Busque Saber

22.7.11

Perceba o teu tesouro!


Outro dia recebi um e-mail onde se lia: “Oi pastor! Meu nome é Juliana. Sou católica e congrego na Catedral. Gostei muito das suas palavras quando da comemoração do aniversario da Rádio Cultura. Suas palavras tocaram o meu coração. Acordei para a vida naquele dia... Eu estava entendendo que Jesus tinha se esquecido de mim; que Ele tinha problemas mais importantes com que se preocupar... O senhor disse que eu sou importante para Jesus! Obrigada.”

Senti-me bem com este “feedbeck”. Ele nos ajuda a entender o texto de Mateus 13.44-46: “O Reino do Céu é como um tesouro escondido num campo, que certo homem acha e esconde de novo. Fica tão feliz, que vende tudo o que tem, e depois volta, e compra o campo. O Reino do Céu é também como um comerciante que anda procurando pérolas finas. Quando encontra uma pérola que é mesmo de grande valor, ele vai, vende tudo o que tem e compra a pérola.”

Nossa rotina

Todos os dias a maioria de nós vive uma certa rotina. Temos que levar as nossas crianças para a escola; temos que buscar os nossos netos no colégio; temos que fazer a nossa lição de casa; temos que preparar a comida para o almoço; temos que ir ao trabalho; temos que ligar a máquina; temos que responder e-mails; temos que resolver as questões que se “escondem” na pilha de papéis que estão sobre a nossa escrivaninha... Gente! Tudo isso pode ser muito chato!

Agora, atentem para este detalhe: A Psicologia ensina que a rotina não é de todo ruim; que a rotina carrega algo de bom em si. Por exemplo: Todas as pessoas que são motoristas agem de forma rotineira, quando estão ao volante. Elas não refletem sobre como vão girar a chave para dar a partida no automóvel; elas não ficam pensando em virar o volante para a esquerda ou para a direita, mas simplesmente viram o mesmo para o lado que for necessário. É assim que motoristas experimentados até conseguem se deliciar com a paisagem, enquanto dirigem. Eu, por exemplo, gosto de ouvir rádio enquanto dirijo. O mesmo acontece quando estamos envolvidos com os nossos afazeres do dia a dia. Nós vamos nos desincumbindo dos nossos compromissos e, enquanto isso, até conseguimos fazer outras coisinhas do lado como: dar atenção ao que nossos filhos ou netos nos relatam; ao que o rádio nos informa sobre o que rola no mundo...

E aí, de repente, acontece algo que não esperamos que aconteça, tal como na história bíblica do assalariado que estava lavrando as terras de um fazendeiro. Para ele, aquele dia de trabalho estava sendo comum como todos os outros tinham sido. Ele dominava perfeitamente bem a técnica de arar a terra. Num dado momento aquela rotina foi quebrada. As correntes se esticaram. Os bois pararam por causa do soco seco; do barulho oco que vem da pá afiada. Não! Não se trata de uma pedra, mas de uma caixa. O lavrador se encurva e, com o auxílio das mãos, se dá conta que encontrou um tesouro: Prata? Ouro? Moedas? Não vem ao caso. O tal achado o enche de alegria. A partir daquele momento a sua vida passa a ter um outro sentido. O que antes era importante, perdeu o seu grau de importância. Agora ele pode se desfazer das coisas que antes lhe eram caras. Sim! Tudo aquilo que ele acumulara até ali poderia ser repassado adiante, porque o novo momento vivido estava sendo verdadeiramente impar.

Conclusão

Algo assim pode acontecer conosco se, de uma hora para a outra, Deus se mostrar no meio dos nossos hábitos cotidianos. Nós não estamos percebendo; não estamos esperando absolutamente nada e, de repente, o céu se abre: Uma pessoa nos traz uma boa palavra que é extremamente clara e que nos indica uma boa saída para algum problema; nós tomamos uma decisão importante que há muito deveríamios ter tomado; nós nos encontramos com alguém que nos ajudou a ter confiança na vida; nós descobrimos uma verdade na Palavra de Deus que lançou boa luz sobre a escuridão de um velho problema. Sim, de repente nós também encontramos um “tesouro” no “campo” onde trabalhamos, rotineiramente, desde o dia em que nos entendemos por gente. Agora a nossa vida fica diferente; fica cheia de alegria e satisfação.

Apesar da rotina, prestem atenção às coisas que se passam no dia-a-dia. Quem sabe Deus esteja querendo lhes surpreender!...

5.7.11

Quem sou eu?


Jesus caminhava com Seus discípulos nas cercanias das fontes do Rio Jordão. Num dado momento da caminhada Ele lhes faz uma boa pergunta aberta: - Ei pessoal! O que é que as pessoas pensam de Mim? Várias respostas erradas foram dadas, como bem se lê em Mateus 16.13-19.

Jesus, num segundo momento, fecha a pergunta. Ele quer dialogar de forma mais focada sobre a questão “Quem sou eu”? Sim, Jesus quer saber como os discípulos O entendem (v. 15). É nesse momento que o apóstolo Pedro fez uso da palavra e traz excelente resposta para dentro da roda. Ele diz: “Tu és o Cristo, o Salvador enviado por Deus, o Filho do Deus vivo”. (v. 16)

A Igreja Luterana tem um mártir chamado Dietrich Bonhoeffer. Esse homem escreveu a uma poesia, enquanto sofria num dos Campos de Concentração nazista. Nela ele expressa que os companheiros de cela o viam como alguém seguro de si; como uma pessoa que sai de sua mansão com a cabeça erguida. Será mesmo que ele era aquilo que os outros pensavam dele? Essa constação o fez olhar para dentro de si e se perceber como indivíduo inquieto; saudoso; doente; ansioso por cores, por flores e pelas “vozes” das aves; sedento por palavras de bondade e de boa vizinhança; conturbado; trêmulo; impotente; cansado e vazio ao orar; ao pensar e ao agir. Sim, ele estava pronto para dizer adeus à vida. “Quem era ele? Este, ou àquele outro? Um hipócrita diante dos outros e um angustiado diante de si? Fosse quem fosse – ele era propriedade de Deus e estava acabada a história!

Mesmo que não sejamos Bonhoeffer, os nossos sentimentos se aplicam a todos os verdadeiros cristãos. Mesmo que vivamos no mundo, não pertencemos a este mundo. Mesmo que não sejamos perfeitos, não somos escravos do pecado. Nós não pertencemos nem a nós mesmos, mas a Deus. Foi Deus quem nos criou; quem nos “comprou” do Diabo com o sangue de Jesus Cristo. O amor de Deus é tão forte e firme, que nada e ninguém são capazes de nos afastar Dele. Quer dizer, Deus nos abraça firmemente com Seu amor. Se nós não nos separarmos Dele, não existe força ou poder no mundo que tenha a capacidade de fazê-lo.

Quem somos nós? Nós somos ferramentas de Deus aqui neste chão. Que possamos continuar caminhando, sempre sabedores que Jesus Cristo é o nosso Salvador enviado por Deus; que Ele é o Filho do Deus vivo e acabiou a história.

4.7.11

Faz 57 anos!


Hoje, dia 04 de julho, faz 57 anos que eu fui batizado na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil de Santa Cruz do Sul (RS). Os livros de registro não confirmam, mas ou eu fui batizado pelo Pastor Koch e ou pelo Pastor Wilfried Buchweitz que, que na época, fazia uma espécie de estágio na minha cidade natal. Estou festejando com a Valmi. Encomendamos uma pizza. A taça de vinho tinto seco já está na mão. Saúde!

Atracar o barco é mais do que preciso!


O texto bíblico de Lucas 5.1-11 nos informa que os discípulos tinham dado tudo de si para pescar peixes, mas que se engajaram em vão. Aí vem Jesus e lhes sugere lançar novamente as redes na água. João e Tiago assessoraram Pedro e os discípulos acabam tendo o privilégio de participar de um grande milagre: As redes simplesmenter estavam prestes a se romper, tamanho o número de peixes que nela caíram. Logo depois disso o barco foi trazido para a beira da praia. Os discípulos desceram dele e, deixando tudo para trás, seguiram Jesus. Gente querida! Eu entendo que chegou a hora de nós, CEJ, também trazermos o nosso “barco” até a praia...

A Bíblia deixa claro: Quem quiser seguir Jesus precisa “trazer o seu barco à praia”. Olhem para a estrutura da nossa Igreja com olhos de ver. O nosso “barco” navega em ondas revoltas que nos impelem para a frente e para trás; para cima e para baixo. Alguns dos “tripulantes” estão sentindo enjôo. Ora, Jesus só pode ser seguido em terra firme. O Reino de Deus só cresce a “cem por um” no chão. Será que o nosso “barco” não está carregando o nome fantasia de “passividade”, enquanto navega, anos a fio, tentando realização em meio à inércia? Vocês conferiram se alguém já não pintou o nome ECM (Eu Comigo Mesmo) no casco do nosso “barco”? Olha, esses dias surpreendi um sujeito com um pincel e uma lata de tinta na mão, tentando pintar o nome GIT (Gastança Inútil de Tempo) numa das laterais do mesmo. É incrível, mas são muitas as possibilidades de se nominar; de se batizar o “barco” da nossa Igreja. Todas as nossas Comunidades e Paróquias podem estar perdendo as Bênçãos de Deus, enquanto decidimos ficar navegando sem ancorarmos...

Este texto da “pesca maravilhosa” nos traz boas informações sobre o discipulado; sobre o nosso compromisso com Deus. Uma vez os nossos antepassados se decidiram por Jesus Cristo e foi por isso que nasceu a IECLB. Naqueles dias o nosso povo trouxe o nosso “barco” à terra, porque queria seguir o Filho de Deus, a partir de um testemunho contextualizado... O fato é que sempre de novo nós somos tentados a reembarcar no “barco” para armazenarmos o que foi colhido; nos deliciarmos com o fruto costumeiro. Não! A semeadura precisa continuar. Observem que o “ph” do solo mudou. O clima mudou. As circunstâncias mudaram...

Simão Pedro trouxe o seu barco à praia e só então se concentrou no discipulado. Ele queria sair do lugar comum; “mergulhar” noutras frentes. Foi com esse objetivo em vista que ele deixou tudo para trás. É esse o caminho que nos leva para o Reino de Deus. Primeiro, depositar todas as nossas cargas nos ombros de Jesus e, depois, submeter nossa vida à direção de Deus; crer que tudo contribuirá para o nosso bem. Estamos aqui neste encontro para levarmos o nosso “barco” ao ancoradouro. Desconsideremos o que não é importante e sigamos o caminho abençoado por Deus de mãos dadas com Jesus Cristo. Que caminho é este? Proponho que o descubramos juntos a partir do nosso diálogo. Que Deus nos abençôe!

1.7.11

Pessimismo!


É sexta-feira e chove; faz frio na nossa Joinville cinzenta. O hinário luterano (HPD 1) está aberto diante de mim. Canto piano o hino n° 98 intitulado “Qual barco singra pelo mar”. O som que emito está destoado da alegria. Com o “rabo do olho” leio que se trata de letra e melodia de Martin Gotthard Schneider (um octogenário nascido em Constança no ano de 1930).

