Busque Saber

26.10.09

Hoje é dia!


Por que sempre guardar os pés dentro do “cofre” de couro ou plástico,
enquanto circulamos pelo mundo de Deus?
É primavera! Amanhã, depois do verão, já será o outono,
tempo de buscar pelo abono,
de lutar para ser o dono e, quem sabe, até sofrer abandono...
Hoje é dia de conversão, de comunhão, de participação,
do partir do pão, do sim, nunca do não.
Sim! Já passa da hora: sermos pessoas normais, caminharmos descalços,
desnudarmo-nos diante do nosso Deus
a partir da confissão que nos presenteia perdão.

23.10.09

Lolita!


A onda sempre quebra na praia.
Outro dia vi você, bonita,
Enredada em algodão cambraia.
Imagem deslumbrante, lolita.
Refleti, hesitei e parei na raia.

Sensibilidade!


Na Bíblia o “” é citado 90 vezes. A “sola” do pé é lembrada 11 vezes e as “pegadas” que os pés deixam onde passam, oito vezes. Inicio a prédica para este Culto citando uma frase do poeta Jorge Luis Borges que, na oportunidade, tinha 85 anos: “...Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono...”

Estamos na primavera. A natureza nos convida a viver, a participarmos deste momento perfumado. É tempo de viver. Tire o casaco. Tire os sapatos. O meu pé, o teu pé, os nossos pés parecem ter se acostumado tão bem com a “jaula de couro” onde os aprisionamos, não é verdade? Tentem re-experimentar a liberdade que experimentávamos quando crianças. Tu e eu, nós nascemos com a perspectiva de andarmos descalços. Quem ousar repetir esta experiência perceberá que ela é muito saudável.

Pisar a pedra, o gramado... O tato dos pés nos ajuda a melhor ver e entender o mundo que nos rodeia. Por que sempre guardar os pés dentro do “cofre” de couro ou plástico, enquanto circulamos pelo mundo de Deus? É primavera! Amanhã, depois do verão, já será o outono, tempo de buscar abono, de lutar para ser o dono e, quem sabe, até sofrer abandono... Hoje é dia de conversão. Dia de comunhão, participação, do partir do pão, do sim, nunca do não. Hoje é dia de usufruirmos a oportunidade de sermos pessoas normais, de caminharmos descalços, de desnudarmo-nos diante do nosso Deus a partir da confissão que nos presenteia o perdão.

Outro dia, pé-descalço, fui varrer a calçada da casa onde moro na Rua dos Palmitos, 501. De repente, um ruído muito forte. Era um menino, orgulhosamente “montado” num carro de plástico movido a motor. Será que aquele garoto já teve a oportunidade de andar pé-descalço? Será que no futuro ele também só vai ocupar seus pés no orquestramento de pedais de freio e ou de embreagem? Será que daqui alguns anos as nossas calças já não virão acopladas de sapatos hermeticamente fechados? Eu sonho que a criança da minha rua experimente, tal como eu experimentei, o privilégio de tocar seus pés no chão, de jogar bola na grama, de pisar na terra e isso, pé-descalça. Ande pé-descalço. Abra tua guarda diante de Deus. Busque-O sem esquemas pré-articulados de proteção. Desenvolve tua sensibilidade. Sai de dentro de ti.

Muitas pessoas sentem-se mais próximas de Deus quando tiram os calçados. Na Bíblia, andar pé-descalço é sinal de penitência, de arrependimento, de humildade e de reflexão. Em Êxodo 3.4-5 se lê: “Moisés! Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa.” Em Josué 5.15 esse assunto se repete: “Josué! Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo.”

Você já experimentou caminhar descalço no templo da Igreja que congrega? Na capela dos estudantes universitários com os quais comunguei há três anos só se podia entrar pé-descalço. Foi lá que ouvi o testemunho de uma colega: “Eu amo andar pé-descalça dentro do templo, entrar em contato com o piso. Para mim esses momentos são de grande espiritualidade. Eu necessito de um contrapeso que me equilibre, enquanto trabalho com palavras, com textos. O Culto Evangélico é muito concentrado na Palavra.”

