Com que força e em nome de quem vocês curaram
o paralítico? Esta pergunta foi feita para
o Pedro e para o João, mas ela parece ser feita a mim. O que significa
esta pergunta para nós, hoje?
Pedro e João tinham curado um coxo. Esse homem era
trazido regularmente, durante quarenta anos, à porta do templo. Era, com
certeza, pessoa bem conhecida nas redondezas pelo fato de sempre estar
implorando ajuda.
O que fez Pedro? Pedro lhe disse: “Ouro e prata não tenho, mas o que tenho, isso te dou: Em nome de Jesus
Cristo, levanta e anda”. Daí então Pedro o tomou pela mão e o colocou em
pé. Daquele momento em diante as pernas e as articulações musculares do coxo ficaram
firmes e ele se levantou, correu e louvou a Deus.
Vocês conseguiriam fazer o que Pedro fez? Eu não, apesar
de também crer na ressurreição de Jesus Cristo. Não! Eu não me sinto pronto
para dizer semelhante palavra a uma pessoa com deficiência.
O fato é que Pedro teve coragem de fazê-lo. Sim, Pedro não
se calou diante das autoridades eclesiásticas, quando lhes deixou claro que “Jesus Cristo, o Nazareno, Àquele a quem
tinham cruscificado e a quem Deus ressuscitara dentre os mortos, era o
verdadeiro Autor daquela cura”; quando lhes deu a entender que o poder que
vem do alto tem capacidade de zerar a força da dor e da morte.
A ousadia de Pedro, ao apontar para Deus como o Mentor
daquele milagre, fez com que os queixos daqueles estudiosos da Bíblia caissem.
Eles não ficaram estupefatos por causa do testemunho dos dois apóstolos, mas
pelo fato de que aqueles homens de origem tão simples, quase sem nenhuma
formação teológica, soubessem falar com tanto destemor, a partir das
Escrituras.
Pessoas que experimentaram grande perigo; que foram
confrontadas de perto com a morte e que, mesmo assim, permanecem firmes na fé, já
nos serviram e continuam servindo de modelo. Aqui me lembro do nosso mártir evangélico
que, mesmo torturado até a morte, resistiu às ameaças; à injustiça e, ao mesmo
tempo, se submeteu, com coragem, à vontade de Deus, deixando sempre claras as
suas idéias.
A verdade é que nem todas as pessoas tem o perfil de dizer
a que vieram, nem todos são heróis. Todos sabemos que Pedro não foi nenhum
herói. Pedro se mostrou uma pessoa empreendedora. Ele devia ser um homem cheio
de entusiasmo que andava na vanguarda dos acontecimentos. Agora, lembremo-nos
que no pátio do sumo sacerdote, ele negou Jesus três vezes; que depois da morte
de Jesus ele experimentou medo dos judeus e se escondeu atrás de portas
pregadas.
Algo deve ter contribuido para Pedro se mostrar tão
corajoso. Foi seu encontro com o Ressuscitado que lhe oportunizou a força do
Espírito Santo. Gente querida, a vida do Jesus terreno e o túmulo vazio nunca
levaram ninguém à fé. Foi a ressurreição de Jesus que fez com que o
cristianismo surgisse. Mais do que isso, foi só depois do encontro pessoal que Jesus
teve com seus discípulos que eles se tornaram apóstolos.
Foi a partir daquele encontro que o inacreditável se tornou
crível; que o incompreensível se converteu em compreensível. O paralítico foi
curado com a força; com o
poder do Espírito Santo e Pedro e João foram simples canais dessa força.
Pedro também responde à pergunta, em nome de quem todas
estas coisas aconteceram. Ele disse que foi “Jesus Cristo de Nazaré, a quem eles mesmos tinham cruscificado e a quem
Deus tinha ressuscitado dentre os mortos” que lhes tinha possibilitado
aquele ato. Martin Luther diria: “Em
nenhum outro há salvação, não há outro nome debaixo do céu, dado entre os
homens, pelo qual devamos ser salvos.” Sim, Jesus Cristo é Aquele através
do qual podemos experimentar a salvação.
A declaração de Pedro é simples e clara, mas ao mesmo
tempo capaz de gerar um estresse enorme! Eu experimento isso. O Evangelho me
chama constantemente a verificar a minha fé e o meu relacionamento com Deus com
perguntas pessoais do tipo: - É isso mesmo que está escrito? - Eu acredito
nisso que está escrito? Essa fé descrita nos Evangelhos perpassa o meu ser,
enquanto me digladio com minhas dúvidas? - Deixo-me assessorar pela fé enquanto
busco as soluções para os meus problemas? - A minha fé afeta as relações com os
próximos? – A minha fé leva a dar passos que promovam a reconciliação? – A minha
fé me leva a solidarizar-me com os pobres que tem fome de pão e de justiça? Resumindo todas as
perguntas numa só: - A minha fé é viva?
Difícil de absorver um texto tão carregado de conteúdo,
assim, de uma só vez. Eu sonho dar
testemunho com a coragem de Pedro; de João; de Dietrich. Eu tenho a
intenção passar a “Boa Nova” de Deus
adiante, mas aí me pergunto: Quem quererá ouví-la? Perguntas como essas me
passam pela cabeça quando penso nas pessoas que não acreditam em Cristo; nas
pessoas que se mostram inimigas da Igreja.
Penso
que muitos de vocês experimentam o que experimento: O Evangelho nos promove má
consciência, e então seguimos nos perguntando: - Eu tenho feito o suficiente? – Eu não estou sendo demasiadamente egoísta? -
Onde é que eu gasto o meu tempo?
Toda santa inquietação é boa, mas
será que é sobre esta base que nós queremos e podemos passar uma “Boa Notícia” da Salvação? Se nos movemos
por aí com consciência culpada, será que podemos relacionar a mensagem
redentora e libertadora de reconciliação do homem com Deus com o amor que é
derramado em nossos corações; com a paz que está em Cristo? Penso que não.
Agora, não somos nós que salvamos as pessoas, mas é Deus quem
enviou Seu Filho que salva e resgata da morte para a vida (João 3.17).
Aqui reparto três idéias que podem nos ajudar na
comunicação do Evangelho:
1 - Se não me alegro com a minha salvação, como é que eu posso
compartilhar esta alegria adiante? Eu só posso apontar para a felicidade, para
a gratidão a Deus que tanto fez e continua fazendo na minha vida, se minha fé
estiver viva.
2 - Tudo o que fazemos, sejam ações pequenas ou grandes, elas
têm sua origem na ação orientada de Deus. Cedo ou tarde estas ações serão
reconhecidas como boas contribuições ao ambiente em que vivemos. Lembrem-se que
a nossa vida já é um testemunho, antes mesmo de abrirmos a nossa boca.
3 - A força que nos move provém do Espírito Santo, cujos
sinais se mostram suaves e silenciosos. Vejamos o que os outros realmente
necessitam. Pedro não curou o coxo da sua pobreza, mas das suas necessidades
especiais.
Não desanimemos! Deixemo-nos encorajar por pessoas do
perfil de Pedro; de João; de Dietrich Bonhoeffer. Eu fecho este texto lembrando de uma
canção bem conhecida: “Alegrai-vos sempre no Senhor, Alegrai-vos no Senhor!...”
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