Busque Saber

29.6.12

Te manda Abraão! (Gênesis 12.1-4)



Não carrego a mínima dúvida de que pessoas mais desavisadas compreendam esta história como uma simples sugestão para sair de casa; mudar de ares. Pode ser que neste texto sugerido alguém leia um convite para mudança à alguma praia ensolarada ou algum local aprazível na serra.  Todos temos a nossa pátria e, desde o nosso nascimento, um estreito relacionamento com o lugar onde estamos “fincados”. Algumas e alguns de nós não carregam estes vínculos natais, mas se acostumaram com o “espaço” onde vivem. Em resumo, estamos perfeitamente aclimatados, contextualizados na vizinhança, na cidade onde moramos, obde construímos nossa “casa”. Partir?... Assim?... Tão de repente?... Quem faria uma coisa dessas?... Por que isso?... Parece que a saída de Abraão da sua terra natal e da sua parentela se deveu a bons motivos. Deus o estava “pensando” como “pai de uma grande nação”. Foi a promessa de Deus que impulsionou Abraão a deixar para trás aquele chão; aquelas relações construídas com tanto carinho. Esse, definitivamente, não é nosso caso - certo?

Mesmo assim, carrego a convicção de que esta história tenha algo a nos dizer.  Deus está impondo uma a Abraão. Ora, a exigência de uma partida de casa; do trabalho; da vizinhança não é algo tão simples. Abandonar as bases; deixar os hábitos; mudar o jeito costumeiro de pensar... Hummm... Isso não é tão simples assim. Nossa estrutura física, emocional, espiritual e social dependem muito das tradições que fomos contruindo à nossa volta, daí que novos recomeços dentro de um “mundo estranho” não são nada fáceis.

Abraão deve ter pensado consigo mesmo: - Mas o que é que eu vou lucrar com essa mudança?... Não! Esta decisão também não lhe foi muito fácil de ser tomada. Claro que Abraão não precisava mudar de casa e de região com o objetivo de buscar novas perspectivas. Abraão era rico, tinha grandes rebanhos de ovelhas, uma família enorme e muitos bons relacionamentos.  Como se diz por aí, “estava com a vida ganha”. Então, qual foi o motivo que o fez “topar esta parada”?

Em primeiro lugar, porque foi Deus quem o chamou. Abraão ouviu a voz de Deus. Ele sabia que Deus pensava o melhor para ele. Por outro lado, ele também sabia que toda a sua vida; que todos os seus laços de amizade; que toda a sua casa e que todos os seus bens tinham sido presenteados por Deus. Essa certeza foi fator decisivo para encarar uma mudança. Se este Deus lhe ordenava deixar sua terra natal, então, ele, Abraão, não poderia esperar nada de ruim. Atrás de Sua proposta, Deus, certamente, tinha uma grande Idéia a ser implementada e ele, Abraão, estava sendo considerado peça importante neste “tabuleiro”. Claro que Deus iria protegê-lo e acompanhá-lo nesta empreitada. Então, “vamos que vamos e dê-lhe que te dê-lhe”.

Nós até podemos duvidar que, hoje, Deus ainda nos queira atrair para alguma tarefa grandiosa. Somos capazes de ouvir a Sua voz?... Onde é que Deus pode estar esperando novos recomeços de mim e de ti?... Quais seriam as promessas que Ele poderia nos alcançar, se nos decidíssemos por mudanças; por novos rumos; pelo abandono do que já é ultrapassado, mas que ainda insistimos em manter?...

Para sermos justos, temos de admitir que, neste momento, estamos muito satisfeitos com a nossa vida. Olhamos para trás e não temos muito do que nos queixar. Tal como Abraão, também temos uma família legal, bons amigos e até bens imóveis. Será que tudo isto não nos “encastela”, a ponto de nos colocarmos com “um pé atrás” diante da perspectiva de mudança?... Vamos “dar nomes para os bois”: - Será que vale mesmo a pena mudar?...