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono...” Hoje é primavera, vocês têm 15, 25, 30 anos ou mais. O verão vem aí e amanhã já será outono. Vocês experimentarão 65, 85 anos de vida, mais ou menos. Sintam a vida hoje. Vivam a vida hoje. Não percam a vida hoje. Tirem os sapatos e circulem pés-descalços, bem devagar, lá no templo onde assistem os Cultos. Sintam a pedra ou o assoalho frio debaixo da sola dos pés. Caminhem sobre o tapete. Sentem nos bancos. Observem a cruz, as flores, a arquitetura, os paramentos. Percebam quantas mensagens silenciosas, prontas para serem ouvidas, percebidas somente pelos teus ouvidos, pelos teus olhos. Ouçam o que os teus pés “dizem” a respeito da experiência de andar sem sapatos. Digam sim para a vida, para Jesus Cristo, para o Espírito Santo, para Deus!

21.10.09

Gottfried Brakemeier!


Logo que o P. Dr. Gottfried Brakemeier acabou de proferir sua palestra sobre o tema “Vocação” vieram os demorados aplausos. O auditório do Clube Concórdia de Curitiba foi testemunha da alegria dos 500 obreiros e obreiras da IECLB que, animados, sorriam, se abraçavam, olhavam para frente com seus olhos tingidos do brilho da esperança. Pois foi sentado numa das cadeiras estofadas do grande salão que o querido professor, sempre alinhado, me concedeu esta bela entrevista...

O Caminho: O senhor é dono de uma longa trajetória no ministério da Igreja. Deixou-nos claro que a “vocação” é condição essencial do ministério eclesiástico. Fale-nos mais a respeito...

Dr. Brakemeier: Um obreiro e ou uma obreira que atuam no ministério eclesiástico sem vocação assemelham-se a funcionários religiosos, nada mais do que isso. A Igreja de Jesus Cristo não pode conformar-se com tal concepção. Ela, a Igreja, reserva aos trabalhadores na seara do Senhor um papel bem mais honroso. Como obreiros e obreiras da IECLB nos cabe identificar-nos dia-a-dia com a vocação que, sempre de novo, precisa ser redefinida diante dos desafios de uma sociedade em transformação. Nunca entendamos a vocação como um diploma que, emoldurado, encontra seu lugar entre as lembranças do passado. Vocação é assunto de profundas dimensões existenciais.

O Caminho: Qual seria a diferença entre vocação e profissão?

Dr. Brakemeier: Se o ministério eclesiástico for uma questão de vocação somente, ele ficará reservado a uma categoria especial de pessoas: as "vocacionadas". Ora, isso seria uma boa desculpa para não abraçá-la. Por outro lado, se o ministério for entendido como uma profissão entre outras, basta adquirir as respectivas competências e buscar emprego junto a entidades religiosas. Eu creio que não estamos diante de uma alternativa. Defendo a tese que o ministério eclesiástico, a um só tempo, é vocação e profissão.

O Caminho: Por favor, desdobre um pouco mais essa questão...

Dr. Brakemeier: A palavra "vocação" provém do latim "vocare" que significa "chamar", "convidar", "atrair". Vocação é essencialmente sinônimo de convite. Aproxima-se do sentido de "convocação". Já "profissão" é entendida como "atividade ou ocupação especializada". Profissão é "oficio", é atividade específica. Uma pessoa profissional "professa" alguma coisa. Identifica-se com sua atividade. Aqui penso em padeiros, engenheiros, psicólogas, por exemplo. Quer dizer, há diferença entre profissão e vocação, mas também não há como separar uma da outra.

O Caminho: A vocação é um privilégio das pessoas que optam pelo ministério eclesiástico?

Dr. Brakemeier: Não! O chamado de Deus se dirige à humanidade em seu todo. Deus não só reveste sua criatura humana de singular dignidade, como também a destina a ser sua parceira. O ser humano foi criado para, em responsabilidade perante Deus e em gratidão a ele, usufruir os maravilhosos dons divinos e cuidar da criação. Portanto, ele não se encontra jogado no mundo à toa nem resulta de enigmático acaso. Ele está ai por vontade divina, incumbido de cumprir um mandato. Se a humanidade perdeu a noção de sua razão de ser, de sua destinação, do sentido das coisas, é porque se esqueceu de sua vocação.

O Caminho: O sr. está afirmando que a vocação se estende a todas as pessoas cristãs e não só às ministras e ministros da Igreja?