Sempre gostei de cantar. Enquanto canto me vem a sensação de que estamos enfrentando esses “temporais de medo, angústia e dor”; de que não “resistiremos”; de que “afundaremos” diante destas propostas teológicas esdrúxulas que estão sendo copiadas aqui e ali, sem o mínimo de contextualização.

Do jeito que a história está se desenvolvendo o nosso “Barco” (IECLB) não vai chegar ao “alvo prometido”. O nosso problema até não são os ventos fortes que dobram mastros e ou que rasgam velas, mas os “furinhos” que cabeças menos densas insistem em fazer no “casco”.

Sim, estamos desunidos. Os cômodos da nossa “Canoa” têm, todos eles, cores diferenciadas. A verdade é que estamos “mui sós em alto mar”. Eu até já mergulhei para tentar fechar um dos furos que se agranda, mas meu braço é pequeno. Sério! Penso que não chegaremos ao “alvo prometido”. Socorro!

30.6.11

Ciúmes...

...sim, tenho ciúmes de não ter tido a criatividade de escrever este texto escrito pelo Ricardo Gondim: "Deus nos livre de um Brasil evangélico"

Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.

Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.

Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).

Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.

Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?

Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?

Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.

Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.

Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?

Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.

Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.

Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.

Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.

Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.


O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.

Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.

Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.

28.6.11

Decisão aqui e agora!


Martin Luther estava voltando de uma viagem. Ele tinha ido visitar os seus pais em Manfeldt. Os historiadores sustentam que essa viagem teria acontecido numa quarta-feira, dia 2 julho de 1505. Agora só faltavam mais uns seis quilômetros para ele chegar à cidade universitária de Erfurt. De repente o céu começou a escurecer e veio uma tempestade. O vento se mostrava forte e os relâmpagos eram assustadores. Num dado momento um dos raios atingiu uma das árvores que cresciam à beira do caminho que Lutero trilhava.

O nosso Reformador estava “morrendo” de medo. Até pode-se dizer que ele estava experimentando verdadeiro pânico. Foi exatamente neste momento que ele pediu proteção à Santa Ana. Mais do que isso: Fez um voto. Se a santa o ajudasse a sair vivo dali, se tornaria um monge. Foram as consequências desta decisão que mudaram o curso da História.

Nestes dias de julho, há 506 anos, um jovem fez a experiência de como é fácil mudar-se os rumos da vida quando se está debaixo de pressão. Sim, Lutero estava desesperado no meio daquela tormenta e pasmem: foi justamente este desespero que lhe oportunizou mudança de vida. Claro que não foi só Lutero que fez tal experiência. Volta e meia somos informados a respeito de pessoas que também experimentaram mudanças drásticas, a partir dos momentos difíceis que vivenciaram.

Lutero estava seguro do que ele queria para a sua vida. Ele já tinha planejado o seu futuro. Era por isso estudava para ser advogado. Que coisa incrível: um relâmpago foi capaz de mexer com tudo o que ele tinha construído em si, desde a meninice. Isso quer dizer que nós só temos o tempo do “aqui e agora” para tocarmos a nossa vida. Sim, porque o nosso futuro pode vir a não se concretizar. Foi em vista disso que Lutero se concentrou naquilo que era essencial. Que se danassem os sonhos de seu pai de vê-lo advogando. O que, de uma hora para a outra, passou a valer de verdade foi a perspectiva de uma caminhada cristã.

Escolhas impactantes como essa experimentada por Lutero não são muito comuns nos dias de hoje. Mas isso também não tem a menor importância. Podemos nos “encharcar” com muito mais vida, se ousarmos responder estas perguntas: Como me posiciono diante daquilo que realmente é importante na minha vida? Empurro as minhas decisões com a “barriga” esperando que, no futuro, tudo fique mais tranquilo para uma tomada de decisão? E se eu fizesse isso ou aquilo?...

É óbvio que nem sempre essa pergunta nos conduz até Deus. No entanto a resposta a esta questão pode nos ajudar a pesar melhor as decisões que tomamos no dia-a-dia. Para encontrarmos boas respostas para a nossa vida não seria nada ruim se incluíssemos Deus na “parada”.

24.6.11

Anoiteceu e amanheceu!


Anoiteceu e...
O pessoal foi se chegando,
A conversa foi se acendendo,
O fogo foi se embrasando,
E quando vimos, estávamos em comunhão.
O tilintar de facas, garfos, pratos e copos
Fazia a vida pulsar nos tons de cada voz.
As crianças corriam de lá pra cá; daqui pra lá.
Recados, diálogos, articulações...
Tudo fazia parte da festa.
Aqui se gerava o descompromisso
E lá se promovia a catarse.
Quando o dito encontro foi se deslumbrando,
Todas e todos foram se despedindo
E o diálogo foi se fechando no abraço.
O braseiro foi se apagando
E de repente houve descomunhão.
Prenúncio de solidão?...
Absolutamente não!
Era mais força para se enfrentar o "tirão"...
E amanheceu...

21.6.11

OASE - Eu pensei em ti!


Conta-se que, certa vez, a rainha de Sabá enviou dois buquês de rosas ao sábio rei Salomão. Os dois maços de flores eram idênticos, mas um era autêntico e o outro falso. Salomão deveria selecionar as flores naturais. Sua tarefa não foi fácil visto que os buquês eram encantadores e apresentavam aspecto; fragrância; consistência; colorido, maciez e fragilidade iguais. Salomão pensou um pouco e, num segundo, abriu a janela que dava para o seu famoso jardim. Em poucos instantes o seu dormitório foi invadido por um pequeno enxame de abelhas que, sem hesitação, pousou nas flores verdadeiras. É da natureza das abelhas distinguirem a flor verdadeira da falsa. Também é da natureza de Deus reconhecer a diferença entre a adoração sincera e a adoração simulada. Penso que queremos ser pessoas próximas de Deus; que sonhamos adorá-Lo de forma autêntica. O texto de Provérbios 2.8-10 nos ajuda neste projeto: “Ele vigia as sendas do direito, e guarda o caminho dos seus amigos fiéis. Então compreenderás a justiça e o direito, a retidão e todos os caminhos da felicidade; porque virá a sabedoria ao teu coração e terás gosto no saber.”

Que alegria poder me dirigir a vocês, senhoras da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas - OASE. Faço-o com minha memória voltada ao ano de 1982. Sim, faz 29 anos que exerci meu primeiro pastorado em Cidade Gaúcha (PR). A nossa Paróquia era composta por apenas 40 famílias, mas o grupo da OASE era forte. Eu era jovem e sem experiência, mas aquelas senhoras souberam me acolher, minimizando meus defeitos; convidando-me para visitar seus lares; inserindo-me no contexto da Comunidade. Quantas boas lembranças!

O livro de Provérbios nos desafia a desenvolvermos o caráter amoroso de Deus nas nossas vidas. Jesus Cristo se espelhou no Seu Pai quando demonstrou seu caráter misericordioso entre nós. Esse amor, essa misericórdia, essa doação em prol do próximo, sem a espera de qualquer recompensa, deveria nos incitar a viver com mais alegria nos espaços que ocupamos na família, na Comunidade e na sociedade.

Lembram de como Deus foi amoroso com o povo hebreu durante a travessia do deserto? Recordam como Jesus Cristo foi misericordioso quando assumiu a cruz em favor de nós? Outro dia, lendo o capítulo três da Carta do apóstolo Paulo a Timóteo, percebi que uma pessoa cristã nunca é avaliada pela sua crença, pelo grupo de OASE que participa, mas pelo caráter que tem. Pessoas afinadas com o caráter de Deus professam verdades e, depois, praticam as mesmas. Eu senti este testemunho nos grupos de OASE pelos quais passei. Ai que saudades dos grupos de senhoras evangélicas de Cruz Alta (RS), de Florianópolis (SC)...

As pessoas que de fato se relacionam com Deus nunca são vistas descansando nas “redes da teoria”. Ando por aí e percebo alguns grupos cristãos investindo num cristianismo abstrato, teórico, intocável e, por isso mesmo, sem gosto, sem perfume. Coisa boa! Também existem os grupos que investem na prática da diaconia (serviço cristão). Sim, eu sempre constatei reflexão e trabalho nos grupos pelos quais passei. Salomão, o autor do Livro de Provérbios, bate na tecla de que se busque a sabedoria com “unhas e dentes” e que, logo depois, se ponha em prática aquilo que se aprendeu; que se viva o Culto na Comunidade e, ao mesmo tempo, na calçada.

Hoje quase todas as pessoas lêem jornais; ouvem rádios; assistem programas de televisão e navegam na internet. As informações geradoras de conhecimento nos alcançam em qualquer canto e recanto do mundo. Quer dizer, somos pessoas bem informadas. Agora, será que todo esse conjunto de informações tem contribuído para que alcancemos mais sabedoria? Os trinta e um capítulos do Livro de Provérbios nos passam a informação de que Salomão está mais interessado em fazer as pessoas “sábias” do que fazê-las “espertas”, inteligentes.

É incrível! Nós sempre optamos pela segunda opção (inteligência). Por exemplo: quando os nossos cientistas dividiram o átomo, começou-se a fabricar bombas atômicas. A divisão do átomo bem que poderia ser usada para produzirmos apenas energia mais limpa o que, por si só, já seria uma atitude “sábia”, mas não: investimos na guerra com esta descoberta.

Gente querida! O que é bom, o que é certo é o que vale a pena. Não sejamos pessoas ingênuas. A pura “simplicidade” não é querida por Deus? Outro dia li de um teólogo muito famoso que “crer é também pensar”; que crer é também desenvolver o nosso senso crítico; que crer é ser “ágil como as serpentes e, ao mesmo tempo, prudente como as pombas” (Mateus 10.16). Noutras palavras: Saber o que é certo não é suficiente. Uma pessoa “sábia” é aquela que se relaciona com Deus, não a pessoa que só conhece certas verdades.

O texto bíblico citado nos informa que Deus zela pela caminhada das Suas filhas e dos Seus filhos. Coisa boa saber que esta Palavra nos diz respeito. Sim, Deus tem cuidado de mim e de ti, mas atenção: as pessoas guardadas por Deus também podem vir a sofrer fome e sede; experimentar tempos difíceis. Deus segura na mão das pessoas que O procuram porque o Seu desejo é que elas não deslizem na escorregadia noite da desesperança quando faltar fé. Foi Jesus Cristo mesmo quem nos deixou claro: “...guardei-os e nenhum deles se perdeu” (João 17.12b) Sim, fazemos parte do “time” daqueles que foram e que ainda são cuidados por Jesus Cristo.

O que é a Sabedoria de Deus? O referido texto nos esclarece que a Sabedoria é um presente que Deus nos alcança. Quem conhece Deus sabe como viver uma vida de qualidade. As palavras justiça, direito e retidão tem a ver com “conduta reta” e geram felicidade. Quer dizer: as filhas e os filhos de Deus estão num processo de santificação que os torna cada vez mais leais a Deus. O texto nos diz que Deus contempla com proteção as mulheres e os homens que buscam a Sabedoria.

