que pense, que fale, que diga, que aja e que se doe para cumprir o chamado de Deus de continuar transformando os Seus projetos de paz; amor e perdão.

- Isssssso Irmaaaaa! Eis nossa tarefa: Acreditar num mundo melhor e, com nossas próprias mãos, movidas pela nossa clara reflexão,começar a construir uma estrada que leve até lá.

13.9.11

Reforma Luterana!


Outro dia ouvi a avó do Nando berrando na vizinhança: - Cuidado menino! Desse jeito você não vai pro céu! E o menino retrucou gritando: - Ah vó! Eu nem sei se quero ir para o céu!

Confesso que fiquei com vontade de interferir naquela conversa. Pessoas como o Nando não podem ser ajudadas. Sem Deus poderemos chegar onde quisermos, mas, “no final desse caminho sempre haverá uma pedra”! Se Martim Lutero tivesse ouvido a resposta que o Nando deu para sua avó, ele, certamente, retrucaria: “Nando! Deus te quer no céu! Busca uma resposta que te encaminhe para lá!”

Martim Lutero sempre se esforçou para responder a pergunta: Como se faz para chegar ao céu? Sim, ele ocupou grande parte do seu tempo como monge para alcançar a certeza desta resposta. Sabe-se que como professor de Teologia ele gastou horas e horas de oração; de reflexão e de pesquisa na Bíblia para dominar esta questão. A História testemunha que quando ele se tornou padre, assessorou-se da Comunidade para dirimir sua dúvida: Como é que nós, pecadores, conseguiremos nos confrontar com esse Deus justo, do qual tanto se fala na Bíblia?

Deveria haver uma resposta clara para tal pergunta! Um dia, assim, de repente, lhe veio uma luz: “Ele só teria acesso ao Reino de Deus a partir da sua fé”. (Romanos 1.17: Pois o evangelho nos mostra como é que Deus nos aceita: é por meio da fé do começo ao fim. Como dizem as Escrituras Sagradas:”Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus.”)

O resultado de toda esta luta em prol de uma resposta satisfatória redundou nas conhecidas “95 Teses” escritas pelo nosso Reformador. Nelas se lia uma “resposta” à pergunta de “como se chega ao céu”.

O Papa não gostou nada daquilo que Lutero escreveu naquelas Teses. O Imperador e grande parte das Autoridades Políticas da época fizeram coro com o Chefe Máximo da Igreja de então e, com grande estardalhaço, expressaram sua discordância com aquele conteúdo pregado na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg.

Fazer o quê? Para Lutero aquela resposta encontrada na bíblia era mais importante que o Papa; que o Rei e que tudo o mais.

No começo Martim Lutero até pensava que deveria fazer boas obras para alcançar o céu; entendia que precisava se esforçar para ser notado por Deus e, como consequência, ganhar o “bilhete” que lhe dava acesso ao céu. Também hoje muita gente ainda pensa assim: “Vou ao céu se me comportar bem aqui neste mundo.” Martim Lutero desaprovava esse comportamento. Para ele, nunca ninguém saberá se os seus esforços são ou serão suficientes para alcançar a bênção de Deus e a salvação eterna.

Impressionante! Ninguém pode fazer nada para conseguir o céu! Deus, a partir de Jesus Cristo, fez tudo o que precisava ser feito para que se alcance o Reino de Deus. A pessoa que coloca a sua vida no colo de Deus acaba herdando essa possibilidade gratuitamente!

Essa compreensão mudou a vida de Lutero por completo. Lutero tornou-se uma nova pessoa. Ele entendeu que sua vida não dependia dos próprios esforços; do tempo que gastava com orações e estudos bíblicos. Lutero percebeu que somente a sua fé em Jesus Cristo é que lhe abria as portas do céu; que Deus lhe acenava com o perdão para tudo o que tinha feito de errado.

Sim, penso que a vida do Nando vai mudar se ele vier a crer nesta verdade. Martim Lutero entendeu que o caminho até Deus não pode ser construído com força própria; não pode ser herdado por merecimento; não vem da Igreja. Depois que ele reconheceu essa máxima, deu de si no sentido de que todas as pessoas encontrassem o caminho que leva ao céu: traduziu a Bíblia para uma linguagem compreensível; não permitiu que os poderosos da época o assustassem; escreveu livros e pregou sobre a fé; sobre o presente do perdão de Deus através da morte e da ressurreição de Jesus Cristo.

O céu está aberto para a avó do Nando; para o Nando e também para nós. É Deus quem nos convida a entrarmos nele. Deus não nos força a fazermos isso. Cada um tem a liberdade de acreditar no que quiser. Todos podem viver como bem entenderem. No entanto, se quisermos chegar perto de Deus, deveremos arriscar nossa confiança em Jesus Cristo; pendurarmos nosso coração Nele; permitirmos que Ele renove a nossa vida por completo.

- Nandooo! Eu se fosse tu, ia querer o céu!

7.9.11

Pontifex maximus!


Era segunda-feira, meu dia de folga e eu estava só. O céu estava azul; o sol se mostrava quente e sombra agradabilíssima, debaixo do laranjal. Foi ali que estiquei a rede. Devo ter cochilado uns trinta minutos. Quando abri meus olhos, vi a natureza e me parei a pensar...

Deus me chamou para construir “pontes” que aproximam pessoas; que oportunizam diálogos; que ligam idéias... Como me desincumbir desta tarefa? Relaxando meus cercados; reconhecendo tesouros outros; abdicando de “reinventar a roda” – por exemplo.

