Busque Saber

11.6.12

Apostolicum Symbolum

- Ô mãe! O que é um “credo”?

- Deixa-me pensar... Um “credo” é o resumo daquilo que a cristandade crê – filho.

- Então minha “profe” estava certa. Ela disse que o “credo” era a tentativa de condensar a Palavra de Deus.

- Certo Ju! Mais do que isso, o “credo” também é uma meditação; uma oração.

- Legal. Mãe! Eu vou visitar a vovó.

- Manda um abração pra ela Juliano!

D. Alice ficou curiosa. Descobriu que temos os Credos: Apostólico, Niceno e Atanasiano; que antes do Credo Apostólico só havia as Confissões de Fé da época dos apóstolos (Tu és o Filho do Deus vivo e Jesus Cristo é Senhor); que, com o tempo, se ampliaram estas breves Confissões. Eureca! Seu pastor deveria saber mais detalhes...

- Então pastor! O senhor pode dizer algo mais?

- Sim Alice! Nos anos 300 d.C o Bispo Hipólito de Roma fez nascer o “apostolicum symbolum”, o Credo no espírito dos apóstolos. Esta Formulação de Fé foi ótima para se combater as “falsas doutrinas” que surgiam.  

- Interessante pastor!

- Pois é! Entre 318 e 451 d.C. também havia dúvidas no ar. Perguntava-se se Jesus era divino; se um carpinteiro podia fazer milagres e experimentar ressurreição; se Jesus tinha sido criado ou era igual a Deus. Não deu outra: Nasceu o Credo de Nicéia. Nele se diz: “Deus de Deus; Luz da Luz; gerado, não criado; desceu do céu; se encarnou;” etc. Enfim, trata-se de um Credo comum a toda cristandade!

- Pastor, e sobre o Atanasiano?!

- Este Credo é menor. É praticamente uma cópia do Niceno. O fato é que hoje temos estes três Credos, a Confissão de Augsburgo (1530) e os Catecismos Maior e Menor de Martin Luther.

- Muito obrigada pastor! Mande um abração para sua esposa. Ontem encontramo-nos na calçada. Que calor horrível...

SEJA FEITA A TUA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Mateus 6.10b

“Pai nosso que estás nos Céus!” Quando oramos assim, relacionamo-nos corretamente com Deus. É dessa forma explícita que nos dirigimos a Deus. É um dom, uma graça podermos orar desse jeito.

“Santificado seja o Teu Nome!” Nesse oprimeiro pedido, desejamos, pedimos que o Nome de Deus seja santificado. Agindo dessa forma, honramos a Deus, desejando, de todo coração, que Ele permaneça do nosso lado a Deus e que, assim, experimentemos a salvação, dia após dia.

“Venha o Teu Reino.” Esse é o nosso segundo pedido. No momento em que o oramos, soltamos o nosso pensamento e passamos a pensar “grande”. Olhamos para o futuro e ele se mostra grandioso. Essa é uma promessa da qual queremos e podemos nos apossar. 

Às vezes, uma vida inteira não é suficiente para medir a profundidade destas Palavras e isso, mesmo com muito estudo. Mesmo que entendamos pouco do assunto, temos o direito de dizê-las. Foi Jesus mesmo quem pediu que a orássemos quando entendêssemos o porquê da nossa oração. É com o exercício desta oração que nos vem à bênção. As pessoas que oram esta oração experimentarão boas consequências para suas vidas, disso podemos ter certeza.

Como orar esta Terceira Petição: “Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu”? Respondo esta pergunta colocando, de forma muito clara, que esta Petição depende da entonação que usamos na nossa voz.

“Seja feita a Tua vontade...” Ao falarmos esta oração deveria estar claro que não é a minha vontade que eu quero que aconteça; que não é a nossa vontade que deve vigorar, mas é a vontade de Deus que deve acontecer. Não é muito fácil de identificar com clareza se a vontade de Deus acontece ou não acontece. Se fizermos desta palavra do “Pai Nosso” a nossa palavra, então o nosso “ponto de vista” se mostra curto. Ora, se nossa visão se mostra desprovida de “longo alcance”, ficam evidentes que são os nossos desejos que estão na pauta.  