Dr. Brakemeier: Martim Lutero já explicitou que “ser cristão é viver a sua vocação.” Nós podemos servir a Deus onde quer que estejamos. É em sua profissão que o cristão deve glorificar a Deus e servir ao próximo. O exercício da profissão é culto a Deus no cotidiano. Sob tal perspectiva o trabalho deixa de ser algo vergonhoso, reservado a escravos, para se tornar um meio privilegiado de servir. Na concepção de Lutero importa que moldemos a nossa vida a partir da vocação, seja no trabalho ou no lazer, seja em particular ou na família, seja na Igreja ou na sociedade. Digo de outra forma: Somos chamados a nos portar como cristãos em todas as circunstâncias da vida.

O Caminho: Então quer dizer que Deus nos chama para serviços diferentes, sempre em conformidade com as nossas capacidades e para as necessidades que se apresentam...

Dr. Brakemeier: Sim! Numa Comunidade nem todos podem fazer o mesmo. Há distribuição de dons e variedade de afazeres. A uniformidade de serviços seria mortal. O mesmo se aplica à saúde do corpo social. Ela repousa sobre o fundamento da "biodiversidade". O chamado ao serviço é sempre multiforme. O Espírito sopra onde quer e desperta gente para o trabalho na “lavoura de Deus” conforme lhe agrada. Ao lado dos serviços espontâneos, porém, existem os serviços estruturados. Neste caso falamos em "ministérios". A Igreja convoca pessoas consideradas habilitadas para o cumprimento de determinadas atribuições em caráter permanente ou, pelo menos, temporário. O ministério eclesiástico foi implantado pelo próprio Deus em sua Igreja. Quer dizer, o ministério que divulga o Evangelho e se encarrega da boa ministração dos sacramentos é imprescindível. Sem ele a Igreja sucumbe.

O Caminho: Explique isso melhor professor... Se Deus implantou o ministério eclesiástico então ele é especial e nem todos podem exercê-lo... É Isso?

Dr. Brakemeier: Como luteranos entendemos a vocação especial para o serviço como integrada na vocação geral de todas as pessoas. O estado de clérigo é igual ao do cristão comum. Ministério sempre tem natureza "diaconal". Todos são chamados a atender o chamado geral de Deus à humanidade e isso não muda o de status de ninguém. Observem que o chamado ao ministério acontece por mediação da instituição eclesiástica. É ela que chama, prepara, instala, cuida de obreiros e obreiras. O exercício "público" do ministério, pois, pressupõe uma vocação "legitima", isto é uma vocação de acordo com a "lei", as ordens, num rito correspondente. É da ordenação que depende a autorização para o ensino público na Igreja. É claro que todo testemunho cristão deva ser "público". Ele não pode permanecer na clandestinidade da esfera privada. Os "ministros” e as “ministras" devem estar habilitados a falar não somente em seu próprio nome, e, sim, em nome da Igreja. "Ensino público" na Igreja é discurso do qual publicamente se exige prestação de contas. As qualificações exigidas para o ministério podem ser resumidas em basicamente três: a) Competência teológica - Quem exerce um ministério na Igreja deve ser capaz da avaliação criteriosa das propostas em curso no mercado religioso. Espera-se das pessoas juízo teológico, posicionamentos próprios, zelo com respeito à confessionalidade da Igreja. b) Competência missionária - Ministros e ministras na Igreja são "propagandistas" de Jesus Cristo. Para tanto necessitam de facilidade na comunicação, no diálogo e na representação. Quem tem medo do público e prefere ficar em casa em lugar de procurar as pessoas, tem o seu ministério prejudicado. c) Competência administrativa - Esta não se refere apenas ao trabalho de secretaria que também na Igreja não pode faltar. Mais importante é saber administrar diversidade, conduzir a comunidade, trabalhar conflitos. Comunidade é sempre um fenômeno plural, cuja administração exige sabedoria.

O Caminho: Então o ministério eclesiástico não deixa de ser uma profissão...

