Queridos irmãs e
queridos irmãos! A oração do Pai Nosso é um tesouro, uma herança preciosa. Ela
foi orada pelos nossos pais, quando do nosso Batismo. Alguns já a aprenderam no
tempo do Jardim de Infância. Outros a decoraram no Primário, na Escola
Fundamental. Como era bom poder reconhecer esta Oração quando da nossa
participação no Culto. Hoje ninguém de nós precisa mais decorá-la, pois já a
sabemos de cor. Podemos nos esquecer de algumas “falas”, quando na Liturgia dos
nossos Cultos. Também podemos nos esquecer de alguns Textos da Bíblia. Eu
conheço pessoas que não conseguem decorar Hinos Cristãos. Agora, da Oração do
Pai Nosso, ah isso ninguém se esquece. Há pessoas que não deixam passar um dia
sequer, sem pensar e ou orar estas palavras da Oração que o Senhor Jesus Cristo
nos ensinou a orar.
A oração do Pai
Nosso pode ser orada em meio aos escombros de um terremoto, como o que
aconteceu no Haiti. Ela também pode ser orada no leito de morte de uma pessoa
querida. Se sabe que, em muitos casos, a oração do Pai Nosso já ajudou pessoas
a “largarem mão” desta vida terrena. Outro dia presenciei um acidente de
pequena monta em que a pessoa ferida, já sobre a maca do Corpo de Bombeiros,
orava o Pai Nosso. O “Pai Nosso” é orado em circunstâncias difíceis. Aqui
lembro que sempre há muita dor, quando se leva um corpo à sepultura. O momento
de se baixar o caixão é extremamente doloroso. Nestas horas é boa a experiência de se ouvir: “Pai Nosso que estás nos céus...
As palavras da oração do Pai Nosso nos acompanham “do
berço ao caixão”. Ela é a oração mais orada que existe na História. Suas
palavras nos ajudam não apenas em momentos decisivos da vida. Repito: elas são um tesouro, um patrimônio precioso...
As palavras da oração do Pai Nosso testemunham da nossa
boa relação com Deus. Deus é nosso Pai Celestial – Isso é mais importante e
decisivo do que as Sete Petições que vamos estudar nas próximas semanas. A
relação de Deus conosco não depende de qualquer visibilidade Sua. Se a nossa
relação com Deus dependesse de visibilidade, então ela se igualaria à relação
que eu tenho com uma amiga ou com um amigo. No contato com Deus eu também não
preciso me desgastar com muito vocabulário, como se o ato de orar fosse uma
espécie de luta em prol de conquista. Também não vem ao caso se eu oro em voz
alta ou em voz baixa; se eu agradeço ou se eu peço; se eu reclamo ou não de
Deus. Sempre há boas razões para se orar. É importante que levemos a sério esta
relação com Deus e que, assim, permanentemente, nos coloquemos, de corpo e
alma, diante Dele; em relacionamento com Ele. Aqui podemos contextualizar a
Palavra de Deus: Peçam! Já está dado a vocês... Busquem! Vocês já
encontraram... Batam! A porta já está aberta... O que conta é encontrarmo-nos
na relação com Deus, a partir desta oração. É por isso que Jesus nos chama a
atenção no Sermão da Montanha: “não sejais como os hipócritas que se mostram
nas sinagogas e nas esquinas...”, mas
“optai pelo silêncio do quarto com a porta trancada...” e “não não exagerem
tanto nas palavras como os pagãos fazem. Eles entendem que serão ouvidos pela
articulação das suas muitas falas” (cf. Mateus 6.5ss.)
O teólogo Karl Bart afirmou que a oração é “uma
demonstração de fé disfarçada de
pregação; que a oração é um “instrumento de edificação”; que a oração é
uma “brilhante travessura”, mas não uma oração”. A oração não é oração quando
se quer dizer alguma coisa para outro alguém que não seja Deus. Daí que é
primordial refletir-se sobre a oração, que sempre tem a ver com a minha relação
com Deus. Jesus não quis dizer: - É assim que vocês precisam; devem orar. Vocês
podem orar assim porque Deus, na Sua bondade; na Sua misericórdia se mostrou a
vocês. Ele se mostrou a “vocês”, não a
um de vocês. Jesus nos desafia a orarmos a oração do Pai Nosso em Comunidade,
nunca no silêncio do nosso quarto... Se olharmos este texto de forma bem
literal vamos perceber que não temos uma relação exclusiva com Deus. Uma oração
onde nos referimos a “meu Pai que stá nos céus” ou “meu pão diário” iria nos
separar da Comunidade; nos promoveria a busca de uma salvação egoísta. Ora, um
relacionamento com Deus que exclui os outros não é um relacionamento com Deus.