A leitura final do texto acima nos deixa evidente que o caráter de uma pessoa deve ser mais relevante do que a atividade que essa mesma pessoa possa desenvolver na família, na sociedade ou na Igreja. Sim, aquilo que “somos interiormente” tem muito mais valor para Deus do que aquilo que “fazemos exteriormente”. Sinceramente, penso que deveríamos investir mais na nossa saúde interior, na nossa paz física e espiritual. Se nos equilibrarmos nesta área exerceremos o bom serviço, o auxílio querido, a partir da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE).

Abelhas sabem discernir a flor verdadeira da flor sintética. Deus é Sábio e sabe reconhecer a diferença entre a adoração sincera e a adoração simulada. Aprendamos a adorar a Deus de fato e de verdade, enquanto em contato com nossas irmãs na OASE. Aproximemo-nos de Deus; adoremo-Lo de forma autêntica. Que possamos ter sempre um coração aquecido pelo calor de Deus. Que este calor que aquece os nossos corações possa resfriar sempre de novo a nossa cabeça para que, com sabedoria, possamos discernir entre o que é bom e o que é ruim.

20.6.11

Inverno - olha ele aí gente!


Todos nós murchamos como a folha”. Essa palavra do profeta Isaías (64.6c) me lembra do outono que se foi. Às vezes carrego a impressão que as músicas que cantamos nos nossos Cultos soam um tanto tristes nesta época. Os hinos parecem pesados de serem entoados. Olhem com olhos de ver: As folhas estão caindo discretamente das árvores. A natureza está dando mostras de que quer cochilar. Percebem a sua respiração? Ela se parece com o arfar de quem sonha debaixo de grossos cobertores. Sim, a primavera, o verão e o outono se foram.

Eu, hoje à tarde, experimentei folga. Sentei comigo mesmo sobre a grama que já cresce preguiçosa no pátio. O “ventinho” frio veio de mansinho e me expulsou daquele pequeno “culto”. Ele fez isso só para me mostrar sua força. Esse ventinho que, uma hora destas, poderá se transformar em vento; em ventania que amedronta. Coisa boa que, nestas oportunidades, eu posso me aconchegar com quem gosto.

Deus tem mais força do que a criança que há em mim. Sua Palavra sempre soa suave no meio das turbulências; das tempestades. Sua Palavra misericordiosa me dá colo, quer na vida ou na morte. Coisa boa saber que as filhas e os filhos de Deus nunca estão sós. Se Deus é nosso Pai, então somos todas irmãs; irmãos. Não é bom se dar conta disso?

É sim! Foi ontem que dei tchau pra minha juventude. Mesmo assim me sinto alegre. Jesus Cristo está vivo; venceu a morte e, pelo fato disso ser verdade, também posso fazer parte deste “projeto”. A minha salvação foi oportunizada pelas feridas de Jesus na cruz, nada mais. Tal como a primavera, o verão e o outono se foram, assim também se foi meu tempo de jovem. E daí? Deus está comigo, Amigo e Companheiro.

Não demora muito voltará a primavera. É por isso que eu canto; que eu louvo a Deus. Quero confiar na promessa de Deus que não me deixará órfão, quer seja em tempos de desespero ou de morte. Foi através do profeta Ezequiel que Deus nos prometeu “nova terra” (47.12). Ele escreveu que “ás margens do rio nascerá toda sorte de árvores cujas folhas não murcharão; cujos frutos nunca terão fim”.

É com esse futuro que eu conto...

Entendimento!


No ar, a curiosidade.
Pensamentos convergiam.
Que alto o grau da seriedade.
Que coisa! Todos se entendiam.

18.6.11

Decisão!


Eu sentei à mesa
Sob olhares de expectativa.
Minha consciência estava acesa:
Corpo, olhos, boca e ouvidos na ativa...

15.6.11

Pastoral Universitária na IECLB!


Abaixo um pouco daquilo que vi; ouvi e vivi sobre Pastoral Universitária na IECLB dos anos 50 até hoje, 2011...

No ano de 1955 os pastores Paul Götz e Godofredo Boll iniciaram um trabalho com jovens universitários em Porto Alegre (RS). Depois deles o pastor Knizer passou a enfatizar as ACA’s (Associação Cristã Acadêmica) que, juntas, formavam as UCB’s (União Cristã Bíblica). Foi então que as Comunidades e Paróquias do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná passaram a se ocupar com estudantes universitários a partir de 1959. De 1962 até 68 foi o Sínodo Evangélico Luterano Unido quem tentou ir ao encontro dos mesmos. O problema era que, sempre de novo, se esbarrava na desatenção das autoridades eclesiásticas para estes que despontavam dentro da Academia.

Foi então que, por iniciativa do P. Heinz Soboll, pároco da “Comunidade Evangélica de Curitiba” (PR) se solicitou à Federação Luterana Mundial (FLM) um auxílio para chamar e “bancar” um pastor (americano) que desenvolvesse um ministério específico com jovens em geral (Mocidade Evangélica) e, ao mesmo tempo, com estudantes universitários na metrópole Curitiba (PR). Essa solicitação foi atendida e se enviou ao Brasil um pastor da “American Lutheran Church” que se chamava Richard Harvey Wangen. Para tal houve ajuda da Federação Luterana Mundial (FLM). Reza a História que a Federação Sinodal ajudou no sustento daquele ministro evangélico. Já à “Comunidade Evangélica de Curitiba” (PR) coube a articulação dos dinheiros para o pagamento da moradia do referido Reverendo. Foi assim que o P. Wangen ingressou no quadro de pastores do Sínodo.

Expirado seu contrato, ele voltou aos EEUU. Seu sucessor foi o P. Olander que, por divergências com o presbitério de então, abdicou se sua função no final de 1962. Não passou muito tempo e o P. Richard Wangen voltou para Curitiba (PR), agora como enviado da Federação Sinodal (com vinculação informal com a “Comunidade”). Criou-se então a “Pastoral Universitária” da Federação Sinodal. O Sínodo Riograndense articulou-se nos mesmos moldes para fundar um trabalho com universitários em Porto Alegre (RS). Para acompanhar estes estudantes foi chamado P. Karl-Ernst Neisel da Alemanha (Evangelische Kirche Deutschland - EKD). Donald Richmann (1968), Arzemiro Hoffmann (1975) e outros seis ou sete ministros evangélicos que deram de si em prol deste projeto nos anos seguintes. Esta Pastoral Universitária fechou suas portas em 2006 por falta de visão e vontade política das lideranças eclesiásticas gaúchas.

Entre os anos de 1950 a 60 o Trabalho com Universitários se desenvolvia a olhos vistos. Foi então que, em Curitiba (RS), surgiu a idéia de se organizar uma “Casa de Estudantes Luteranos Universitários”. O P. Wangen se empenhou muito em prol deste projeto. Ele foi à luta e conseguiu verbas para a compra de um terreno no centro de Curitiba (PR). Ali se construiu um prédio de três andares que deveria abrigar a futura “Casa do Estudante Luterano Universitário” (CELU). O projeto foi aprovado e financiado pela “Evangelische Zentralstelle für Entwicklunsshilfe” do Governo da Alemanha. A Organização “Brot für die Welt” (Pão para o Mundo) também ajudou. Depois de alguns anos o pastor Wangen voltou aos EEUU e foi sucedido pelo P. Carlos Fr. R. Dreher. Hoje essa idéia já está quase esquecida. Uns poucos sonhadores ainda tentam manter o Projeto de pé – entre eles o P. Heinz Ehlert.

Aquele projeto que visava construção de moradas em Pelotas (RS), em Santa Maria (RS), em Porto Alegre (RS) e em Curitiba (PR) acabou se esvaindo em esquecimento. Carrego a impressão de que ele só visava mais o espaço físico e nem tanto a pessoa do estudante. Lamentável isso!

Só algumas “faíscas de esperança” ficaram. Foi nos inícios dos anos 80 que a Comunidade de Florianópolis decidiu investir neste Projeto audacioso. Foi sob a liderança do Pastor Adelário Müller que se contratou o então estudante de Veterinária João Klug, para investir nesta idéia. Ele matriculou-se no Curso de História da UFSC para estar perto do estudantado. O sucesso do seu trabalho foi absoluto. Hoje o então estudante de Veterinária e História é Professor Doutor no Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina. De janeiro de 1991 até janeiro de 2001 foi eu quem assumiu este “bastão.” Com minha ida à Alemanha para trabalhar na “Evangelische Studenten Gemeinde” de Munique, o pastor Rui deu e continua dando continuidade à tarefa. Nosso testemunho é claro e inequívoco: centenas de estudantes que passaram pela MUNIL hoje ocupam cadeiras de liderança na Igreja e na Sociedade do Brasil e do mundo.

No final dos anos 90 tentou-se articular uma PU (Pastoral Universitária) a nível nacional sob a liderança da IECLB. Lembro que, como MUNIL convidamos as PUs de Santa Maria; Porto Alegre e Curitiba para dialogarmos sobre o assunto. Havia vontade da parte de muitos, mas faltou alguma coisa no sentido de se dar espaço para que esse sonho se materializasse.

A verdade é que faz 20 anos que me envolvo no Trabalho Pastoral junto a estudantes universitários. Tenho excelente convívio com um sem-número de jovens que passeiam com cabeças erguidas e brilho nos olhos, entre os espaços abertos do Campus Universitário. Sim, ainda invisto tempo para ouvir as tantas histórias que, quase sempre, são tingidas de lutas vividas em “momentos de deserto”. Lá no horizonte está o futuro a ser buscado, com ou sem o respaldo dos pais. O interessante é que há unanimidade nas palavras que brotam das bocas e dos corpos do povo estudante: os semestres continuam desgastantes e exigentes e quase nunca há um ombro que ampare cabeças cansadas em meio às crises experimentadas. Trata-se de uma lacuna para ser olhada com carinho pela nossa IECLB – sim senhor.

14.6.11

Peça de Teatro sobre o Tema do Ano da IECLB - 2011


Abaixo estou repartindo uma Peça de Teatro sobre o Tema do Ano da IECLB - 2011: “Paz na Criação de Deus – Esperança e Compromisso” (Lucas 2.14)Trata-se de uma Peça de Teatro baseada na Palestra proferida pelo P. Dr. Haroldo Reimer por ocasião da 14ª Assembleia do Sínodo Norte Catarinense (SNC)ocorrida nos dias 04 a 05 de junho de 2011, em Rio Negrinho (SC)

CENA Única: A mesa está posta para o café da manhã. Dona Ilse é uma matriarca. Levantou mais cedo e está arrumando tudo com muito capricho. Ela dobra os guardanapos e os coloca cuidadosamente ao lado de cada prato. Daqui um pouco seu marido, seus dois filhos e sua filha vão chegar para o café de domingo. Ela tem prazer de fazer o que faz, pois gosta de ver a família reunida, em comunhão. Vai até o computador e permite que o som da Rádio União de Novo Hamburgo participe do momento com sua música de fundo. Primeiramente são os filhos (Júnior e Nilo) que vêm à mesa. Depois disso chega a Sílvia. Eles sentam-se e começam a se servir de café com leite. Depois disso vem o pai (Godofredo). Todos ainda estão tocados pela palestra que ouviram na noite anterior numa das salas da Comunidade Luterana da qual participam. Dona Ilse senta-se ao lado da sua família que conversa sobre assuntos triviais. Quem dá novo o rumo à conversa é o Júnior, seu filho caçula. No meio da conversa todos receberão a visita do Pastor Luis. É aí que o diálogo esquenta...