Penso que nós, sempre de novo, estejamos ouvindo o chamado de Deus para crescermos; amadurecermos; desenvolver-nos e nos deixarmos “moldar” por Ele.  Por exemplo, lembram do duplo Mandamento do Amor? (Mateus 22.34-46) Nele se lê que nos caber “amar ao próximo como a nós mesmos”.  Esta Palavra nos desafia a, sempre de novo, nos envolvermos com os outros; a nos colocarmos ao lado de novas pessoas; a servir-lhes de “escada” para que também possam experimentar as bênçãos que experimentamos. Não seria o amor a mudança em si?... Será que o amor não deve crescer, acompanhar os próximos no tempo deles e, junto, se renovar constantemente?...

Centremo-nos na história do “Filho Pródigo” (Lucas 15:11-32). Ele experimentou uma mudança gritante em sua vida. Observem que depois ter convivido, se alimentado da comida destinada aos porcos, ele viveu a experiência de ser um filho amado. Seu pai se mostrou muito feliz com esta mudança. Chegou a colocar um anel no seu dedo e mandou abater um bezerro cevado. Ato contínuo, celebrou a Festa do Reencontro com ele. Impressionante! O que será que esta história quer nos deixar claro? A resposta é simples: Arrepender-se é voltar para casa; é achar-se o caminho de volta, depois de se vagar perdido por aí; é afastar-se das posições fixas que fazem doer; é abdicar-se de estar no lugar onde não se cabe... 

Um último exemplo nos vem das incontáveis palavras de Jesus: - “Venham a mim, todos vocês que estão o cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso...”(Mateus 11.28) - “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim...” (João 14.6) Ou, como está escrito em Lucas 14.25-33: - “Certa vez uma grande multidão estava acompanhando Jesus. Ele virou-se para eles e disse: Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a si mesmo. Não pode ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhar. Se um de vocês quer construir uma torre, primeiro senta e calcula quanto vai custar, para ver se o dinheiro dá. Se não fizer isso, ele consegue colocar os alicerces, mas não pode terminar a construção. Aí todos os que virem o que aconteceu vão caçoar dele, dizendo: “Este homem começou a construir, mas não pôde terminar!” Se um rei que tem dez mil soldados vai partir para combater outro que vem contra ele com vinte mil, ele senta primeiro e vê se está bastante forte para enfrentar o outro. Se não fizer isso, acabará precisando mandar mensageiros ao outro rei, enquanto este ainda estiver longe, para combinar condições de paz. Jesus terminou, dizendo: Assim nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não deixar tudo o que tem.”

Quer dizer, quem não renuncia a tudo o que tem e não segue a Jesus, não pode ser Seu discípulo. Essas Palavras acima são somente para serem lidas e ouvidas?... Elas não são todas Palavras que nos chamam, impulsionam, desafiam a nos colocar em movimento; em crescimento; em desenvolvimento e em mudança?... Quais as implicações que vem com o ouvir e o obedecer a Deus?...

Não, nós não podemos pensar de outra forma. Estas Palavras são um apelo de Jesus Cristo para nós. Ele diz: - Vão em frente, desenvolvam-se para romper com tudo o que é rígido e incrustado em vocês. Mas, o que é que anda rígido e incrustado em nós?... Sim, levem esta proposta de vida para dentro da sua segunda-feira. Aqui não vou me furtar de dar algumas sugestões:

Quantos são os nossos relacionamentos que já não correspondem mais àquilo que nós esprávamos que eles fossem?... A inimizade existe tanto entre vizinhos como entre parentes. Temos a tendência de viver de forma silenciosa e, quando, porventura, damos de cara com parceiros assim, até evitamos a travessia da rua. Penso que aqui eu não preciso descrever o que poderia ser uma mudança...

De repente nos encontramos presos aos hábitos e à tradição. Aí dizemos: - Eu sou assim! Eu ajo dessa forma desde o tempo em que eu me lembro por gente! Será que esta postura não irrita os outros?... Será que os nossos próximos não tem que fazer um grande exercício para nos “aguentar”?... Dá a impressão que a mudança de hábitos também tem alguma coisa a ver com a Proposta do Amor!