Dr. Brakemeier: Certo! O exercício eclesiástico necessita de alto grau de "profissionalismo". Incompetência pode causar terríveis estragos, razão para não negligenciar a formação profissional dos obreiros. Mero profissionalismo é insuficiente para o exercício condigno do ministério. Claro que os servidores eclesiásticos também deverão ter garantidos os seus direitos. As comunidades têm o dever de cuidar da subsistência dos mesmos. Ainda assim a luta de classe e o sindicalismo são avessos à natureza da Igreja. As comunidades não são "patrões", representantes do "capital", empresas religiosas, das quais o "trabalho", a mão de obra, os empregados devessem arrancar sua participação nos lucros. A vocação comum da comunidade e dos obreiros o impede. Se faltar a vocação, o trabalho sofre danos. De qualquer maneira, o ministério eclesiástico é impensável sem vocação.

O Caminho: Qual seria a atribuição de de uma pessoa que exerça o ministério especial?

Dr. Brakemeier: Quero frisar que a tarefa de promover a causa de Deus neste mundo cabe tanto a membros leigos como aos membros que assumiram o compromisso espacial. No entanto, quem foi chamado para o ministério eclesiástico desempenha essa vocação em caráter oficial e, na maioria das vezes, em regime de dedicação integral. Estamos profissionalmente a serviço do reino de Deus, cooperando em sua obra. Nossa atribuição consiste em edificar comunidade, ensaiar o discipulado, denunciar a injustiça, reconciliar inimigos, capacitar para a paz, evangelizar o povo, chamar a fé, habilitar ao amor, mostrar sentido, construir esperança. Ora, a causa de Deus costuma enfrentar obstáculos, resistência ou desinteresse. O evangelho não tem procura garantida e os produtos oferecidos no mercado religioso podem servir antes a ídolos do que a Deus.

O Caminho: Quer dizer que o Evangelho de Deus pode trazer dificuldades para aqueles que com ele se ocupam...

Dr. Brakemeier: Quando os frutos demoram a aparecer, temos a tendência de pensar que a nossa pregação parece não atingir as pessoas. Sentimos o cansaço, o desânimo e a rotina nos ameaça. A fé precisa ser alimentada, re-apropriada, reaprendida. Todos os questionamentos à fé provêm de fora. Está renascendo um novo ateísmo na sociedade atual. Deus, quem ainda se interessa por ele? E se as comunidades encolhem e os membros debandam para se associar aos sem-religião? Isto significa que não basta recuperar a fé para nós mesmos. É preciso partir para a ofensiva e desafiar as pessoas com o evangelho. A fé, embora não possua provas de sua verdade, tem bons argumentos a seu favor. Importa defender a fé frente aos ataques que sofre. De qualquer maneira, sem fé abalizada o exercício do ministério eclesiástico se inviabiliza. Estamos casados com a fé. E se este matrimônio vai mal, perdemos a credibilidade. Ai de nós, se a fé sumir. Nosso discurso inevitavelmente vai tornar-se hipócrita. Faz parte de nossas atribuições a permanente reafirmação da fé frente a tudo o que parece desmenti-la. E não só isto. Cumpre-nos a arte do "discernimento dos espíritos". Aqui penso não somente nas nossas igrejas irmãs, penso em termos gerais nas exuberantes ofertas do mercado religioso. No pluralismo de nossos dias, quem fornece critérios orientadores capazes de selecionar o trigo da palha? Nosso campo de trabalho é a fé. Mas este campo é disputado e se apresenta confuso, caótico, estonteante. Nós estamos casados não com uma fé qualquer, e, sim, com a Fé cristã, evangélica, de confissão luterana. Estamos comprometidos com esta Igreja que se chama IECLB. Foi através dela que Deus nos chamou. Espera-se de ministro e ministra da IECLB que saiba justificar por que vale a pena ser membro justamente desta Igreja.

O Caminho: O Sr. está nos incitando a uma espécie de "batalha espiritual"?

