Caro
Pastor Renato!
Como
o senhor sabe, somos uma família cristã. Meditamos na Palavra de Deus e, todos
os dias, fazemos as nossas orações. No domingo, nunca perdemos um Culto sequer.
Somos uma família unida e temos três filhos, com idades entre 8 e quatroze
anos. O que nos traz ao senhor é que, nos últimos meses, surgiu um problema na
nossa casa. O nosso filho mais velho está entrando na adolescência e não está
mais levando a sua fé em Deus tão a sério, como entendemos que ele deveria
levar. Quando chamamos a atenção dele, ele reage dizendo que esta palavra é
muito “carregada”. Daí então ele nos joga na cara que esta palavra carrega
“pesos” do passado em si. Mais do que isso, ele aponta para algumas catátrofes
mundiais que foram motivadas pela “fé” de algumas pessoas e que, portanto, não
quer viver sob esta tensão; que não quer se envolver com um conceito tão
ultrapassado e ambíguo.
O
fato é que minha esposa e eu estamos nos condoendo muito com nosso filho. A
idéia de que nossas crianças possam cair na fé nos deixa muito assustados. Esse
assunto sempre volta nos nossos círculos de conversa. São assuntos um tanto
difíceis de ser digeridos. Nosso filho teima em repetir que não pode fazer mais
nada com este conceito que “plantamos dentro do seu coração” com tanto carinho.
Em contrapartida ele também nos diz que a mensagem de Jesus Cristo o
impressiona. Nessas horas ele nos cita o Sermão do Monte de Mateus 5-7 e
se reporta às palavras que Jesus disse;
às posições que Jesus defendia. Ele nos diz que este é o texto mais
importante do Novo Testamento. Nós, como pai e mãe, estamos endendendo que ele
faz um resumo muito bruto da Bíblia.
Enfim,
ele nos provoca com palavras deste tipo e, infelizmente, sempre de novo,
acabamos entrando em confronto com ele. Sabemos que estas brigas não levam a
nada, mesmo assim, repito, sempre caimos no mesmo erro. O que é que podemos
fazer?
Caro
Jandir, a tua carta me impressionou muito. Fiquei tocado pela forma como tu e
Graça levam a sério a dificuldade do Jones. Também mexeu comigo o jeito, a
humildade de vocês ao me pedirem por ajuda. A forma de vocês apresentarem seu
filho a mim também mexeu comigo. Ora, ele simplesmente está assumindo a tarefa
que diz respeito à sua idade. Ele não quer ser uma cópia de vocês dois, mas
está em busca de uma identidade própria. Notem que ele age assim usando vocês
como interlocutores. Esse é o ponto! Ele está verificando o que é que pode
levar de vocês para dentro da sua vida particular. Com este jeito de ser ele
está se perguntando como e onde ele vai fazer a sua própria caminhada. Nada
mais do que isso.
Tudo
ainda é um tanto vago e, certamente, ainda permanecerá assim por algum tempo. O
importante é que vocês não percam o contato com o Jones neste tempo de
adolescência. Trata-se de uma época de muitas perguntas e de muitos vazios que
precisam ser assessorados. É importante que vocês permaneçam com as suas
convicções, mas também que tenham seus ouvidos abertos para os clamores do
garotão. Ele os provoca e, claro, estas provocações são difíceis de serem
engulidas. Elas até lhes causam medo. Vocês até se sentem inseguros quanto ao
fato de se deixarem levar por reações muito duras. Abram o jogo, mostrem-se
para o seu filho assim como vocês são. Digam-lhe os conteúdos que vocês mesmos
acabaram de me informar.
O
importante é que vocês concedam ao Jones o direito dele escolher seu caminho à
sua maneira. Aqui me lembro-me de um provérbio chinês: “Dê raízes aos teus
filhos quando eles são pequenos. Quando eles crescerem, dê-lhes asas.” Vocês já
deram raízes ao Jones. Agora é tempo de
lhe dar asas. Pelo que me informaram, vocês tem todas as condições de
caminharem para a frente com confiança.
Só
mais uma pequena lembrança sobre a palavra “crer”. O Jones se refere ao abuso e
à má compreensão da palavra “fé” e que, por isso mesmo, ele a deixa de lado. Essa postura dói em vocês,
mas notem que ele ainda não está rejeitando esta palavra.
Aqui,
de repente, uma Palavra Bíblica ajuda a vocês. À pergunta pelo “que
verdadeiramente importa”, Jesus nos dá duas respostas. Certa vez Ele respondeu:
“Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1.15b). Se eu os entendi
bem, esta é uma boa resposta para a sua pergunta. Em outra ocasião, Jesus
Cristo disse: “Buscai primeiro o Reino de Deus...” (Mateus 6.33a). Esta
é a resposta que parece interessar mais ao Jones neste momento. Notem que ele
não está longe de Jesus enquanto pensa do jeito que pensa... Abraços!
Um comentário:
Renato!
Você toca numa questão gigante neste post do seu blog. Os jovens estão desiludidos com os valores, a fé e o modo de vida dos seus pais. O principal motivo, em minha opinião, é a velha fórmula de educação aplicada dentro e fora da educação para a fé: “Faça o que eu digo. Não faça o que eu faço!” A incoerência beira o ridículo. As pessoas falam, falam e falam. Mas quase nunca vivem de acordo com o que dizem. Mas cobram dos outros, que os outros vivam assim como exige a sua pregação. A velha máxima de ver o cisco no olho do outro, mas não sentir o palanque de cerca no próprio olho... O mau exemplo já começa no trânsito, onde toda a pregação de amor e respeito pelo próximo e pelas leis são atiradas pela janela do carro. E é assim na vida toda das pessoas, mesmo das mais “crentes”. Os jovens são sensíveis a isso, por demais.
E o exemplo da cristandade ao longo da história não é nada legal. Esse adolescente anda muito bem informado sobre isso. Ele sabe sobre as Cruzadas (os filmes mostram), sobre a inquisição (está na internet), sobre a guerra religiosa moderna contra o Islamismo e deste contra o Cristianismo (está nos noticiários). Ele sabe de todas aquelas histórias sórdidas de pedofilia dentro da igreja, e ele também vê a disputa mundana por poder e riquezas dentro da Igreja do nosso Senhor Jesus Cristo, acontecendo bem debaixo dos nossos olhos todos os dias. E esse adolescente rejeita tudo isso, como algo do qual ele não quer participar. Ele intui que a pregação de Jesus não foi nada disso. Percebe que a cristandade fez migalhas dos ensinamentos do Mestre, transformando tudo em pérolas atiradas aos porcos. Esse jovem, antes de causar preocupação aos seus pais, deveria despertar um incontido orgulho pela sua argúcia, por perceber que a incoerência minou o papo furado das pregações vazias e hipócritas de muitos cristãos e da própria instituição Igreja, qualquer que seja a denominação.
Quer saber, companheiro? Eu chamaria este menino para um encontro de estudo bíblico e deixaria ele lavar toda a sua roupa suja junto com o pessoal e pedir que eles prestassem bem atenção às suas mágoas, críticas, angústias de uma busca por uma fé sincera e coerente. Ele tem prédicas para nos ensinar. Suas críticas são belas, fundamentadas num jovem coração sedento que ainda não aprendeu as manhas dos adultos de fingir, disfarçar, enganar. Ouçam este jovem!
Um forte abraço
Clovis Horst Lindner, pastor da IECLB
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