Provavelmente o pior de tudo seja os pensamentos do tipo: - Ah! Ela é assim mesmo!  - Ih! Ele não mudará nunca! - Antigamente ela disse isso... - Daquele ali não dá para se esperar nada! - Pode vir algo bom daquele sujeito?  Aí não sei mais o que dizer...

Quando rotulamos os outros, rotulamo-nos a nós mesmos. De repente já estejamos agindo assim a anos. Se não mudarmos de atitude, talvez continuemos neste processo até o fim dos nossos dias. O fato é que dá para se mudar?... Pelo menos deveria ser possível mudar alguma coisa! Nós ouvimos um chamado e sabemos Quem nos chama: É o bom Deus que nos presenteou com a vida e tudo o mais que contribui para o nosso bem. Será que Ele não será capaz de nos conduzir rumo a um bom futuro?...

Estamos na mesma do Abraão. Melhor, estamos em vantagem, pois sabemos como sua história com Deus terminou. No futuro de Abraão se vislumbrava a promessa e nós sabemos o que aconteceu: Ele permaneceu rico; reencontrou uma pátria; experimentou a alegria de relacionamentos bem sucedidos e a bênção de Deus. Quer dizer, Abraão ouviu e reagiu ao chamado de Deus; saiu da sua terra assim como o Senhor lhe tinha pedido. Também ouvimos um chamado semelhante?... Estamos a fim de segui-Lo?...  Que belo país; qual a boa história com Deus e com as pessoas que nos aguardam no futuro?... Quando é que começamos a mudança?...

26.6.12

O Pão Nosso de cada Dia nos dás Hoje...


Como compreender a Petição “O Pão nosso de cada Dia nos dás hoje”? Fácil! Deus dá do Seu “pão” para pessoas boas e más, mesmo sem pedirmos pelo mesmo. Por isso, sejamos pessoas agradecidas. Ao orarmos “O Pão nosso de cada Dia nos dás hoje”, mostramo-nos necessitados do “Pão de Deus” e de todos os outros “detalhes” que contribuem para o progresso da nossa vida terrena.

Erram os arrogantes que pensam que tudo o que conseguem com vistas ao seu “alimento”, seja fruto do suor do seu rosto. O “Pão Nosso de cda Dia” foi, é e continuará sendo um presente de Deus que sabe das nossas necessidades; que cuida de nós e que nos abençoa no decorrer da nossa vida. Sim, Deus nos abençoa com tudo o que for necessário para o bem do nosso corpo. Aqui, penso em alimentos, bebidas, roupas, calçados, casa, terreno, animais, dinheiros, esposa, esposo, filhos e servos piedosos, governantes fiéis, bom governo, bom tempo, bons amigos, paz, saúde, disciplina, honra, vizinhos fiéis, e assim por diante.

Agora, as nossas necessidades de “pão” mudam de acordo com o contexto. Num dia o “pão” que pedimos a Deus pode ser um amigo que, de repente, vem e nos ajuda a carregarmos nossas cargas. Num outro momento o “pão” que suplicamos pode ser a quietude em meio à tempestade. Amanhã esse “pão” que sonhamos pode dizer respeito à sabedoria imediata dos políticos, frente a uma decisão iminente em prol da justiça; do bem comum. Depois de amanhã esse mesmo “pão” que ansiamos pode ser a preservação do nosso trabalho; o conforto em em meio ao luto; a força para que um ente querido enfrente o desespero da sua doença. Enfim, a Oração do “Pai Nosso” sempre vai depender do contexto que se vive no presente.

Neste momento esta Oração está sendo orada de mil maneiras ao redor do mundo. Deus a escuta. - Como é que ela chega aos Seus ouvidos? - Apática, saudosa, desesperada, raivosa, queixosa ou cheia de esperança? - Como será que ela soa da boca do pescador que experimenta manchas de óleo no mar onde pesca? Como é que ela soa da boca da mãe cujo bebê tenta sugar o leite em seu peito magro? Como é que ela soa da boca do papeleiro que, junto com seus filhos, trabalha 12 horas por dia para pagar suas contas mensais no mercado?

