Quanta gente se perde, continua se perdendo na
cidade? Faço esta pergunta por que experimentei essa realidade na carne. No final dos anos 50
minha família trabalhava na agricultura no interior de Tenente Portela (RS). Nossa
vida era pacata. À noite olhávamos as estrelas e dialogávamos horas e horas sob a luz do luar. Lembro que as vezes ouvíamos o rádio na sala iluminada com uma lâmpada da marca Aladim. Já
durante o dia, eu, menino, brincava com os filhos dos índios kaingang e a vida seguia seu ritmo lento, seguro e constante.
Foi
de repente a nossa mudança para Porto Alegre (RS).Naquela época meu pai estabeleceu
o seu negócio na Avenida Farrapos. O movimento constante de veículos me dava
dor de cabeça. Estávamos vivendo uma crise familiar muito grande, por não
dominarmos aquele contexto citadino. Num certo domingo, bem cedo, saí a
caminhar sem rumo pelas calçadas do bairro onde morávamos: IAPI. Não demorou
muito, me vi diante de um templo simpático; de uma igreja, cujas portas estavam
abertas. Lá dentro a Comunidade reunida entoava hinos cristãos que eram do meu
conhecimento. Ouvi a prédica do pastor, escorado no muro que separava o templo
da rua. Não ousei entrar; participar daquela comunhão por causa da minha
timidez. Pensei em voltar ali, mas na época não fui acolhido e assim o tempo foi
passando; a nossa família foi se acostumando ao novo ritmo da capital e as
coisas acabaram se sucedendo como sucederam. O fato é que estávamos sem Igreja.
Ficamos sem Igreja.
Eu
cresci. A vida deu suas voltas. Hoje faz alguns anos que eu, já pastor, quase fui
dar de mim na Pastoral Escolar do Colégio Pastor Dohms, bem perto daquele
templo que, um dia, tentou me abraçar, a partir dos seus cânticos cristãos. Outro
dia, em visita à capital dos gaúchos, parei ali no início da Rua D. Pedro II, 676. Foi naquele espaço que eu bem
poderia ter buscado apoio, já aos sete anos de idade.
Todas estas lembranças
acabaram direcionando os meus pensamentos para o Salmo 91.1-2 onde se
lê que “a pessoa que procura segurança no Altíssimo e se abriga na
Sua sombra protetora, experimenta um Deus defensor e protetor”. Na versão alemã está escrito: “Wer unter dem Schirm des Höchsten sitzt und
unter dem Schatten des Almächtigen bleibt der spricht zu dem Herrn: Meine
Zuversicht und meine Burg, mein Gott, auf dem ich hoffe.” Muito boa esta ideia.
O salmista sugere que Deus é uma espécie de “guarda-chuva” que protege aquelas
e aqueles que Nele creem.
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