Zacarias, o pai de João Batista, escreveu um cântico onde apontou para a Vinda do Salvador: “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, pelo qual nos visita o Astro das alturas, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, para guiar nossos passos no caminho da paz.” (Lucas 1.78-79)
Alguns pastores que pastoreavam seu rebanho nos campos de Belém receberam a visita de um anjo que lhes disse: “Não tenhais medo! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi.” (Lucas 2.10-11)
Noutro momento é uma multidão de anjos do exército celeste que louva a Deus dizendo: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens (e às mulheres) que Ele ama.” (Lucas 2.14)
O que é paz? Ora a paz é um desejo que perpassa os séculos. Em todos os tempos se buscou e continua se buscando a paz pessoal, a paz para o mundo no qual vivemos. Sempre se carrega a impressão de que, finalmente, a paz chegou para ficar. Mas sempre de novo nos decepcionamos com esse sentimento. Parece mentira, mas nunca conseguimos encontrar a paz verdadeira e duradoura. Então, onde está esta paz? Quando vem esta paz? Como encontraremos esta paz? Tais perguntas continuam movendo as pessoas no século 21.
Paz é mais! É harmonia entre o Criador e suas criaturas, é a comunhão entre as pessoas e seu Deus. Esta harmonia acontece nas relações das pessoas entre si, das pessoas com a natureza. Pena que toda esta idéia esteja deturpada. Com o tempo, Deus passou a ser estranho para muitas pessoas. A própria Bíblia testemunha que as pessoas “desaprenderam o caminho da paz. Que elas não têm respeito por Deus.” (Romanos 3.17-18) Isso tudo acaba sendo muito trágico. Nos últimos tempos, antes da segunda vinda de Jesus Cristo, com poder e glória, esse desejo por paz vai ser muito forte nas pessoas: “Quando elas disserem: paz e segurança! Então, lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores sobre a mulher grávida; e não poderão escapar.” (1 Tessalonicenses 5.3) Coisa boa! Aquilo que as pessoas não conseguem pela própria força, Deus consegue: a Paz!
Busque Saber
15.12.09
14.12.09
Não como queria!
Ontem foi manhazinha!
Ouvi cânticos...
Andei com românticos...
E tu sempre comigo – lidinha.
É sério!
Pensei que conseguiria...
Daí lutei com maestria.
Lá se foi mais um dia!
E eu aqui,
Não bem como queria!
9.12.09
Família Pastoral e ministerial!
Como jovem eu gostava de ajudar um tio, que era ferreiro e fabricava ferramentas para o trabalho na lavoura. Um pedaço de ferro ou de aço era colocado nas brasas até ficar incandescente... depois era martelado e batido até pegar a forma da ferramenta desejada... mas, até que a ferramenta ficava pronta, ela precisava voltar várias vezes ao braseiro.
Nossa convenção aqui em Curitiba é parecida com tal ferraria. Os assuntos aqui tratados foram quentes e nós, obreiros e responsáveis pelos serviços de formação e administração na IECLB, fomos o aço que é colocado no braseiro, e fomos martelados e malhados para pegar a forma que Deus quer ver em seus ministros...
A Dorothea colocou – com grande sabedoria e empatia - diante de todos nós – a história, as alegrias e as dores da Família Ministerial. O que vamos fazer agora com esta palestra, que mexeu conosco, que despertou concordância e certamente também discordância?
Permitam sublinhar e acrescentar alguns tópicos ao que ouvimos: Desde o tempo da Reforma, a família pastoral, ou ministerial, como se prefere hoje, ocupou um lugar de destaque nas comunidades evangélicas e sempre tinha um status especial e diferenciado. O pastor, quase sempre, era muito respeitado e em certo sentido temido – muitos membros ficavam inibidos diante dele e bancavam ser, o que na verdade não eram.
Uma pequena história pessoal: Em princípios de 1962, eu assumi meu primeiro pastorado na paróquia de Santa Isabel, minha terra natal. Präses Stoer, presidente do Sínodo, reuniu, antes de minha designação, os membros da Comunidade e lhes explicou, que eles receberiam agora um filho da comunidade como seu pastor e acentuou: Vocês devem amá-lo e respeitá-lo como o vosso pastor. Ele agora não é mais o filho, sobrinho, primo e amigo de vocês – mas o pastor de vocês”.
Quando cheguei com minha mudança, fui calorosamente recebido como pastor...mas era muito estranho, ser chamado “Herr Pfarrer” – Sr. Pastor por meus tios, primos e ex-colegas de escola. Quando fui celebrar o primeiro culto numa Comunidade filial, na Segunda Linha, montando o meu “Baio”, lembrei que há 14 anos passados, eu ganhava um dinheirinho de bolso para ficar de guarda, no final da tarde dos Domingos em que havia culto na 2ª Linha.
Quando o pastor aparecia lá na curva dos Rassweiler, eu saía em disparada para a venda, onde os.homens jogavam cartas e onde circulava um copo com uma cachacinha, e gritava: “Der Pfarra kemmt” = 0 pastor vem... O copo com a caninha desaparecia e as cartas eram escondidas... sentavam em cima delas, até que pastor passara. Nesse dia, quando voltei no fim da tarde, e cheguei lá na curva dos Rassweiler .. vi meu sobrinho sair em disparada... Quando cheguei na venda, saltei do cavalo, entrei e fui cumprimentar os homens sentados ao redor da mesa ... eles fizeram uma pequena menção de levantar... mas não podiam... porque estavam sentados em cima de suas cartas. Rindo, eu segurei a mão de meu tio e padrinho e disse: Vor dem pastor muss man richtig aufstehn, Onkel Betti... e o puxei para cima, tomei suas cartas e joguei uma rodada com eles... Assim, aos poucos, a distância entre membros e pastores diminuiu e foi superada. Experiências semelhantes, outros colegas também tiveram.
Hoje, eu gostaria de perguntar: Será que essa superação – duma certa distância entre pastor e membros – foi bom para os serviços pastorais? Certamente, foi necessário libertar o pastor, a Frau Pastor e os filhos do casal dum status que os forçava a aparentar algo, que na realidade eles não eram e não queriam ser. Mas no decorrer dos últimos anos aconteceu um nivelamento entre pastores e membros que, em meu entender, prejudicou os serviços pastorais, porque afetou a função pastoral, o específico do pastor.
Um certo distanciamento entre pastor e membro, como entre médico e paciente, professor e aluno é de vital importância, pois o ser humano necessita de um parâmetro de vida. É bom lembrar que num passado, um pouco mais distante, o respeito ao pastor tinha suas raízes na sua função e não na sua pessoa. Exemplifico: Quando, como menino, perguntei minha avó por que a gente tinha que usar sapatos e a melhor roupa para ir a igreja, ela respondeu: porque lá vamos nos encontrar com Deus! Como na época só acontecia um culto por mês, ninguém faltava. Lá ao redor da igreja, antes do culto, todos se cumprimentavam e conversavam animadamente.
