A palavra “amém” sempre de novo aparece no Culto Cristão,
às vezes até demais. É possível dizer-se “sim” para tudo? Foi tentando
responder a esta pergunta que me aprofundei no conteúdo desta palavra que se costuma
dizer no final das orações. Ora, a palavra “amém” é antiga e já percorreu um
longo caminho até se fazer presente na nossa linguagem cotidiana. Sabe-se que,
na sua origem, a palavra “amém” está para solidez, confiabilidade.
A palavra “amém” quer dizer “sim” e sempre é colocada no
final das idéias faladas ou escritas. Erra quem a coloca ninício de um texto ou
de uma fala. Vai daí que esta pequena palavra sempre é usada para o fechamento
de idéias. Eu ouso afirmar que a palavra “amém” seja uma das mais importantes
do nosso Culto Luterano. Dizemo-la na liturgia, na prédica, na confissão de fé,
na oração do dia e do Pai Nosso (a mais curta de todas as prédicas), na bênção
final. É evidente que estas quatro letras representam bem mais do que um “ponto
solene” comprometido com o belo no final das orações. O “amém” sempre diz
respeito a uma “resposta final” que se dá a Deus!
Cada palavra, cada detalhe do Culto vem seguido desta
“palavrinha”. Se inicia o rerefido Culto “em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo” e então se diz o “amém!” Todos concordam com um “amém
silencioso”, no momento que ouvem o “amém” da boca de quem celebra o Culto. Daí
então, nas nossas cabeças “dança” o pensamento: Sim, estamos reunidos em nome
de Deus! Por isso, “amém!”
O Salmo 8 sugere a palavra “amém”, logo após o louvor a
Deus. Aliás, os Salmos de Louvor geralmente são encerrados com a palavra
“amém”! Na celebração litúrgica oficial da IECLB até canta-se o “amém”. O Credo Apostólico também se encerra com um “amém”. No final da prédica se diz “amém”. Se a pastora ou o pastor a proferem e,
logo depois, não se ouvir uma confirmação da Comunidade, este “amém” se deu
apenas pela metade. Li outro dia que cabe à “Comunidade dizer o amém”. O Culto
que celebramos na Igreja de Confissão Luterana no Brasil concorda com esta
posição. Se a Comunidade se alinhou com as palavras que foram proferidas, então
ela pode, melhor, ela deve responder com um “amém”; não pode deixar apenas a
palavra da pastora ou do pastor reverberando no ar. Há quem diga “amém” de
forma automatizada para tudo o que é dito na prédica. Entendo que o nosso “amém”
só deve valer para a Boa Notícia do Evangelho que se fez ouvir na prédica; para
a Palavra de Deus que traz luz para este ou para aquele detalhe; para a paz de
Deus que excede todo o entendimento.
O nosso Culto Cristão tem muito a ver com “respostas”.
A estrutura do mesmo nos encaminha a esta conclusão. Fica patente diante dos
nossos olhos e dos nossos ouvidos que somos chamadas e chamados a respondermos,
a praticarmos respostas. O nosso Reformador
Martin Luther diria “amém” à essa nossa conclusão. Era ssim que ele entendia o
Culto a Deus onde Deus nos serve com a Sua Palavra e, como resposta, nós O servimos com oração e louvor. Isso mesmo! O Culto
que prestamos a Deus é uma resposta.
Como já deixei claro, esta pequena palavra “amém” já é
histórica. Sua origem é hebraica. Ela já era usada para “fechar” as orações nas
sinagogas e nos templos e isto, antes mesmo do tempo de Jesus Cristo. Jesus a
usou no diálogo particular que travou com Seu Pai no Monte das Oliveiras; no
jardim do Getsêmani. Ele também ensinou a Oração do Pai Nosso aos Seus
discípulos e, nesta oportunidade, não esqueceu de também ensinar o “amém” no
final da mesma. O fato é que esta pequena palavra já era verdade pelo menos 1.000
anos antes de Jesus; já brotava da boca dos israelitas nos Salmos e nos textos
mais antigos do Antigo Testamento. Proferindo-a, o Povo de Deus testemunhava
sua fé, tornava conhecido que esperava o seu Deus. Mais do que isso: dava uma resposta
às palavras que tinham ouvido a respeito Dele; que tinha experimentado junto
com Ele. O Salmo 72, por exemplo, fecha com as palavras: “Bendito para sempre o
Seu glorioso nome, e da sua glória se encha toda a terra. Amém e amém!”