Pontes” oportunizam a passagem sobre depressões e fronteiras; oportunizam contatos onde nunca houve possibilidade de diálogo. Elas podem ser de madeira; de pedra e ou de aço. Quem passa por elas sente novidade. “Pontes” sempre são mais simpáticas do que “muros”.

A abelha suga o néctar da flor branquinha. As folhas verdes brincam com as réstias dos raios da luz solar. São lindos os pés que encaminham ao outro. São lindos os braços que se abrem aos abraços. São lindas as mãos que se apertam. São lindos os olhos que se encontram. São lindos os ouvidos atentos às vozes alheias. São lindas as bocas que esboçam sorrisos abertos. São lindas as palavras providas de bons tons. Tudo são encontros; “redes” de interesse promotoras da implosão das possibilidades de “ensimesmamento”.

Incluir – não dividir. Não seria essa uma boa idéia? A Bíblia sugere a construção de “mil pontes” quando Jacó e Esaú se dão as mãos; quando Deus faz acontecer o arco-íris; quando o pai abre os braços para receber o filho perdido; quando Jesus reata a nossa comunhão com Deus.

Em 1 Timóteo 2.5 onde se lê: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” Jesus Cristo foi um “Mediador”. Jesus Cristo edificou a “ponte”. Jesus Cristo “mediou” a possibilidade da aproximação das pessoas de Deus, a partir da Sua “ação” no mundo. Jesus Cristo foi e continua sendo o maior “Construtor de Pontes” que o mundo conheceu. Em latim se diria que Jesus Cristo foi o “Pontifex maximus”.

Sento-me na rede. Meus pés balançam. O sabiá canta. A brisa é fresca e eu piso no chão. Quero continuar este processo. Volto para a minha casa. Também sou um “pontífice”.

30.8.11

Podemos nos divorciar?


Outro dia me deparei com uma questão a ser respondida, enquanto abria minha caixa de e-mails: “Vocês pastores, sempre ao final de qualquer cerimônia matrimonial se saem assim: - O que Deus uniu, não o separe o homem. De onde vem esta certeza que foi Deus quem uniu os nubentes?

Errar é humano. Hoje se diz que a grande causa do excessivo número de separações matrimoniais dos nossos dias nem são as questões íntimas, mas a carreira; o consumo; a dificuldade financeira e o lazer. Ora, um casamento que pretenda se pautar em Deus, não pode prescindir de Deus.

Concordo que a decisão de uma “caminhada conjunta” nem sempre passe pela vontade de Deus. Muitas vezes a idéia da união tem motivação particular. Há um sem número de motivos para que duas pessoas se unam em matrimônio. Já ouvi de amigos que apostaram entre si, se o colega iria ou não se casar com a tal “pintura de mulher”. Sei de casos onde os pais foram contrários à relação dos seus filhos e eles, só para “quebrarem seu bico”, acabaram casando. Há também aqueles que entram em pânico pelo fato de não terem encontrado ninguém e então: “uni du ni tê, salamê, minguê, um sorvete colorê, o escolhido foi você...

Três situações que apontam para a escolha de qualquer uma; de qualquer um. Casos claríssimos de que Deus não teve nada a ver com o “contrato”; com a “aliança”; com o “compromisso”. Sim, não é fácil usar o bordão cristão: - O que Deus uniu, não o separe o homem.

19.8.11

Hermenêutica Luterana!


Era domingo, quase meio-dia. O celular da Comunidade Evangélica Luterana de Joinville estava comigo. Sim, a partir daquele momento eu estaria plantão da CEJ e isso, até a segunda-feira à noite. Nós, as “ministras” e os “ministros”, acordamos que, sempre, um de nós, está a postos para trazer “boa palavra” quando de momentos especiais na nossa Joinville. Eu, absorto, me encontrava limpando a churrasqueira quando o telefone móvel tocou.

- Alô!...
- Oi pastor Renato. É a Êlla.
- Ou Êlla! O que houve? Como sabias que eu estava disponível neste número?
- Ô pastor... Eu leio jornal.
- Tá certo. Algum problema Êlla?
- Sabe o que é pastor... Eu fui ao Culto e o nosso pastor falou a palavra “hermenêutica”, enquanto tentava explicar algo sobre o tema “homoafetividade” a partir da Bíblia. Olhei no “Wikipédia”, nessa enciclopédia participativa, na qual quase todos da minha geração pesquisam, mas não entendi nada desse assunto. O senhor pode me ajudar?...
- Puxa Êlla. Que assunto pra domingo... Te mando um e-mail hoje à tarde, pode ser?
- Beleza pastor. Obrigada e bom domingo.

Joguei a cinza velha no lixo. Espalhei carvão novo no fundo da “assadeira”. Passei um “paninho” nos espetos. Espetei a costela gorda. Salguei o pedaço de carne vermelha. Lavei as mãos e dei seguimento a esta “liturgia domingueira”. Enquanto o fogo ia se alastrando, pensei na Êlla, na sua pergunta, numa possível resposta. A cuia de chimarrão parou na minha mão e eu sorvi um, dois, três goles...

