Olá Pessoal! Hoje eu celebrei meu quinquagésimo oitavo aniversário e me auto-presenteei com esta Peça de Teatro que escrevi para o bem da Diaconia na IECLB. Use-a no seu Grupo de Jovens; no seu Grupo de OASE. Abraços!
A
Jamile participava do Grupo de Juventude Evangélica na sua cidade. Aos dezoito
anos, ela fez vestibular e passou para Filosofia na Universidade. Sua família
alegrou-se muito e presenteou-a com uma viagem para a Alemanha. Ela viajou
contente por cidades como München, Heidelberg, Dresden, Frankfurt e Berlin. Mas
ela queria mesmo era visitar Wittenberg, a cidade onde Lutero morou, trabalhou
e constitui família ao lado de sua querida Katharina von Bora.
Não se fez de
rogada. Embarcou no trem em Berlim e, duas horas depois já estava em frente à
casa de Lutero que, hoje, é um museu. Que casa enorme. Três andares, uma torre
arredondada ao lado da porta de entrada em estilo gótico e, no telhado, quartos
e chaminés. Comprou o ticket e entrou nos aposentos cheios de História...
Algo
não estava certo. A luminosidade que até à sua entrada era intensa, começara a
rarear. As paredes pintadas mudavam de cor, à medida que subia as escadarias.
De repente, lá numa sala mais ao fundo, ouvia-se
algazarra. Dirigiu-se para aquele espaço e viu o Reformador Martin Luther,
sentado com crianças pulando no colo e brincando ao lado da sua esposa. Jamile
parecia não acreditar no que via. Sentou-se numa daquelas cadeiras com guarda
alta que estavam encostadas à parede e ficou vendo, ouvindo embasbacada tudo o
que se passava na volta.
Melanchton, um dos grandes amigos de Lutero,
estava de visita e também participava do “festerê” com as crianças. Não demorou
muito todas as crianças se retiraram do recinto e se dirigiram ao pátio para
brincar de “esconde-esconde”. Logo a casa se encheu de
estudantes de Teologia. Sua esposa, Katharina, colocou uma toalha sobre a mesa. Mais tarde ela serviu cerveja aos visitantes. Todos se sentaram em torno da mesa
para dialogar com seu professor. A maioria dos estudantes trazia material para
apontamentos. É que, durante suas falas, o professor Martin Luther, sempre
dizia verdadeiras “pérolas”, cheias de conteúdo, e os estudantes simplesmente amavam
aqueles momentos... E começaram as “Tischreden” (os diálogos à mesa).
Hanz: Puxa Professor! O senhor
já recebe estudantes aqui na sua casa desde 1531. Já faz 15 anos que o professor
se dedica com carinho em prol dos estudantes desta Universidade. Adoramos estes
momentos. O senhor sabia que esta é a hora em que nós conseguimos chegar mais
próximos do senhor?
Luther: Sabe Hanz! Eu também
gosto desses momentos. O fato é que me sinto bem na presença de vocês. Hoje
vamos conversar sobre o tema “diaconia”. Digam-me uma coisa: - Como é que se repassa o amor que
Deus nos presenteou aos outros? Melhor, como é que se leva o amor com o qual
Jesus Cristo nos amou aos próximos?
Todos os
estudantes permaneceram em silêncio, esperando que seu professor continuasse, e
ele continuou...
Luther: A “diaconia”, o amor em
ação, é o instrumento com o qual se pode compartilhar o amor “apreendido” com
as pessoas que circulam à nossa volta.
Peter: O senhor está dizendo que a
“diaconia” é uma espécie de “guarda-chuva” da “previdência cristã” professor?
Luther: Peter! Peter! Quem pratica a
“diaconia” sabe que as pessoas querem ser amadas. Todo ser humano quer ser
amado. Em Romanos 12.4-16, Paulo identifica o “ato de amar” como uma ação
elementar e suficiente. Paulo define o “amor” como extremamente prático para a
vida. Pessoas que se engajam na “proposta do amor”, logo se conectam com outras
que, juntas, se articulam na Camunidade, com o objetivo de amar como
Jesus amou. É assim que, em Comunidade, o nosso testemunho sempre é mais forte.
A Jamile via
e ouvia tudo, mas não era notada. Depois de se dar conta disso, ela tomou sua
agenda de viagem na mão e também passou a fazer anotações...
Werner: O senhor quer dizer que na “diaconia”
se aprende com o outro.
Luther: Sim Werner! Pra se lidar com
outras pessoas há que se ter sensibilidade e equilíbrio. A Carta aos Romanos
nos indica o caminho que nos leva até o “dom de servir”. Ainda lembro como se
fosse ontem... Eu me encontrava na torre do castelo e lá eu gastei um tempo
enorme tentando entender o texto de Romanos 12.7. Traduzi a palavra “diaconia” do
Grego para o Alemão como “Amt”. O Melanchton e eu discutimos muito sobre isso e
concordamos que “diaconia” é “profissão”. Vocês tem a Bíblia mão. Alguém pode ler este
versículo?
Otto: Eu leio professor: “Ist
jemand Diakonie gegeben, so übe er Diakonie...”
Luther: É isso, se alguém tem o dom de
“servir”, esse alguém deve executar o serviço de “servir”; fazer “diaconia”; fazer
o bem para outra pessoa de forma “prática”; de forma serviçal.
Hanz: Entendi professor. Paulo sustenta
que nem todas as pessoas têm o “dom” de “servir”. Para ele, o “ato de amar com a
partir do serviço” tem a ver com a fé.
