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24.5.12

Pai Nosso que estás nos Céus... (Mateus 6.9)


Queridos irmãs e queridos irmãos! A oração do Pai Nosso é um tesouro, uma herança preciosa. Ela foi orada pelos nossos pais, quando do nosso Batismo. Alguns já a aprenderam no tempo do Jardim de Infância. Outros a decoraram no Primário, na Escola Fundamental. Como era bom poder reconhecer esta Oração quando da nossa participação no Culto. Hoje ninguém de nós precisa mais decorá-la, pois já a sabemos de cor. Podemos nos esquecer de algumas “falas”, quando na Liturgia dos nossos Cultos. Também podemos nos esquecer de alguns Textos da Bíblia. Eu conheço pessoas que não conseguem decorar Hinos Cristãos. Agora, da Oração do Pai Nosso, ah isso ninguém se esquece. Há pessoas que não deixam passar um dia sequer, sem pensar e ou orar estas palavras da Oração que o Senhor Jesus Cristo nos ensinou a orar.

A oração do Pai Nosso pode ser orada em meio aos escombros de um terremoto, como o que aconteceu no Haiti. Ela também pode ser orada no leito de morte de uma pessoa querida. Se sabe que, em muitos casos, a oração do Pai Nosso já ajudou pessoas a “largarem mão” desta vida terrena. Outro dia presenciei um acidente de pequena monta em que a pessoa ferida, já sobre a maca do Corpo de Bombeiros, orava o Pai Nosso. O “Pai Nosso” é orado em circunstâncias difíceis. Aqui lembro que sempre há muita dor, quando se leva um corpo à sepultura. O momento de se baixar o caixão é extremamente doloroso. Nestas horas é boa a experiência de se ouvir: “Pai Nosso que estás nos céus...
 
As palavras da oração do Pai Nosso nos acompanham “do berço ao caixão”. Ela é a oração mais orada que existe na História. Suas palavras nos ajudam não apenas em momentos decisivos da vida. Repito: elas são um tesouro, um patrimônio precioso...

As palavras da oração do Pai Nosso testemunham da nossa boa relação com Deus. Deus é nosso Pai Celestial – Isso é mais importante e decisivo do que as Sete Petições que vamos estudar nas próximas semanas. A relação de Deus conosco não depende de qualquer visibilidade Sua. Se a nossa relação com Deus dependesse de visibilidade, então ela se igualaria à relação que eu tenho com uma amiga ou com um amigo. No contato com Deus eu também não preciso me desgastar com muito vocabulário, como se o ato de orar fosse uma espécie de luta em prol de conquista. Também não vem ao caso se eu oro em voz alta ou em voz baixa; se eu agradeço ou se eu peço; se eu reclamo ou não de Deus. Sempre há boas razões para se orar. É importante que levemos a sério esta relação com Deus e que, assim, permanentemente, nos coloquemos, de corpo e alma, diante Dele; em relacionamento com Ele. Aqui podemos contextualizar a Palavra de Deus: Peçam! Já está dado a vocês... Busquem! Vocês já encontraram... Batam! A porta já está aberta... O que conta é encontrarmo-nos na relação com Deus, a partir desta oração. É por isso que Jesus nos chama a atenção no Sermão da Montanha: “não sejais como os hipócritas que se mostram nas sinagogas e nas esquinas...”,  mas “optai pelo silêncio do quarto com a porta trancada...” e “não não exagerem tanto nas palavras como os pagãos fazem. Eles entendem que serão ouvidos pela articulação das suas muitas falas” (cf. Mateus 6.5ss.)

O teólogo Karl Bart afirmou que a oração é “uma demonstração de fé disfarçada de  pregação; que a oração é um “instrumento de edificação”; que a oração é uma “brilhante travessura”, mas não uma oração”. A oração não é oração quando se quer dizer alguma coisa para outro alguém que não seja Deus. Daí que é primordial refletir-se sobre a oração, que sempre tem a ver com a minha relação com Deus. Jesus não quis dizer: - É assim que vocês precisam; devem orar. Vocês podem orar assim porque Deus, na Sua bondade; na Sua misericórdia se mostrou a vocês.  Ele se mostrou a “vocês”, não a um de vocês. Jesus nos desafia a orarmos a oração do Pai Nosso em Comunidade, nunca no silêncio do nosso quarto... Se olharmos este texto de forma bem literal vamos perceber que não temos uma relação exclusiva com Deus. Uma oração onde nos referimos a “meu Pai que stá nos céus” ou “meu pão diário” iria nos separar da Comunidade; nos promoveria a busca de uma salvação egoísta. Ora, um relacionamento com Deus que exclui os outros não é um relacionamento com Deus.