“Hermenêutica Luterana”... Ela é o “instrumento” que ajuda a Bíblia se “auto-explicar” a partir da verdade e da força orientativa (scriptura sui interpres) que emana do Evangelho. A Igreja (Corpo de Cristo) pode e deve confiar neste “poder”, calçando-se em Romanos 1.16 onde se lê: “Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, e também do grego.” Ela, a “hermenêutica luterana” é o “ensino” que promove o aprendizado (mudança de comportamento) dos “discípulos” da atualidade (a Êlla e eu) que buscam a reta compreensão da Bíblia. Ela, a “hermenêutica luterana”, nos desafia a ensinarmos a Palavra de Deus, alicerçados na razão; a desnudarmos a realidade e a verdade, sempre de forma contextualizada, a partir do estudo do todo da Bíblia. Não nos cabe optar por esta ou aquela “palavra”; por este ou aquele “assunto”; por esta ou aquela “idéia”, como se os tais “detalhes” fossem a “cereja do bolo”. O “bolo todo” nunca pode ser perdido de vista. Quem quiser ensinar a Bíblia, haverá de se comprometer com esta tal de “hermenêutica luterana” que observa cada nuance dentro do grande contexto da História. A nós sempre cabe comunicar a Palavra de Deus de forma tão clara e profunda que Jesus Cristo transpareça em cada som que porventura saia da nossa boca.

O fogo estava bom. Eu teria que dar andamento ao propósito do almoço. Já brotava água na minha boca...

17.8.11

A reflexão continua!


José, amigo desde os tempos de colégio, fez menção de embarcar no velho “golzinho rebaixado”. O problema é que seu colega não se mexia. Observou-o, parado, ali na beira do asfalto. Ele parecia estar olhando para dentro de um vazio. Estranhas todas aquelas palavras: medo; chão; bela cidade; felicidade completa; inícios míseros... Deixa pra lá. Aproximou-se do companheiro, agarrou-o pelo braço e, meio que sem jeito, empurrou-o para dentro do carro.

Viajaram longo tempo em silêncio. José, com o “rabo do olho”, monitorava o comportamento do seu “carona” durante a viagem. Seu corpo comunicava que alguma coisa muito importante estava tendo vazão dentro da cabeça do “Itália”, como o chamavam na faculdade.

Já era noitinha quando o carro ultrapassou o quebra-molas anunciador do perímetro urbano da sua cidade natal. Depois de algumas curvas para a direita e outras para a esquerda, estacionaram em frente à casa da Êlla. Sua mãe abriu a porta e convidou-os a entrar. Os dois jovens acomodaram-se no grande sofá. Seus pés se afogavam no tapete de lã de ovelha.

- A Ella já vem. Aceitam uma bebida?

José não se fez de rogado e, com um sorriso no rosto, disse que aceitavam. Não demorou muito veio a amiga, espalhando alegria com palavras e gestos carinhosos como sempre. Aquele comportamento era natural, nada teatralizado. Os moços gostavam daquela menina que logo foi colocando:

- Que bom que vocês vieram. Vamos sair?

José já esperava esse convite. Manteve-se quieto na esperança que seu amigo velho reagisse positivamente. Aquela guria que sempre esbanjava simpatia tinha tudo para ajudar seu amigo. E não deu outra. Não demorou nada e o Arthur já saiu da casca.

- Eu topo. Pra onde vamos?

16.8.11

Ai, ai, ai, ai, ai, ai ai...


- Não sinto mais medo José.
- Já notei amigão! Reparte teus sentimentos.
- É que andei estudando o chão onde piso.
- Ah tá! Viraste geólogo agora?
- Nada disso!
- Abre o jogo Arthur, estou curioso!
- Vai ser aqui neste lugar que, no futuro, se erigirá uma bela cidade.
- Arthur Trevisan – o italiano visionário...
- Vai vir o dia em que a opressão do homem pelo homem, não será mais verdade; em que o brilho do ouro não seduzirá mais nenhuma viv´alma.
- É febre, só pode ser febre... Vamos pra casa!
- Neste lugar, o vil metal servirá apenas de paralelepípedo aos transeuntes.
- Arthur! Menos por favor!
- Neste dia nós experimentaremos a felicidade completa.
- Cara! O que é que está acontecendo contigo?
- Nada ó grande José! Dei-me conta de que Deus se colocou no nosso nível – só isso.
- Tá e daí?
- Daí que, com o nosso auxílio, Ele vai erigir esta cidade do futuro.
- Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai... Vamos ter que ouvir novas marteladas libertárias.
- Não!
- Arthur! Eu já te pedi: abre o jogo. Do que é que estás falando?
- Esta nova cidade já está sendo erigida a partir de pequenos sinais; de inícios míseros.
- Inícios míseros!? Pequenos sinais!? Arthuuurrr... Menos!
- Inícios míseros e pequenos sinais que já são verdade no engajamento da cristandade.
- Agora é sério. Vou te levar pra casa.
- Tu e eu vamos vizinhar nesta metrópole, renovados e inteiros.
- Embarca no carro Arthur...!

11.8.11

Dízimo – um discurso insustentável?


Criei o diálogo abaixo a partir de uma palestra que ouvi da boca do colega Pastor Werner Fuchs, quando da minha participação numa Conferência de Obreiros (como se dizia) em Ijuí (RS), no ano de 1997. O texto estava amarelado dentro de uma de minhas pastas, mas o salvei dando vida ao mesmo nos personagens Oraldo, Felício e Amadeus. Penso que vale a pena ler o mesmo. Boa leitura!