Júnior: Vocês perceberam a linguagem corporal do nosso pastor ontem à noite? Ele estava eufórico com a palestra daquele Pastor Doutor de Goiânia.

Sílvia: Acho que se eu fosse pastora também ficaria eufórica. Que palestra! Nunca ouvi falar sobre Ecologia a partir de um foco bíblico. Também fiquei impressionada.

Godofredo: Gostei da arrancada dele quando disse que a nossa Igreja não deveria trabalhar esse assunto como se fosse um simples tema do ano, mas como tema da década; do século...

Ilse: Achei muito correto. Se pensarmos bem, hoje, o que verdadeiramente está em jogo são as questões da própria existência humana.

Sílvia: Certo mãe! O pote de mel, por favor... Em cada palavra que ele proferia havia como que uma espécie de “gotas de esperança” pingando de sua fala. Eu me emocionei quando ele disse que Deus nos remete à esperança e à paz.

Nilo: Sabe mana! Alguns entendem isso daí como “utopia”.

Godofredo: Pois olha gurizada: Eu estava lendo um livro do Eduardo Galeano onde ele afirmava que a “utopia sempre está no horizonte; que cada vez que damos um passo em direção a ela, ela se afasta outro passo”. Entendo que a força de Deus que nos impulsiona à paz e à esperança não nos permite acomodamento.

Nilo: Concordo contigo pai. A Criação de Deus e o compromisso que temos com essa Criação nos remetem para dentro do nada onde a construção de um outro mundo para ser administrado com amor e cuidado é possível – sim senhor.

Ilse: Ele chamou essa construção de “heterotopia”. Nunca tinha ouvido falar nesta palavra.

Godofredo: (rindo) Ilse! Sempre é assim que as grandes mensagens de esperança são ditas a partir de lugares onde se experimenta sofrimento. A Bíblia está repleta de testemunhos assim. Deus sempre de novo pode nos promover a saída de todo o lodaçal que experimentamos.

Ilse: Como se ouve falar sobre Ecologia hoje em dia. Toda hora se fla nisto na televisão. Vocês já repararam?

Júnior: Está na hora de ser assim mãe. Hoe, a Ecologia, hoje, é tema global e, por isso mesmo, urgentíssimo. O mundo começa logo ali onde termina a área da nossa casa. Quem já não percebeu que os problemas ecológicos se mostram mais e mais?

Sílvia: Parece que estou vendo o nosso pastor com aquela fala emocionada: (empostando a voz) - A Bíblia diz que “no princípio criou Deus o céu e a terra”... A palavra “criar” significa “ganhar espaço em meio ao caos das águas” onde Deus cria o novo... A Criação é o espaço que Deus conquistou em meio ao caos...

Godofredo: O nosso pastor está certo Sílvia. Nos cabe manter a Criação de Deus; lutar para estancar o caos. Lembram do Salmo 104.24? Nele se fala das “variedades” criadas por Deus. Ora, se Deus retirar o Seu Espírito da Criação então ela murchará; morrerá. Deus está no fundamento de toda a criação e conta conosco para sua manutenção.

Júnior: Que coisa interessante. Pouquíssimas vezes em minha vida eu consegui me concentrar tanto numa palestra.

Ilse: Filho! Isso é porque este assunto anda mexendo conosco. A Bíblia diz que é em Jesus Cristo que toda a Criação será redimida. Li no Castelo Forte que os “gemidos da Criação são como os da mulher parturiente e o passo para se chegar à redenção desta Criação tem a ver com a esperança que os filhos de Deus podem gerar...

Godofredo: (cortando a conversa) Corretíssimo! A Criação é a expressão maior do amor de Deus; é o dom; é a graça; é a perspectiva. Deus é o Criador e nós somos as Suas criaturas. Nós não nos bastamos a nós mesmos, mas celebramos esse Deus que, junto da Sua Criação, nos encaminha para um fim no próprio Deus.

Ilse: Eu não tinha terminado meu ponto de vista Godô. O autor daquela meditação deixava claro que após os tempos de tribulação sempre continuará havendo a expectativa de um espaço novo; de “águas de descanso”, conforme o escrito do salmista no Salmo 23.

Júnior: Dê-lhe Mamã! O ser humano é imagem e semelhança de Deus e, portanto tem dignidade própria, frequente a camada social que frequentar.

Sílvia: Grande Júnior! Concordo contigo em gênero, número e grau. Agora, esse ser humano que tem dignidade própria também tem atribuições. Concorda comigo?

Júnior: Sem dúvida nenhuma! A Bíblia fala em “crescei e multiplicai-vos”. Esse mandamento nos dá uma tarefa para cumprirmos em meio a companhias e ambientes ameaçadores. Essa palavra bíblica não nos incentiva a “crescermos e multiplicarmo-nos” para sermos pessoas ameaçadoras do meio ambiente, mas para “cultivarmos”; para trabalharmos duramente não como “interventores”, mas como “guardadores”; como zeladores para que tudo esteja bem.

Nilo: Deixa eu ver se entendi. Nós somos os “mordomos da vida” que são chamados a administrar da melhor maneira estes descompassos; desajustes ambientais que estamos vivenciando em todos os lugares. É isso?

Godofredo: Na mosca meu filho... (As falas de Godofredo são quebradas pela campainha da casa...)

Ilse: Ué! Quem será?

Nilo: Vou ver quem é mãe...

Godofredo: Há muito para se fazer e nós como Igreja podemos ajudar...

Pastor Luiz: Bom dia povo de Deus. Pelo visto Cheguei na hora boa... (Cumprimenta a todos, um a um com deferência)

Ilse: Sente-se pastor. Tome um xícara de café conosco. Estavamos justamente cconversando sobre a palestra da noite de ontem.

Pastor Luiz: Vou dizer uma coisa para vocês: Aquela foi a melhor palestra que eu já assisti nos últimos tempos.

Nilo: Todos aqui concordam com o senhor.

Pastor Luiz: A Comunidade gostou. O seu Hercílio baixou a cabeça quando o nosso palestrante deixou transparecer que se derruba uma árvore por pouco dinheiro porque o desejo, a ganância é uma coisa que não tem fim.

Júnior: Ele derrubou alguns pinheiros. Li que uma árvore produz 300 kg de pinhão ao ano. Que perda!

Pastor Luiz: Temos que ir “plantando” esta consciência no meio de nós. Entendo que ontem foi um bom ponto de partida.

Godofredo: A trajetória humana dos últimos séculos tem sido marcada por voracidade. O nosso palestrante falou da “tecno-ciência” que cria “cumulatividade”.

Nilo: Que é isso pai. Não entendi bem...

Godofredo: “Tecno-ciência” filho, é essa “arte descontrolada” de se manejar os recursos da terra a partir de meios científicos. Quantas vidas já foram sacrificadas em nome do progresso a partir do desmatamento; da redução dos indígenas. Outro dia eu viajei pela Europa e vi aquelas catedrais. Atrás de cada uma se escondem navios e navios de ouro latino. Quanto sofrimento para gerar o progresso. Foi a “tecno-ciência” que criou a “cumulatividade” que desenvolve geneticamente os nossos alimentos. Creio que este comportamento nos levará à desgraça, mais cedo ou mais tarde.

Sílvia: Não seja tão drástico pai!

Pastor Luís: O teu pai não está sendo drástico Sílvia. O mundo cresce demograficamente em níveis aceleradíssimos. Gostei de ouvir o palestrante falando no “Sistema Ecocida” que a maioria das pessoas até já adotou.

Ilse: “Sistemos Ecocida” é aquele que mata a Ecologia?

Pastor Luiz: Neste Sistema se desmata uma área enorme sem se pesquisar a biodiversidade. Agindo assim, destruímos sem nos preocupar com as consequências. Observem que cada vez existe mais gente; mais automóveis; mais problemas que, em última análise, se tornam “imanejáveis”. Hoje se ouve falar em tsunamis; em variações de temperatura e em efeito estufa. No sul do Rio Grande do Sul já há desertificação.

Júnior: Meu professor largou uma boa esses dias. Ele disse que o vilão na emissão de gases na atmosfera so Brasil não é a indústria, mas os gazes originados dos bovinos.

Nilo: (rindo) Hoje isso ainda não nos assusta, mas se continuarmos nesse ritmo de intervenção humana, daqui alguns anos, os espaços destinados à soja já serão inviáveis. Há estudos sérios sustentando que já houve um encurtamento no ciclo das chuvas no Brasil.

Pastor Luiz: E de quem é a responsabilidade?

Godofredo: Boa pergunta...

Pastor Luiz: Estamos vivendo em níveis críticos. As emissões de gases estão 50% acima da capacidade de regeneração. Às vezes chego a pensar que já chegamos a um ponto sem retorno? Será que ainda dá para falar de paz na Criação como a IECLB está propondo?

Sílvia: Eu entendo o que o senhor quer dizer pastor. Nós fazemos parte de uma rede global. O Clube de Roma, já em 1972, afirmou que os recursos naturais podem ter fim. Encontros recentes como “Rio 92” não melhoraram nada deste caos porque ninguém quer descer do seu patamar – esse é nosso maior problema.

Nilo: Como pode que somos assim?

Ilse: Por favor. Entendam-me bem. A nossa vizinha sempre vem com uma conversa de que no passado distante as pessoas encontravam Deus na Natureza. De repente vamos ter que buscar reaprender com os indígenas; com os ribeirinhos a respeito destes elementos religiosos que, por certo, nos ajudariam a mudar esse momento vivido.

Júnior: A mãe está certa. A terra é um grande organismo vivo que faz trocas intermináveis. Se interferirmos num lugar, há interferências noutros lugares. A natureza é como uma casa viva que está perpassada por complexidades. E nós? Nós nem aí para ela.

Sílvia. Toda hora eu ouço falar de crescimento verde. Será que isso ajuda? O agro-negócio mata a fome do mundo. Hoje 60% da comida do Brasil é produzido em minifúndios. Será que podemos frear essa trajetória do agro-negócio?

Pastor Luiz: Olha, a Bíblia diz que somos simultaneamente “justos e pecadores”; sábios e idiotas. Nós não conseguimos nos dar conta que estamos caminhando para o buraco. Quer dizer, importa reaprender a sabedoria.

Godofredo: Outro dia, na internet, li uma velha frase de Martin Luther King: Creio que as pessoas que vivem para os outros conseguirão reconstruir o que os antepassados destruíram.

Pastor Luiz: Certo, mas isso só a partir da educação. Temos que continuar discutindo sobre estes temas. Estou contente com a noite de ontem – não escondo isso.

Godofredo: É! No Brasil há parceiros que não estão levando em conta as questões ambientais e nós não podemos cruzar os braços. A IECLB tem potencial enorme para contribuir. Há iniciativas aqui e ali. Temos que superar a letargia; olhar as iniciativas louváveis que já existem; reduzir; reciclar e recuperar o que pode ser recuperado. Temos que nos deixar sacudir por dentro.