Dr. Brakemeier: Nada disso! Somos chamados a procurar a afinidades dos credos religiosos em sentido micro e macro-ecumênico, sempre no esforço por construir a paz. Repudiamos a perseguição aos dissidentes. Não foi este o jeito de Jesus no trato do diferente. O mandamento do amor ao inimigo desautoriza qualquer violência em nome da religião. Mas isto não significa permissão para o "vale tudo" no mercado religioso. Obreiros e obreiras ordenadas devem às pessoas orientação em assuntos de fé. É assim que numa "religião de livre mercado" a tradição perde força. Ela já não mais segura as pessoas nos trilhos da fé tradicional. Verdade é que a comunidade cristã jamais tem sido algo dado. Sempre foi algo a construir. Mas o imperativo missionário se coloca hoje com particular insistência. Os entraves que a IECLB encontra nesse tocante merecem cuidadoso exame e disposição para ensaios reformadores. Embora missão seja tarefa decorrente da vocação geral das pessoas e mandato de todo o povo de Deus, cabe ao "ministério com ordenação" especial responsabilidade. Não basta "pastorear" o rebanho, catequizar os batizados, manter centros sociais e obras diaconais. Sem desprezar tudo isto, importa reconhecer que voltamos à estaca inicial da missão de Jesus. A IECLB não é apenas uma instituição, ela é um projeto que necessita de "simpatizantes", ou seja, de gente que se solidariza com ela na busca do reino de Deus e de sua justiça. No século 21 o ministério eclesiástico requer redefinições.

O Caminho: O sr. está apontando para dificuldades?

Dr. Brakemeier: Não! estou falando de chances, oportunidades, promessas. Vejam como é magnífica a vocação que Deus nos reservou. Por acaso, existe algo mais importante, mais relevante, mais empolgante do que o tema da fé? E é esta a nossa especialidade. A sociedade moderna esconde a fé. Considera-a um assunto privado, sobre o qual não se fala, abrindo assim as portas para chantagens e abusos da credulidade dos não avisados. É perigoso deixar a fé ao bel-prazer de cada qual, conforme o gosto e a preferência individual. Isto uma vez porque não funciona. Fé solta e presa fácil de manipulação pela mídia, pelos demagogos e charlatães. Todos querem fazer a nossa cabeça, querem nos fazer crer em alguma coisa. Pois embora não se admita, é evidente - e este é o segundo argumento para não deixar a fé surfando livre no espaço - que fé é o maior poder da história. Todas as pessoas, enquanto não forçadas, agem de acordo com as suas convicções. Fé determina a ação, é a diretriz da conduta, conduz à biografia de indivíduos e nações. Não nos iludamos: Todo mundo tem os seus credos, inclusive os ateus. A pergunta não é: se as pessoas crêem, mas o que elas crêem.

O Caminho: O Sr. afirma que somos agentes da fé no trino Deus, da fé que tem a promessa de vencer as adversidades do mundo, de curar debilidades e de abrir futuro. No seu entender, existe serviço mais relevante do que este?

Dr. Brakemeier: A pior ameaça a este mundo, a pior crise do momento é a crise da fé à qual deve ser atribuída a maioria das demais crises que nos assolam. A derrocada da ética, a idolatria do mercado, o apego ao poder a qualquer preço, a violência que prolifera em toda a parte, tudo isto de alguma forma tem sua raiz numa fé desorientada, enferma, perversa. Certamente não dispomos de receita pronta para sanar as patologias deste mundo. É Deus quem salva. Nossa vocação é mais modesta e, no entanto, altamente salutar. Cabe-nos apontar para a fonte da qual jorra a vida. Sabemos de um endereço a que nos dirigir nas angústias produzidas por pecado, dor e morte. Mais não podemos fazer. E, no entanto, isto é fundamental. Tal trabalho, eu o arrisco dizer, é não só vital como também gratificante. Pois não é de fardo que consiste o exercício do ministério eclesiástico. Quem ainda não experimentou a alegria que ele é capaz de proporcionar? Há pessoas muito gratas pelo conforto da Palavra de Deus, pela solidariedade na hora da tristeza, pela força do evangelho. E quem sabe, às vezes enxergamos também um pouco da bênção que Deus derrama sobre o trabalho de seus servos e suas servas fiéis.

O Caminho: O Sr. tem a chance de dizer uma última palavra aos leitores e às leitoras de O Caminho...