Sim, estamos tratando do “Pão Nosso”; não do meu ou do teu “pão particular”. O Criador e Sustentador do Mundo é o nosso “Pai Celestial” que, ao mesmo tempo, permite a chuva sobre justos e injustos. Que coisa!... Quando oramos “O Pão Nosso de cada Dia nos dás Hoje”, oramos por todas as pessoas que sentem fome e sede do “Pão da Justiça”. Estamos pedindo pelo “Pão Mundial”. Que a paz de Deus, que é maior do que a nossa razão, guarde os nossos corações e as nossas mentes em Cristo Jesus. Amém!

16.6.12

DISCIPULADO

Estamos em tempos de crise. Aqui e ali ouve-se de “grandes novidades” e lá se vão as pessoas desavisadas “beber água” de “potes estranhos”. 

Igreja que é Igreja de Jesus Cristo sempre encara o “discipulado” como preocupação primordial. Esta posição já se encontra grifada no Evangelho de Mateus (Mt 28.18-20). O fato é que não podemos nos satisfazer apenas com o “envio dos doze” ou com o envio ao mundo de algumas mulheres e homens excepsionais do tempo em que vivemos.

A proposta do discipulado é maior, uma vez que abrange toda a cristandade. Discipulado nada mais é do que a re-orientação da vida, a partir da obediência que “deságua” na sincera tentativa da busca de se ser como Jesus Cristo foi. E, fazer discípulos nada mais é do que oportunizar, fomentar às pessoas cristãs uma relação pessoal com o Senhor Jesus; é guiar estas pessoas para debaixo das “asas de Deus”; para debaixo da autoridade de Deus onde, com certeza, elas experimentarão grande transformação em suas vidas. 

Porque isto é a mais pura verdade, não hesito em dizer: - a Missão da Igreja fica incompleta se só acentuamos a conversão.

Ouvi e continuo a ouvir palestrantes que só conseguem conceber o discipulado como o ato “de seguir alguém de perto”. Aliás, este já era o conceito dos velhos Mestres da Lei dos tempos de Jesus. Penso que discipulado é mais do que isso. Quem lê Marcos 3.14 percebe que Jesus elegeu doze homens para “estarem com Ele”. Ali não está escrito que durante os três anos de discipulado, os escolhidos seriam informados com conteúdos acadêmicos. Nada disso! Está dito que viveriam em comunhão; que viveriam uma vida compartilhada.

Nas Cartas que se seguem aos Evangelhos fica claramente implícito que os neo-convertidos se relacionavam com as pessoas cristãs e que, deste relacionamnto, sempre resultava vida mais madura em Cristo. Eis aí o conceito do discipulado no Novo Testamento. Gente, nós precisamos ocupar nosso tempo refletindo sobre isso. 

Responder ao Chamado

Nos últimos anos, tenho circulado entre grupos cristãos e, no meu andar, me deparado com compreensões errôneas daquilo que o discipulado significa. Há irmãs e irmãos cheio de boas inteções que confundem o discipulado com o acúmulo de conhecimentos; com o acúmulo de aperfeiçoamentos; com o acúmulo de habilidades para o desempenho de certos “papéis” ligados à organização da Instituição, Igreja.

Entender o discipulado desta forma outra coisas não é do que tentar perpetuar o sistema eclesiástico com o auxílio de “adestrandos” (Pessoas que vão sendo preparadas para que se engajarem nos vários departamentos igrejeiros). Discipulado nao é isso. Discipulado é a formação da Pessoa à imagem de Jesus Cristo; é a priorização da pessoa e nunca àquilo que ela, porventura, um dia, venha a “produzir” dentro da estrutura onde vive.

Para que uma tal idéia seja levada a cabo, há que se apresentar às pessoas o Evangelho de forma compreensível e contextualizada. Melhor: há que sempre se levar em conta a época e o lugar onde se evangeliza. Jesus sabia qual era o pensamento vigente da sua época. Ele sabia quem eram os donos do poder do seu tempo. Ele tinha conhecimento da filosofia, do modo de pensar dos seus conterrâneos. Ele sabia com quem estava estava tratando. Conhecia seus costumes e tinha informações sobre seus interesses privados.