A vida tem destas coisas. Era dia 11 de abril de 1999 e o Aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre estava “bombando”. Os alto-falantes tinham acabado de anunciar que os passageiros com destino a Munique, na Alemanha, teriam que entrar na fila de embarque que levava ao portão B. Que surpresa! Depois de longos 30 anos de convivência nos bancos escolares da Escola Evangélica de Ivoti – um reencontro. Depois dos abraços; da troca de boas palavras e dos sorrisos marcados de alegria, o Oraldo, o Amadeus e o Felício se deram conta que iriam viajar juntos durante mais de 12 horas. A articulação gerou-lhes a possibilidade de sentarem juntos nos espaço correspondente à classe econômica. Foi nas poltronas centrais que os três amigos ocuparam a primeira fileira, bem em frente à tela maior. Ninguém dos três prestou atenção em mais nada e o diálogo tornou-se vivo por causa das relembranças de cada um.

O avião já tinha se estabilizado quando as aeromoças começaram a servir bebidas. Lá fora a lua crescente brilhava sobre uma parte da terra.

Oraldo – A lua está crescente...

Amadeus – Como você sabe se ela está crescente ou decrescente?

Oraldo – Simples! Se ela conseguir segurar “água” dentro da sua concavidade ela é crescente. Se não conseguir segurar “água” é porque é minguante.

Felício – Muito boa essa da “água”. Você não perdeu sua praticidade...

Amadeus - Nunca me esqueço das discussões que tínhamos com o “Salomão”. O Oraldo não dava folga pro “querido mestre”...

Felício – É verdade! Foi ele quem nos preparou para entrarmos na Faculdade de Teologia em São Leopoldo.

Oraldo – A antiga FACTEOL que hoje se chama Faculdades EST. Às vezes fico pensando... Se eu não tivesse optado em ser pastor da IECLB acho que eu seria professor.

Amadeus – Você ia se dar bem nesse “negócio” Oraldo. Mas mudando um pouco o rumo da nossa conversa, estou viajando pra Baviera para conversar com as lideranças da “Landeskirche” sobre projetos que dizem respeito ao bom uso dos bens da natureza. E vocês?

Oraldo – Meu objetivo é estudar durante três meses um pouco mais sobre a História do “Gotteskasten”.

Felício – Rapaziada! Vocês são demais, mas o “papai” aqui está indo gozar 30 dias de férias – nada mais do que isso. Mas me diga Oraldo: Tu que és mais teólogo que nós dois juntos, como é que tu estás percebendo esta história do “dízimo” na nossa IECLB?

Oraldo – Boa essa do “mais teólogo”... O grande argumento em favor do dízimo que sempre se ouve fora e dentro da IECLB é que sua prática é bíblica. É dessa forma que se sustenta o dízimo como a única forma legítima de se contribuir para Deus e a Igreja.

Amadeus – Tá certo!... Mas ao mesmo tempo este argumento também gera acanhamento; silêncio entre os que não apregoam o dízimo; entre os que praticam outras formas de contribuição.

Oraldo – Lembram do Schwantes? Ele dizia que no Antigo Testamento o dízimo era arrecadado para o sustento dos sacerdotes, dos levitas e do templo (Gênesis 14.20; 28.22; Levíticos 27.30ss.) Naqueles tempos o dízimo também servia para socorrer necessitados (Deuteronômio 14.28ss; 26.12ss).

Felício – Não sou tão versado no assunto como aquele nosso professor, mas também entendo que o dízimo não era a única forma de arrecadação naquelas épocas do passado. Li outro dia que havia outras formas de se levantar dinheiros que variavam conforme o período histórico e a atividade produtiva.

Oraldo – Você está certo “garoto”. É provável que a forma mais antiga de arrecadação esteja ligada à tradição pastoril e ao êxodo. Naqueles tempos se falava da “oferta das primícias” ou dos “primogênitos” (Gênesis 4.4; Êxodo 13.15; 34.26; Números 3.13; 8.17; 18:12ss; Deuteronômio 26.2; 2 Crônicas 31.5; Provérbios 3.9ss; Neemias 10.35ss; Lucas 2.22ss.).

Amadeus – Pelo que eu sei também havia as “ofertas voluntárias”. Outro dia criei um estudo bíblico sobre “dízimo”. Ainda lembro da palavra de Êxodo 25.2 e 35.5 onde está sugerido que a “oferta” pode acontecer a partir do “coração de todo homem que se mover para isso...”. Sim! Também havia as numerosas “ofertas instituídas” no censo (Êxodo 30.12ss) e nas festas. Nas ofertas proporcionais à renda (Deuteronômio 16.17); nas trazidas por gratidão (Levítico 7.12); nas ofertadas pelo pecado cometido (Levítico 4.3ss); nas ofertas que aconteciam pelo ciúme (Números 5.15); nas ofertas que se tornavam verdade por causa da purificação (Levítico 12.6; 14.13); nas ofertas que eram doadas para consagrar lugares (Números 7.15; 1 Reis 8.64); nas ofertas que tinham o objetivo de resgatar coisas consagradas (Levítico 27.16ss), etc., etc., etc.

Felício – Grande Amadeus! Continuas com a “cabecinha” oxigenada amigão. Vale dizer que todas essas ofertas e que todas essas primícias, assim como todos os dízimos, serviam igualmente a manutenção dos levitas (Números 18.11s; Neemias 12.44).

Oraldo – Certo Felício. Por vezes as contribuições ao templo eram negadas, ou prestadas apenas parcialmente, ou ainda trazidas por mero ritualismo (Neemias 13.10; Malaquias 3.7ss). Outras vezes elas consistiam num peso exagerado para o povo, de modo que surgiram reformadores e profetas para denunciar e corrigir estas distorções (2 Crônicas 24.4s; 31.5; Miquéias 6.6s; Amós 5.22ss).