Cinco minutos antes de o culto iniciar tocava o sino. Todos tiravam o chapéu e entravam na igreja com respeito e em profundo silêncio, faziam sua oração e sentavam. Quando o pastor, paramentado, entrava na igreja e se dirigia ao altar, o sino tocava novamente e toda a comunidade se colocava de pé.
No culto vamos nos encontrar com Deus! Essa frase é uma confissão de fé. Nossos ancestrais sabiam o que eles estavam dizendo e fazendo quando iam ao culto. O encontro com Deus na igreja era um momento muito dinâmico e o povo experimentava verdadeiro recondicionamento nesse encontro. No “Gottesdienst” o pastor tinha uma dupla função: ele era porta voz de Deus na pregação, na absolvição dos pecados e na Bênção. E era o porta voz da comunidade na confissão dos pecados e nas intercessões. O pastor estava ciente e consciente da grande responsabilidade que lhe cabia nesse encontro com Deus e a comunidade também o sabia. O Pastor se dirigia ao altar e ao púlpito com temor e tremor porque neste encontro ele era porta voz de Deus, e falava em nome de Deus.
A palavra Gottesdienst sempre era entendida em sentido duplo: Deus nos serve através do perdão dos pecados, através da pregação de sua palavra e da Bênção e a comunidade serve a Deus com seu canto de louvor e adoração, através da confissão de sua fé e da oração. O culto, assim entendido e celebrado, alimentou os nossos ancestrais luteranos durante mais de cem anos. Não havia outros serviços e as comunidades só cresciam, mesmo que restrito aos descendentes de alemães. Pergunto: Será que o culto, de nossos dias, ainda é sentido e experimentado como um Encontro com Deus?
A igreja ainda representa um lugar santo e sagrado, diante da qual, em tempos passados, as pessoas tiravam o chapéu ao passarem por ela? Nós pastores ainda estamos cientes e conscientes que no culto somos porta voz de Deus quando pregamos, anunciamos perdão e colocamos a Bênção sobre a Comunidade?
Gostaria de lembrar que colocar a Bênção é muito mais que desejar a Bênção!!! Veja Números 6,23 -27. O culto assim entendido é celebração genuinamente luterana. Tenho a impressão que a reforma litúrgica dos últimos tempos, esvaziou a sobriedade e dinamicidade do nosso culto e tornou os membros inseguros... muitos de nossos membros, quando participam de cultos em outros lugares, não reconhecem mais sua Igreja. Pergunto: Será que muitas das crises vividas hoje por pastores e suas famílias não estão relacionadas com certo esvaziamento da função pastoral?
Esse esvaziamento do “próprium” da função pastoral tem sua origem em uma serie de fatores. Cito alguns: Nossos pastores estão sobrecarregados com programas e programações. Vivem correndo para os mais diferentes grupos de trabalho nas comunidades e nos Sínodos.
1) A conseqüência desse corre...corre é que eles não tem mais tempo para ler, meditar, orar e preparar uma boa prédica, para então subir no púlpito como porta voz de Deus.
2) A falta de tempo para o Studier= e Betzimmer, - A sala de estudo e oração – como era entendido o escritório do pastor, gera muitos conflitos, por exemplo: O pastor que precisa pregar e ensinar a palavra de Deus, e não tem tempo para se preparar, torna-se superficial e no decorrer do tempo perde a sua auto-estima e autoconfiança, e, torna-se um barato mestre de cerimônias.
3) Nesse contexto também nossas conferências de obreiros precisam ser avaliadas. Nessas conferências há espaço e tempo para reflexão teológica com exegese e temas atuais? Ou gastamos esse tempo precioso com assuntos de agenda?
4) É preciso acentuar ainda, que todo pastor e todos os obreiros dos demais ministérios ordenados, para poderem servir bem as comunidades a eles confiadas, precisam de muita autoconfiança e auto-estima. Isso não num sentido de auto-elevação e autoritarismo, mas a partir da função e autoridade que lhes foram conferidas na sua ordenação.
A Dorothea nos forneceu, em sua palestra, muitos aspectos das dores que atormentam nossos obreiros e suas famílias e indicou possíveis saídas.
Eu gostaria de propor agora, que à partir dessa convenção, sejam tomadas algumas medidas bem concretas, precisamos ir fundo e analisar: por que há tanto descontentamento e tanta frustração entre obreiros da IECLB. Arrisco algumas sugestões, porque somos luteranos e temos o direito de protestar:
1) Os obreiros da IECLB precisam ser mais valorizados à partir da função para a qual foram ordenados – eles não podem continuar sendo tratados como meros empregados ou funcionários, cujo trabalho é medido pela produção.
2) Precisamos ouvir – sem rancor e desarmado – o clamor de obreiros, que acusam nossa IECLB de estar se transformando numa Empresa e que nela reina “um espírito empresarial”!
3) Um dos grandes culpados, que estão gerando esse clima não bom na IECLB, é “A avaliação dos obreiros”.
4) A maneira como a avaliação é realizada não condiz com a dignidade ministerial.
5) Já o contrato de trabalho para um período de quatro anos cerceia a dignidade ministerial e transforma o ministro em funcionário.
6) Por isso sou de opinião que todo o sistema de avaliação e “contratação” dos obreiros deve ser revisto e encontrada outra forma de acompanhamento dos mesmos.
7) Obreiros cientes e conscientes de sua função não precisam ser avaliados, mas visitados por pessoas capacitadas para escutá-los, consolá-los, aconselhá-los e quando necessário também admoestá-los e mesmo repreende-los.
8) Será que há disposição para tal mudança? E será que temos pessoas capacitadas para esse serviço?
9) Imagino que sim. Além dos Pastores Sinodais, aos quais cabe esse serviço em primeiro lugar, podem ser convocados obreiros aposentados e outras pessoas com tato e experiência em aconselhamento.
10) Em meu entender, também os obreiros aposentados precisam ser mais valorizados e suas experiências mais usadas.
11) Outro tópico importante, que precisa ser tratado com muito carinho: Nossas famílias de obreiros, de todos os ministérios ordenados, precisam saber e sentir que elas são importantes para a nossa IECLB, que elas podem contar com sua Igreja em momentos dor, doença e crise. Em todos os Sínodos deveriam existir equipes de profissionais da saúde física e mental, credenciadas pelas respectivas instâncias da Igreja, para atender nossas famílias ministeriais.
Por fim, gostaria de dizer ainda: Sejam criativos, estimados colegas, aprendam a discernir o central e essencial nos serviços ministeriais. Se dediquem a esses serviços com alegria e entusiasmo e tenham coragem para dizer não aos serviços, que não são necessariamente atribuições do obreiro. Se assim procederem, com certeza, também vão encontrar espaço e tempo para vocês mesmo e para as famílias de vocês.