Se orarmos assim, desse jeito, com o foco em nós, então fechamos as possibilidades da ação de Deus. Se orarmos com vigor, pedindo que a “vontade de Deus seja feita” e, do nosso “ponto de vista” ela não acontece, sentimo-nos como que tomados pelo sentimento de que a referida Petição não aconteceu de fato conosco. É rápido e fácil se dizer: “Seja feita a Tua vontade!” O problema são as consequências que advém daí. Fazer esta oração com consciência e entender, verdadeiramente, o que se está orando não é algo tão simples assim como parece.

Não devemos ser egoístas e egocêntricos ao orarmos a Oração que o Senhor nos ensinou. Claro que existem as pessoas que sempre só pensam em si quando oram. Infelizmente as pessoas que ainda não se deram conta da grandeza da vida, continuam caminhando à nossa volta. O homem e a mulher dependem dos relacionamentos ao longo de toda sua vida. Quem não entende isso deve ter enormes dificuldades para entender o caminho que leva à compreensão desta Petição: “Seja feita a Tua vontade!”

Vou ser sincero: Não é fácil abster-se de nós mesmos e, junto, aceitarmos que a vida não é como imaginamos que ela deveria ser. Nós desejamos uma vida sem sofrimento. Queremos ser pessoas saudáveis e sempre que possível dizemos: - O que vale é ter saúde, o resto a gente corre atrás! Pelo amor de Deus - não queremos adoecer gravemente; não queremos sofrer limitações físicas; não queremos experimentar qualquer tipo de dor. Daí nós lutamos para não envelhecermos. Claro que temos os nossos desejos e os nossos sonhos a respeito da vida. O problema é que esta vida se mostra muito difícil de ser vivida! Todo mundo sabe que este jeito de pensar é bem humano. Quem é que não almeja uma vida repleta de felicidade? Quando os nossos sonhos se quebram, quando os nossos grandes desejos insistem em permanecer insatisfeitos, quando perdemos coisas caras na vida ao invés de ganharmos... Aí fica verdadeiramente complicado!

“Eu queria tanto aproveitar a liberdade na aposentadoria, curtir os netos, trabalhar no jardim, mas agora eu ainda só me ocupo com meu câncer.” “Eu sempre sonhei em viver junto com minha esposa, mas o nosso casamento não durou.” “Eu esperei tanto pelo momento de receber uma boa aposentadoria, mas o Governo tira tudo de mim.” Sério, perguntemo-nos: - Como é que pessoas que sofrem desse jeito conseguem orar “Seja feita a Tua vontade”?

Certamente que não podemos interpretar todas estas situações difíceis e complicadas como sendo da “vontade de Deus”. É um tanto barato dizer-se: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus!” Se agíssemos assim estaríamos dando consolo a partir de bases cínicas. Tais consolos são fruto de uma imagem assustadora que se tem de Deus. Que tipo de Deus seria esse que tem vontade de matar pessoas com doenças; que tem interesse de retirar a felicidade das pessoas; de quebrar matrimônios? Deus não se agrada nem um pouco com a morte que acontece nas nossas estradas – por exemplo. Eu creio que muitas coisas que acontecem à nossa volta não são da vontade de Deus. 

“Seja feita a Tua vontade!” Esse pedido tem que soar de outro jeito, se é conforto que se almeja. Essa Petição se torna confortante quando quem está no meio da angústia, no vale escuro, se dá conta de que Deus continua do seu lado, segurando a sua mão, apesar da dor, do medo e do sofrimento que experimenta.  É neste sentido que eu também posso orar como Jesus orou no Jardim do Getsêmani, um pouco antes de Sua prisão. Em nenhum momento da nossa vida Jesus chegou tão perto de nós, das nossas dúvidas, das nossas preocupações, quanto naquele dia. Lá naquele momento angustiante Jesus nos apontou o caminho para a experimentação do conforto. Ora, este conforto não se encontra no começo da história. No começo está o temor, o tremor e o pedido de que, se possível, Ele seja poupado daquele sofrimento. Somente no final de suas lutas é que Jesus, nosso irmão no sofrimento, consegue orar a oração que Ele mesmo ensinou aos seus discípulos: “Não a Minha vontade, mas seja feita a Tua vontade.” Gente, este pedido depende do tom como é feito.