Felício – Oh loco! Dava pra gente escrever um pequeno tratado com base no conteúdo desta conversa. Mas deixando a graça de lado, vale notar que, alem das contribuições ao templo, o Antigo Testamento também determinava a realização da “misericórdia e da justiça” que se resumiam em “esmolas” e “boas obras” (Levíticos 25.35; Deuteronômio 15.7; Provérbios 31.20).

Amadeus – Que é isso gente! Nós aqui, sobre o Oceano Atlântico falando de dízimo. Só pastores da IECLB mesmo pra ficar ruminando assuntos desta monta.

Oraldo – É a nossa vida Amadeus. O que é que nós vamos fazer? Outro argumento em defesa do dízimo é que Deus prometeu “abençoar” regiamente aos dizimistas.

Felício – Olha gente! Eu carrego a impressão que essa palavra dá a entender que Deus só abençoa quem é dizimista com felicidade; com prosperidade e com reconhecimento.

Oraldo – É! Tens razão. Hoje se diz que as bênçãos só podem ser comprovadas na vida espiritual e material do cristão, bem como no sucesso das Igrejas dizimistas.

Amadeus – Meio complicado isso daí! É fácil notar que essa afirmação não tem fundamentação bíblica e constitui uma distorção teológica perigosa.

Oraldo – Certo! O versículo mais citado nesse discurso e isso até com um triunfalismo raso, é Malaquias 3.10 onde se lê “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa e provai-me nisto diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós bênçãos sem medida.”

Felício – Que coisa! A gente tem que ter coragem para pensar um pouco mais profundamente sobre esse assunto.

Amadeus – Nós temos! (Amadeus retira sua Bíblia da sacola de mão e abre-a) Escuta aqui ó: No capítulo 3; versículo 8 de Malaquias se lê sobre uma acusação de que os dízimos e as ofertas não foram integralmente trazidos de modo que o pronome “todos” que consta no versículo 10 não se refere apenas ao dízimo, mas inclui, logicamente, também as demais ofertas devidas.

Oraldo – Já estudei este texto Amadeus. Percebam que a causa de retenção dos dízimos e das ofertas é que, na situação precária de estiagem (“abrir as janelas do céu”, v. 10); de pragas (“gafanhoto” devorador, v. 11) e de vinhas estéreis (v. 11), cada um cuidava primeiro do seu próprio sustento e, assim, “defraudava a Deus” (v. 8).

Amadeus – Sim! E isso revela falta de confiança em Deus, a quem se ofereciam as sobras - se houvessem. E claro, em decorrência, a bênção é prometida não para a prática mecânica do dízimo, mas para quando for restabelecida a confiança prioritária em Deus que proverá o necessário. Esta confiança se mostra nos atos do povo.

Oraldo - Segundo a expectativa da época pós-exílica que é posterior à construção do segundo templo (ca. 470 a.C.), as bênçãos descritas em Malaquias 3.10-12 (especialmente no v. 12, "as nações verão", cf. Isaías 62.2; Zacarias 8.13) são sinais do futuro escatológico, do tempo de salvação (K. Elliger, ATD 25, 6a ed., p. 188 e 211). Ou seja, por serem promessas para o fim dos tempos, era preciso ter cuidado de não aplicar as bênçãos assim, sem mais nem menos ao cotidiano e à prosperidade material no mundo secularizado.

Amadeus – Não carrego a mínima dúvida que a intenção de Malaquias era produzir arrependimento e humildade. Mas a palavra sobre a possibilidade de pôr Deus a prova e obter Dele provas através da prosperidade material soa arrogante na boca dos dizimistas.

Felício – Ei pessoal! Se bem me lembro Jesus classificou como diabólico o ato de “tentar a Deus” (Mateus 4.7; Deuteronômio 6.16)! Deus declarou que ele não necessita das ofertas do povo (Isaías 43.23ss; Salmo 50.7-15). Mais que isso! Para Ele o doador experimenta a alegria e a aceitação de Deus não porque dá o dizimo, mas porque oferece de coração, liberalmente, tudo o que dá (1 Crônicas 29.9; Provérbios 11.24s; Lucas. 6.38).

Oraldo – (Pensativo) Quanto ao “sucesso” visível do dizimista... No Antigo Testamento as primícias eram ofertadas no início da colheita ou da produção animal, ao passo que o dízimo podia ser calculado somente no final da colheita.

Felício – É! Se o cristão separa 10% do salário no começo do mês, está de fato ofertando primícias. Se o faz de coração, confiando que Deus provera o necessário para o mês todo, essa primícia em forma de dízimo é uma contribuição válida, como a de qualquer outro percentual ou valor. Além disso, ha um efeito prático: Para uma pessoa pouco disciplinada em seu orçamento, oferecer mensalmente primícias de 10% significa a aprendizagem de autocontrole e previsão de gastos, de modo que ela experimenta maior disponibilidade financeira.

Amadeus – Vou abrir meu coração com vocês! Tenho para mim que além de distorcer as evidências do Antigo Testamento, o discurso a favor do dízimo também deixa totalmente de lado o testemunho do Novo Testamento. É que os próprios termos “dar a décima parte” (apodekateuein, dekatoun) aparecem somente em 3 ocasiões: Mateus 23.23; Lucas 11.42; Lucas 18.12 e Hebreus 7.5s. Acho isso um tanto pouco.

Oraldo – (Rindo) Jesus ironiza o exagerado rigor legalista dos fariseus e insiste no cumprimento da justiça; da misericórdia e da fé. Mesmo que Jesus diga que deveriam trazer os dízimos sem negligenciar as obras de caridade, a ênfase não está na defesa do dízimo, e sim na misericórdia e justiça. Portanto o dízimo é circunstancial; é uma variável sócio-cultural, ao passo que a justiça é essencial; é do coração; é uma exigência constante nas diversidades históricas.