E sobre a imagem de “Pai”? Para Jesus o ato de falar de
Deus como um “Pai” era algo muito natural. Se a Bíblia fosse traduzida de forma
apropriada, leríamos: “Tu, ó Deus, nos é Pai e Mãe nos Céus.” Penso que uma tal
tradução seria correta! A palavra “pai” pode me levar a pensar num “pai de
sangue”, mas e se ele não foi um bom pai? Quais os sentimentos que eu
carregarei dentro do meu peito quando dizer a palavra “Deus-Pai”, se as
experiências com meu pai não foram boas? A imagem de “Deus-Pai” deve ser
diferente da do nosso pai de sangue. Se “Deus-Pai” fosse como eu sou, então eu
não poderia aprender com Ele; não teria esperanças maiores das que eu carrego
comigo mesmo.
Eu, por mim, desejo um “pai terreno” que mostre o seu
próprio rosto, que pense, viva e se relacione “teti-a-teti” comigo. Será que um
“pai terreno” nunca agiria com força e nem tampouco com violência; não me
dobraria quando estou no fim das minhas forças; não se irritaria com minhas
fraquezas e meus erros; se inclinaria para mim quando me percebesse deitado no
chão. É meio assim a minha idéia de um “pai de sangue”. Ora, de um “pai
terreno”, que seja companheiro, não se aprende muita coisa. Será que o nosso
pensamento sobre o “Pai do Céu” não está meio fora de foco?
O desejo do “pai terreno”
em relação a nós é ver-nos crescidos; desenvolvidos; não imaturos e dependentes
Dele. Por um longo tempo eu ainda não sou e não posso. Nessas horas ele ainda é
o meu representante. Ele se desincumbirá deste papel até o momento em que eu
souber falar por mim; assumir meus atos.
É assim que eu, instintivamente, desejo um “pai terreno”. Dessa forma eu não
sou capaz de imaginar o nosso “Deus-Pai” assim como Ele é.
Penso que com esta reflexão eu tenha conseguido colocar
os limites entre “Deus-Pai” e um “pai terrestre”. Se o “pai terrestre” for bom
e sábio, então ele abdica do seu papel. Felizmente Deus não abdica nunca do Seu
papel. Mas Ele também não quer ser nosso “Tutor” durante toda a vida. Ele nos
quer como parceiros. Será que os filhos de Deus, aqueles que sempre querem
continuar sendo filhos de Deus, não estão se esquecendo deste fato de que Deus
os espera parceiros?
Bons pais não são apenas fortes e superiores. Um tal
comportamento seria intolerável. Eles também são criaturas vulneráveis e também
necessitam do carinho e do amor de seus filhos. Isso também não é assim com
Deus? Eu creio que Deus carece do nosso amor. Um Deus que não necessita de
nada, que só é superioridade, é um Deus intolerável. Nós precisamos reaprender
que Deus anseia por amor, como todo amante anseia sua mada e viceversa. Assim,
o Seu rosto deve se iluminar quando oramos: Pai Nosso que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome!...
Notem que não é por acaso que a Primeira Petição,
“Santificado seja o Teu Nome”, seja coloca como quela que antecede as demais. O
“Nome de Deus” está acima de tudo o que se confere a Deus. “Deus-Pai” nos
prometeu o Seu Reino; a Sua boa vontade; os Seus bons dons; o perdão que Ele
quer presentear; a preservação e salvação que Ele quer fazer acontecer através
de Jesus Cristo.
O próprio nome de Deus valeria uma prédica por si só.
Deus se revelou a Moisés de forma misteriosa e velada: - EU SOU O QUE SOU...Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou
a vós outros. (Êxodo 3.14) No início dos Dez Mandamentos se lê: - “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da
servidão.” (Êxodo 20.2) “Não tomarás o nome do
SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o
seu nome em vão.” (Êxodo 20.7) E o conhecimento de
Deus não está longe. Quando o Nome de Deus é profanado e jogado no chão, daí
não demora muito o atropelamento do primeiro Mandamento.
Deus permite que o Seu Nome habite no templo em
Jerusalém. Os Salmos levantam muitas vozes de louvor ao Nome de Deus. As judias
e os judeus santificam o nome de Deus sem expressar as quatro letras do
alfabeto hebreu “Iud / He / Waw / He”. (Javé)
O que significa para nós a expressão “Santificado seja o
Teu Nome”? - Martin Luther, em seu Pequeno Catecismo, escreve: “Quando a
Palavra de Deus é ensinada na sua verdade e pureza, e nós, como filhos de Deus,
a vivemos de forma santa... ali o nome de Deus é santificado.” Repito essa
frase de Luther de uma forma mais popular: “Tal como falamos e agimos, amamos e
confiamos, nos relacionamos, cantamos trabalhamos e curtimos nosso lazer, assim
também respeitamos o Nome de Deus.
“Pai Nosso que
estás Céus. Santificado seja o Teu Nome”. Orar esta oração é abster-se de olhar
para si e olhar para Deus; é estender a mão para Ele...
Através da oração pode acontecer muita coisa, inclusive
um encontro com Jesus Cristo. Para tal, o silêncio do quarto é de suma
importância.
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