Há outra maneira de fazê-lo: “Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu.” Para as pessoas que aprenderam a orar o Pai Nosso sem fechar os olhos para os sofrimentos que nos rodeiam, esse novo tom não é estranho. O desejo urgente de que a “paz física e espiritual” se instale pode, finalmente, acontecer. Que Deus não descanse até que a Sua vontade aconteça em todos os níveis; até o dia em que justiça beije a paz; até o dia em que, conforme se lê no Salmo, a terra se deixe banhar pela justiça e que as armas sejam reforjadas em arados. 

A oração urgente, aquela que brota da compaixão para com os inocentes que sofrem neste mundo, não permite que o nosso Pai do Céu descanse nos céus. Nós também podemos praticar esta oração. Que “Seja feita a Tua vontade”. Quem faz esta Petição só pode esperar que a Vontade de Deus seja concretizada “no céu e na terra”. Essa pessoa, agradecida, perceberá a vontade de Deus já acontecendo aqui e agora. Ela mesma se perguntará pelas medidas em que a vontade de Deus já acontece em sua vida.

Os exemplos brotam dentro do próprio cristianismo. Nele se percebe testemunhos que fortalecem a fé cristã da vontade de Deus que já acontece. A vontade de Deus já aconteceu no passado lá onde o coração das pessoas se deixou mover pelo amor; lá onde professores se doaram pelos seus alunos, ensinando-os a orar confiantes e, junto, oportunizando um relacionamento com Deus de fato e de verdade; lá onde se ama o próximo como a si mesmo; lá onde se exerce o cuidado com idosos e doentes, com pessoas “quebradas” que vivem no limiar da morte.

Mesmo na Comunidade, a vontade de Deus já acontece aqui e agora. Sua vontade acontece quando as pessoas se confortam umas às outras; quando elas se reforçam mutuamente e, em fé, oram umas pelas outras. O milagre acontece quando alguém perdoa e se reconcilia; quando as pessoas dialogam e se entendem, apesar de suas diferenças. Finalmente, a vontade de Deus também acontece quando a Criação de Deus é tratada com estima, com o respeito e com apreço; quando as pessoas se engajam com determinação para fazer valer a preservação do Jardim de Deus. 

“Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu.” Orar assim também significa viver na esperança de um bom fim para a nossa história, história que já viemos trabalhando há dois mil anos. Fiquemos espertos: Por mais que nos frustremos com a vontade de Deus, Ele, o nosso Pai do Céu, ainda está longe de experimentar o limite de Suas forças. Deus tem clareza dos caminhos que quer percorrer. Concluindo este estudo: As nossas provações e tribulações terão um fim. Na história de José que se lê Gênesis 50.20 está escrito: “Vocês praticaram o mal contra mim, mas Deus converteu aquele mal em bem, a favor de mim”.  Que Deus, que é Maior do que nossa razão guarde os nossos corações e as nossas mentes em Cristo Jesus. Amém!

9.6.12

PRIMEIRO ARTIGO DO CREDO APOSTÓLICO


O Primeiro Artigo do Credo Apostólico é uma Confissão de Fé que sempre fazemos nos nossos Cultos Dominicais. Se, por uma razão ou outra, não professássemos mais o Credo Apostólico nos Cultos, será que sentiríamos falta de algo? Será que percberáimso algum vazio nas nossas vidas? Qual é a nossa motivação para, sempre de novo, dizermos o Credo Apostólico quando do final da Prédica, na Liturgia? Pois vou tentar responder estas questões abaixo...