Felício – Creio que é por isso que, ao radicalizar, indo à raiz, ao coração, Jesus relativiza o dízimo. Para Ele o “túdimo” da viúva pobre vale mais que as ofertas dos ricos (Marcos 12.41s). Quem não renuncia a tudo o que tem, não pode ser discípulo (Lucas 14.33; Filipenses 3.8) e ao que renunciou, é que são prometidas bênçãos (Lucas 18.28s).

Oraldo – Em Lucas 18.12 também se lê que o dízimo serve para a auto-justificação do fariseu. O fariseu cria que para estar bem com Deus, bastava cumprir exteriormente os ritos e respeitar as separações sacrais. Jesus foi claríssimo ao dizer que o fariseu dizimista não é aceito por Deus (v. 14), e que o “arrependimento” sincero do publicano era o caminho para a reconciliação com Deus, bem como o dinamismo para a comunhão. “Buscai primeiro...” (Mateus 6.33).

Amadeus – A gente não pode ficar repartindo isso daí com todo o mundo, mas em momento algum, em Atos ou nas Cartas se dá qualquer notícia de que as primeiras Comunidades Cristãs tivessem praticado o dízimo ou que ele fosse um alvo recomendável, apregoado pelos apóstolos.

Felício – Certo Amadeus! Os primeiros cristãos tinham tudo em comum e a necessidade do próximo constituía a medida de sua contribuição (Atos 2.45; 4.32). O pensamento de Paulo é inspirado pelas primícias, oferecidas espontaneamente no inicio da semana e proporcionais às possibilidades da pessoa (1 Coríntios 16.2), segundo cada um se propôs no coração (2 Coríntios 9.7).

Oraldo – Estou convicto de que para o apóstolo existe uma troca de bens materiais e espirituais (louvor e orações) entre doadores e beneficiados, pela qual se estabelece a igualdade (2 Coríntios 8.8ss). Ele destaca também que oferecer as primícias era uma forma de consagrar a totalidade da produção (Romanos 11.16), e enfatiza a contribuição generosa a partir da liberdade evangélica (Romanos 12.8).

Amadeus – Rapaziada! Estou aqui ouvindo vocês e me lembrei de Hebreus 7. Este texto aborda de forma exaustiva a questão do dízimo, mas, curiosamente, os defensores do dízimo o ignoram, passam rapidamente por ele, ou o omitem porque não lhes convém. Já se deram conta disso?

Felício – Verdade! E não o citando este texto de Hebreus também passa despercebido pelos demais evangélicos. Alguém de vocês já estudou este texto mais a fundo?

Oraldo – Fiz isso! Hebreus 7 afirma que o dízimo é coisa da Velha Aliança que, por ser fraca é inútil (v. 18) foi totalmente superada (v. 12) e revogada pelo sacerdócio perfeito de Cristo, que não pertence a tribo dos levitas (v. 13). Jesus, o fiador de uma aliança superior (v. 22) é o “sacerdote perfeito para sempre” (v. 17, 21, 28).

Amadeus – Tudo a ver. Jesus não provinha da tribo dos levitas, a quem era devido o dízimo, e sim, da tribo de Judá (v. 14), sendo constituído sacerdote não pela linhagem carnal, mas segundo a ordem de Melquisedeque (Salmo 110.4), o misterioso rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que abençoou Abraão e já recebeu dele o dízimo (Gênesis 14.17-20).

Felício – Então “não há mais nenhum motivo para que quem crê em Cristo de pagar o dízimo”, é isso?

Oraldo – Calma! O significado de Melquisedeque, rei da justiça, enseja uma reflexão sobre o que é justo. Pois, além de ser uma pratica “imperfeita e legalista” e superada pelo Evangelho; pela Nova Aliança, o “dízimo é profundamente injusto”.

Amadeus – Gente boa! Uma conversa dessas, nós só podemos conversar aqui dentro do avião. Já pensaram se o “Frida” fica sabendo?

Felício – (Rindo alto) Apesar da aparente justiça (tratamento igual para todos), logo se descobre o engano. Pois tratar de forma igual pessoas desiguais, não vai diminuir, mas antes aumentar as injustiças. Por exemplo, para um operário de salário mínimo, dar o dízimo significa tirar o pão da mesa, enquanto alguém com salário de R$ 3.000 reais pode contribuir com R$ 300,00 e ainda dispor de uma boa sobra para supérfluos.

Oraldo – Sempre defendi a tese de um escalonamento progressivo: Quanto mais rico, maior o percentual. Portanto, se alguém introduz na Igreja simplesmente o dízimo, não está afrontando e espantando a Cristo, o rei da justiça?

Amadeus – Pregadores do dízimo são judaizantes, à semelhança dos pregadores da circuncisão criticados em Gálatas 5. Fazer do dízimo uma lei ou um cavalo de batalha para membros, Comunidades e Paróquias é uma distorção teológica grave. Revela não somente desconhecimento bíblico e ingenuidade ética, mas, sobretudo uma assustadora facilidade de trocar o coração pelo rito; a essência pela aparência; a fé pela vantagem; a liberdade pela coação.