Dr. Brakemeier: Eu reafirmo que que, muito à semelhança do que acontece com o corpo humano, também a fé necessita do pão de cada dia. Ela precisa ser alimentada. Isto acontece através de oração e meditação, ou seja, através da vivência de espiritualidade evangélica. Nossas energias vêm de "cima", pelo poder do Espírito Santo, pela Palavra de Deus. Não menos importante é a reflexão teológica. A fé busca o entendimento. Ela quer munir-se do argumento, equipar-se para o testemunho. Para tanto é importante o dialogo, a discussão e o estudo conjunto de temas e problemas. Além disto, é óbvio que a equipação da fé exige a leitura. Insisto muito na formação continua, individual ou grupal, dos trabalhadores na seara do Senhor. A boa teologia sempre tem sido um distintivo de Igreja luterana. São muitas as razões para não enterrar este talento. Vocação ao ministério é simultaneamente um dom e um mandato. Importa não desprezar o compromisso nele inerente.

20.10.09

Ovelhas VIP


Muitas pessoas entram em crise, depois dos 40. Planejaram tudo tão bem e, de repente, percebem que alguns dos seus sonhados alvos não foram e nem serão mais alcançados. Fazer o quê? Que tal pedir ajuda a Deus, em oração, nessa hora?

Em Gênesis 12 pode-se entender que Abraão estava com a vida ganha. Ele conhecia os vizinhos pelo nome, acordava pela manhã e, depois do café, dava uma olhada no rebanho e, quando a fome batia, sentava-se para almoçar. Só uma coisa não estava legal: faltava-lhe um filho. Pois foi justamente nesse momento difícil da sua vida que ele ouviu a voz de Deus e, assim, resolveu os seus assuntos.

Pessoas que ouvem a Deus sempre acabam tomando bons rumos na vida. Jesus, certa vez, dirigiu-se aos seus discípulos e por tabela a toda cristandade, quando disse: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz" (João 10.27).

Outro dia perguntei a um estudante se ele já tinha ouvido a voz de Deus. A resposta veio rápida: "Quem sou eu para ouvir Sua voz? Sou uma criatura insignificante, nada mais do que isso...". Fiquei pensando... Para Jesus não existem "ovelhas VIP" (Very Important Person = pessoa muito importante) que ouvem sua voz. Para ele, "todas as suas ovelhas ouvem a sua voz".

Quando no meio de uma semana intensa de trabalho me vem o pensamento: "Eh, companheiro! Tu bem que poderias escrever um e-mail para a pessoa X ou até, quem sabe, fazer-lhe uma visita". Sinto-me usado por Deus quando reajo positivamente a uma idéia dessas. Isso mesmo! Sou um daqueles que ouve a voz de Deus desse jeito. Se porventura pensamentos radicais me vêm à cabeça, reparto-os com irmãs e irmãos na fé. Eles sempre têm uma boa palavra para mim. A comunhão é excelente para indicar bons denominadores comuns.

19.10.09

Convenção Nacional de Obreiras e Obreiros da IECLB!


Saímos “faceiros” de casa no dia 13 de outubro de 2009. Nosso destino? Curitiba, Paraná, sim senhor! Estávamos afoitos. Nunca na história desta IECLB (parafraseando o atual presidente do Brasil) se reuniram tantas obreiras e obreiros para ter comunhão; para repartir sobre sua vida familiar e vocacional.

Já na chegada, os abraços. Quantos abraços. Inúmeros abraços. Todos os dias, abraços, boas palavras e sorrisos, nada de brigas, discussões. Aqui se falava de lembranças. Lá se ouvia de perspectivas. Acolá se apreendia conteúdos e o tempo foi passando, ligeiro, fagueiro...

Nossos ex-professores Gottfried Brakemeier e Wilfried Buchweitz ladeados pela colega Anelise Lengler Abentroth e pelo colega Nelso Weingärtner mais as psicólogas Roseli Künrich de Oliveira e Dorothea Wulfhorst nos fizeram pensar, refletir, meditar, reavaliar, tomar posições, olhar pro horizonte, alegrar-se com o novo momento que se avizinhava. Eu não queria que aquilo tudo acabasse.

Quase no finalzinho de tudo, fui emocionado por uma das organizadoras curitibanas. De microfone em punho ela disse: - Nós somos suas ovelhas. Continuem trabalhando. Precisamos da palavra que vocês proferem. Carecemos do seu cuidado. Confesso que não aguentei e chorei. Hoje estou em casa escrevendo, animado. Obrigado Senhor por este chamado!

Ser amigo!