Como se define um Credo? Ora, um Credo sempre se mostra como “o ponto central” de uma Religião. Ele é o resumo daquilo que a cristandade crê porque nele se condensa toda a Mensagem Bíblica. Algo acontece em nós, quando dizemos o Credo Apostólico. Sim, o Credo Apostólico é a nossa resposta à Palavra de Deus que explicita Seu compromisso conosco. Também precisa ser dito que o Credo Apostólico é louvor a Deus e Confissão de Pecados. Claro, uma vez que quando o recitamos, damos-nos conta do nosso afastamento de Deus. Notem que as palavras ditas no Credo não fazem acepção de ninguém. Assim, o Credo é, ao mesmo tempo, uma meditação e uma oração.

A Profissão de Fé “eu creio” se mostra em três Credos: No Credo Apostólico; no Credo Niceno-Constantinopolitano e no Credo Atanasiano. Antes do Credo Apostólico ser criado, havia as Confissões de Fé da época dos apóstolos. Um exemplo é a Confissão que Pedro fez a Jesus quando disse: “Tu és o Filho do deus vivo!” (Mateus 16.16) Outro exemplo nós lemos nas Cartas de Paulo: “Jesus Cristo é o Senhor!” (Gálatas 6.14) Estas breves Confissões foram ampliadas, detalhe por detalhe, com Verdades Bíblicas como as que se leem em 1 Coríntios: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.”(1 Coríntios 15. 3-4)

Foi sob a articulação do Bispo Hipólito (Roma - século 3 d.C.) que se criaram algumas perguntas a serem feitas às pessoas que queriam confirmar sua Fé Cristã. As referidas perguntas eram dirigidas aos indivíduos que se deixavam batizar. Se esperava que pessoas respondessem as mesmas com um “sim”. Com o passar do tempo estas tais perguntas foram sendo ampliadas em um texto mais compacto. Foi então que nasceu o Credo Apostólico. Em latim  se diria “apostolicum symbolum”, ou seja: “No espírito dos Apóstolos”. Vem daí o nome “Credo Apostólico”. A razão para se formular o Credo Apostólico do jeito que se encontra formulado se deve às Falsas Doutrinas que, também naquela época, já se faziam presentes na sociedade.  O Credo Apostólico é famoso; é popular no Ocidente e, por isso, muito usado nas Celebrações dos nossos Cultos.

No período de 318 a 451 a.C. (quarto século), criou-se Credo de Nicéia. A “luta” para instituí-lo foi difícil  e durou mais de 133 anos. Este tema ocupou a pauta dos Conscílios de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia. Se perguntava: - Como sustentar a divindade de Jesus? - Como entender Jesus, um carpinteiro, que fazia milagres e que, mais tarde, experimentou a ressurreição? - De onde tinha vindo Jesus? - Jesus tinha sido criado ou era igual a Deus? No quinto século também lidou-se com questões complicadas: - Se Jesus era como Deus, então Ele não poderia ter tido o mesmo corpo das pessoas com as quais Ele andava. Essa constatação levou os teólogos de então a formularem acréscimos no Credo de Nicéia: - Deus de Deus, Luz da Luz,... gerado, não criado, ... desceu do céu, se encarnou, etc.” Pode-se dizer que esta “dura luta” em torno da melhor formulação teológica para o Credo valeu a pena. Por que isto? Ora, porque o Credo Niceno é o único Credo comum a toda a cristandade! Este Credo carrega uma dignidade especial em si e isso sempre de novo é percebido em solenidades especiais onde se costuma recitá-lo.

Também há o Credo Atanasiano. A sua origem é incerta. Se supõe que ele tenha sido “formatado” no século 7, no sul da Gália. Ele parte do Credo Niceno e insere mais um e outro detalhe. Este Credo foi muito usado no Ocidente, por ocasião do século 7. Sua popularidade se deve ao fato dele resumir muito bem a fé católica.

Hoje, estes três Credos, ladeados pela Confissão de Augsburgo (1530) e pelos Catecismos (Maior e Menor) de Martin Luther, fazem parte da Igreja Evangélica de Confissão Luterana. Antes da sua ordernação ao Ministério, cada ministra ou ministro eclesiástico precisa deixar clara sua posição a respeito destes Ducumentos diante de uma Banca Examinadora indicada pela Igreja.   

