Janeiro de 2001 já expirava quando o avião pousou no aeroporto de Munique. Não lembro da conversa que entabulamos com minha nova colega, durante aquele trajeto de 60km, que nos levaria ao nosso apartamento na Arcisstraße 44. Recordo que o sol estava morno e que o branco da neve acumulada nas calçadas e nos canteiros machucava os nossos olhos. Sim, ali estava eu, um ramo da família Becker que, num certo dia de 1860, precisou imigrar de Darmstadt ao sul do Brasil, por causa de dificuldades. Diante de nós abria-se um leque de seis anos. Quanta coisa para observar, aprender e vivenciar durante aqueles 2.190 dias...
Os primeiros 11 meses nos foram um tanto difíceis. Tudo era novo para nós que tínhamos marcas de uma década florianopolitana “tatuadas” na mente e no corpo. A ordem era clara: teríamos que nos adaptar dentro daquele contexto de primeiro mundo e isso, o quanto antes.
Jamais esquecerei do tempo de advento, daquelas quatro semanas de alegria por causa da esperança que sempre antecedem as festas natalinas. O dia clareava lá pelas 08.00h da manhã e começava a escurecer por volta das 16.00h. O povo alemão se mostrava alegre porque os institutos de metereologia já tinham adiantado que o natal seria “branco” ou seja, que a neve estaria cobrindo com, pelo menos 20cm de expessura, todo e qualquer m² de área da capital bávara.
Na rua o frio era intenso. Mesmo assim os seus transeuntes passeavam nela com casacos pesados. Sobre as suas cabeças via-se chapéus esbranquiçados pela neve fina que caia. Já dentro dos inúmeros bares e restaurantes, gente alegre a festejar momentos sem fim com amigas e amigos forjados no trabalho e nas relações do dia-a-dia. No centro de Munique, no Marienplatz, estavam centenas de barracas onde podia-se saborear bolachas dos mais variados tipos. As cucas e os doces de mel eram fresquinhos pois recém tinham chegado de Nürnberg. O Glühwein, uma bebida semelhante ao nosso quentão, era servido em xícaras especiais. Uma multiplicidade de lembrancinhas de toda sorte de tipos e cores podia ser adquirida aqui e ali. Perto da prefeitura, estava um enorme pinheiro de natal com cerca de 15m de altura. Seus galhos encurvavam-se pelo peso do gelo acumulado. E, no meio de tudo, turistas, muitos turistas, algazarra organizadíssima, gente falando alto, agitação sem medida.
Já no interior dos templos, espaço para que as pessoas pudessem se ensimesmar, buscar silêncio diante de Deus que se fez menino para crescer conosco, nos entender e nos indicar o bom caminho rumo à Casa do Pai. Nossos olhos se detinham nos presépios, um mais bonito do que o outro. Vaquinhas, burrinhos e pastorzinhos de ouro puro, tudo muitíssimo bem guardado por seguranças eletrônicas e também não. As luzes das velas, os corais afinadíssimos, os órgãos de tubo e os muitíssimos profissionais a serviço de uma religiosidade tradicionalizada davam tudo de si para o bem de todas e de todos. Pois não é que entramos neste clima!
Naqueles dias, uma das maiores redes de televisão da Alemanha, entrevistou pessoas alegres que circulavam pelas calçadas. A pergunta que faziam era simples: - Você sabe o que se festeja no dia 25 de dezembro? Entre outras respostas, uma certa porcentagem de passantes entrevistados respondeu que se tratava da festa do Nicolau (um rei que numa certa época decidiu presentear crianças). Aquela desinformação me impressionou. O secularismo, essa força que distorce a fé cristã num jeito mundano de ser, age devagar e, enquanto atua no indivíduo, apaga da sua cabeça toda e qualquer perspectiva de esperança por momentos de paz, de amor, de justiça e de perdão que, um dia, o Criador sonhou para todas e todos nós.
