Busque Saber

27.6.25

 


O ESPÍRITO DO VOLUNTARIADO

Quando penso em voluntariado, lembro-me de uma história que me tocou profundamente.

Um guia que, sem obrigação, arriscou a vida para resgatar o corpo de uma menina que caiu em um vulcão. Ele dormiu ao lado do corpo da menina, segurando-a, com o único objetivo de entregá-la ao pai. Esse ato de amor e dedicação é o verdadeiro espírito do voluntariado.

Mas o voluntariado não é apenas um ato isolado de bondade. É uma cultura, um modo de vida. É quando as pessoas se comprometem a servir sem esperar nada em troca. É quando o "eu" se torna "nós" e o "meu" se torna "nosso".

Eu recentemente visitei uma Igreja com cerca de 4.000 membros e fiquei impressionado com o número de voluntárias e voluntários: 900 pessoas que dedicam seu tempo e energia para servir outras pessoas.

Essa gente está ali, todos os dias, disponível para ajudar. E não é apenas uma questão de obrigação, é uma questão de identidade. Para essas mulheres e esses homens, ser voluntária, voluntário não é apenas uma opção, é uma parte fundamental de quem são.

Essa é a beleza do voluntariado. É quando as pessoas se unem para fazer a diferença na vida de outras gentes. É quando o amor e a compaixão se tornam ações concretas. E é quando nós podemos dizer que estamos vivendo de acordo com nossos valores mais profundos.

O voluntariado não é apenas uma questão cultural, é uma questão de coração. É quando nós escolhemos servir, mesmo quando não há recompensa ou reconhecimento. É quando nós escolhemos amar, mesmo quando é difícil. E é quando nós podemos dizer que estamos vivendo uma vida plena e significativa.

26.6.25

 DÁDIVA DE NOME E DE OFÍCIO


Outro dia, ali entre um suspiro de fim de tarde e um passeio sem pressa, cruzei-me com a minha vizinha, a Dádiva dos Santos.

Nome bonito, pensei. Nome de promessa, desses que carregam um peso tão leve que mais parece obrigação.

A senhora, sempre sorridente e com olhos de quem carrega o mundo sem drama, contou-me que estava envolvida num projeto para ajudar pessoas necessitadas.

Naturalmente, espantei-me: mas por que alguém, em pleno século do sofá reclinável e da Netflix, haveria de se levantar para... servir?

Dádiva – o nome já entrega o “spoiler”. Essa senhora nasceu para doar. E doa! Dá tempo, dá atenção, dá móveis velhos, doa sua vida, se for preciso.

Seria um erro dizer que o faz por vaidade ou carência: ela o faz por vocação – ou por falta de descanso, quem sabe.

Fiquei pensando, enquanto ela se afastava com passo leve: será que as pessoas são levadas, quase forçadas, a viver os recados vitalícios embutidos nos seus nomes?

Um Carlos Forte que tem de ser firme como um carvalho, uma Esperança que nunca se permite desesperar, um Salvador condenado a salvar até os domingos.

Imagina só a desgraça de um tal de Triste – condenado à melancolia desde a certidão de nascimento.

Fico a imaginar se Dádiva, em algum momento da vida, teve vontade de ser apenas Maria. Uma Maria que se deita, que não recolhe doações, que se cansa e diz “não posso”.

Mas não. Ela é Dádiva. E como uma personagem fiel ao enredo do próprio nome, segue a doar. Talvez nem saiba como parar.

Ironias da vida: enquanto algumas e alguns passam os dias tentando receber, há o pessoal que parece ter nascido só para doar.

E talvez, só talvez, o mundo continue a girar por conta dessas pequenas contradições.

3.6.25

O RETORNO DO EGÔ

 

Mudei de cidade. Outra vez. Desta vez, um cantinho ensolarado, com cheiro a mar e promessas de recomeço. Estava convencido de que seria diferente. Que desta vez ele não viria.

Mas ontem, ao abrir a mala e encontrar aquela camisa que nunca uso, ouvi a voz.

— “Vais usar essa? Achas mesmo que combina contigo? Não estás a exagerar um bocadinho?”

Lá estava ele. Deitado no sofá da sala nova, como se sempre tivesse tido uma chave do apartamento. Egô. Com acento no “ô”, claro, porque ele insiste em ser chamado assim. Mais sonoro, mais importante. Egô não gosta de anonimato.

— “Estás a fugir de quê, afinal? Da cidade anterior ou de ti mesmo?”

Tentei ignorá-lo, como sempre. Fiz café, pus música baixa. Mas ele acompanha os pensamentos como sombra ao entardecer: discreto, mas impossível de evitar.

— “Essa música? Outra vez? Tens mesmo gosto ou só te repetes porque tens medo de mudar?”

Há momentos em que penso que o Egô sou eu em versão aumentada. Outras vezes, acho que ele é um intruso, um impostor com a minha cara e os meus medos. Mas a verdade é que somos íntimos — quase amigos. Já o disse uma vez: ele é amicíssimo de infância. Cresceu comigo. E, tal como eu, aprendeu truques novos.

A diferença? Eu canso. Ele, nunca.


#Ego #AutoCrítica #DiálogoInterior

OLHA SÓ!

  O ESPÍRITO DO VOLUNTARIADO Quando penso em voluntariado, lembro-me de uma história que me tocou profundamente. Um guia que, sem obriga...