Que assim seja.
Timbó, outubro de 2009
Nelso Weingärtner
Currais Eclesiásticos!
Você já deve ter ouvido falar em “currais eleitorais”. Eles eram e ainda são recintos, espaços citadinos, que servem para hospedar, alimentar e recrear o eleitorado oriundo do campo. Este povo sempre de novo é trazido por facções políticas lá das mais remotas áreas onde vivem. Uma vez alojados, os eleitores são mantidos incomunicáveis até a hora da votação. Somente quando é chegado o “kairós” é que eles podem abandonar os locais cheios de mordomias onde se encontram “encurralados”. Quando este “momento certo” finalmente acontece, eles são acompanhados com a cédula que colocarão no envelope recebido na mesa eleitoral. Tais práticas ferem a nossa cidadania, não resta dúvida.
Será que existe isso – currais eclesiásticos? Pois ouso dizer que sim. Alguns “ministros” agem, com ou sem “pedigree” como “coronéis” dentro da Igreja, dentro desse espaço livre criado pelo Espírito Santo; constroem “cercas” para “proteger” os membros de sua denominação; fazem de tudo por ela. Aparentemente são excelentes pastores. E assim vão se “vendendo” como os únicos “arautos da verdade”. Demonizam toda e qualquer idéia que não passa pelos seus “crivos” e chamam de “anátemas” os que pensam um pouco diferente daquilo que é senso comum em suas cabeças. Atrás desse comportamento existe a sede de poder e, por incrível que pareça, algumas “ovelhas” gostam disso e seguem vivendo suas vidas acriticamente, sem crescimento, sem a alegria da descoberta.
Onde foi que esses “coronéis cristãos” foram forjados? Tenho quase certeza que não o foram nas Faculdades de Teologia, mas onde então? Dentro de pseudo-movimentos? Acho que vou ter que continuar pensando neste assunto...
Será que existe isso – currais eclesiásticos? Pois ouso dizer que sim. Alguns “ministros” agem, com ou sem “pedigree” como “coronéis” dentro da Igreja, dentro desse espaço livre criado pelo Espírito Santo; constroem “cercas” para “proteger” os membros de sua denominação; fazem de tudo por ela. Aparentemente são excelentes pastores. E assim vão se “vendendo” como os únicos “arautos da verdade”. Demonizam toda e qualquer idéia que não passa pelos seus “crivos” e chamam de “anátemas” os que pensam um pouco diferente daquilo que é senso comum em suas cabeças. Atrás desse comportamento existe a sede de poder e, por incrível que pareça, algumas “ovelhas” gostam disso e seguem vivendo suas vidas acriticamente, sem crescimento, sem a alegria da descoberta.
Onde foi que esses “coronéis cristãos” foram forjados? Tenho quase certeza que não o foram nas Faculdades de Teologia, mas onde então? Dentro de pseudo-movimentos? Acho que vou ter que continuar pensando neste assunto...
8.12.09
Alegria no Natal!
Sempre de novo, nestes tempos de Advento, o assunto “alegria” retorna à pauta da Igreja. O Natal é entendido como a Festa do Amor, Festa da Alegria. Já repararam que nos dias que antecedem o Natal os amigos, os colegas de trabalho desejam-se “Feliz Natal”? Quem vai às lojas comprar presentes ouve músicas natalinas e os balconistas também desejam-nos “Boas Festas”. Agora, porque mesmo “alegrar-se” com o Natal? Por causa do feriado? Pelo fato de estarmos junto aos familiares? Por que recebemos presentes? Eu diria que o Natal tem a ver com tudo isso sim, mas muito mais com a “alegria” e sabem por quê? Porque na história bíblica a “alegria” é o assunto.
Reflitamos sobre o motivo desta “alegria”. O nome grego “Cristo” é traduzido para o hebraico como “Messias”; “Prometido” em Português. Os judeus liam muito o AT. Eles esperavam um “Messias” que viesse libertá-los dos inimigos e, ao mesmo tempo, reconstruir o Reino do rei Davi do qual só tinham ficado as lembranças. Ao lado desta esperança terrena e política eles também esperavam um grande líder carismático que, além de salvar o povo israelita, iria construir um Reino de Paz duradoura.
A criança que nasce em Belém é esse Salvador que, mais tarde, perecerá na cruz, carregando as culpas de todas as pessoas sobre os seus ombros. Coisa boa, Jesus não fica dentro do túmulo. Ele ressuscita e hoje nós O esperamos, nós cremos que Ele virá novamente até nós para construir um Reino de Paz, Amor, Justiça e Perdão. Neste Reino, neste novo céu e nesta nova terra, não existirá mais morte, sofrimento e injustiça. Diante desta realidade, me pergunto: Como é que no Natal alguns de nós só conseguem falar e refletir sobre Papai Noel e ou romantizar o nascimento do menininho na manjedoura? Cadê o assunto “alegria”?
Lucas, o autor da história do Natal, é repetitivo. Ele sempre de novo sublinha que as pessoas podem encontrar-se com o Salvador; “alegrar-se” com este encontro. A “alegria” que a salvação, que o encontro com Jesus promove é o “fio vermelho” que perpassa todo o Evangelho de Lucas. Até na última frase do seu Evangelho ele comenta de pessoas que “experimentaram” a salvação promovida por Jesus Cristo. Elas louvavam a Deus por causa disso. Hoje, aqui e ali, ainda se ouve pessoas expressando essa “alegria” por causa da salvação experimentada. Só quem já fez a experiência de viver a salvação em Jesus Cristo é que pode ter a verdadeira “alegria” para festejar este Natal como ele verdadeiramente deve ser festejado.
2.12.09
Luzes, luzes, luzes!
3. Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, 4. fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações, 5. Pela vossa cooperação no Evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. 7. Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo. 8. Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus. 9. E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, 10. para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, 11. cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.
Os apóstolos, os profetas e os membros mais comuns da Comunidade de Filipos (pessoas como nós) carregavam um segredo em suas vidas: suas existências estavam marcadas por certo “brilho”. Paulo está atrás das grades, algemado, guardado pela Guarda Pretoriana (Espécie de BOPE dos dias de hoje) e rodeado de inimigos numa cela romana. De lá ele consegue observar a luz, a vida acontecendo em Filipos e isto, de dentro da masmorra; em meio à escuridão; experimentando a proximidade eminente da morte. É deste lugar que ele consegue escrever estas palavras tão boas para a Comunidade.
Paulo agradece pelo engajamento comunitário diário dos filipenses que, dia após dia, se alicerçam no Evangelho. A Boa Nova que ele mesmo “plantou” na cabeça de algumas mulheres que oravam à beira de um rio vingou, criou raízes, ou seja: o sonho de Deus de reconquistar o mundo perdido se concretizava naquela Comunidade. Ditadores arrasam os países inimigos com suas botas, com suas armas e com seus soldados porque não têm amor pelo chão que conquistam. Da terra conquistada eles só querem sugar as riquezas. Foi isso, continua sendo isso, que o Inimigo Maior de Deus faz aqui neste mundo que, podem crer, “ainda é de Deus”. Paulo se alegra com os pequenos “sinais de vida” que acontecem na Comunidade Filipense e isso, em meio aos “sinais de morte” que a mesma experimenta.