Luther: Hanz! Guarde isso: A vida cristã só é possível
quando há a aceitação da diversidade no “Corpo de Cristo”. Tornamos-nos membros
do “Corpo de Cristo”, através da fé e do Batismo. Deus nos dá “funções
especiais” para exercermos o nosso “dom” no referido “organismo”. São as nossas
experiências particulares de fé que libertam os “dons” em nós. São estes “dons”
que, “habilitados” pela nossa fé, direcionam as nossas funções como “membros do
Corpo de Cristo”.
Neste momento Melanchton tomou
sua palavra com aquele ar intelectual...
Melanchton: A imagem da Igreja como “Corpo de Cristo” me
fascina. Em um “corpo” não existe hierarquia. Não existem “membros” que sejam
menos ou mais importantes. Quer dizer, o “corpo” vive da “função diferenciada”
dos seus “membros” que atuam debaixo de uma ordem prescrita. É óbvio que um
“corpo” não sobrevive apenas da ação do coração e ou de um pé, mas da ação
igual de cada membro que dele faz parte. Todas as pessoas são necessárias em
seu “lugar especial” e a atribuição deste lugar não tem nada a ver se o tal
membro é mais valioso do que o outro; se o tal membro tem mais dinheiro do que
o outro e ou se o tal membro é oriundo de uma família privilegiada. O lugar de “atuação
do membro” depende, única e exclusivamente, do lugar que Deus lhe atribui, a
partir do “dom” presenteado.
Otto: Que coisa maravilhosa. Então a “diaconia” não é
nada mais do que serviço; obra realizada para todas as pessoas.
Luther: Isso Otto! Onde não há serviço, há roubo. Nunca
coloquem seus dons no “mercado” com o objetivo de obter sucesso. Deus nos dá “dons”
para que possamos fazer o bem ao nosso próximo. O “cerne da diaconia” é o amor
e ponto final.
Werner: Então esse “amor diaconal” deve ser praticado sem “segundas intenções”.
Luther: Certo Werner! A luta em prol da busca pela “sinceridade do amor” é a
idéia básica do Novo Testamento. Quem pratica a “diaconia” expressa a
“essencia do amor” na “ação diaconal” e esse amor se molda no encontro com o
outro, enquanto se “pratica o acolhimento”. Na “diaconia” ninguém se gaba dos
trunfos que porventura venham a acontecer. Quem “serve” tem prazer em honrar as
pessoas servidas. Quem “serve” dá testemunho de fé fervorosa. Sim, porque o
“amor” nunca está sozinho, mas sempre se faz acompanhar da esperança, da
paciência e da espiritualidade.
A Jamile se mostrava atônita com o que ouvia.
Ela não parava de anotar, enquanto a conversa continuava...
Peter: Então quem quiser praticar a “diaconia” lançará o seu foco nas
necessidades das outras pessoas – certo?
Luther: Exato. A “diaconia” trabalha os problemas dos outros com base no diálogo
com Deus. Assim, o sofrimento da irmandade que acontece no mundo importa
para a “diaconia”. Se o “Corpo de Cristo” sofre em algum lugar do planeta, os “membros
desse Corpo” padecem em qualquer lugar do globo terrestre. Importa se abrir “as
portas do próprio lar aos estranhos”. A “hospitalidade” é uma forma de vida; é
um sinal do interesse pelos outros.
Hanz: Professor, eu li que “se alguém quer proclamar o Evangelho, esse alguém precisa amar as
pessoas a quem visa entregar a Boa Nova”. Isso bate com os conteúdos que o
senhor está nos expondo...
Luther: Guardem isso! Quem quiser ajudar pessoas não poderá, sob hipótese
alguma, entendê-las como “objetos da sua propriedade”, mas amá-las com
liberdade. Jesus sempre ia ao encontro das pessoas, motivado pelo “amor”. Quem
age assim torna-se “simpático”; mostra “compaixão”. “Alegrar-se com aqueles que
se alegram e chorar com os que choram” tem a ver com “entrar na pele” de quem está
sendo ajudado. Quem pratica a “diaconia” precisa gostar das pessoas.
Otto:
Anotei aqui professor: Praticar a “diaconia” é abrir mão do orgulho; é procurar
a comunhão com as pessoas que se mostram inexpressivas e insignificantes; é
colocar-se ao lado das pessoas que procuram ajuda, a partir da fé e das
articulações da Igreja.
Luther: “Na mosca” Otto. O papel da Igreja gira em torno da Diaconia. O “amor
vivido” é quem determina a “potência de radiação” da Igreja. Sem missão a “diaconia”
é nada. Para se manter sob a proposta de Deus, a Igreja precisa da “diaconia” e
a “diaconia” precisa da Igreja. Igreja sem “diaconia” é Igreja fria. “Diaconia”
sem Igreja é algo vazio e é justamente por isso que carecemos do “amor ação”;
de um estilo de vida marcado pela fé e por uma forma mais eficiente de
organização para ajudarmos as pessoas. É desse jeito que vamos conhecer o
“amor” com o qual Jesus Cristo nos amou para, então, repassá-lo adiante...
Neste momento clareou a luz. As paredes ostentaram
novamente sua pintura moderna. E Jamile só viu a mesa; a mesa e as antigas
cadeiras ali na sua frente. Ao seu lado turistas do Japão, dos EUA, da Nova
Zelândia... Ela, atônita, olhou seu bloco de anotações e não viu nada escrito.
Jamile sonhou acordada...