Busque Saber

30.6.10

Acho que sonhei!


Aquela festa já era festejada há muitos e muitos anos. No começo eram apenas os meninos que participavam. Mais tarde ela também foi aberta para as meninas. A marca desse "festejo permanente” eram os balões que cada um trazia. Tudo tão lindo. Aquela meninada empunhava seus balões multicoloridos com orgulho. Quanto barulho. E quase todo mundo se entendia ali naquele meio de iguais, “
alguns mais iguais que os outros”. Lembro que num dos balões se lia a letra “S”. Na grande maioria deles era a letra “E” que vigorava. Uns e outros carregavam a letra “T”. A verdade é que com o tempo umas e outras letras “menos nobres” também foram sendo inscritas nos balõezinhos da gurizada. Era até engraçado. No fundo um sempre queria furar o balão do outro. A maioria se continha por causa das “dicas” recebidas em casa, antes da ida à festa. O garoto que mais gostava de fazer esta arte tinha seus seguidores. Lembro que um dia alguém ousou danificar seu vistoso balão. O referido dono do balão em perigo nem levou aquela “tentativa criminosa” muito em conta, afinal aquele “pequeno símbolo” de borracha nem era tão importante para ele. Se o mesmo viesse a estourar, ele certamente daria jeito noutro. O fato é que a sua “turminha” ficou indignada. Apontaram o dedo, disseram o que queriam. Ameaçaram o balão do nosso amiguinho. Houve aqueles que afirmaram que iam sair da festa; que não brincavam mais; que a partir de agora iriam se dedicar mais para este e aquele serviço mais nobre; que atitudes daquele tipo eram feias, impraticáveis; que Deus não gostava daquilo... Para basear suas expressões, até faziam uso de textos sagrados. Nossa! Uns e outros temeram. Será que a festa ainda seria a mesma? Parece mentira, mas aquela pequena ousadia promoveu reflexão, aprendizado, mudança de comportamento em uns poucos. Alguns passaram a vir à festa sem as chamativas inscrições das letras. Outros passaram a se apresentar com balões brancos. Num momento carreguei a impressão que eles estavam dispostos a ouvir a História, a aprender com a História, a se pautar um pouco mais na História. Ih! – Acho que sonhei!

22.6.10

Ser profeta!


Hoje dei uma olhada acurada numa palavra do profeta Isaías (Isaías 6.8) onde se lê: “Em seguida ouvi o Deus Eterno dizer: Quem é que eu vou enviar? Quem será o nosso mensageiro? Então respondi: - Aqui estou eu. Envia-me a mim!”

Como é que uma pessoa se torna profeta? Sabe-se que muitos relutaram em aceitar a missão de testemunhas, de profetas de Deus neste mundo. Moisés foi um deles. Ele era um sujeito que não conseguia falar em público, pois temia que tanto os israelitas como o próprio Faraó não dessem a mínima atenção ao que ele viesse a dizer. O profeta Jonas fugiu de Deus em direção ao mar quando soube da missão que lhe cabia. Agindo assim ele deixou claro o grande receio de cumprir a tarefa de chamar os habitantes da cidade de Nínive ao arrependimento. Lembram do profeta Elias? Ele ficou decepcionado com a missão que Deus tinha escolhido para ele. Resignado, se recolheu no deserto para morrer uma vez que cria não poder se desincumbir da tarefa que Deus lhe tinha alcançado. O profeta Jeremias se entendia muito moço para falar em nome de Deus e também tentou se omitir da missão de Deus.

Aqui neste versículo a conversa é outra: Isaías ouve a pergunta que Deus faz e, imediatamente, se oferece para entrar na brecha. “Aqui estou eu. Envia-me a mim!” – diz ele. Esta resposta que Isaías dá tem sua origem numa grande experiência que ele mesmo fez com Deus. Ele teve uma grande visão onde viu a glória, a presença de Deus preenchendo o Santuário. Ali, todos os anjos e todos os seres celestes estavam do lado de Deus. Louvando, eles confirmavam a grandeza de Deus. Num primeiro momento o profeta Isaías ficou muito chocado com esta visão, uma vez que tinha ciência que nenhuma pessoa podia ver Deus e continuar vivendo – nem mesmo Moisés pode ver Deus face a face. O fato é que um anjo purificou Isaías para este momento.

Somente depois dessa experiência é que Isaías assumiu o cargo de profeta. Também ele teria que repartir uma mensagem de juízo entre o povo. As pessoas o ouviriam, mas não o entenderiam. O profeta Isaías também deveria caminhar caminho solitário se quisesse ser fiel àquilo que Deus lhe pedia para dizer. Tu e eu temos tanto a dizer. Como vamos dizer? Vamos perguntar se podemos dizer? Simplesmente assumir dizer? Refletir muito antes de dizer?

19.6.10

Essas organistas!


Oficialmente estou pastor da IECLB há desde julho de 1982. De fato trabalho como ministro desta Igreja desde março de 1978. No passado era assim que, dependendo das circunstâncias, já se colocava o talar nos ombros depois dos primeiros dois semestres de estudo na Faculdade de Teologia. Lá se vão 32 anos de ministério; de prédicas; de visitas; de grupos; de articulações; de conversas; de planejamentos; etc.