São estes fatos que possibilitam a comunhão com aquela gente, sempre a partir do Espírito Santo. Sim, Paulo via aquele povo com os olhos de Jesus. Vai daí que a sua visão não estancava naquilo que se apresentava como pecaminoso; naquilo que se mostrava como obscurecido. Deus tinha vindo em Jesus Cristo ao mundo exatamente para aquele tipo de pessoas e elas estavam aproveitando aquele “presente da graça.” O conceito que vamos formar das pessoas que estão à nossa volta sempre dependerá do nosso ponto de vista: Se nos olharmos nos olhos e nos entendermos como pessoas presenteadas com um tesouro de valor incalculável e isso, sem merecimento algum, precisaremos nos abraçar imediatamente – não nos resta alternativa. O nosso abraço vai demonstrar que estamos encharcados de esperança porque seremos sabedores de que Deus iniciou “uma boa obra em nós” e que Ele, com certeza, a levará a cabo.
Vai vir o dia, “o dia de Jesus Cristo”. Nesta data que está por vir tudo se completará diante dos nossos olhos; todas as nossas perguntas a respeito da vida eterna, do perdão dos nossos pecados, da nossa ressurreição, tudo vai ter respostas. Por enquanto a humanidade ainda se encontra sob uma “névoa de dúvidas.” Esta névoa continua agindo sobre as pessoas no sentido de encobrir o amor de Deus que insiste em raiar sobre elas. Ela, a tal “névoa”, também obscurece toda e qualquer réstia de esperança na qual um indivíduo possa se segurar e ele, em conseqüência disso, vai pensando que a vida se resume mesmo num “andar no escuro”. O começo da virada deste “jogo” já começou. Paulo pregou o Evangelho e os filipenses reagiram ao mesmo e isto já é motivo para o Paulo festejar, soltar foguetes...
Às vezes me paro a pensar: como é pequena a nossa confiança em Deus, mesmo já tendo experimentado da “doçura” do Evangelho; como é tênue a nossa esperança na Sua cura; como grassa tristeza e desencanto no nosso meio, a ponto de, muitas vezes, pensarmos que estamos no “fundo do poço”. Gente! Somos filhas e filhos de Deus que nunca nos abandonará; somos parte da Sua família. Apossemo-nos dessa informação de uma vez por todas?
Jesus vive. Nós vivemos porque Deus estendeu a Sua mão sobre nós. Não podemos largar Sua mão de jeito nenhum. Na família de Deus todos vêm de baixo, todos são diferentes e todos só fazem parte do Rebanho de Deus, única e exclusivamente, por causa do sangue de Jesus. Quando Paulo escreve que sua “testemunha é Deus da saudade que tem de todos os filipenses” ele está querendo dizer que seu coração está aquecido para com eles daquele calor do amor que Deus plantou dentro dele mesmo. Se eu sei que somos irmãs e irmãos em Cristo, eu sentirei saudades, ansiarei estar junto, lutarei pela experimentação da comunhão... Que Deus nos abençoe... Amém!
Oração: Senhor, há muitas luzes que brilham ao redor de mim neste tempo de Advento. Elas fortalecem minha saudade de Ti que vens iluminar minha vida. Os muitos bons desejos que me são presenteados neste tempo de Advento reforçam em mim o desejo de uma boa relação com meus semelhantes neste mundo. Tu Senhor és a Luz que não se apaga. Tu nos presenteias Comunidade e paz duradouras. Eu anseio chegar mais perto de Ti. Vem ao meu encontro... Pai Nosso que estás no céu...
25.11.09
Nós - Quase deuses!
O albatroz bem que poderia ser coroado o rei dos ares sobre as águas do mar. Suas asas, de uma ponta até a outra, medem dois metros. A sua orientação é impressionante. Diz-se que é mais eficaz que os satélites que orientam os aviões em pleno vôo. Estas aves têm uma capacidade de prever o tempo como ninguém. Nada as surpreende no mar. Elas sabem o que pode acontecer depois da calmaria. Chegam a detectar tempestades a trezentos quilômetros de distância. São fiéis às parceiras e ou parceiros por toda a vida. Sempre que se encontram, promovem uma dança sensual. Logo depois que nasce um filhote, trabalham duro durante cinco semanas para buscar alimento dos lugares mais distantes. Afirma-se que a soma destes alimentos daria para abastecer um mercado de peixes. Aqui, sugiro a leitura do Salmo 8...
8.1 - Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade. 8.2 - Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador. 8.3 - Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, 8.4 - que é o homem, que dele te lembres E o filho do homem, que o visites? 8.5 - Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste. 8.6 - Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: 8.7 - ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; 8.8 - as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares. 8.9 - Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!
Tal exemplo do mundo animal me deixa estupefato. Fico a pensar: se uma ave é capaz de fazer isso, imagine a mulher e o homem, a “coroa da criação” de Deus. Nós, mulheres e homens, fomos presenteados por Deus com qualidades bem mais complexas que as do albatroz. Diz a Bíblia que, no passado, a nossa relação com o Criador foi harmoniosa; que ela foi quebrada pelo primeiro casal que se desviou de Deus; que, de lá para cá, o ser humano tem procurado voltar a reviver este momento original, mas sem sucesso.
Que desgraça. As coisas foram se complicando e, ao invés de usarmos nossas complexas qualidades para articularmos obras de amor, preferimos depredar o mundo, a criação de Deus. Muitos cristãos que deveriam pôr a mão na massa contentam-se em estudar a Bíblia, dar testemunho com base no “um mais um”. E o mundo segue caminhando ladeira abaixo. Se nós não apontarmos o dedo, não nos engajarmos em propostas de melhoria, as pedras haverão de fazê-lo, como bem escreveu o evangelista Lucas (3.8). Prestem atenção neste filme que vamos projetar! Tocar o clipe do Michael Jackson... http://www.youtube.com/watch?v=oJEqJ9yALx8
O artista cantor recém falecido se pergunta: O que fizemos com o mundo? Cadê as mulheres e os homens para darem um basta nesta história? Estamos aqui. Você! Eu! Nós, assessorados pelo Filho de Deus que veio como homem a este mundo com o intuito de salvá-lo; de acabar com a desgraça reinante a nível familiar e comunitário. Quem crê em Jesus Cristo. Quem aceita o perdão que Ele alcança experimenta um novo nascimento, um renascimento espiritual que é promovido pelo Espírito Santo. Uma vez renascidos temos acesso a vida com Deus já aqui e agora. Temos interesse em fazer parte da nova criação que Deus já veio promover? Sim? Então levantemo-nos!