Ilse: Como nos deixar sacudir por dentro Godô?

Pastor Luiz: Desculpe Godofredo. A pergunta da Ilse mexeu comigo. A Bíblia nos apresenta exemplos de “sacudimento interno” a partir do reconhecimento dos sinais causados pelos efeitos nefastos que acontecem no dia a dia. Não sabemos ao certo sobre os problemas que nos assolam, mas mesmo assim vamos em frente. Interpretar e tentar fazer; superar; dar passos em níveis superiores é o que se espera de nós; da IECLB como um todo.

Godofredo: Eu creio que, juntos, possamos dar saltos qualitativos além do nível em que estamos. Nesses ajustes ambientais quem mais sofre são os mais pobres. Vejam: No Chile morreram poucos com o terremoto por causa do seu conhecimento. Já no Havaí morreram inúmeros mais por causa do seu desconhecimento. Nós podemos dar saltos de qualidade; podemos incluir toda a Criação na vontade salvadora de Deus.

Pastor Luiz: Jesus veio salvar a pessoa. Somos parte da natureza. Não podemos nos desconectar do nosso planeta que é 70% água. Nós somos 70% água. Somos parte de um todo maior. Quando consumimos mais aceleramos a roda do crescimento econômico que, por sua vez, acaba ferindo mais o ambiente. Temos capacidade para tomarmos decisões alternativas.

Júnior: Li numa revista que a máquina consumista é uma espécie de “anticristo do consumismo” que precisa ser parada o quanto antes. O problema é como fazer isso!

Sílvia: Será que do jeito que as coisas estão andando não vamos acabar nos afogando na “praga do plástico”?

Pastor Luiz: Temos continuar dialogando até com outras culturas. A cruz é uma árvore que se tornou seca. A cruz também é um elemento próximo da natureza. Re-encantar a fé na Criação como obra de Deus é viável. Pensar; crer; ensinar e fazer liturgias – isso tudo nós temos capacidade de fazer. O todo que está aí é obra; é Criação de Deus gente.

Ilse: Minha mãe já me ensinava que o banheiro é capaz de indicar se existe saúde ou não numa casa.

Pastor Luiz: Correto Ilse. Nós podemos imitar Deus na misericórdia e no amor; superar a lógica do domínio. Não carrego a mínima dúvida de que dependemos uns dos outros e do ambiente em que vivemos. A nossa saída dos problemas tem que passar por um mínimo de vida comunitária pra tratarmos; para resolvermos; para apontarmos melhores caminhos.

Nilo: Tudo muito bom, tudo muito bem,, mas isso tudo é muito difícil.

Godofredo: Esse é o meu filho. Eu sei que não é simples Nilo. Algumas intervenções só têm efeito em longo prazo. O que não podemos é ficar de braços cruzadas.

Pastor Luiz: Lutero falou em “Sola Scriptura” (Somente a Bíblia). Que tal lermos os textos bíblicos também a partir da Ecologia. Lembram do Noé? Foi ele quem inaugurou a lógica sacrificial quando sacrificou o primeiro animal que lhe apareceu pela frente. Se todos têm dignidade, todos têm chance. Daí que “cultivar” é guardar (Gênesis 2.7); é observar ritmos de pausa; seis dias de trabalho e um de descanso. Em Êxodo 23.10-11 se lê que a terra tem direito de descansar; de parar de fazer o que está fazendo...
Júnior: É interessante que cultivamos tudo com afinco, menos o ócio.

Sílvia: Boa Júnior. Nós aqui, em pleno domingo de manhã, ao invés de nos envolvermos com coisas leves, propícias para um café domingueiro, nos envolvendo com esse tema pesado.

Pastor Luiz: Não fale assim Sílvia! : Com base na leitura de Deuteronômio 23.12-15 podemos dar meia volta; olhar para trás e reflitir sobre o que temos feito. O saneamento básico é 50% responsável pela saúde na face da terra. Outro dia alguém disse que o “capitalismo é como uma vaca que come capim e que vai deixando sujeira para trás”. Hoje, mais do que nunca, é preciso refletir-se sobre essa “sujeira” que fica; sanear-se a mesma. A Criação de Deus tem a ver com beleza falada no Salmo 104. Hoje essa “beleza” geme e sofre e, por isso mesmo, carece da nossa interferência refletida.

Godofredo: Sabe pastor. Estou convicto que Jesus não disse muita coisa sobre Ecologia. Mas me chamou a atenção que, num dado momento, Ele pediu que os Seus próximos “reparassem nos lírios do campo”. Isso me animou.
Pastor Luiz: Guardem isso: A espiritualidade vê, julga e age. É por isso que temos compromisso com esta proposta “ético-profética” com a qual Jesus Cristo nos abana. Sim, temos compromisso com o Reino de Deus e, portanto podemos celebrar a terra como um grande Corpo Vivo... (o pastor olha no relógio) Gente querida! Me perdi no tempo. Tenho Culto no Bairro Boa Ventura. Vou sair correndo (todos se despedem do ministro eclesiástico).

Ilse: Gente é domingo. Vamos tomar mais uma xícara de café. Que tal irmos passear em São Bento do Sul, agora à tarde? (As cortinas vão fechando).

10.6.11

Eu produzo - Tu produzes!


O patrão não deixou por menos: - Neco! Depois de limpar o chão tu pegas toda aquela sacaria suja e leva pro tanque. Se sobrar um tempinho, antes da largada, dá mais uma demão de tinta ali naquele pára-lama... No final de tudo apaga as luzes e pode ir pra casa.

O Neco correu. Precisava pegar os livros e rumar pro colégio. Já passava da hora. Sentou-se no canto da sala. O professor ensinava que “o mundo se movia pela produção...” Neco anotava aquele assunto de Sociologia e, junto, pensava no pai inválido; naquele homem sem importância. Trabalhar, trabalhar... Sim, esse critério de que se precisa trabalhar sem parar para se valer alguma coisa era assassino. Que coisa! Ele mesmo já caminhava pelos mesmos caminhos do pai; do avô...

- “Mas observem” – disse o professor – “a vida de uma pessoa sempre tem valor inestimável porque ela, a pessoa, é a imagem de Deus; porque ela, a pessoa, é criada por Deus; porque ela, a pessoa, é única e não porque é produtiva e porque consegue fazer isso ou aquilo com habilidade. A pessoa tem a vida porque Deus lhe dá e porque Deus espera que ela desfrute o fato de ser Sua imagem”.

Aquelas palavras mexeram com o Neco. Deus quer a vida. Deus protege a vida, mesmo quando ela, na perspectiva da sociedade, não é mais produtiva e só traz gastos. Deus quer a vida e não importa o quão saudáveis ou o quão doentes estejamos. Ainda era tempo de rever conceitos...

6.6.11

P. Dr. Haroldo Reimer – Colunista de "O Caminho"


Estávamos em Rio Negrinho (SC), por ocasião da 14ª Assembleia do Sínodo Norte Catarinense (04 a 05 de junho de 2011) quando tratamos do Tema da IECLB: “Paz na Criação de Deus – Esperança e Compromisso”.

Nosso palestrante convidado, o P. Dr. Haroldo Reimer desenvolvia sua fala com alegria, enquanto nós, delegadas e delegados, nos “deliciávamos” com os conteúdos apresentados. Depois de tudo veio o tempo do cafezinho.

De repente, senti um abraço do Haroldo. Sentamo-nos mais a parte e foi ali, em torno de uma mesa que meu ex-colega, com seu jeito simples, me concedeu esta bela entrevista:

O Caminho: Interessante a maneira como abordaste o Tema do Ano...

Haroldo Reimer: O que? Tema do Ano? Esse tema deveria ser o Tema da década; do século. Sim porque hoje estão em jogo as questões da própria existência humana.

Caminho: Vi e ouvi que continuas marcado pelo signo da esperança!

HR: É Deus mesmo quem nos remete à esperança, à paz. Alguns dizem que isso é utopia. O Eduardo Galeano já dizia que a “utopia está no horizonte... que cada vez que damos um passo em direção a ela, ela se afasta outro passo”. Para mim, paz, esperança e Deus são forças que não nos permitem o acomodamento. Vou mais longe. A Criação de Deus e o compromisso que temos com essa Criação nos remetem para a “heterotopia”, esse lugar no meio do nada onde se pode construir outro mundo; outro espaço que pode ser administrado com amor e cuidado. Sempre é assim que as grandes mensagens de esperança são ditas a partir de lugares onde se experimenta sofrimento. Eu continuo jogando minhas esperanças em Deus que me ajuda a sair do lodaçal.

Caminho: Dá para se dizer que Ecologia está em alta!

HR: A Ecologia, hoje, é tema global e, por isso mesmo, urgentíssimo. O mundo que habitamos é uma grande casa. Melhor, o mundo começa onde termina a minha casa. Não é mais possível tapar o sol com a peneira porque os problemas ecológicos se mostram mais e mais. A Bíblia diz que “no princípio criou Deus o céu e a terra”. Nesta linguagem bíblica a palavra “criar” significa “ganhar espaço em meio ao caos das águas” onde Deus cria o novo. Quer dizer: a Criação é o espaço que Deus conquistou em meio ao caos. Daí que nos cabe manter essa Criação; fechar as trancas do caos. Gosto do Salmo 104.24. Nele se fala das “variedades” criadas por Deus. Se Deus retirar o Seu Espírito da Criação então ela murchará; morrerá. Deus está no fundamento de toda a criação.

Caminho: Tu és professor universitário, mas continuas pastor...

HR: Cristo é o Primogênito. Nele toda a Criação será redimida. Os gemidos da Criação são como os da mulher parturiente e o passo para se chegar à redenção desta Criação faz parte da esperança que os filhos de Deus podem gerar. A Criação é a expressão do amor de Deus; é o dom; é a graça; é a perspectiva. Deus é Criador e nós somos Suas criaturas. Nós não nos bastamos a nós mesmos, mas celebramos esse Deus como alfa e o ômega. Percebe: A Criação se encaminha para um fim no próprio Deus. Após os tempos de tribulação no presente sempre continuará havendo a expectativa de um espaço novo; das “águas de descanso” conforme o escrito do salmista no Salmo 23. O ser humano é imagem e semelhança de Deus e, portanto tem dignidade própria, frequente a camada social que frequentar.

Caminho: Certo! Mas então esse ser humano que tem dignidade própria também tem atribuições.

HR: Correto. A Bíblia fala em “crescei e multiplicai-vos”. Trata-se de um mandamento importante para ser levado a cabo em meio a companhias e ambientes ameaçadores. Essa palavra bíblica não nos incentiva a “crescermos e multiplicarmo-nos” para sermos os ameaçadores.

Caminho: isso quer dizer que o ser humano deve sujeitar a Criação.

HR: De vinte anos para cá se diz que o mais importante são as palavras “cultivar” (trabalhar duramente). “Para nós o ato de “cultivar” tem sido entendido como ação de “intervenção”. Ora, a grande lição de sabedoria está em “guardar” - zelar para que tudo esteja bem. Nós somos os mordomos da vida que são chamados a administrar da melhor maneira estes descompassos; desajustes ambientais que estamos vivenciando em todos os lugares. Sim, nós somos uma parte da vida.