Resumindo, Ele conhecia as pessoas que queria evangelizar, depois edificar e, por fim, discipular.Discipulado não é a reproduzir modelos exatos daquilo que outras cristãs e ou cristãos foram no passado. Não! Discipulado é a resposta ao chamado de Jesus. Todas as pessoas que reagem ao chamado de Cristo amadurecem livremente, naquele tempo certíssimo que o Espírito Santo vai promovendo. Sejamos flexíveis para as mudanças necessárias e as vezes até dolorosas que já nos estão pensadas pelo Pai.

Enquanto elas vão acontecendo de forma paulatina (Sim, porque Deus não tem pressa), cresçamos na sensibilidade que nos ajuda a captar os recados que Deus vai emitindo. Se Ele nos abrir portas, cruzemo-las, sempre com os ouvidos abertos para a “voz” da Escritura; para a “voz” das irmãs e dos irmãos da Paróquia; para a “voz” da História da Igreja e isso, sempre debaixo do senhorio de Jesus Cristo. Eis aí o “caminho das pedras” para o Reino de Deus.

Avaliando nossa Liderança

Gosto da Carta que Paulo escrita aos Filipenses. Folheando-a, deparei-me com esta boa palavra: “Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.” Vejam, na Igreja de Cristo somos todos discípulos uns dos outros; somos todos chamados a exercer o ministério do discipulado; somos todos desafiados a buscar relacionamentos horizontais e mútuos entre os semelhantes. Tenho para mim que posturas desse nível certamente desembocarão numa sempre maior aproximação do ato de se ser mais e mais “espelho de Jesus” aqui na terra.

Ser como Cristo foi é um sonho; é um processo que vai se dando em patamares inter-pessoais que, cedo ou tarde, poderão ser claramente percebidos onde houver o sincero compartilhar entre os crentes. Claro que há quem experimente fracassos, tentações e depressões enquanto tenta concretizar esse sonho. Essa é a hora de se animar; de se exortar; de se repreender; de se consolar e até de se realizar a edificação mútua, sempre a partir do diálogo em duas vias: ouvir e dizer, ouvir de novo e continuar dizendo.

Para que a idéia do discipulado seja implementada a contento, necessitamos de uma sincera avaliação da liderança que exercemos. A verdadeira liderança não se radica somente numa preparação acadêmica. Ela também não se faz sentir, a partir duma personalidade especial ou de alguém que execute ações exemplares. Não! A função da liderança é ficar atenta à evolção das pessoas que, numa caminhada conjunta, buscam o alvo que conduz ao discipulado.

Como articular isso? Ora, brindando orientação; fomentando a descoberta dos potenciais e, ao mesmo tempo, exercendo-os; sensibilizando a mente e o coração das pessoas para que se voltem às necessidades dos indivíduos próximos; promovendo confiança na delegação de responsabilidades e assim por diante.Nos grupos onde vi liderança cristã, sempre havia atmosfera afetiva. Era nessa “oficina” que se dava vazão e se repartia as vivências do dia a dia. Meu pono de vista é claro: a liderança oriúnda de Cristo só é exemplar quando se submete ao discipulado e, junto, reconhece a pessoa de Jesus como único modelo verdadeiro em quem se espelhar, se assemelhar.

Amadurecendo na Identidade Cristã

Toda vez que ouço pessoas se referindo à pessoa do discípulo, me pergunto: Será que o discipulado está sendo entendido como comprometimento no serviço do Reino? Jesus serviu e chamou os discípulos para servir. Enquanto Ele os servia, eles iam crescendo, aprendendo, se envolvendo, abrindo as vias para o descobrimento e o discernimento dos dons que o Criador já lhes presenteara para a sua felicidade integral. Sinceramente, não consigo imaginar serviço cristão sem um “caminhar engajado” no discipulado. E o que é discipulado senão um amadurecer constante na identidade cristã? Ora, este amadurecimento do qual falo agora precisa acontecer antes de qualquer ação que tenha há ver com serviço.Enquanto a maturidade cristã vai se desenvolvendo em nós é que vamos descobrindo e praticando os dons espirituais.