Bem, dadas estas explicações, vamos ao 1° Artigo do Credo Apostólico: “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra.” Quando comparamos o Primeiro Artigo do Credo Apostólico com o Segundo e com o Terceiro, a nossa mente se abre. A razão dessa abertura é que os cristãos dos primeiros séculos ainda carregavam a compreensão da fé dos judeus. O Primeiro Artigo aponta claramente para o Antigo Testamento. No judaísmo, Deus não era e não é um Deus qualquer, mas é o verdadeiro Deus. Para eles Deus é único e não há outro Deus ao Seu lado. Agora, é interessante notar que no Antigo Testamento existem passagens bíblicas que se reportam a Deus no plural.

Nos é dito que Deus criou o Universo. Há algumas correntes que afirmam que há “multiversos”. Assim sendo, “a expressão "HELOHIM" não significa apenas Deus, mas também um Deus, o deus, deus e os deuses” (L. Köhler - Theologie des Alten Testaments, 3ª edição, 1953, pág.17) conforme pontua Klaus Homburg IN: Gênesis p.22-23 e também na obra História de Israel de Milton Schwantes, p. 96-98: “Quatro pessoas diferentes (pai, Abraão, Isaque e Jacó) são relacionadas a Deus. Aparentemente são quatro experiências diferentes de Deus. São, por assim dizer, quatro Deuses...  originalmente, “Deus de Abraão”, “Deus de Isaque” e “Deus de Jacó” eram “entidades religiosas” diferentes, cada qual vinculada a um dos patriarcas e a seus grupos). Essa informação, de uma certa forma, esfacela, mas não retalha os vários focos que são construídos do nosso Uni, Triúno Deus. Ele é tão grandioso, que não dá para entender tamanha imensidão.

Vou dar mais detalhes: Na história da Criação, em Gênesis, se lê: “Criou Deus, (a Pronome Próprio Deus está no singular) pois, o homem!” (Gênesis 1.27a) Noutro momento se lê que Deus visitou a Abraão e que, nesta visita, apareceram três pessoas (Deus está apresentado no Plural). O nome de Deus, “Elohim” (Plenitude da Vida), em Gênesis é usado no plural ou seja, indica um número maior de Pessoas. Quando hoje, durante os nossos Cultos Dominicais, dizemos o Credo Apostólico, estamos nos referindo ao único Deus Verdadeiro que, na realidade, se compõe de Deus, que são Três Pessoas da trindade. Sim, trata-se de um Deus que se compõem de Três Pessoas; Três Pessoas que se resumem num só Deus. Aqui a Matemática não nos ajuda. Quando levamos estas Três Pessoas em conta, não aparece o número três, mas se destaca o que estas Pessoas são. Elas são como um pai; como uma mãe; como uma criança; como um amigo, etc. O que vale é o relacionamento com estas Pessoas. A pauta do Primeiro Artigo é Deus Pai que se relaciona conosco. Este ponto é importante: Deus, no mais íntimo do Seu ser, se foca no outro; nos prioriza. Deus se completa na Sua relação com o Filho; na relação com o Espírito Santo; na Sua relação com o mundo e com as pessoas que nele habitam.