Somos mais do que pele e osso, mais do que um “saco de vermes” (só pra chamar Martin Luther na conversa). Temos mais valor do que os míseros R$ 4,00 que se apregoa por aí. Deus nos salvou. Ele nos chamou pelo nosso nome quando, através do profeta Isaías, disse “Tu és meu” (Isaías 43.1). Esse chamado para engajamento vale para todas as pessoas, também para quem está se sentindo à margem neste momento. Se reagirmos a este chamado, ahhhh, mas com certeza vai haver conseqüências. Nós mudaremos. A força da nossa mudança trazer incentivo a terceiros. Jogaremos como um time, o time de Deus, onde não se dá bola pra cor da pele, pra nacionalidade, pra religião e ou outros probleminhas a mais. Você não está a fim de escrever a história? De parar de sofrer a história - como dizia um amigo meu?
8.1 - Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade. 8.2 - Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador. 8.3 - Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, 8.4 - que é o homem, que dele te lembres E o filho do homem, que o visites? 8.5 - Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste. 8.6 - Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: 8.7 - ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; 8.8 - as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares. 8.9 - Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!
Tal exemplo do mundo animal me deixa estupefato. Fico a pensar: se uma ave é capaz de fazer isso, imagine a mulher e o homem, a “coroa da criação” de Deus. Nós, mulheres e homens, fomos presenteados por Deus com qualidades bem mais complexas que as do albatroz. Diz a Bíblia que, no passado, a nossa relação com o Criador foi harmoniosa; que ela foi quebrada pelo primeiro casal que se desviou de Deus; que, de lá para cá, o ser humano tem procurado voltar a reviver este momento original, mas sem sucesso.
Que desgraça. As coisas foram se complicando e, ao invés de usarmos nossas complexas qualidades para articularmos obras de amor, preferimos depredar o mundo, a criação de Deus. Muitos cristãos que deveriam pôr a mão na massa contentam-se em estudar a Bíblia, dar testemunho com base no “um mais um”. E o mundo segue caminhando ladeira abaixo. Se nós não apontarmos o dedo, não nos engajarmos em propostas de melhoria, as pedras haverão de fazê-lo, como bem escreveu o evangelista Lucas (3.8). Prestem atenção neste filme que vamos projetar! Tocar o clipe do Michael Jackson... http://www.youtube.com/watch?v=oJEqJ9yALx8
O artista cantor recém falecido se pergunta: O que fizemos com o mundo? Cadê as mulheres e os homens para darem um basta nesta história? Estamos aqui. Você! Eu! Nós, assessorados pelo Filho de Deus que veio como homem a este mundo com o intuito de salvá-lo; de acabar com a desgraça reinante a nível familiar e comunitário. Quem crê em Jesus Cristo. Quem aceita o perdão que Ele alcança experimenta um novo nascimento, um renascimento espiritual que é promovido pelo Espírito Santo. Uma vez renascidos temos acesso a vida com Deus já aqui e agora. Temos interesse em fazer parte da nova criação que Deus já veio promover? Sim? Então levantemo-nos!
Somos mais do que pele e osso, mais do que um “saco de vermes” (só pra chamar Martin Luther na conversa). Temos mais valor do que os míseros R$ 4,00 que se apregoa por aí. Deus nos salvou. Ele nos chamou pelo nosso nome quando, através do profeta Isaías, disse “Tu és meu” (Isaías 43.1). Esse chamado para engajamento vale para todas as pessoas, também para quem está se sentindo à margem neste momento. Se reagirmos a este chamado, ahhhh, mas com certeza vai haver conseqüências. Nós mudaremos. A força da nossa mudança trazer incentivo a terceiros. Jogaremos como um time, o time de Deus, onde não se dá bola pra cor da pele, pra nacionalidade, pra religião e ou outros probleminhas a mais. Você não está a fim de escrever a história? De parar de sofrer a história - como dizia um amigo meu?
20.11.09
O meu lar!
Intitulei minha prédica para este último domingo do ano eclesiástico, dia 22 de novembro de 2009 de “O meu lar”. Quem não gosta do seu lar? Quando volto de viagem, sempre venho contente porque vou poder sentar na minha cadeira preferida, tomar chimarrão na minha cuia, ser o deus (Salmo 8) do meu quintal... Baseio minha fala no texto de Apocalipse 21.1-7...
1 - Então vi um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra desapareceram, e o mar sumiu. 2 - E vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia do céu. Ela vinha de Deus, enfeitada e preparada, vestida como uma noiva que vai se encontrar com o noivo. 3 - Ouvi uma voz forte que vinha do trono, a qual disse: - Agora a morada de Deus está entre os seres humanos! Deus vai morar com eles, e eles serão os povos dele. O próprio Deus estará com eles e será o Deus deles. 4 - Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. As coisas velhas já passaram. 5 - Aquele que estava sentado no trono disse: - Agora faço novas todas as coisas! E também me disse: - Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e merecem confiança. 6 - E continuou: - Tudo está feito! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem tem sede darei água para beber, de graça, da fonte da água da vida. 7 - Aqueles que conseguirem a vitória receberão de mim este presente: eu serei o Deus deles, e eles serão meus filhos.
Outro dia, no hospital, eu estava sentado ao lado de uma pessoa que estava prestes a deixar esta vida. A figura daquele senhor ainda está viva na minha mente. Os responsáveis pela UTI me deixaram claro que o meu tempo teria que ser curto, uma vez que o ato de conversar e ouvir exige muita força do paciente à beira da morte.
Perguntei àquele senhor se podia ler um pequeno texto bíblico e ele reagiu com voz fraca: - Sim. Seja breve! Observei seus olhos opacos que denotavam cansaço. Durante todo o tempo da minha visita ele praticamente os manteve fechados. No que tange à sua fé, entretanto, ah ela estava acordada. O homem que eu visitava era uma pessoa cristã, um indivíduo que cria em Deus.
Perguntei-lhe: - O senhor lembras do capítulo 21 do livro de Apocalipse? (Lemos este texto agora mesmo...) Logo após minha pergunta percebi um leve sorriso no seu rosto. De sua boca brotou uma expressão muito clara, mais clara do que todas as outras que aquele homem desenganado tinha expressado até aquele momento: - O meu lar!
Enquanto eu ia lendo o texto com voz um tanto embargada, vi que os seus lábios se mexiam. Sim, ele recitava baixinho, junto comigo, de cor, as palavras que eu ia lendo. Quando nos dissemos “até logo” o senhor que eu visitei ainda balbuciou uma palavra apontando o dedo para cima: “Lá!”...
Pus-me a caminho com o coração pesado. Acabara de ser presenteado com um “pacote de fé” por uma pessoa moribunda. E assim, refletindo, fui me dirigindo ao estacionamento para embarcar no meu carro; para me dirigir para casa.