Uma vez inseridos inseridos na proposta de crescimento contínuo da fé, iremos perceber a melhor forma de canalizamos nossos dons a serviço dos outros. Jesus nos convida para andarmos com Ele. Se aceitarmos este convite, Ele nos sensibiliza para as necessidades das pessoas que esão próximas. Por isso, dirijamo-nos ao serviço, à cruz. Alguém está a fim?

11.6.12

Apostolicum Symbolum

- Ô mãe! O que é um “credo”?

- Deixa-me pensar... Um “credo” é o resumo daquilo que a cristandade crê – filho.

- Então minha “profe” estava certa. Ela disse que o “credo” era a tentativa de condensar a Palavra de Deus.

- Certo Ju! Mais do que isso, o “credo” também é uma meditação; uma oração.

- Legal. Mãe! Eu vou visitar a vovó.

- Manda um abração pra ela Juliano!

D. Alice ficou curiosa. Descobriu que temos os Credos: Apostólico, Niceno e Atanasiano; que antes do Credo Apostólico só havia as Confissões de Fé da época dos apóstolos (Tu és o Filho do Deus vivo e Jesus Cristo é Senhor); que, com o tempo, se ampliaram estas breves Confissões. Eureca! Seu pastor deveria saber mais detalhes...

- Então pastor! O senhor pode dizer algo mais?

- Sim Alice! Nos anos 300 d.C o Bispo Hipólito de Roma fez nascer o “apostolicum symbolum”, o Credo no espírito dos apóstolos. Esta Formulação de Fé foi ótima para se combater as “falsas doutrinas” que surgiam.  

- Interessante pastor!

- Pois é! Entre 318 e 451 d.C. também havia dúvidas no ar. Perguntava-se se Jesus era divino; se um carpinteiro podia fazer milagres e experimentar ressurreição; se Jesus tinha sido criado ou era igual a Deus. Não deu outra: Nasceu o Credo de Nicéia. Nele se diz: “Deus de Deus; Luz da Luz; gerado, não criado; desceu do céu; se encarnou;” etc. Enfim, trata-se de um Credo comum a toda cristandade!

- Pastor, e sobre o Atanasiano?!

- Este Credo é menor. É praticamente uma cópia do Niceno. O fato é que hoje temos estes três Credos, a Confissão de Augsburgo (1530) e os Catecismos Maior e Menor de Martin Luther.

- Muito obrigada pastor! Mande um abração para sua esposa. Ontem encontramo-nos na calçada. Que calor horrível...

SEJA FEITA A TUA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Mateus 6.10b

“Pai nosso que estás nos Céus!” Quando oramos assim, relacionamo-nos corretamente com Deus. É dessa forma explícita que nos dirigimos a Deus. É um dom, uma graça podermos orar desse jeito.

“Santificado seja o Teu Nome!” Nesse oprimeiro pedido, desejamos, pedimos que o Nome de Deus seja santificado. Agindo dessa forma, honramos a Deus, desejando, de todo coração, que Ele permaneça do nosso lado a Deus e que, assim, experimentemos a salvação, dia após dia.

“Venha o Teu Reino.” Esse é o nosso segundo pedido. No momento em que o oramos, soltamos o nosso pensamento e passamos a pensar “grande”. Olhamos para o futuro e ele se mostra grandioso. Essa é uma promessa da qual queremos e podemos nos apossar. 

Às vezes, uma vida inteira não é suficiente para medir a profundidade destas Palavras e isso, mesmo com muito estudo. Mesmo que entendamos pouco do assunto, temos o direito de dizê-las. Foi Jesus mesmo quem pediu que a orássemos quando entendêssemos o porquê da nossa oração. É com o exercício desta oração que nos vem à bênção. As pessoas que oram esta oração experimentarão boas consequências para suas vidas, disso podemos ter certeza.