De alguma forma é estranho que o Credo Apostólico começe com o pronome “eu” (Primeira Pessoa do Singular). Quando dizemos “eu creio” não estamos usando o “nós” (Primeira Pessoa do Plural) comunitário, mas estamos nos colocando como indivíduos diante de Deus. “Eu creio em Deus!” Quando, em plena consciência, fazemos soar tal frase sentimos o alcance que estas palavras têm; sentimos que esta frase é a resposta às nossas perguntas. Ela é como que um eco da relação que Deus já iniciou conosco. Ela é a aceitação da realidade de Deus que se insere, que se mistura, que se condensa no desenvolvimento da nossa vida pessoal. Aqui a  palavra “fé” carrega um significado diferente daquele que se vive no dia-a-dia. Se alguém diz: - Eu penso que precisamos dobrar à direita”, isso é menos do que dizer: - Eu sei extatamente que é aqui o lugar de se dobrar à direita. Neste contexto o ato de “pensar” é menor do que o ato de “saber”. Dizer “eu creio em Deus” é deixar claro que se confia Nele; que se “joga todas as fichas” Nele. O que está em primeiro plano é a relação de Deus conosco, de nós com Deus. Ora, quem confessa o Credo Apostólico, dá testemunho de sua fé.
Antes de dar sequência ao tema da Criação, ainda quero fazer um comentário sobre a relação de Deus com Sua Criação. No início, na História da Criação, só havia Deus! E Deus criou tudo do nada! Isso é algo único. Se compararmos este relato com os relatos da Criação que são verdade de outras religiões, então só se percebe “caos” - como diz a Bíblia. E então vieram os Deuses e ordenaram o “caos”. Em Gênesis 1.1 se lê: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Essa Palavra nos abre a possibilidade de duas afirmações: Primeira - Uma explicação científica que não leva em conta o nome de Deus é impossível. Hoje, muitos cientistas concordam com esta afirmação, quando dizem que podem explicar tudo até poucos segundos antes do “Big Bang”, mas nada depois dele.” Segunda: O mundo depende de uma relação intrínseca com Deus. Isto é assim porque, sem o Criador, o mundo não é imaginável; não é viável. Mais do que isto, porque Deus é pessoal e tem um relacionamento pessoal com Seu mundo. Na primeira fase da Criação Deus disse: “No princípio, criou Deus os Céus e a Terra”. Isso quer dizer que toda a ação se deve a Deus. Esta idéia tem seguimento numa segunda fase da criação. Lá Deus inicia a Criação e e há como que um diálogo. “Disse Deus: Haja luz, e houve luz.“ (Gênesis 1.1-2).

Até aqui, Deus criou tudo do nada. Daí então Ele cria algo mais grandioso quando diz: “Façamos o homem à Nossa Imagem, conforme a Nossa Semelhança...  Criou Deus, pois, o homem à Sua Imagem, à Imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1.26-27). Deus cria o homem à Sua Imagem. Se Deus é Espírito, o que significa ser imagem de Deus para o ser humano? Ser Imagem de Deus significa que somos uma pessoa. Somos pessoas e não apenas uma expressão de Deus; e não apenas um testemunho de Deus. Somos pessoas, “eus”, que podem retribuir o amor de Deus. E a essência das pessoas é, novamente, se voltarem para as outras pessoas, tal como o próprio Deus sempre de novo se volta.

Sabe-se, a partir de estudos científicos, que uma criança não pode crescer de forma saudável, se não experimentar o carinho das pessoas maduras. Mesmo que alientemos uma criança dentro dos padrões biológicos, a partir de alimentos, roupas e tudo o mais, ela murchará e, em casos extremos, até morrerá se não experimentar a relação pessoal da mãe ou de outra pessoa. Se nós aplicarmos esta informação sobre a Obra da Criação, então fica difícil imaginar que os seres humanos poderiam vir a ser pessoas, se não tivessem experimentado uma relação pessoal com Deus. Foi após o Relato da Criação que  o homem e a mulher aprenderam esse dom criativo do Pai dos Céus.

Deus criou o ser humano. Foi através do cuidado amoroso de Deus que o homem e a mulher se relacionaram. O que resume melhor o amor carinhoso e a aceitação do que o relacionamento pessoal? A relação pessoal e amorosa de Deus para conosco significa que Ele nos aceita. É como se Ele nos dissesse: “Que bom que você está aí. Eu ficaria feliz se você pudesses dizer o mesmo para Mim. Eu desejo que essa nossa relação permaneça viva para sempre.” Isso não é apenas um sentimento ou ato pensado, mas trata-se da afirmação do “sim” de Deus personalizado dado a nós. O “sim amoroso” que Deus nos dá tem consequências importantes na nossa vida. Pensemos o nosso futuro de forma consistente. O Eterno e Todo-poderoso Deus me diz: “É bom que você está aí. Eu gostaria que você pudesses retribuir o Meu amor. Eu desejo que esta nossa relação nunca se acabe.” É assim a afirmação irrevogável de Deus em relação à nós. E já que Deus também é o Senhor sobre a morte, ela também não pode anular o Seu “sim” para conosco. Deus cumpre a Sua afirmação amorosa, mesmo quando nos afastamos; mesmo quando nos levantamos contra Ele.