Caminhei devagar. Eu não queria chegar. O movimento na rua e na calçada era normal e ininterrupto. Há pouco eu estava ao lado de uma pessoa prestes a deixar esta vida e ali, na calçada, era justamente a vida que pulsava. Não, nenhum dos transeuntes ou motoristas estava pensando na dor, no sofrimento ou na morte. As “primeiras coisas”, aquilo que passa e que se consome faz com que os indivíduos se ocupem ativamente até o fim das suas vidas. Será que no último dia das suas existências elas também poderão falar e comentar a respeito do “seu lar”?...
Paguei o ticket do estacionamento. Dirigi-me para o local onde tinha estacionado o carro da paróquia. Meu rosto se espelhou na janela de vidro fumê e me devolveu a pergunta: - Será que eu, no meu último dia, saberei desejar o “meu eterno lar”? Sentei no assento. Segurei o volante com as mãos. Baixei a cabeça. Fechei os olhos e meditei durante alguns instantes. Sim, eu sei orar. Eu sei o que pedir. Eu sei onde eu posso chegar... Amém!
1 - Então vi um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra desapareceram, e o mar sumiu. 2 - E vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia do céu. Ela vinha de Deus, enfeitada e preparada, vestida como uma noiva que vai se encontrar com o noivo. 3 - Ouvi uma voz forte que vinha do trono, a qual disse: - Agora a morada de Deus está entre os seres humanos! Deus vai morar com eles, e eles serão os povos dele. O próprio Deus estará com eles e será o Deus deles. 4 - Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. As coisas velhas já passaram. 5 - Aquele que estava sentado no trono disse: - Agora faço novas todas as coisas! E também me disse: - Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e merecem confiança. 6 - E continuou: - Tudo está feito! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem tem sede darei água para beber, de graça, da fonte da água da vida. 7 - Aqueles que conseguirem a vitória receberão de mim este presente: eu serei o Deus deles, e eles serão meus filhos.
Outro dia, no hospital, eu estava sentado ao lado de uma pessoa que estava prestes a deixar esta vida. A figura daquele senhor ainda está viva na minha mente. Os responsáveis pela UTI me deixaram claro que o meu tempo teria que ser curto, uma vez que o ato de conversar e ouvir exige muita força do paciente à beira da morte.
Perguntei àquele senhor se podia ler um pequeno texto bíblico e ele reagiu com voz fraca: - Sim. Seja breve! Observei seus olhos opacos que denotavam cansaço. Durante todo o tempo da minha visita ele praticamente os manteve fechados. No que tange à sua fé, entretanto, ah ela estava acordada. O homem que eu visitava era uma pessoa cristã, um indivíduo que cria em Deus.
Perguntei-lhe: - O senhor lembras do capítulo 21 do livro de Apocalipse? (Lemos este texto agora mesmo...) Logo após minha pergunta percebi um leve sorriso no seu rosto. De sua boca brotou uma expressão muito clara, mais clara do que todas as outras que aquele homem desenganado tinha expressado até aquele momento: - O meu lar!
Enquanto eu ia lendo o texto com voz um tanto embargada, vi que os seus lábios se mexiam. Sim, ele recitava baixinho, junto comigo, de cor, as palavras que eu ia lendo. Quando nos dissemos “até logo” o senhor que eu visitei ainda balbuciou uma palavra apontando o dedo para cima: “Lá!”...
Pus-me a caminho com o coração pesado. Acabara de ser presenteado com um “pacote de fé” por uma pessoa moribunda. E assim, refletindo, fui me dirigindo ao estacionamento para embarcar no meu carro; para me dirigir para casa.
Caminhei devagar. Eu não queria chegar. O movimento na rua e na calçada era normal e ininterrupto. Há pouco eu estava ao lado de uma pessoa prestes a deixar esta vida e ali, na calçada, era justamente a vida que pulsava. Não, nenhum dos transeuntes ou motoristas estava pensando na dor, no sofrimento ou na morte. As “primeiras coisas”, aquilo que passa e que se consome faz com que os indivíduos se ocupem ativamente até o fim das suas vidas. Será que no último dia das suas existências elas também poderão falar e comentar a respeito do “seu lar”?...
Paguei o ticket do estacionamento. Dirigi-me para o local onde tinha estacionado o carro da paróquia. Meu rosto se espelhou na janela de vidro fumê e me devolveu a pergunta: - Será que eu, no meu último dia, saberei desejar o “meu eterno lar”? Sentei no assento. Segurei o volante com as mãos. Baixei a cabeça. Fechei os olhos e meditei durante alguns instantes. Sim, eu sei orar. Eu sei o que pedir. Eu sei onde eu posso chegar... Amém!
16.11.09
Advento - Vem visita aí!
Hoje, na Alemanha, a Coroa de Advento está dentro de Igrejas, de escolas e até de residências particulares. É impossível se imaginar os festejos de Advento sem a presença da referida e suas quatro velas queimando durante os 24 dias. Pois andei pesquisando a respeito. A Coroa de Advento não é antiga. Ela foi concebida em Hamburgo, há mais de cem anos. Havia muitas crianças órfãs naquela cidade portuária. Meninas e meninos sem teto que perambulavam pelas ruas pedindo esmolas. Conhecemos este “filme”.
As coisas não precisam ser sempre assim. Um pastor evangélico luterano morava naquela cidade. Seu coração pulsava por aquelas meninas e por aqueles meninos “sem eira nem beira”. Mexe daqui, puxa dali, ele construiu uma enorme casa onde passou a abrigar o máximo possível de crianças de rua. Naquela casa o povo miúdo tinha espaço para dormir e fazer suas refeições. Mais do que isso: tinha a chance de aprender uma profissão. Muitos saíram dali formados como sapateiros, desenhistas, costureiras e até jardineiros. A idéia era que, assim, não precisariam mais perambular pelas ruas pedindo esmolas, uma vez que juntavam seus próprios dinheiros a partir do suor do seu rosto.
Foi assim que, em 1833, nasceu a “Rauhes Haus” (Casa Rústica). O pastor visionário chamava-se Johann Heinrich Wichern (*1808 +1881). Todo ano ele celebrava o tempo de Advento com meditações, cânticos e reflexões que enfocavam este tempo bonito que antecede o Natal. Para contextualizar aqueles momentos o pastor Wichern pendurou uma roda velha, dessas que ainda hoje se vê em carroças, no teto na “Casa” que dirigia. No primeiro domingo de Advento colocou a primeira grande vela a queimar sobre a roda. Depois, nos seis dias seguintes, seis velas pequenas. Daí, no segundo domingo de Advento, novamente a segunda vela grande... Um dia antes do Natal queimavam 24 velas na referida roda.
