Ô COTONETE!
Em maio celebro meus 65 anos, a
maioria deles embebidos da proposta cristã. Minha diabetes está controlada a
partir de uma alimentação regrada e com caminhadas de quatro quilômetros
diários. Quem me vê caminhando, logo
percebe o cabelo extremamente embranquecido.
Outro dia, enquanto eu “deslizava”
pela calçada com o intuito de querer chegar, vi um sujeito projetando seu corpo
para fora da janela traseira de um carro popular. Ele apontou seu dedo para mim
e gritou: - Ô COTONETE!
Enquanto aquele automóvel se
distanciava do quebra-molas ainda ouvi muitas risadas. Segui meu caminho pensando
na boa resposta que poderia ter gritado de volta... Andei mais uns duzentos
metros e só então me dei conta de que não teria valido a pena a tal
atitude.
Enquanto apressava o passo,
lembrei-me da palavra de Tiago. Ele sugere o comportamento da “ligeireza do
perdão” e, junto, da “lerdeza do troco” (Tiago 1.20). Recordei-me duma reflexão
que fiz em dias de ativa no pastorado: Dorme em paz quem detecta os “desvios
diários” e, logo depois, os coloca ao “pé da cruz”.
Creio que Lutero estava maduro
quando, no fim da sua trajetória, deu-se conta de não passar de um “saco de
vermes”. Que coisa! O nosso amadurecimento promove a bênção de falarmos e
escrevermos com cada vez menos “filtros”.
Ai como é boa à liberdade!
Sentir raiva do moço mexido
pela cerveja que, entre os seus, gritou com o intuito de se “agrandar”?
Ojerizar pessoas e comunidades que nos “usam” para avantajar-se? Não, porque
esse comportamento não constrói. Aliás, ele, uma vez instalado no peito, corrói
a vida e até fere de morte as células do organismo.
Creiam! Faz bem ouvir os
“barulhos” que acontecem no âmago do “coração”.
Quem age assim, logo detecta as razões para articulação de ações nocivas.
Então, agir impensadamente? Só se a
intenção for, de fato, exalar agressividade, ódio, ferimentos e sentimentos
ruins em si e nas outras pessoas.
Volta e meia me chateio. “Apalpo”
minha vida e não sei ao certo a origem deste estado de espírito. Nestas horas,
tento imitar Jó que, encharcado de crise, procurou gente amiga, enquanto
carecia de acolhimento.
O problema é que o seu pedido
de socorro foi mal atendido. As
“figuras” que se aproximaram acabaram derramando sobre ele apenas algumas palavras
descontextualizadas que, em si, nada ajudaram (Jó 32.2-3). No final das contas
o próprio Jó teve que interceder a Deus pelos colegas que não souberam
articular acolhida diante da sua situação caótica.
Vou tentar fazer diferente!
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