Caminho: É interessante que sempre que se fala da Criação a partir da fé, entramos em conflito com outros segmentos do conhecimento.

HR: Essa discussão entre Criação x Evolução; Ciência ou Religião sempre marca posições de resistência. A Ciência nos ajuda saber, e isso já há duzentos anos. Darwin nos ajudou a criar a consciência de que nós humanos temos uma história mais longa. Outro dia alguém disse que “o ser humano é uma aparição quando falta um minuto para as 24h”. isso quer dizer que a história de Deus já é sem a presença do ser humano. Eu sei que em muitos espaços igrejeiros essa constatação gera conflitos, mas nós cristãos temos contribuição importante para dar. Em geral o nível de escolaridade é bastante elevado entre o povo luterano. Trabalhemos essa questão de que a fé e a Ciência nos dão respostas distintas sobre questões abstratas. Podemos usar estas duas “muletas” no engrandecimento do Reino de Deus – sim senhor.

Caminho: Se fala de um movimento humano que começou na África e que no Brasil temos 35 mil anos. Isso é verdade?

HR: Não creio. Nós brasileiros devemos ter uns 12 mil anos. Estamos conectados a nível mundial - sim. Este processo é antigo. As civilizações se instalaram em torno do Mediterrâneo. Lá houve trocas. Então, há quinhentos anos começa o nosso mundo globalizado. Passou a pensar-se e quem tem esta capacidade também consegue manipular tudo o que está fora do eixo. Vai daí que o mundo precisou ser “desencantado” e, assim, passou-se a retirar a “roupa religiosa” da natureza de forma um tanto brutal. A pureza passou a se converter num objeto. O que vale mais: Cortar ou manter uma árvore de pé?

Caminho: Aqui em Santa Catarina se diz que um pinheiro produz 300 kg de pinhão por ano.

HR: É! Quantos desses pinheiros não foram derrubados por pouco dinheiro? Desejo não tem fim. A trajetória humana dos últimos séculos tem sido marcada por voracidade. A “tecno-ciência”, essa (capacidade humana de se manejar os recursos a partir de meios científicos, está descontrolada. O progresso nos trouxe muito bem-estar e é quase impossível de se dar alguns passos atrás. Até hoje muitas vidas foram sacrificadas em nome desse progresso: desmatamento; redução dos indígenas. As catedrais européias – por exemplo – escondem navios e navios de ouro latino. Quanto sofrimento para gerar o progresso. Foi a “tecno-ciência” que criou a “cumulatividade” que desenvolve geneticamente os alimentos. Creio que este comportamento nos levará à desgraça, mais cedo ou mais tarde.

Caminho: Fale mais sobre isso.

HR: Estamos crescendo demograficamente em níveis aceleradíssimos nesta questão. Eu diria que vivemos dentro de um “Sistema Ecocida” onde se desmata uma área enorme sem se pesquisar a biodiversidade. Destruímos sem olhar as conseqüências: Cada vez mais gente; mais automóveis; mais problemas que, em última análise, se tornam “imanejáveis”: Tsunamis; variações de temperatura; efeito estufa. No sul do Rio Grande do Sul já há desertificação. Se diz que no Brasil o vilão na emissão de gases na atmosfera não é a indústria, mas os gazes originados dos bovinos. Hoje isso não nos assusta, mas se continuarmos nesse ritmo de intervenção humana, daqui alguns anos, os espaços destinados à soja já serão inviáveis porque houve um encurtamento no ciclo das chuvas. De quem é a responsabilidade?

Caminho: Sim, De quem é a responsabilidade?

HR: A Organização das nações Unidas – ONU diz que a causa desses desajustes são de origem “antrópica”; que vem dos humanos que hoje já são 7 bilhões de pessoas que precisam se organizar para viver. Já os Cientistas dizem que o “Colombo Negro” que saiu da África e se branqueou é o “ecocida”? O fato é que estamos vivendo níveis críticos. As emissões de gases estão 50% acima da capacidade de regeneração. Será que já chegamos a um ponto sem retorno? Será que dá para falar de paz na Criação? Nós fazemos parte de uma rede global. E agora? O Clube de Roma, já em 1972, afirmou que os recursos naturais podem ter fim. Encontros recentes como “Rio 92” não melhoraram nada deste caos porque ninguém quer descer do seu patamar. Aí vêm as discussões: Tenho necessidade de lenha para queimar; industrializar. Ora, o eucalipto cria um deserto verde. Pego a lenha do eucalipto ou a roubo da Mata Atlântica?

Caminho: Parece que se prefere roubar da Mata Atlântica...

HR: Alguns cientistas nos ajudam com o fomento de perspectivas. A mística medieval encontrava Deus na Natureza. Lutero disse que não, que só encontramos Deus na Bíblia e na cruz. De repente temos que buscar aprender com os indígenas; com os ribeirinhos. Eles têm elementos religiosos que nos ajudam a mudar o tom da nossa conversa. Ora, a terra é um grande organismo vivo que faz trocas intermináveis. Se interferirmos num lugar, há interferências noutros lugares. A natureza é como uma casa viva que está perpassada por complexidades.

Caminho: Crescimento verde: Será que isso vai nos ajudar?

HR: O agro-negócio mata a fome do mundo. Hoje 60% da comida do Brasil é produzido em minifúndio. Será que podemos frear essa trajetória do agro-negócio? Somos simultaneamente “justos e pecadores” (Sábios e Idiotas). Não conseguimos nos dar conta que estamos caminhando para o buraco. Importa reaprender a sabedoria. Martin Luther King disse um dia: Creio que as pessoas que vivem para os outros conseguirão reconstruir o que os antepassados destruíram. E a IECLB com isso? Educar. Nos auto-educar... Permitir-nos educar... Há exemplos bons entre nós... Temos que continuar discutindo sobre os mesmos uma vez que “se corrermos o bicho vai pegar e se ficarmos o bicho vai comer”... Não é fácil, mas algo precisa ser feito!

Caminho: Todos estamos diante de demanda crescente de recursos cada vez menores.

HR: No Brasil há parceiros que não estão levando em conta as questões ambientais e nós não podemos cruzar os braços. A IECLB tem potencial enorme para contribuir. Há iniciativas. Temos que superar a letargia; olhar as iniciativas louváveis que já existem; reduzir; reciclar e recuperar o que pode ser recuperado. Temos que nos deixar sacudir por dentro.

Caminho: Como nos deixar sacudir por dentro?

HR: A Bíblia nos apresenta alguns exemplos de “sacudimento interno”: Reconhecer os sinais dos efeitos nefastos no dia a dia. Não sabemos ao certo sobre os problemas que nos assolam, mas mesmo assim vamos em frente. Interpretar e tentar fazer; superar; dar passos em níveis superiores é o que se espera de nós. Podemos dar saltos qualitativos além do nível em que estamos. Nesses ajustes ambientais quem mais sofre são os mais pobres. No Chile morreram poucos com o terremoto por causa do seu conhecimento. Já no Havaí morreram inúmeros mais. Podemos dar saltos de qualidade. Incluir toda a Criação na vontade salvadora de Deus é uma boa pedida. Jesus veio salvar a pessoa. Somos parte da natureza. Não podemos nos desconectar. O planeta é 70% água. Nós somos 70% água. Que tal cuidarmos dela. Somos parte de um todo maior. Quando consumimos mais aceleramos a roda do crescimento econômico que, por sua vez, acaba ferindo mais o ambiente. Podemos tomar decisões alternativas; temos capacidade para isso...

Caminho: Li que a máquina consumista, este “anticristo” do consumismo, precisa ser parada. Como fazer isso?

HR: Será que do jeito que as coisas estão andando não vamos acabar nos afogando na “praga do plástico”? Que tal tentarmos medir a nossa “pegada ecológica”: quanto gastamos acima das possibilidades do nosso ambiente? Um cidadão americano gasta 400 x mais do que nós da classe “b” ou “c” aqui no Brasil. Dialogar com outras culturas não é ruim. Cristo não está só na cruz e ou só na Palavra. A cruz é uma árvore que se tornou seca. A cruz também é um elemento próximo da natureza. Re-encantar a fé na Criação como obra de Deus é viável. Pensar; crer; ensinar e fazer liturgias – isso tudo nós temos capacidade de fazer. O todo que está aí é obra; é Criação de Deus. Se o banheiro é capaz de indicar a medida do Índice do Desenvolvimento Humano; da nossa saúde, então façamos alguma coisa. Nós podemos imitar Deus na misericórdia e no amor; superar a lógica do domínio. Não carrego a mínima dúvida de que dependemos uns dos outros e do ambiente em que vivemos. A nossa saída dos problemas tem que passar pelo mínimo de Comunidade e esta está aí, ao nosso lado.

Caminho: Isso tudo não é tão simples de ser feito...

HR: Claro, eu sei que esta proposta não é simples. Algumas intervenções têm efeito em longo prazo. O cerrado, por exemplo, se recompõe de quando em quando. Podemos cuidar desse detalhe oportunizando-lhe descanso. Lutero falou em “Sola Scriptura” (Somente a Bíblia). Que tal lermos os textos bíblicos também a partir da ecologia. Lembram do Noé? Ele ficou estressado na arca e acabou inaugurando a lógica sacrificial quando sacrificou o primeiro animal que lhe apareceu pela frente. Se todos têm dignidade, todos têm chance. Cultivar é guardar (Gênesis 2.7); é observar ritmos de pausa (seis dias de trabalho e um de descanso). Em Êxodo 23.10-11 se lê que a terra tem direito de descansar; de parar de fazer o que está fazendo... Por que não cultivarmos também o ócio? Não fazermos nada no domingo?

Caminho: Desafie-nos!

HR: A partir da leitura de Deuteronômio 23.12-15, demos meia volta; olhemos para trás e reflitamos sobre o que temos feito. O saneamento básico é 50% responsável pela saúde na face da terra. Para ele “o capitalismo é como uma vaca que come capim e que vai deixando sujeira para trás. Hoje, mais do que nunca, é preciso refletir-se sobre essa “sujeira” que fica; sanear-se a mesma. A Criação de Deus tem a ver com beleza (Salmo 104). Hoje essa “beleza” geme e sofre e, por isso mesmo, carece da nossa interferência refletida. Jesus não disse muita coisa sobre ecologia, mas num dado momento ele pediu que os Seus próximos “reparassem nos lírios do campo”. O fato é que encantamo-nos com o chamado à descoberta das “belezas” que existem no mundo natural, a partir da fala de Jesus. A espiritualidade vê, julga e age, daí que temos compromisso com esta proposta ético-profética com a qual Jesus Cristo nos abana. Sim, temos compromisso com o Reino de Deus e, portanto podemos celebrar a terra como um grande Corpo Vivo.