Corria o ano de 1840. As meninas e os meninos que moravam naquele abrigo gostavam muito daqueles encontros. A roda ia iluminando mais e mais a sala, a medida que o Natal se aproximava. Cada vela tinha o seu significado. Foram eles, as meninas e os meninos, que “batizaram” aquele tempo de “Meditação das Velas”. Passaram-se dois anos e aquela pequena Comunidade decidiu enfeitar a roda iluminada com ramos de pinheiro (sinal de vida). Foi assim que nasceu a primeira Coroa de Advento dentro da Igreja Luterana.
Muitas pessoas que visitavam a “Rauhes Haus” achavam aquele símbolo muito significativo. Como nas suas moradias particulares não havia muito espaço para uma Coroa de Advento com 24 velas, optaram por uma menor com quatro, uma para cada domingo. Viva o Advento, esse tempo no qual nos preparamos para receber a visita que vem: Jesus Cristo!
11.11.09
Lá vem o dia!
As pessoas dos tempos do Antigo Testamento só podiam chegar perto de Deus a partir da mediação de um sacerdote. A função do pastor era construir pontes entre Deus e as pessoas. Hoje não estamos mais amarrados em formas cerimoniais ou cidades santas para termos acesso a Deus uma vez que a fé em Jesus Cristo nos dá acesso direto e irrestrito ao Criador. Aqui proponho a leitura de Hebreus 10.19-25...
19. Por isso, irmãos, por causa da morte de Jesus na cruz nós temos completa liberdade de entrar no Lugar Santíssimo. 20. Por meio da cortina, isto é, por meio do seu próprio corpo, ele nos abriu um caminho novo e vivo. 21. Nós temos um Grande Sacerdote para dirigir a casa de Deus. 22. Portanto, cheguemos perto de Deus com um coração sincero e uma fé firme, com a consciência limpa das nossas culpas e com o corpo lavado com água pura. 23. Guardemos firmemente a esperança da fé que professamos, pois podemos confiar que Deus cumprirá as suas promessas. 24. Pensemos uns nos outros a fim de ajudarmos todos a terem mais amor e a fazerem o bem. 25. Não abandonemos, como alguns estão fazendo, o costume de assistir às nossas reuniões. Pelo contrário, animemos uns aos outros e ainda mais agora que vocês vêem que o dia está chegando.
É de manhã quando o galo canta. Se porventura ele não cantar, ainda não amanheceu ou aconteceu alguma coisa com o tal galo. Carrego a impressão que algo não vai bem com os “galos e com as galinhas” que vivem no “galinheiro” do meu vizinho. Aquelas aves desaprenderam a perceber a manhã que se aproxima. Elas não saem, alegres, pela portinha do seu pequeno “templo”. Elas não voam de puleiro em puleiro para deixar claro que amanheceu; para acordar-nos e deixar claro que o dia está chegando. A maioria dos galos e das galinhas do meu vizinho fica empoleirada, dormindo, quando é de manhã. As aves do meu vizinho nem se apercebem que o sol já vem dominando a escuridão com sua força quente.
Há alguns galos e algumas galinhas que moram ali no galinheiro perto da minha casa se acordam pela manhã. Mas, ao invés de fazerem algazarra, ocupam-se com a limpeza de suas penas. Para que fazer alarde? Os canários, as rolinhas, as saracuras ali da vizinhança já receberam o dia de braços abertos. E assim, desmotivadas, sem perspectivas, continuam ocupadas consigo mesmos, com suas penas.
Opa, mas também tem alguns galos e algumas galinhas dentro do mesmo galinheiro que percebem muito bem o tempo em que estão vivendo, se é noite ou se é dia. Quando chega a noitinha, observo-as lutando, se bicando pelos melhores lugares no puleiro. Quem entende alguma coisa de galos e de galinhas sabe que este comportamento só acontece na entrada da noite, quando se deseja um bom lugar para dormir, para descansar. Quando no galinheiro se ouve cacarejos, barulho de asas voando é porque veio a noite. Todo colono, ex-colono sabe disso e se deita para descansar sem se preocupar. Ele, o colono, não pode fazer muita coisa.
Puxo esta história do galinheiro do meu vizinho para dentro da nossa Paróquia São Mateus. Quem de nós dorme sono solto não poderá acordar as outras irmãs e os outros irmãos e, por tabela, perderá a visão, a experiência do amanhecer. A cristandade gosta por demais de fomentar briguinhas entre si. Podem ter certeza que estes pequenos desacertos, estes barulhinhos, não vão acordar o mundo. Ele, o mundo, só se diverte com estas briguinhas e depois, bem, deixa prá lá. Gente querida! Não é nossa tarefa dormir ou ficar brigando, de beicinho caído. Jesus Cristo quer que anunciemos o seu dia – o dia em que tudo ficará novamente claro no nosso mundo.
19. Por isso, irmãos, por causa da morte de Jesus na cruz nós temos completa liberdade de entrar no Lugar Santíssimo. 20. Por meio da cortina, isto é, por meio do seu próprio corpo, ele nos abriu um caminho novo e vivo. 21. Nós temos um Grande Sacerdote para dirigir a casa de Deus. 22. Portanto, cheguemos perto de Deus com um coração sincero e uma fé firme, com a consciência limpa das nossas culpas e com o corpo lavado com água pura. 23. Guardemos firmemente a esperança da fé que professamos, pois podemos confiar que Deus cumprirá as suas promessas. 24. Pensemos uns nos outros a fim de ajudarmos todos a terem mais amor e a fazerem o bem. 25. Não abandonemos, como alguns estão fazendo, o costume de assistir às nossas reuniões. Pelo contrário, animemos uns aos outros e ainda mais agora que vocês vêem que o dia está chegando.
É de manhã quando o galo canta. Se porventura ele não cantar, ainda não amanheceu ou aconteceu alguma coisa com o tal galo. Carrego a impressão que algo não vai bem com os “galos e com as galinhas” que vivem no “galinheiro” do meu vizinho. Aquelas aves desaprenderam a perceber a manhã que se aproxima. Elas não saem, alegres, pela portinha do seu pequeno “templo”. Elas não voam de puleiro em puleiro para deixar claro que amanheceu; para acordar-nos e deixar claro que o dia está chegando. A maioria dos galos e das galinhas do meu vizinho fica empoleirada, dormindo, quando é de manhã. As aves do meu vizinho nem se apercebem que o sol já vem dominando a escuridão com sua força quente.
Há alguns galos e algumas galinhas que moram ali no galinheiro perto da minha casa se acordam pela manhã. Mas, ao invés de fazerem algazarra, ocupam-se com a limpeza de suas penas. Para que fazer alarde? Os canários, as rolinhas, as saracuras ali da vizinhança já receberam o dia de braços abertos. E assim, desmotivadas, sem perspectivas, continuam ocupadas consigo mesmos, com suas penas.