Depois que Deus criou o homem e a mulher e eles se tornaram “Imagem de Deus” (Por causa desta relação), a mulher e o homem são chamados a expressar esta mesma relação entre os seus semelhantes. Isto significa que a pessoa só encontrará a sua realização plena quando se relacionar com Deus e com o seus semelhantes, na mesma medida em que Ele se relaciona conosco. Eis a satisfação mais profunda e mais íntima que se pode alcançar no relacionamento de um homem com uma mulher. “Eu creio em Deus!” Até aqui nós vimos como podemos ancorar a nossa vida em Deus. Sim, podemos dar uma resposta ao cuidado amoroso de Deus para conosco, agindo com os outros, tal como Ele age conosco. Nós bem que também poderíamos dizer a Deus: “É bom que Tu estás aí. Fico feliz que Tu me cercas com Teu amor. Eu quero que esta nossa relação nunca se acabe.”

Em cada Culto nós recitamos o Credo Apostólico, mas será que colocamos nas palavras ditas a dimensão de todo este aprendizado? Pode o Credo Apostólico nos despertar para a boa obra de Deus? Como é que nós poderíamos integrar o Credo Apostólico em nossas vidas? “Eu creio em Deus!” Encontremo-nos nas caçadas da nossa cidade e digamos esta frase às pessoas que encontrarmos. Incorporemos esta frase nas nossas vidas e descobriremos detalhes maravilhosos. Eu descobri que Deus me encaminha para aquilo que é essencial; que eu estou muito mais aberto para a realidade de Deus.

Mesmo que existam muitas perguntas para as quais não temos respostas; que existam grandes desafios à nossa frente, existe um rumo, um sentido para nossa vida. Às vezes a constatação deste rumo não é imediata, mas se insistirmos na caminhada, certamente encontraremos respostas: - Eu estou desanimado, quebrado, como posso resolver todos estes quebra-cabeças? Diga: - Eu creio em Deus. Eu confio Nele. - Minhas notas escolares não são as que eu esperava. Como vou seguir adiante? Diga: - Eu creio em Deus. Ele haverá de mostrar os próximos passos. - Deus, como é que Tu permites que nós, homens e mulheres, causemos tantos sofrimentos uns aos outros? Diga: Eu creio em Ti e no Teu amor que é maior e que transcende toda desgraça. Sim, Eu creio em Deus, o Todo-Poderoso. Talvez este seja o maior desafio à nossa fé, porque não percebemos o poder de Deus agindo a cada dia como imaginamos. Coisa boa saber que a Onipotência de Deus significa que Ele tem todo o poder, apesar de nossa liberdade e apesar do mal que grassa no mundo. Deus, com atenção amorosa, não abre mão de nos promover o bem.

Dietrich Bonhoeffer vivia sob este desafio. Na prisão, ele escreveu um novo credo: “Eu creio que Deus fez tudo. Que Ele quer e pode fazer o bem a partir das piores coisas. Para que isso se torne realidade, Ele precisa de pessoas que se deixem chamar para fazer o bem. Eu creio que Deus quer nos dar a força que necessitamos em qualquer situação de emergência e ou de resistência. Mas Ele não a dá com antecedência para que nós não confiemos em nós mesmos, somente Nele. Em tal fé, todo o medo do futuro pode ser superado. Eu creio que Deus não é apenas um destino eterno, mas que Ele espera por orações sinceras e ações responsáveis ​​da nossa parte. Amém.


OLHA SÓ!