Como orar esta Terceira Petição: “Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu”? Respondo esta pergunta colocando, de forma muito clara, que esta Petição depende da entonação que usamos na nossa voz.

“Seja feita a Tua vontade...” Ao falarmos esta oração deveria estar claro que não é a minha vontade que eu quero que aconteça; que não é a nossa vontade que deve vigorar, mas é a vontade de Deus que deve acontecer. Não é muito fácil de identificar com clareza se a vontade de Deus acontece ou não acontece. Se fizermos desta palavra do “Pai Nosso” a nossa palavra, então o nosso “ponto de vista” se mostra curto. Ora, se nossa visão se mostra desprovida de “longo alcance”, ficam evidentes que são os nossos desejos que estão na pauta.  

Se orarmos assim, desse jeito, com o foco em nós, então fechamos as possibilidades da ação de Deus. Se orarmos com vigor, pedindo que a “vontade de Deus seja feita” e, do nosso “ponto de vista” ela não acontece, sentimo-nos como que tomados pelo sentimento de que a referida Petição não aconteceu de fato conosco. É rápido e fácil se dizer: “Seja feita a Tua vontade!” O problema são as consequências que advém daí. Fazer esta oração com consciência e entender, verdadeiramente, o que se está orando não é algo tão simples assim como parece.

Não devemos ser egoístas e egocêntricos ao orarmos a Oração que o Senhor nos ensinou. Claro que existem as pessoas que sempre só pensam em si quando oram. Infelizmente as pessoas que ainda não se deram conta da grandeza da vida, continuam caminhando à nossa volta. O homem e a mulher dependem dos relacionamentos ao longo de toda sua vida. Quem não entende isso deve ter enormes dificuldades para entender o caminho que leva à compreensão desta Petição: “Seja feita a Tua vontade!”

Vou ser sincero: Não é fácil abster-se de nós mesmos e, junto, aceitarmos que a vida não é como imaginamos que ela deveria ser. Nós desejamos uma vida sem sofrimento. Queremos ser pessoas saudáveis e sempre que possível dizemos: - O que vale é ter saúde, o resto a gente corre atrás! Pelo amor de Deus - não queremos adoecer gravemente; não queremos sofrer limitações físicas; não queremos experimentar qualquer tipo de dor. Daí nós lutamos para não envelhecermos. Claro que temos os nossos desejos e os nossos sonhos a respeito da vida. O problema é que esta vida se mostra muito difícil de ser vivida! Todo mundo sabe que este jeito de pensar é bem humano. Quem é que não almeja uma vida repleta de felicidade? Quando os nossos sonhos se quebram, quando os nossos grandes desejos insistem em permanecer insatisfeitos, quando perdemos coisas caras na vida ao invés de ganharmos... Aí fica verdadeiramente complicado!

“Eu queria tanto aproveitar a liberdade na aposentadoria, curtir os netos, trabalhar no jardim, mas agora eu ainda só me ocupo com meu câncer.” “Eu sempre sonhei em viver junto com minha esposa, mas o nosso casamento não durou.” “Eu esperei tanto pelo momento de receber uma boa aposentadoria, mas o Governo tira tudo de mim.” Sério, perguntemo-nos: - Como é que pessoas que sofrem desse jeito conseguem orar “Seja feita a Tua vontade”?

Certamente que não podemos interpretar todas estas situações difíceis e complicadas como sendo da “vontade de Deus”. É um tanto barato dizer-se: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus!” Se agíssemos assim estaríamos dando consolo a partir de bases cínicas. Tais consolos são fruto de uma imagem assustadora que se tem de Deus. Que tipo de Deus seria esse que tem vontade de matar pessoas com doenças; que tem interesse de retirar a felicidade das pessoas; de quebrar matrimônios? Deus não se agrada nem um pouco com a morte que acontece nas nossas estradas – por exemplo. Eu creio que muitas coisas que acontecem à nossa volta não são da vontade de Deus. 