Quem caminhar com os olhos abertos logo perceberá que existe um grande número de pessoas que precisam ser ajudadas. Em Marcos 2.3 se lê que quatro amigos carregaram um paralítico para perto de Jesus. Uma boa história.

É assim que, muitas vezes, não cruzamos apenas com pessoas portadoras de deficiência física. Hoje o número de pessoas com deficiência psíquica é bem maior que no passado recente. O desemprego, as doenças, o luto e o isolamento são momentos que podem fazer com que uma pessoa se torne deficiente. Daí a importância de se ter amigos, amigos dispostos a também caminhar conosco por caminhos não tão cômodos.

O amor busca novos caminhos. Ele sempre faz mais do que se espera que ele faça. Os quatro amigos do homem do texto escrito pelo evangelista Marcos trilharam por caminho pedregoso, uma vez que não tinham o caminho livre para chegar a Jesus. Fazer o quê? Baixar o amigo pelo telhado – era o único jeito. Certamente ouviram conselhos do tipo: - Olha! Nestes casos a gente precisa entrar pela porta, sempre se entra pela porta, nunca pelo telhado. Ou ainda: O que é que o dono da casa vai dizer dessa nossa idéia? E se alguém se ferir? O que é que Jesus vai pensar dessa atitude?

Tais pensamentos também visitam nossas cabeças quando membros da nossa Comunidade ousam querer caminhar caminhos diferentes para trazer pessoas a Jesus Cristo. Estamos meditando sobre quatro pessoas dispostas a caminhar um novo caminho com o objetivo de levarem o seu amigo a Jesus. Aqui também nós somos perguntados: - Jesus ainda deseja que levemos pessoas a Ele? Temos interesse de fazer isso? Será que hoje nós ainda conseguimos ser amigos das pessoas que nos circundam?

Às vezes somos nós que estamos no fim das nossas forças, precisando de auxílio. As preocupações e os medos da vida nos põem no chão e isso já pela manhã. Coisa boa quando podemos confiar em amigos, amigos que não andam somente caminhos fácies de ser andados, mas que, se preciso for, também enfrentam intempéries para nos carregar; para nos aproximar de Jesus e nem que para isso tenham que andar jornadas estranhas aos olhos comuns. Não! O amor nunca é teoria. O amor é prático. Ainda hoje o amor encontra novos caminhos. Só precisamos caminhá-los em confiança na pessoa de Jesus Cristo.

5.10.09

Nosso querido pastor!

O nosso pastor era querido, tinha prestígio entre nós adolescentes. Foi apoiados nele que montamos um pequeno grupo de Juventude Evangélica. Foi ali que orando, louvando e lendo a Bíblia até ousamos articular pequenos projetos sociais; encarar a vida de frente. Na retaguarda, o nosso pastor. Um homem com palavras fortes que se comportava como se forte fosse.

Crescemos em número e em idéias. Agora uma diretoria era preciso. Nosso “mestre”, ao natural, passou a dirigir o processo da eleição. Quanta expectativa! Tinha chegado a hora de sistematizarmos o processo gerador de “momento novo”. Nosso pastor falava, gesticulava, impostava a voz. Estranho aquele comportamento.

Incrível! Nosso “líder” ditou os critérios da eleição. Nós queríamos tanto ter participado daquela “construção”. Ficamos estupefatos quando, de cima para baixo, fomos informados de que nosso “querido pastor” queria trabalhar somente com quem falasse a sua linguagem. A grande maioria de nós sentiu-se fora do “jogo”. Era como se todos os sonhos tivessem sido jogados dentro de uma barrica de água gelada.


E foi assim que perdemos a alegria de sermos os sujeitos de um “projeto de vida”. Sentimo-nos como que “marionetizados”. É triste, mas hoje, 40 anos depois, a História ainda permite que mulheres e homens sejam paridas, paridos para fazer valer propostas não inclusivas como aquela que minha turma e eu experimentamos.

1.10.09

Aporta!


Toda prisão tem uma porta.
Pergtuntei, procurei saída
E isso, durante toda a vida!

Faz pouco, vi a tal porta
que estava um tanto torta.
E daí? Ela muito me importa!

Sim, preciso me aprumar.
Vou ter que navegar...
Ouve o grito: - Aportaaa!

OLHA SÓ!