Passei pelas cidades de Sapiranga, Porto Alegre e Cruz Alta no Rio Grande do Sul. Andei pelas cidades de Cianorte, Cidade Gaúcha, Umuarama, Paranavaí e Querência do Norte no Paraná. Na Alemanha vivi em Munique. Já em Santa Catarina fui pastor em Florianópolis e agora em Joinville. Quanta história pra contar. Hoje pela manhã acordei pensando nas minhas organistas.

A Arione era uma mulher estudada. Tinha faculdade de música e tocava muitíssimo bem. Conversava comigo sobre os hinos que tocava e sempre fazia um arranjo bonito para os hinos que eu escolhia. Lembro dos seus olhos tristes, resultado de tantas frustrações que a música amainava.

Já a Ilse era uma mulher solitária que passava horas e horas ensaiando. Às vezes eu a ouvia tocando. Ela parecia conversar com o órgão de tubos como se esse fosse um amigo maior. De repente ela estava ali, sem horários fixos a cumprir. Assim como chegava, ia embora.

A Noêmia era professora respeitadíssima na sociedade. Vivia num casarão, sempre guardada por cachorros fidelíssimos. Era extremamente conservadora e não gostava de novidades. Os tons que tirava do teclado nunca diferiam. Um dia abriu a porta para estranhos e foi assassinada. Perdi uma grande amiga.

A Hildegart sabia uns cinqüenta hinos, não mais do que isso. Era uma pessoa limitada que lutava com suas dores. Ao sentar no banco e colocar os pés na pedaleira sempre suspirava. Não tocava com alegria. As notas que brotavam do teclado eram preguiçosas e tristes. Um dia desses uma daquelas dores a levou embora.

A Hertha tocava muito mal. Sempre de novo as suas melodias desafinadas enchiam o templo de boa vontade. A Comunidade a respeitava na sua dificuldade, cantando junto, tentando acertar o tom a partir do gogó. Tempos interessantes aqueles.

O Otto era o mais bem formado de todos. Chegava uma hora antes e não ensaiava. Fazia verdadeiros concertos ao teclado. Na hora em que o Culto começava, ele estava aquecido. A Comunidade vibrava. Não tinha nada de amadorismo. Era um profissional. Seu jeito de ser marcou meu pastorado.

A Clarice tocava relativamente bem, mas gostava de aparecer. Sempre que podia precisava fazer um comentário sobre as músicas que fazia soar. Muitas vezes, para se auto-promover; outras tantas vezes para se auto-desculpar; quantas vezes para fechar os buracos de um sentimento de baixa auto-estima.

A Edla sempre parecia submissa. Não tinha nada a dizer e, uma vez sentada junto ao órgão, cumpria todos os compromissos com ar de serva. Sua discordância podia ser lida no brilho do olhar, mas nunca no bater dos lábios. Tocava e muitas vezes nem era percebida tocando. Uma pessoa extremamente discreta.

Sobrevivi; estou aqui, ainda alegre, sempre celebrando Cultos. Já dirigi mais de 2.000. Sou experiente. E creio, ainda serei mais, nos próximos 12 anos de Ministério. E viva a Igreja!

14.6.10

Política secular e eclesiástica!


Não faz um mês experimentamos mais uma Assembléia do Sínodo Norte Catarinense. Ela se deu no pátio, no templo da Paróquia da Paz em Joinville (SC). Penso que no futuro essa nossa Assembléia será lembrada como um dos momentos políticos mais marcantes da nossa História. Sim... se faz política. Que bom que se fez política.

Hoje, depois de muitos anos novamente passei meus olhos sobre velhos textos que li em 1993: Feuerbach, Marx, Nietzsche e Freud. Parece mentira, mas o tema “religião” é novamente atual uma vez que se liga com o desejo de conforto e responsabilidade; com todos os medos de possíveis choques de cultura que possam provocar rupturas.

Pessoas cristãs que se engajam na política não aceitam os fatos simplesmente como fruto do destino, mas como uma oportunidade de “fazer a hora”; como um desafio para o fomento do desenvolvimento orientado. Quando permitimos que amadores ou agitadores pensem e decidam por nós, acabamos correndo grande risco no que tange à experimentação da paz.

Conheço políticos seculares e eclesiásticos atuantes na Igreja e no mundo. Eles nos ajudam a adquirirmos uma visão sóbria daquilo que é possível se manter de pé ali onde uns e outros inexperientes e desorientados só percebem abundância de problemas.

Tenho diante de mim um texto da grande filósofa judia Hanna Ahrendt onde se lê: “Política tem tudo a ver com amor ao próximo, com amor ao mundo”. Sinceramente, agradeço a todas e a todos que se envolvem com política dentro da nossa CEJ (Comunidade Evangélica de Joinville), do SNC (Sínodo Norte Catarinense)da nossa IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil). Esse povo nos ajuda a caminhar por caminhos mais pensados, trabalhados, aplainados.

OLHA SÓ!