Oraldo - Sem dúvida há uma enorme necessidade de se repensar a argumentação e a prática de contribuição na Igreja. Mas será válido ofertar primícias de 10% a Deus, assim como de qualquer outro percentual, somente se forem dadas de coração, livre e generosamente, sem “calculismos”, de acordo com a prosperidade de cada um, pois a Deus pertencem 100% de tudo (Salmo 24.1).

Felício – Já passa da meia-noite. Penso que estejamos sendo inconvenientes com quem quer dormir. Continuamos essa conversa amanhã, depois do café. Boa noite!

Amadeus – Boa noite.

Oraldo – Acho que vou demorar pra adormecer. Em todos os casos, boa noite...

9.8.11

Martin Nehls - Tributo

Ontem, dia 08 de agosto de 2011, lá pelas 09h, eu fui informado da morte do nosso querido Martin Nehls que, no tempo de juventude, não foi muito ativo na Igreja. Ele gostava de dizer que essa história mudou depois que conheceu o pastor Otto Tollefson. Sim, nós estamos diante do corpo do “Seu Nehls” – como muito o chamavam; diante deste homem que foi um dos fundadores da Paróquia São Mateus; do Coral da Paróquia dos Apóstolos e do Coral da Paróquia São Mateus; deste homem que sempre participou da liderança da Igreja, seja no Presbitério e ou no Grupo de homens da Legião Evangélica da São Mateus. Aqui e agora o Martin, aquele homem de fala incisiva, é a razão de ser deste nosso Momento de Despedidas...

Não me segurem aqui...

Queridas família enlutada; queridos enlutados! É estranho, mas sempre que perdemos uma pessoa querida, carregamos a impressão de que estamos mais próximo dela. Aqui e ali nos lembramos dos momentos vividos. Imagino que isso também esteja acontecendo com vocês. Quase sempre é assim que só quando perdemos alguém que gostamos, que nos damos conta de quem verdadeiramente era a pessoa que caminhava do nosso lado.

Podemos agradecer a Deus pelo vizinho; pelo amigo; pelo esposo; pelo pai; pelo irmão; pelo cunhado; pelo sogro; pelo avô; pelo “ancião” da Igreja; pelo sr. Martin Nehls, de quem estamos nos despedindo nesta triste terça-feira de agosto. Quero lhes trazer uma Palavra baseada em Gênesis 24.56: “Isaque respondeu: - Não me façam ficar aqui. O Senhor Deus fez com que a minha viagem desse certo; deixem que eu volte para a casa do meu patrão.”

Gente querida! O Deus de Isaque; o Deus de Jacó e o Deus de Abraão também é o nosso Deus. Posso afirmar com segurança que o nosso Martin Nehls amava a vida. Tive o privilégio de celebrar suas Bodas de Ouro com a Cidália. Choveu muito quando do seu casamento em novembro de 1960. Choveu tanto que as árvores desciam do morro pelo rio Piraí, a ponto da correnteza derrubar uma ponte, mas nada, absolutamente nada, iria impedir aquela bênção matrimonial. Ontem, quando da sua morte também choveu muito...

Nesse momento o Martin e um Grupo de Homens da Legião Evangélica que se encontra aqui, estaria construindo a sapata que serviria de base para a caixa dágua que captará água da chuva lá no pátio da São Mateus. O Martin estava eufórico no sábado. Ajudei-o a descarregar as tábuas para a caixaria. Na oportunidade, falando alto, me informou que tinha conseguido a pedra brita gratuitamente. Martin! Não deu pra fazer o que tínhamos combinado. Tivemos que mudar nosso programa. Que coisa! O Isaque disse: - “Não me façam ficar aqui. Permitam que eu volte para a casa do meu pai.”

Sim, permitamos que o Martin Nehls parta. Num primeiro momento essa atitude parece ser pesada de ser tomada. Lembram da cor dos seus olhos?... Do tom da sua voz? Do jeito que falava da sua profissão de relojoeiro? Da maneira como encarava os problemas? Ele sempre falava de sua família com orgulho. Sim, ele era um homem que tinha fé e esperança e porque isto é verdade, olhemos nós também, como ele sempre fazia, para frente. A nossa fé é clara: Jesus morreu e ressuscitou. Deus, através de Seu Filho amado, levará as pessoas que morreram para a glória com Ele. Ele já está fazendo isto com o Martin.

“Segurar” e “soltar” – todos conhecem isso. Inspiramos ar dentro dos pulmões e logo precisamos soltá-lo. Ninguém faz uso da consciência para respirar. Nós colocamos objetos sobre a mesa e depois retiramos os mesmos de lá. Nós compramos roupas e, num dado momento, doamos as mesmas. Uns de nós têm mais facilidade de “largar” que outros. Nós geramos filhos; educamos os mesmos e, num dado momento precisamos soltá-los dentro do mundo. Querem saber de uma coisa? Quando “seguramos” e depois “soltamos” as pequenas coisas, estamos ensaiando para as despedidas, quando, de repente, precisaremos largar o que mais queremos bem: Estamos largando da mão do Martin. Quando largarmos as nossas mãos das suas mãos, então as suas mãos ficarão livres para segurarem nas mãos estendidas de Deus que presenteia a vida eterna.