E sobre a imagem de “Pai”? Para Jesus o ato de falar de Deus como um “Pai” era algo muito natural. Se a Bíblia fosse traduzida de forma apropriada, leríamos: “Tu, ó Deus, nos é Pai e Mãe nos Céus.” Penso que uma tal tradução seria correta! A palavra “pai” pode me levar a pensar num “pai de sangue”, mas e se ele não foi um bom pai? Quais os sentimentos que eu carregarei dentro do meu peito quando dizer a palavra “Deus-Pai”, se as experiências com meu pai não foram boas? A imagem de “Deus-Pai” deve ser diferente da do nosso pai de sangue. Se “Deus-Pai” fosse como eu sou, então eu não poderia aprender com Ele; não teria esperanças maiores das que eu carrego comigo mesmo.

Eu, por mim, desejo um “pai terreno” que mostre o seu próprio rosto, que pense, viva e se relacione “teti-a-teti” comigo. Será que um “pai terreno” nunca agiria com força e nem tampouco com violência; não me dobraria quando estou no fim das minhas forças; não se irritaria com minhas fraquezas e meus erros; se inclinaria para mim quando me percebesse deitado no chão. É meio assim a minha idéia de um “pai de sangue”. Ora, de um “pai terreno”, que seja companheiro, não se aprende muita coisa. Será que o nosso pensamento sobre o “Pai do Céu” não está meio fora de foco?

O desejo do “pai terreno” em relação a nós é ver-nos crescidos; desenvolvidos; não imaturos e dependentes Dele. Por um longo tempo eu ainda não sou e não posso. Nessas horas ele ainda é o meu representante. Ele se desincumbirá deste papel até o momento em que eu souber  falar por mim; assumir meus atos. É assim que eu, instintivamente, desejo um “pai terreno”. Dessa forma eu não sou capaz de imaginar o nosso “Deus-Pai” assim como Ele é. 

Penso que com esta reflexão eu tenha conseguido colocar os limites entre “Deus-Pai” e um “pai terrestre”. Se o “pai terrestre” for bom e sábio, então ele abdica do seu papel. Felizmente Deus não abdica nunca do Seu papel. Mas Ele também não quer ser nosso “Tutor” durante toda a vida. Ele nos quer como parceiros. Será que os filhos de Deus, aqueles que sempre querem continuar sendo filhos de Deus, não estão se esquecendo deste fato de que Deus os espera parceiros?  

Bons pais não são apenas fortes e superiores. Um tal comportamento seria intolerável. Eles também são criaturas vulneráveis e também necessitam do carinho e do amor de seus filhos. Isso também não é assim com Deus? Eu creio que Deus carece do nosso amor. Um Deus que não necessita de nada, que só é superioridade, é um Deus intolerável. Nós precisamos reaprender que Deus anseia por amor, como todo amante anseia sua mada e viceversa. Assim, o Seu rosto deve se iluminar quando oramos: Pai Nosso que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome!...

Notem que não é por acaso que a Primeira Petição, “Santificado seja o Teu Nome”, seja coloca como quela que antecede as demais. O “Nome de Deus” está acima de tudo o que se confere a Deus. “Deus-Pai” nos prometeu o Seu Reino; a Sua boa vontade; os Seus bons dons; o perdão que Ele quer presentear; a preservação e salvação que Ele quer fazer acontecer através de Jesus Cristo.

O próprio nome de Deus valeria uma prédica por si só. Deus se revelou a Moisés de forma misteriosa e velada: - EU SOU O QUE SOU...Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros. (Êxodo 3.14) No início dos Dez Mandamentos se lê: - “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.” (Êxodo 20.2) “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.” (Êxodo 20.7) E o conhecimento de Deus não está longe. Quando o Nome de Deus é profanado e jogado no chão, daí não demora muito o atropelamento do primeiro Mandamento.

Deus permite que o Seu Nome habite no templo em Jerusalém. Os Salmos levantam muitas vozes de louvor ao Nome de Deus. As judias e os judeus santificam o nome de Deus sem expressar as quatro letras do alfabeto hebreu “Iud / He / Waw / He”. (Javé)

O que significa para nós a expressão “Santificado seja o Teu Nome”? - Martin Luther, em seu Pequeno Catecismo, escreve: “Quando a Palavra de Deus é ensinada na sua verdade e pureza, e nós, como filhos de Deus, a vivemos de forma santa... ali o nome de Deus é santificado.” Repito essa frase de Luther de uma forma mais popular: “Tal como falamos e agimos, amamos e confiamos, nos relacionamos, cantamos trabalhamos e curtimos nosso lazer, assim também respeitamos o Nome de Deus.

“Pai Nosso que estás Céus. Santificado seja o Teu Nome”. Orar esta oração é abster-se de olhar para si e olhar para Deus; é estender a mão para Ele...

Através da oração pode acontecer muita coisa, inclusive um encontro com Jesus Cristo. Para tal, o silêncio do quarto é de suma importância.


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