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23.4.12

DEUS - PAI E MÃE!



Em Êxodo 4.22-23a Moisés é desafiado por Deus a ir se encontrar com o Faraó. Uma vez em contato, deve dizer-lhe: Assim diz o SENHOR: Israel é meu filho, meu primogênito. Digo-te, pois: deixa ir meu filho, para que me sirva”. 

Percebe-se nesta passagem bíblica que o povo de Israel é entendido como filho de Deus. A relação entre Javé (SENHOR) e Israel é apresentada como uma relação “pai-filho”. Trata-se de uma tradição antiga, cuja data de início os exegetas (estudiosos da Bíblia) não tem como definir. Foi no tempo dos profetas que ela se se enraizou na História. Esta “imagem” da relação “pai-filho” sempre de novo foi retratada quando dos anúncios proféticos.

Em 750 a.C já encontramos descrito com pompa no livro de Oséias, este tema básico que remete para a relação “pai-filho”. Em Oséias 11.1-9 esta idéia parece estar colocada como ápice de todo o Antigo Testamento: Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho. Quanto mais eu os chamava, tanto mais se iam da minha presença; sacrificavam a baalins e queimavam incenso às imagens de escultura. Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos meus braços, mas não atinaram que eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. Não voltarão para a terra do Egito, mas o assírio será seu rei, porque recusam converter-se. A espada cairá sobre as suas cidades, e consumirá os seus ferrolhos, e as devorará, por causa dos seus caprichos. Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; se é concitado a dirigir-se acima, ninguém o faz. Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como a Admá? Como fazer-te um Zeboim? Meu coração está comovido dentro de mim, as minhas compaixões, à uma, se acendem. Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira.

Não há texto do Novo Testamento que ultrapasse este grau de “calor”, de “intimidade” e de “grandeza” que se explicita em Oséias 11.1-9. Pela boca do profeta Oséias, o SENHOR se coloca; se apresenta como um Pai que revela toda atenção ao Seu filho.

Aqui é surpreendente que a expressão “pai” é entendida num contexto muito diferente da prática usual entre os semitas. Normalmente era assim que o foco desta raça de indivíduos sempre estava centrado na família ou no clã. No texto de Oséias que acabamos de ler, observamos a “imagem” de um pai que se destaca pela sua “essência interior”; pela sua “devoção; pelo seu “amor” e por sua “magnanimidade”. Em suma, o texto nos apresenta um conceito muito moderno de “pai”.

Entre muitos exegetas, o profeta Jeremias é chamado de “discípulo espiritual” de Oséias. É em Jeremias que vamos nos deparar novamente com o conceito de “pai” que vimos em Oséias. Vamos ler Jeremias 31.20: “Não é Efraim meu precioso filho, filho das minhas delícias? Pois tantas vezes quantas falo contra ele, tantas vezes ternamente me lembro dele; comove-se por ele o meu coração, deveras me compadecerei dele, diz o SENHOR.”

Na terceira parte do Livro de Isaías, mais especificamente em Isaías 64.7-8, o povo de Israel lembra o próprio Deus que Ele é seu “pai” e que, portanto, lhe cabe um comportamento misericordioso: “Já ninguém há que invoque o teu nome, que se desperte e te detenha; porque escondes de nós o rosto e nos consomes por causa das nossas iniquidades. Mas agora, ó SENHOR, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos.”

Na Bíblia não se aponta para o SENHOR apenas como um “pai”. Ora, Deus ultrapassa o conceito de “sexualidade”. Quer dizer, as declarações bíblicas apontam em igual número tanto para a “maternidade” de Deus como para a “paternidade”. Deus é, ao mesmo tempo “pai” e “mãe” do Seu povo.

O Antigo Testamento não enfatiza apenas o lado patriarcal de Deus.  Em Isaías 49.15, podemos perceber que Deus se compara com uma mãe: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.”

Em Isaías 66.13 se lê: “Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados.”

Além disso, no idioma hebraico e, portanto, também nas mentes do povo hebraico, a compaixão sempre é vista como um traço da personalidade materna. 

A palavra “misericórdia” (“rachamim” no Hebraico) se origina  da palavra também hebraica “raechaem”. Esta última palavra se equivale a “ventre” (cf. Êxodo 34, Oséias 11, Jeremias 31, etc.)

Nas fontes dos antigos escritos mesopatâmicos percebem-se sinais que definem a palavra “misericórdia” como algo na linha de “coração aberto”. Este sinal carrega uma sigificação muito clara de “ampla segurança”. Quando se aplica este símbolo para a “mulher”, daí resulta o conceito de mulher como o de uma “imagem misericordiosa”. Na Mesopotâmia também é assim que quando se fala em “misericórdia”, logo se pensa na palavra “mãe”.

O SENHOR se revela na “misericórdia” como “Alguém Maternal”. Quando Deus tem compaixão pelas pessoas, então Ele se mostra tal como uma mãe se mostra ao seu filho. 

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