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5.5.10

Uma carta ao João!


Joinville, 05 de maio de 2010

Caro amigo João!

Continuo atarefado... No momento estou dando tudo de mim para bem entender o texto de Apocalipse 13.1-10 que escrevestes para a cristandade da tua época. Estou trabalhando teu texto para um encontro de pessoas queridas. Por aqui não temos tantos problemas como tu amigão, mas vamos “dando conta do recado”. Mas, voltando ao teu texto... De repente tu podes nos ajudar na compreensão do mesmo... Olha como ele foi traduzido do grego para a linguagem de hoje...

13.1 - Depois vi um monstro que subia do mar. Ele tinha dez chifres e sete cabeças, uma coroa em cada um dos chifres e nomes, que eram blasfêmias, escritos nas cabeças. 13.2 - O monstro que vi parecia um leopardo; os seus pés eram como os de um urso, e a sua boca era como a de um leão. E ao monstro o dragão deu o seu poder, o seu trono e grande autoridade. 13.3 - Uma das cabeças do monstro parecia que tinha recebido um golpe mortal, mas a ferida havia sarado. O mundo inteiro ficou admirado e seguiu o monstro. 13.4 - Todos adoravam o dragão porque ele tinha dado a sua autoridade ao monstro. Eles adoravam também o monstro, dizendo: - Quem é tão forte como o monstro? Quem pode lutar contra ele? 13.5 - Foi permitido ao monstro se gabar da sua autoridade e dizer blasfêmias contra Deus. E ele recebeu autoridade para agir durante quarenta e dois meses. 13.6 - Ele começou a blasfemar contra Deus, contra o seu nome, contra o lugar onde ele mora e contra todos os que vivem no céu. 13.7 - Foi permitido que ele lutasse contra o povo de Deus e o vencesse. E também recebeu autoridade sobre todas as tribos, nações, línguas e raças. 13.8 - Todos os que vivem na terra o adorarão, menos aqueles que, desde antes da criação do mundo, têm o nome escrito no Livro da Vida, o qual pertence ao Cordeiro, que foi morto. 13.9 - Portanto, se vocês quiserem ouvir, escutem bem isto: 13.10 - Quem tem de ser preso será preso; quem tem de ser morto pela espada será morto pela espada. Isso exige que o povo de Deus agüente o sofrimento com paciência e seja fiel.

Pois olha João! Li três comentaristas a respeito do assunto (BARCLAY, William. Apocalipsis. Ed. La Aurora. Buenos Aires, 1975; MORRIS, Leon. El Apocalipsis. Ed. Certeza, Buenos Aires, 1977 e MESTERS, Carlos. Esperança de um povo que luta – O Apocalipse de João – Uma chave para leitura. Ed. Paulinas, Recife, 1979) e te confesso que continuo precisando de ajuda...

Sabe João! Quando eu tinha cinco anos eu sempre folheava um livro da minha mãe. Lembro que me amedrontava com aquelas horríveis imagens que brotavam da mente do profeta Daniel. Pois olha! Hoje, enquanto te li, aquelas figuras horrendas do meu tempo de infância me visitaram de novo. Não creio que tu estejas querendo nos fazer medo com teu escrito, pois sempre te pautaste no amor e, conforme outra passagem “no amor não existe medo” (1 João 4.18). Mas deixa prá lá...

No verso 9 tu escreves que “se alguém tem ouvidos, ouça”. Pois é João!... Queres fazer nossos ouvidos doer? Tua profecia é estranha e recheada da perspectiva de sustos presentes e futuros. Carrego a impressão que nos vês como “peões” num tabuleiro; como pessoas que vivem sob o comando dos poderes das trevas que querem nos controlar. Escreves que estes tais “poderes obscuros” fazem alianças e até dividem o poder com o objetivo de melhor dominar o mundo.

Tua mensagem não se restringe somente à desgraça promovida pelo Império Romano, aquela que é política e que acontece do lado de fora, no quintal dos indivíduos. Tua palavra também abrange a desgraça que pode acontecer no íntimo das pessoas. Ali, longe de ser percebida pela maioria, ela também tem a capacidade de promover estragos sem tamanho.

Fico a pensar... Quem um dia tiver a oportunidade de ver e ouvir os relatos fantasiosos de pessoas psiquicamente adoentadas, de indivíduos esquizofrênicos e ou as experiências ruidosas daqueles que são dependentes químicos perceberá que os mesmos estão carregados de muito medo. Quem dá ouvido a estas pessoas adoentadas acaba se dando conta de que é impotente frente a estes e muitos outros detalhes.

Sabe João! Na nossa época há um sem número de pessoas que andam circulando por aí em busca de algo que não encontraram, em busca do preenchimento de certo vazio. Minha experiência diz que quando me coloco ao lado de pessoas drogadas com o objetivo de lutar com elas contra os poderes que as dominam; contra as vozes horríveis que brotam de dentro de suas cabeças, mas que, mesmo assim, parecem ser ameaças de fora; é que posso perceber semelhanças com os teus relatos, entender algumas “dicas” de como é o poder opressivo que algumas visões promovem.

Trata-se de um mundo estranho João. Um mundo onde as pessoas consideradas “normais” não têm muito acesso. Vai daí que quem lê teu escrito não tem muita facilidade de encontrar conforto. Tuas obscuras figuras de linguagem somadas às tuas terríveis profecias tornam bem complicadas as buscas pela Boa Nova de Jesus Cristo, pelo Deus bondoso que Ele fez questão de divulgar durante os seus trinta e três anos de vida e comunhão conosco aqui na terra.

Mesmo assim, preciso reconhecer que a tua visão carrega consolo. Tenho o sentimento de que pintas um quadro de Deus numa tela muito escura. Que nesse quadro retratas a experiência humana e todas as suas terríveis lutas aqui neste chão. Que na tela há uma tênue luz pincelada com tinta clara a indicar nossas raízes celestes. Que noutros toques fortes do teu pincel estão desafios para que nunca nos limitemos a suportar as dificuldades de forma passiva; a nunca fugirmos da luta; a sempre empunharmos as “armas” da paciência e da fé; a sempre aceitarmos com valentia o pior que pode acontecer à nossa vida; a sempre convertermos o “pior” em glória; a nunca titubearmos na devoção absoluta ao Mestre e Senhor. É isso mesmo???

Atenciosamente,

Renato

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