30.5.11

Quinto Mandamento - Não Matarás! (Êxodo 20.13)


Durante as últimas semanas, enquanto me preparava para tratar do tema "aborto" me veio a pergunta: O que é que pode melhorar a nossa vida e, ao mesmo tempo multiplicar a nossa felicidade? Penso que descobri a resposta: os Dez Mandamentos. Só eles podem melhorar e multiplicar a felicidade na nossa vida.

Observem o Quarto Mandamento. Ele nos diz que “devemos honrar pai e mãe”. Esse mandamento está escrito para filhas e filhos adultos. Eles é que são os responsáveis pelos seus pais que envelheceram. Sim, os filhos são desafiados a promover o envelhecimento dos pais sob bases dignas. Aqui alguns detalhes precisam ser levados em conta: No futuro as nossas crianças nos tratarão exatamente igual o tratamento que dispensamos aos nossos pais nos dias de hoje. Somos observados e copiados. O nosso tema para os próximos encontros é “aborto”. Creio que também seremos observados nas nossas atitudes em desfavor ou a favor da vida. Vamos lá!

O que é que melhora a nossa vida e multiplica a nossa felicidade? Aqui a leitura do Quinto Mandamento é fundamental: “Não matarás.” (Êxodo 20. 13)

Penso que todos nós aceitemos este Mandamento sem qualquer restrição; sem qualquer reflexão crítica. Creio que, se abrirmos a Palavra de Deuws, cada um de nós dirá que “isso é absolutamente certo – que não devemos tirar a vida de quem quer que seja”. Também suspeito que se saíssemos para as calçadas de nossas cidades e perguntássemos aos transeuntes o que pensam sobre este Mandamento, que eles diriam? “Está correto”. Ponto. Nada mais a dizer...

É interessante, mas o que parece ser tão claro e inequívoco tem aspectos que precisam ser aprofundados – sim senhor. Por exemplo: Alguém poderia perguntar o que realmente significa “matar” ou “assassinar”? Também poderíamos perguntar o contrário: Como é que se formula este Mandamento de forma positiva? Como é que se cuida e se protege a vida para que ninguém seja morto? Onde estão realmente os limites para não matar uma pessoa? O que fazer em casos limítrofes? Vamos tentar apalpar um pouco algumas possíveis respostas para estas questões, mesmo que seja difícil de respondê-las.

Não devemos matar. Por trás deste mandamento está a questão fundamental que precisa ser sabida: É preciso se ter o maior respeito possível pela vida humana. Toda a vida, tanto a minha como a tua, é original; é única e, portanto, insubstituível. O Deus descrito na nossa Bíblia é o próprio Deus que quer a vida; que dá a vida única a nós. Ele, no tempo certo, recolhe esta vida novamente para perto de si. Pode-se dizer que Deus é o autor da vida e que Ele não abre mão destes Direitos Autorais, tanto na hora de dá-la, quanto na hora de tirá-la.

Daí que a vida não é nossa, nem a minha vida nem a vida dos outros seres humanos. Somos mordomos da vida; designers da vida, mas a vida própriamente dita é de Deus. Deus é o Senhor da vida. A pessoa que ousar tocar na vida criada por Deus está tentando se adonar da mesma e isso Deus não admite sob hipótese alguma. Quem mata uma pessoa mata a imagem de Deus e, ao mesmo tempo, desafia Deus pra uma luta. Observem que este Mandamento não tem a ver só entre a relação de um homem com outro homem, mas com a relação do homem com o próprio Deus.

Tu não deverás matar. Esse Mandamento quer deixar claro que não nos cabe derramar sangue inocente. Que não podemos matar uma pessoa por esta ou aquela razão. Aqui eu não quero me debruçar sobre o comportamento do policial quando ele se encontra diante do dilema: atirar ou não atirar. A questão também não é tratar deste tema difícil de como os soldados têm que se comportar numa guerra. A questão que quero trabalhar é sobre a morte não autorizada; sobre o abate intencional; sobre a negligência de um ser humano que mata outro ser humano simplesmente por matar. Aqui precisamos pensar desde os ladrões que, para roubar, assassinam pessoas até os motoristas que, com alguns miligramas de álcool no sangue, atropelam e tiram a vida de semelhantes. Isso não é da vontade de Deus.

Suspeito que todos nós reagiríamos rapidamente com palavras do tipo: Claro! Somos completamente contra que se mate uma pessoa dessa maneira. Muito bem! Martin Luther analisou este Mandamento e converteu esta proibição numa oferta. No Catecismo Maior ele escreve que “não devemos prejudicar o nosso vizinho, mas ajudá-lo e protegê-lo” Que, se não o fizermos, estaremos descumprindo o referido Mandamento e assim matando-o.

Isso quer dizer que quando agimos movidos pelo medo; pela indiferença e ou pela negligência, estamos prejudicando uma pessoa; estamos abrindo a porta para a possibilidade da entrada; da experimentação da morte; estamos transgredindo o Quinto Mandamento. Quando em determinados momentos ouvimos o que está por detrás do referido Mandamento: protege o teu vizinho; certifique-se que ninguém se machuque; salve vidas; proteja vidas; então, este Recado de Deus, alcançado por Moisés já está mais próximo de nós; já se tornou um pouco mais sério. Mas daí então nós não podemos mais fugir da pergunta: Onde o curso da vida de uma pessoa corre riscos; é cortado, será que, se tivéssemos praticado a intervenção correta, nós poderímos ter impedido o avanço da desgraça?

De repente, vocês, tal como eu, de forma bem espontânea estejam se lembrando de um ou outro incidente onde se machucou e se maltratou pessoas que, quem sabe, mais tarde, vieram a falecer por causa destes ferimentos recebidos. Nestas horas, quantos ficaram passivos, só observando? Uma tal situação é obviamente difícil, especialmente porque a vida é cara. Será que eu iria reagir como reagi em Porto Alegre (RS), nos idos de 1982, quando a polícia bateu num papeleiro... A questão é: o que está por detrás duma tal atitude. Eu respeito a vida do outro e eu estou pronto para entrar em sua defesa?

Esta questão já é anterior daquela que se coloca nestas situações dramáticas que comentamos a pouco. Colocamo-nos entre aqueles que se encontram à margem da nossa sociedade: os desprezado e ridicularizados? Isso é suficiente? Quais são os nossos conceitos de Demência? Como falamos deles aos outros? Quais são os nossos conceitos das Pessoas com Deficiência? Quais são os nossos conceitos sobre as Mães Solteiras da nossa sociedade? Qual é o nosso conceito sobre os Estrangeiros que vivem entre nós? Como é que nos comportamos quando se faz chacota; piadas com o o objetivo de colocar essa gente de lado; humulhando-os nas nossas rodinhas de conversa? Temos que ter clareza sobre esse assunto: Se não tivermos coragem de nos expressarmos e nos colocarmos ao lado dessas pessoas para protegê-las, como é que teremos disposição de proteger alguém quando a coisa descambar para as vias de fato?

Sinceramente! Espero que vocês estejam sentindo, imaginando que este Mandamento tenha mais implicações em si do que se pensava até aqui. O “Não Matarás” implica pensar já agora nas possibilidades de impedir alguém de, no futuro, vir a matar; a proteger, desde agora, os nossos “vizinhos” da morte do seu caráter. Protegêmo-los ou ajudamos a matá-los?

Trata-se de um grande tema. Deus nos questiona se estamos prontos a proteger e a preservar vida de um outro ser humano e isso já desde agora, pensando em longo prazo para que, no futuro, não aconteça que alguém acabe morrendo por causa de nossa desatenção aqui no presente.

Se olharmos mais de perto, com mais cuidado para dentro da sociedade onde vivemos, todos os problemas ficarão mais claros diante dos nossos olhos. O fato é que tanto no Antigo como no Novo Testamento há a concordância de q1ue o Povo de Deus tem a tarefa especial de se colocar como protetor dos que são mais fracos.

Quem ousa vasculhar a Bíblia (especialmente no Antigo Testamento, mas também no Novo), percebe que nela sempre se encontram três grupos de pessoas pelas quais o Povo de Deus é responsável: Em primeiro lugar, pelos bebês e pelas crianças. Em segundo lugar, pelos idosos; pelas pessoas pessoas doentes e pelas pessoas com deficiência. E último lugar, pelos órfãos; pelas viúvas e pelos estrangeiros que vivem em nossa terra. Eis aí três grupos de pessoas que não dispõem de força e poder de se proteger; que, em si, não têm nenhuma chance de se defender; que, em si não têm a capacidade de se colocar para dizer a que vieram. São pessoas que precisam de outras pessoas que estejam à disposição delas; que as protejam; que se coloquem ao seu lado. Isso é muito difícil e nós vamos entender o porquê a partir dos exemplos que vou citar:

Faz tempo que essa discussão sobre o aborto; sobre a pesquisa de células-tronco; sobre engenharia genética e sobre eutanásia vem acontecendo no nosso meio. Com esta discussão se abre novamente, pelo menos aqui neste espaço, proponho discutirmos sobre o conceito da “vida indigna de vida”. Alguns sustentam que existe uma vida que não é digna de ser protegida e preservada. Trata-se de uma vida que se pode matar sem se sentir culpado por causa disso. O que é mesmo “uma vida indigna de vida”?

Primeiro exemplo: Outro dia ouvi de um político que “a vida só deve ser preservada quando existe dignidade própria”. Ele queria dizer com isso que um embrião não tem este sentimento e que, portanto, não precisa ser protegido. Será que um bebê de seis meses de idade, tem sentimento de auto-dignidade; de auto-estima? Será que num homem que sofre do Mal de Alzheimer, existe o sentimento de auto-dignidade; de auto-estima? Ou num paciente em coma? Onde estão os limites? Não há dignidade para aquelas pessoas que, pelo “andar da carruagem” já não são mais capazes de ter dignidade, auto-respeito? Vida indigna de viver?... Hummmm...

Segundo exemplo: Li numa revista que certo cientista chamado Stackelberg fez sua tese de doutorado para constatar que “em uma época de escassos recursos públicos, seria mais barato não permitir que crianças com deficiência sobrevivessem; que a riqueza privada e pública aumentam quando não há crianças com deficiência... O que dizer quando um “cientista” chega a uma conclusão destas no seu dotorado; quando há pessoas e grupos que batem palmas quando uma aberração destas é dita? Onde estão as fronteiras, onde está a “vida que vale a pena ser vivida”? Onde e em que áreas devemos proteger a vida conforme a sugestão do Quinto mandamento?

Terceiro exemplo: na Inglaterra se permitiu que as seguradoras pudessem fazer um teste genético para prever o risco potencial de seus clientes terem graves problemas genéticos. Que argumento usaram para conseguir este intento? Ora, pagar seguro para uma pessoa com problemas genéticos é muito caro e não queremos pagar este preço - argumentaram.

São apenas exemplos. Daria para se dizer que são a ponta dos icebergs onde estão centradas algumas das grandes discussões do momento. Eu não trouxe estes exemplos para que vocês balancem suas cabeças e digam: Êta mundão!... Onde é que chegamos... Estes exemplos nos fazem despertar para o fato de que temos responsabilidade na nossa sociedade. A nossa responsabilidade não está em todos nos fazermos especialistas em engenharia genética ou em aborto e ou ainda na investigação em células-tronco. Nada disso! Isso nós nem temos condições de fazer, pois nos seria uma sobrecarga completa.