Os primeiros 11 meses nos foram um tanto difíceis. Tudo era novo para nós que tínhamos marcas de uma década florianopolitana “tatuadas” na mente e no corpo. A ordem era clara: teríamos que nos adaptar dentro daquele contexto de primeiro mundo e isso, o quanto antes.
Jamais esquecerei do tempo de advento, daquelas quatro semanas de alegria por causa da esperança que sempre antecedem as festas natalinas. O dia clareava lá pelas 08.00h da manhã e começava a escurecer por volta das 16.00h. O povo alemão se mostrava alegre porque os institutos de metereologia já tinham adiantado que o natal seria “branco” ou seja, que a neve estaria cobrindo com, pelo menos 20cm de expessura, todo e qualquer m² de área da capital bávara.
Na rua o frio era intenso. Mesmo assim os seus transeuntes passeavam nela com casacos pesados. Sobre as suas cabeças via-se chapéus esbranquiçados pela neve fina que caia. Já dentro dos inúmeros bares e restaurantes, gente alegre a festejar momentos sem fim com amigas e amigos forjados no trabalho e nas relações do dia-a-dia. No centro de Munique, no Marienplatz, estavam centenas de barracas onde podia-se saborear bolachas dos mais variados tipos. As cucas e os doces de mel eram fresquinhos pois recém tinham chegado de Nürnberg. O Glühwein, uma bebida semelhante ao nosso quentão, era servido em xícaras especiais. Uma multiplicidade de lembrancinhas de toda sorte de tipos e cores podia ser adquirida aqui e ali. Perto da prefeitura, estava um enorme pinheiro de natal com cerca de 15m de altura. Seus galhos encurvavam-se pelo peso do gelo acumulado. E, no meio de tudo, turistas, muitos turistas, algazarra organizadíssima, gente falando alto, agitação sem medida.
Já no interior dos templos, espaço para que as pessoas pudessem se ensimesmar, buscar silêncio diante de Deus que se fez menino para crescer conosco, nos entender e nos indicar o bom caminho rumo à Casa do Pai. Nossos olhos se detinham nos presépios, um mais bonito do que o outro. Vaquinhas, burrinhos e pastorzinhos de ouro puro, tudo muitíssimo bem guardado por seguranças eletrônicas e também não. As luzes das velas, os corais afinadíssimos, os órgãos de tubo e os muitíssimos profissionais a serviço de uma religiosidade tradicionalizada davam tudo de si para o bem de todas e de todos. Pois não é que entramos neste clima!
Naqueles dias, uma das maiores redes de televisão da Alemanha, entrevistou pessoas alegres que circulavam pelas calçadas. A pergunta que faziam era simples: - Você sabe o que se festeja no dia 25 de dezembro? Entre outras respostas, uma certa porcentagem de passantes entrevistados respondeu que se tratava da festa do Nicolau (um rei que numa certa época decidiu presentear crianças). Aquela desinformação me impressionou. O secularismo, essa força que distorce a fé cristã num jeito mundano de ser, age devagar e, enquanto atua no indivíduo, apaga da sua cabeça toda e qualquer perspectiva de esperança por momentos de paz, de amor, de justiça e de perdão que, um dia, o Criador sonhou para todas e todos nós.
Enquanto meditava sobre este comportamento que marca uma parcela do povo alemão, comprei uma pequena árvore de natal que também enfeitamos com estrelinhas de palha e um pequeno presépio com figurinhas de gesso. Lá fora, muita neve e muito frio. De cada janela raios de luz. Luminosidade que simbolizava alegria ou seria apenas a possibilidade de mais um feriado? Do Brasil vinham cartas e telefonemas que nos desejavam um Feliz Natal. Era o nosso povo querido dando a entender que as temperaturas beiravam os 30 graus positivos. Que nos pinheirinhos, no meio de todo aquele calor latino, queimavam velinhas. Que a alegria estava palpável enquanto se saboreavam panetones. Ouvi de algumas e alguns que se festava o dia em que Deus veio até nós, o seu povo, em trajes civis.
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