“Não me façam ficar aqui. “O Senhor Deus fez com que a minha viagem desse certo.” Quem crê e vê o caminho que leva a Jesus Cristo aberto diante de si, sabe que esta vida que vivemos, aqui no chão, é apenas uma passagem. Isso, no entanto, não significa que nós não devamos dedicar toda a atenção e cuidado à vida que vivemos. Sim, a nossa vida é querida e importante. O Martin Nehls também gostava dela. Ele deixou sinais que ficaram evidentes, a partir da sua fé. É Deus quem nos segura na mão, não somos nós que seguramos na mão de Deus. Ele nos segura quando não conseguimos mais ver e sentir Seus sinais. É assim que nós, a cristandade, vivemos e morremos na esperança. O apóstolo Paulo escreve: “Nós somos cidadãos do céu e estamos esperando ansiosamente o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que virá de lá. Ele transformará o nosso corpo fraco e mortal e fará com que fique igual ao seu próprio corpo glorioso, usando para isso o mesmo poder que ele tem para dominar todas as coisas.” Amém!

3.8.11

Que dia aquele!


Aquele dia tinha sido especial e os discípulos certamente nunca mais se esqueceram dele. Os doze tinham pedido a jesus que mandasse toda aquela gente pra casa. Mas Jesus não tinha a intenção de inviá-los, com um simples aceno de mão, com fome para os seus lares. Assim, Ele desafiou os seus companheiros a darem algo de comer àquele povo. Os discípulos pesquisaram em suas mochilas e perceberam que ainda tinham cinco pães e dois peixes que, milagrosamente, acabaram sendo multiplicados, a ponto de saciar todas as pessoas presentes. Que dia aquele!... Vamos continuar lendo esta história escrita em Mateus 14.22-33...

14.22 - Logo depois, Jesus ordenou aos discípulos que subissem no barco e fossem na frente para o lado oeste do lago, enquanto ele mandava o povo embora. 14.23 - Depois de mandar o povo embora, Jesus subiu um monte a fim de orar sozinho. Quando chegou a noite, ele estava ali, sozinho. 14.24 - Naquele momento o barco já estava no meio do lago. E as ondas batiam com força no barco porque o vento soprava contra ele. 14.25 - Já de madrugada, entre as três e as seis horas, Jesus foi até lá, andando em cima da água. 14.26 - Quando os discípulos viram Jesus andando em cima da água, ficaram apavorados e exclamaram: - É um fantasma! E gritaram de medo. 14.27 - Nesse instante Jesus disse: - Coragem! Sou eu! Não tenham medo! 14.28 - Então Pedro disse: - Se é o senhor mesmo, mande que eu vá andando em cima da água até onde o senhor está. 14.29 - Venha! - respondeu Jesus. Pedro saiu do barco e começou a andar em cima da água, em direção a Jesus. 14.30 - Porém, quando sentiu a força do vento, ficou com medo e começou a afundar. Então gritou: - Socorro, Senhor! 14.31 - Imediatamente Jesus estendeu a mão, segurou Pedro e disse: - Como é pequena a sua fé! Por que você duvidou? 14.32 - Então os dois subiram no barco, e o vento se acalmou. 14.33 - E os discípulos adoraram Jesus, dizendo: - De fato, o senhor é o Filho de Deus!

Nos temporais da vida

Depois que Jesus se despede de todo aquele povo saciado, Ele pede que os Seus seguidores remem; que levem o barco à outra margem do lago. Sim, Jesus queria colocar seus pés em terra firme; queria se retirar para orar. Notem que a rotina dos discípulos tinha sido completamente quebrada. Fazia pouco, todos tinham se admirado com o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Eles até tinham tido participação ativa naquele milagre. E agora, momentos depois, eles se encontram no meio do lago, a noite está escura como breu e uma tempestade se abate sobre eles. Eles estão “sem pai e sem mãe”. Às vezes é assim que todos os problemas vêm de mãos dadas para nos abater; afogar-nos; desanimar-nos... Concordam comigo?

Certamente teria sido melhor ficar em terra firme; ter esperado o raiar de um novo dia para tomar decisões. O fato é que o próprio Jesus os tinha enviado para o lago com o objetivo de remarem até a outra margem. Quem desafia pessoas a deixarem seu porto seguro rumo ao desconhecido, no meio da noite escura, Esse também deveria saber que era responsável pelas pessoas que estavam debaixo do seu discipulado.

Enquanto Jesus orava, seus pensamentos focados nos discípulos. “Ele viu que os discípulos estavam remando com dificuldade porque o vento soprava contra eles. Já de madrugada, entre às três e às seis horas, Jesus foi até lá, andando em cima da água, e ia passar adiante deles.” (Marcos 6.48) Foi a partir desta visão que Ele não aguentou mais. Envolveu-se com o temporal e, caminhando sobre as águas, foi ter com eles para trazer calma; paz...

Conclusão

Neste ponto da história, sempre páro para pensar: quando as “tempestades” vêm sobre mim eu me agonio. Daí então eu remo horas; remo dias; remo semanas; remo meses. Penso; faço contas; me preocupo; tento fazer alguma coisa. Olho para o lado e vejo que meus parentes; meus amigos e meus irmãos fazem o mesmo. Olha! Me faz bem saber que Jesus vê as nossas lutas e os nossos esforços e, em seguida, também vem até nós, no meio dos “mares tempestuosos” que nos assolam. O “vento” bate no casco do nosso “barco” e parece que nossas forças vão acabar. A escuridão dá medo. A “tempestade” açoita a “vela” da nossa vida e Jesus aparece no meio de todo o caos para estar conosco; para nos acalmar; para nos animar e então nos reconduzir para a costa; para a praia; para a terra firme.

Oração

Senhor Jesus, eu Te agradeço porque Tu nunca nos perdes de vista e porque sempre fazemos parte dos Teus pensamentos e ainda, porque Tu sempre vens ao nosso encontro quando estamos no meio das turbulências propostas pela vida. Amém!

OLHA SÓ!