Mas nós somos responsáveis para chamar a atenção daqueles que estão dando o “ponta-pé” inicial nestes assuntos de menos vida. Se, por exemplo, “pintar” uma conversa dessas na nossa família; na nossa Comunidade; no trabalho; entre colegas ou onde quer que seja – lá podemos ser formadores de opinião. Ajudaremos muito nessa reflexão se colocarmos nossas perguntas na pauta. Se tivermos talentos para isso, escrevamos cartas para quem direito, etc.

Agir em prol da vida também pode significar tornar-se conhecedor do assunto que abrange certa área. Como eu já deixei claro, não podemos ser especialistas em todas estas questões, mas é importante que consideremos mais uma vez que, aqui e ali, pode haver uma pessoa que conheçamos e que esteja precisando ser protegida diante de um ssunto desa monta. De repente existe um grupo que te é simpático e que pode te ajudar a levantar o a voz contra essa ou aquela “barbaridade”.

“Não matarás”. Sim, nós não devemos matar. Essa ação inicia lá onde eu posso proteger uma pessoa ou um grupo de pessoas vulneráveis e que, por isso memo, correm perigo de ser maltratadas e ou até mortas. Eis aí um vasto campo sobre o qual todos nós podemos refletir e depois tomar decisões concretas.

Se levarmos em conta a história dos últimos duzentos ou trezentos anos, então certamente perceberemos que não há nenhuma coincidência no fato de que foram os cristãos que começaram a trabalhar no sentido de valorizar a vida, a partir da compreensão do Quinto Mandamento de Deus. Foram eles que criaram as Aldeias SOS; a Cruz Vermelha; Caritas; Brot für die Welt; a Cruz Azul; etc. Os cristãos sempre foram os iniciadores que deixaram claro: porque eu não quero matar, vou proteger a vida e precisamente as vidas daqueles que, certamente, correm mais perigo.

“Não matarás.” Atrás deste Mandamento está o mandado diaconal de cada Comunidade. Nós sempre somos chamados a proteger e a preservar a vida daqueles que não tem forças próprias para se proteger; daqueles que estão sendo oprimidos por terceiros; daqueles que se encontram à margem e que, por isso mesmo, podem vir a morrer a qualquer momento.

Um último pensamento: o Cardeal Von Galen da cidade de Münster, disse em 1941, durante o Terceiro Reich, em um sermão: “Tu e eu, nós só viveremos o tempo em que formos produtivos; só até o momento em que seremos considerados produtivos pelos outros?” Ele fez essa pergunta num contexto onde o Regime Nazista praticava a eutanásia. Naqueles tempos as pessoas com deficiência eram assassinadas sem piedade, porque não poderiam ser produtivas.

Hoje, em 2011, essa questão é novamente atual: a vida só vale a pena enquanto ela é produtiva? Como é que tratamos desse assunto entre os nossos pares; na nossa sociedade; na nossa Comunidade? Quem não pode participar trabalhando, quem não pode pagar o que se espera para a Comunidade também é considerada uma pessoa valiosa e importante? Eu sonho que descubramos que o critério de produtividade é assassino. Temos que refletir sobre isso com muita profundidade.

A vida de uma pessoa tem valor inestimável porque ela é a imagem de Deus; porque ela é criada por Deus; porque ela é única e não porque ela é produtiva e consegue fazer isso ou aquilo com muita mobilidade. A pessoa tem a vida, porque Deus lhe dá a mesma e porque Deus espera que a “presenteada” desfrute desfrute o fato de ser Sua imagem. Só Deus pode tirar tirar a vida de da pessoa e Ele faz isso no tempo certo. Naturalmente são muitas as questões que se colocam quando pessoas se encontram gravemente doentes: doentes terminais; doentes que precisam sofrer indeterminadamente sobre a cama. Onde estão os limites para a sua dor, mesmo com todo o aparato médico que se tem à disposição hoje em dia?

Aqui convido vocês a ouvir este Quinto Mandamento de uma forma bem nova. Não matarás! Deus quer a vida e Deus protege a vida, mesmo quando a vida, na perspectiva de nossa sociedade, não é mais produtiva e só traz gastos. Deus protege a vida. Deus quer que nós vivamos, não importa o que temos a pagar; não importa quão saudáveis ou quão doentes estejamos.

Aprendamos juntos a respeitar e proteger a vida. Tenhamos sempre esta questão em mente: Onde é que, como Comunidade, temos responsabilidades especiais para uma pessoa e ou um grupo de pessoas que esteja ameaçado por esta ou por aquela razão? Como é que podemos proteger a vida destas pessoas; deste grupo de pessoas e proporcionar-lhe a dignidade que merecem da parte de Deus?

“Não matarás.” Esta proposta vai muito além do que se pensava anteriormente, certo? Vamos juntos buscar e compartilhar o caminho que temos de caminhar...

29.5.11

Firmes e Inabaláveis!


Essa foi minha prédica no dia 29 de maio de 2011. Logo após o Culto aconteceu a Assembléia da Paróquia São Mateus. Usei a prédica como meditação para o momento...

Gente querida! Eu, quase sempre, me encontro debaixo de “mau tempo”. São reuniões na CEJ-UP; são encontros no SNC; são os estudos bíblicos que preciso preparar; são as atas que preciso escrever; são as colunas de jornal que carecem ser elaboradas; são as rápidas passagens pelo supermercado para a compra de algo faltante; são as visitas hospitalares; são as celebrações de santa-ceia fora de hora; são as preocupações com a conta bancária; são as atenções de cuidado para esse ou aquele... Às vezes carrego a impressão que não vou mais conseguir respirar no meio desta “correnteza”. Avaliei-me e cheguei à conclusão que queria louvar Deus com meu ativismo. Foi então que, me preparando para este momento, li Coríntios 15.58: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.”

Entendo que essa palavra seja perfeita para ser repartida neste Culto que antecede a nossa Assembléia Paroquial. Suspeito que este versículo bíblico também fale alto para vocês, dentro do correr-corre diário de cada uma; de cada um.

Conta-se que três trabalhadores cortavam pedras que serviriam para o alicerce de um templo. Um sujeito que passava perguntou: - O que é isso que vocês estão fazendo? O primeiro respondeu: - Estou cortando pedras. O segundo demorou um pouco a responder: - Estou ganhando R$30,00 por hora... O último levantou os olhos brilhantes, encarou o curioso e se saiu assim: - Estou construindo a Casa de Deus!

Todos nós trabalhamos com base em motivações diferenciadas. Uns têm prazer em fazer o que fazem; outros trabalham porque precisam do emprego; muitos dão de si porque querem ajudar a construir uma sociedade mais justa. Conheço pessoas que só querem se “colocar” no “mercado”. Já a cristandade investe do seu tempo onde for chamada porque leu na Bíblia que “o trabalho nunca é em vão”.

Muitos se queixam que seu esforço nunca dá em nada. Outro tanto se sente inútil porque não tem trabalho. Será que estes dois tipos de pessoas colocam o seu “coração na ponta dos dedos” quando se doam em prol de um objetivo? Será que foi o contexto que lhes oportunizou o costume do acomodamento?

Às vezes esse jeito de ser também é verdade dentro da Igreja. Quem nunca experimentou os sentimentos de desânimo? Eu já! Esses momentos acontecem nas horas mais incertas da nossa vida para tentar “assassinar” nossa disposição; nossa esperança; nossa alegria. Sim, eu conheço esse sentimento que volta e meia nos abate e nos leva a tentar “jogar a toalha” porque nada dá certo e ou porque nos sentimos “sugados” das energias e ou do dinamismo que faz parte de nós.

Coisa boa! A Bíblia diz que o “nosso trabalho não é em vão”! Nos momentos de exaustão, no meio do caos e do desgaste, poderemos não perceber nenhum sucesso nas coisas que fazemos, mas, mesmo assim, “o nosso trabalho não é em vão”. Esta palavra vale tanto para quem é bancário; construtor; médico; dona de casa ou presbítero da Paróquia São Mateus.

Se nosso falar; nosso pensar e nosso agir estiverem focados em Deus, então, Deus está conosco; orienta-nos; dá-nos forças; dá-nos resistência. Quando o Espírito de Deus encontra espaço em nós, então percebemos que o “espírito que Deus nos tem dado não é de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.” (2 Timóteo 1.7) Sim, Deus nos presenteia com força, amor e prudência e é por isso que podemos “fincar o pé”. Estamos vivendo tempos difíceis; tempos de doença e desemprego? Nós também podemos louvar a Deus enquanto estamos recolhidos. Podemos louvar a Deus com o nosso trabalho, mas também com o nosso descanso.

Mesmo que algumas das nossas atividades sejam cansativas e sem graça; difíceis de serem avaliadas como “produtivas” e, aparentemente sem sentido: “No Senhor elas não são em vão”. Aliás, nada do que fizermos “no Senhor” é em vão. A bênção de Deus está lá onde se faz as “coisas” no Seu Santo Nome. Amém!

27.5.11

A Noite da Batata Suiça!


O pessoal do Grupo de Estudos Bíblicos “Passeando pela Bíblia” estava se reunindo semanalmente, como fazia durante os últimos anos. Aí, um dia, assim, de repente, alguém surgiu com a idéia de organizarmos a “Noite da Batata Suiça”.

- O seria isso? - perguntaram alguns. O idealizador da idéia não se fez de rogado:

- Simples - disse ele. Uma noitada para saborearmos em torno de 250 batatas inglesas, todas elas recheadas com os mais saborosos e variados molhos.

- Pra que? - indagou uma das senhoras participantes.

- Ora pessoal! Para termos comunhão com o Povo de Deus; para fortalecermos o caixa da Comunidade; para crescermos no convívio como Grupo. Oh gente! Pra que tanta pergunta?...

Pois a proposta foi envolvendo uns e outros e quando vimos todos estavam com a mão na massa. Num primeiro momento convidamos um casal de amigos florianopolitanos que tinha experiência no assunto. Depois, um dos participantes deu jeito em batatas inglesas grandes. Aí se criou os cartões para serem vendidos a R$ 10,00 cada e fomos a campo. Vendemos 229 cartões. Que festa! Quanta alegria! Tudo era novidade.

Uma semana antes da sonhada “Noite da Batata Suiça” reunimos todo o pessoal do Grupo Organizador para uma degustação. Era gente que não acabava mais em volta das panelas. Todo mundo queria aprender a fazer o tal quitute. E não é que ficou bom? Mas ficou bom demais!

Chegou o dia. O casal de “entendidos” viajou de Florianópolis para Joinville. A turma pegou junto e a “noitada” foi acontecendo. Veio gente dos quatro cantos da cidade. Estava gostoso com gosto de quero mais. Ninguém queria ir embora porque a alegria estava no ar.

No apagar das luzes estavam todos felizes. Os objetivos tinham sido cumpridos. Todos foram para as suas casas alegres, crescidos, satisfeitos consigo mesmos. Trabalhar em equipe é da essência do Reino de Deus. Ficou a certeza: Ano que vem repetiremos a dose!

OLHA SÓ!