Em suma, a palavra “amém” é uma resposta que já se dá a
milhares de anos. É em vista disso que esta pequena palavra nos leva a
perguntarmos a respeito do nosso destino. “Que é o homem que dele Te lembres? E
o filho do homem, que o visites (que Te importes com ele)?” (Salmo 8.4) Essa pergunta um sujeito já se fez no Salmo 8, quando refletiu sobre o carinho do Criador para com o mundo;
para com a Criação; para com suas, seus semelhantes. O indivíduo que fez estas
perguntas certamente meditou sobre o fato de que esse mesmo Deus chama Suas
criaturas, os seres humanos, de colegas; de companheiros. No Salmo 8.5 se lê: “Fizeste-o,
no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o
coroaste...” Isto não é só graça. Deus não fez isso sem segundas intenções. Nós
devemos tal compreensão aos salmistas que agradeceram; que responderam a Deus. Há
na Bíblia o exemplo de alguém que orou em grande necessidade. Eu tento
reiterpretá-lo: “Se Tu, Deus, não me
ajudar agora, então será uma pessoa a menos a Te prestar louvor e a Te dar
honra na terra.” Está certo! Deus não pode se colocar de forma indiferente
diante de semelhante oração.
Deus criou um mundo de forma maravilhosa, mas mesmo assim
precisa de alguém que Lhe desafie; de alguém que Lhe responda; de alguém que O
louve; de alguém que pense Nele; de alguém que reflita de fato e de verdade a
respeito do Seu querer. Ao dizermos “amém”, deixamos claro que assim é; que
assim deve ser. Essa resposta que damos com o “amém” revela toda a história de
Deus com o mundo e com as pessoas. A Criação de Deus não ficou parada na Criação.
O Senhor Deus, repetidamente, age, dá “empurrões” para que o “amém” que
proferimos seja verdade entre nós. O ato de se dizer “amém” em uníssono é uma
coisa, mas aquilo que fazemos ou deixamos de fazer depois de proferido o “amém”
é outra.
Em qualquer caso, Deus faz de tudo para que o Seu povo,
Israel, e os povos alcançados por Seu Filho Jesus Cristo venham a responder com
um “amém”. Com um “sim” que brote de dentro do seu coração. Essa promessa tem
validade até os dias de hoje. Está claro que apenas um “amém” não basta. Dizer
dez “améns” num Culto, seja na oração ou nos hinos, ainda não nos deixará
prontos para o Reino de Deus. O “amém” é uma resposta que precisa ser ensaiada
e re-ensaiada durante a nossa vida cristã e isso, sempre de novo. Sempre que
dizemos “amém”, estamos dando uma resposta à Boa Nova do Evangelho. Podemos
dizer “amém” com os nossos lábios, com as nossas mãos, com os nossos pés e com
os nossos corações. O “amém” dito com as mãos nos desafia a doarmo-nos em prol
das pessoas famintas; dito com os pés nos impele ao encontro daquelas e
daqueles que têm necessidades; dito com o coração nos ajuda a não nos fecharmos
para às necessidades das outras pessoas. De onde tirei isso? De Mateus 25.40,
onde se lê: “...sempre que o fizestes a (uma destas minhas pequeninas irmãs) um
destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” Que assim seja! Amém!”
O que significa ser cristão; crer; esperar; amar e viver? O “amém” é uma resposta a ser dada durante toda a nossa vida. Lá no final, em algum momento, quando tivermos ensaiado bem o “amém”, receberemos outro “amém”, outra boa resposta de Deus. É óbvio que Deus não poderá dizer “amém” para tudo. Mas eu confio, firmemente, que o Seu “amém final” será maior que o nosso “amém”, que o “amém” que somos capazes de dizer no Culto. Amém!
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