“Seja feita a Tua vontade!” Esse pedido tem que soar de outro jeito, se é conforto que se almeja. Essa Petição se torna confortante quando quem está no meio da angústia, no vale escuro, se dá conta de que Deus continua do seu lado, segurando a sua mão, apesar da dor, do medo e do sofrimento que experimenta.  É neste sentido que eu também posso orar como Jesus orou no Jardim do Getsêmani, um pouco antes de Sua prisão. Em nenhum momento da nossa vida Jesus chegou tão perto de nós, das nossas dúvidas, das nossas preocupações, quanto naquele dia. Lá naquele momento angustiante Jesus nos apontou o caminho para a experimentação do conforto. Ora, este conforto não se encontra no começo da história. No começo está o temor, o tremor e o pedido de que, se possível, Ele seja poupado daquele sofrimento. Somente no final de suas lutas é que Jesus, nosso irmão no sofrimento, consegue orar a oração que Ele mesmo ensinou aos seus discípulos: “Não a Minha vontade, mas seja feita a Tua vontade.” Gente, este pedido depende do tom como é feito.

Há outra maneira de fazê-lo: “Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu.” Para as pessoas que aprenderam a orar o Pai Nosso sem fechar os olhos para os sofrimentos que nos rodeiam, esse novo tom não é estranho. O desejo urgente de que a “paz física e espiritual” se instale pode, finalmente, acontecer. Que Deus não descanse até que a Sua vontade aconteça em todos os níveis; até o dia em que justiça beije a paz; até o dia em que, conforme se lê no Salmo, a terra se deixe banhar pela justiça e que as armas sejam reforjadas em arados. 

A oração urgente, aquela que brota da compaixão para com os inocentes que sofrem neste mundo, não permite que o nosso Pai do Céu descanse nos céus. Nós também podemos praticar esta oração. Que “Seja feita a Tua vontade”. Quem faz esta Petição só pode esperar que a Vontade de Deus seja concretizada “no céu e na terra”. Essa pessoa, agradecida, perceberá a vontade de Deus já acontecendo aqui e agora. Ela mesma se perguntará pelas medidas em que a vontade de Deus já acontece em sua vida.

Os exemplos brotam dentro do próprio cristianismo. Nele se percebe testemunhos que fortalecem a fé cristã da vontade de Deus que já acontece. A vontade de Deus já aconteceu no passado lá onde o coração das pessoas se deixou mover pelo amor; lá onde professores se doaram pelos seus alunos, ensinando-os a orar confiantes e, junto, oportunizando um relacionamento com Deus de fato e de verdade; lá onde se ama o próximo como a si mesmo; lá onde se exerce o cuidado com idosos e doentes, com pessoas “quebradas” que vivem no limiar da morte.

Mesmo na Comunidade, a vontade de Deus já acontece aqui e agora. Sua vontade acontece quando as pessoas se confortam umas às outras; quando elas se reforçam mutuamente e, em fé, oram umas pelas outras. O milagre acontece quando alguém perdoa e se reconcilia; quando as pessoas dialogam e se entendem, apesar de suas diferenças. Finalmente, a vontade de Deus também acontece quando a Criação de Deus é tratada com estima, com o respeito e com apreço; quando as pessoas se engajam com determinação para fazer valer a preservação do Jardim de Deus. 

“Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu.” Orar assim também significa viver na esperança de um bom fim para a nossa história, história que já viemos trabalhando há dois mil anos. Fiquemos espertos: Por mais que nos frustremos com a vontade de Deus, Ele, o nosso Pai do Céu, ainda está longe de experimentar o limite de Suas forças. Deus tem clareza dos caminhos que quer percorrer. Concluindo este estudo: As nossas provações e tribulações terão um fim. Na história de José que se lê Gênesis 50.20 está escrito: “Vocês praticaram o mal contra mim, mas Deus converteu aquele mal em bem, a favor de mim”.  Que Deus, que é Maior do que nossa razão guarde os nossos corações e as nossas mentes em Cristo Jesus. Amém!

OLHA SÓ!