Opa, mas também tem alguns galos e algumas galinhas dentro do mesmo galinheiro que percebem muito bem o tempo em que estão vivendo, se é noite ou se é dia. Quando chega a noitinha, observo-as lutando, se bicando pelos melhores lugares no puleiro. Quem entende alguma coisa de galos e de galinhas sabe que este comportamento só acontece na entrada da noite, quando se deseja um bom lugar para dormir, para descansar. Quando no galinheiro se ouve cacarejos, barulho de asas voando é porque veio a noite. Todo colono, ex-colono sabe disso e se deita para descansar sem se preocupar. Ele, o colono, não pode fazer muita coisa.
Puxo esta história do galinheiro do meu vizinho para dentro da nossa Paróquia São Mateus. Quem de nós dorme sono solto não poderá acordar as outras irmãs e os outros irmãos e, por tabela, perderá a visão, a experiência do amanhecer. A cristandade gosta por demais de fomentar briguinhas entre si. Podem ter certeza que estes pequenos desacertos, estes barulhinhos, não vão acordar o mundo. Ele, o mundo, só se diverte com estas briguinhas e depois, bem, deixa prá lá. Gente querida! Não é nossa tarefa dormir ou ficar brigando, de beicinho caído. Jesus Cristo quer que anunciemos o seu dia – o dia em que tudo ficará novamente claro no nosso mundo.
3.11.09
Colunas Retas!
Um jovem senhor achou dinheiro na rua. Depois disso, não tirou mais os olhos da calçada. Sempre esperava encontrar mais alguma coisa. Após sete anos, acumulou 29.516 botões, 54.712 alfinetes, 12 moedinhas, uma coluna curvada e uma disposição miserável. Enquanto seus olhos estavam fixos na calçada, perdeu a glória da luz do sol, a beleza das estrelas, o sorriso dos amigos e a alegria de olhar para o alto. Sempre é assim que as riquezas, os prazeres e os padrões deste mundo nos atraem de tal modo que podemos perder o verdadeiro senso de valores. Só após sete anos o homem percebeu que as moedinhas, os botões e os alfinetes não compensavam a atenção, o zelo e o trabalho que lhe custaram.
É triste, mas só na hora da morte que a grande maioria de nós descobrirá que as coisas pelas quais gastamos nossa vida, não têm o menor proveito. Colunas espirituais curvadas impossibilitam o elevar dos nossos olhos a Deus. Quanta gente com os olhos fixos no chão, porque não aprenderam a olhar para o alto. Talvez até estejam angustiados com a sua situação espiritual e reconheçam os seus pecados. Olham o mundo com realismo; vêem a transitoriedade das coisas, a aflição, a doença, a morte e o confronto iminente com a eternidade. Talvez até baixem a cabeça e, com o apóstolo Paulo, reconheçam-se “desventurados” para, logo depois, indagar: - “Quem me livrará do corpo desta morte”? (Romanos 7.24)
Alegria! Existe um gracioso convite para este momento que estamos vivendo: - “Erguei as vossas cabeças, porque a vossa redenção se aproxima”. (Lucas 21.28) Levante, pois, os seus olhos aos céus para não perder toda a alegria que a vinda de Cristo nos reserva. Neste momento, levantar os olhos ao céu significa ter Cristo como centro da vida; implica em investir na eternidade; é ter olhos para ver motivo para alegria, mesmo quando tudo é tristeza; diz respeito a ter certeza de vida, mesmo diante da realidade da morte.
Que tal pararmos de catar moedinhas, botões e alfinetes. É tempo de levantarmos os nossos olhos, de agarrarmos o tesouro incorruptível que o Pai Celestial nos alcança desde os céus!...
É triste, mas só na hora da morte que a grande maioria de nós descobrirá que as coisas pelas quais gastamos nossa vida, não têm o menor proveito. Colunas espirituais curvadas impossibilitam o elevar dos nossos olhos a Deus. Quanta gente com os olhos fixos no chão, porque não aprenderam a olhar para o alto. Talvez até estejam angustiados com a sua situação espiritual e reconheçam os seus pecados. Olham o mundo com realismo; vêem a transitoriedade das coisas, a aflição, a doença, a morte e o confronto iminente com a eternidade. Talvez até baixem a cabeça e, com o apóstolo Paulo, reconheçam-se “desventurados” para, logo depois, indagar: - “Quem me livrará do corpo desta morte”? (Romanos 7.24)
Alegria! Existe um gracioso convite para este momento que estamos vivendo: - “Erguei as vossas cabeças, porque a vossa redenção se aproxima”. (Lucas 21.28) Levante, pois, os seus olhos aos céus para não perder toda a alegria que a vinda de Cristo nos reserva. Neste momento, levantar os olhos ao céu significa ter Cristo como centro da vida; implica em investir na eternidade; é ter olhos para ver motivo para alegria, mesmo quando tudo é tristeza; diz respeito a ter certeza de vida, mesmo diante da realidade da morte.
Que tal pararmos de catar moedinhas, botões e alfinetes. É tempo de levantarmos os nossos olhos, de agarrarmos o tesouro incorruptível que o Pai Celestial nos alcança desde os céus!...
26.10.09
Hoje é dia!
Por que sempre guardar os pés dentro do “cofre” de couro ou plástico,
enquanto circulamos pelo mundo de Deus?
É primavera! Amanhã, depois do verão, já será o outono,
tempo de buscar pelo abono,
de lutar para ser o dono e, quem sabe, até sofrer abandono...
Hoje é dia de conversão, de comunhão, de participação,
do partir do pão, do sim, nunca do não.
Sim! Já passa da hora: sermos pessoas normais, caminharmos descalços,
desnudarmo-nos diante do nosso Deus
a partir da confissão que nos presenteia perdão.
enquanto circulamos pelo mundo de Deus?
É primavera! Amanhã, depois do verão, já será o outono,
tempo de buscar pelo abono,
de lutar para ser o dono e, quem sabe, até sofrer abandono...
Hoje é dia de conversão, de comunhão, de participação,
do partir do pão, do sim, nunca do não.
Sim! Já passa da hora: sermos pessoas normais, caminharmos descalços,
desnudarmo-nos diante do nosso Deus
a partir da confissão que nos presenteia perdão.
23.10.09
Lolita!
A onda sempre quebra na praia.
Outro dia vi você, bonita,
Enredada em algodão cambraia.
Imagem deslumbrante, lolita.
Refleti, hesitei e parei na raia.
Sensibilidade!
Na Bíblia o “pé” é citado 90 vezes. A “sola” do pé é lembrada 11 vezes e as “pegadas” que os pés deixam onde passam, oito vezes. Inicio a prédica para este Culto citando uma frase do poeta Jorge Luis Borges que, na oportunidade, tinha 85 anos: “...Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono...”
Estamos na primavera. A natureza nos convida a viver, a participarmos deste momento perfumado. É tempo de viver. Tire o casaco. Tire os sapatos. O meu pé, o teu pé, os nossos pés parecem ter se acostumado tão bem com a “jaula de couro” onde os aprisionamos, não é verdade? Tentem re-experimentar a liberdade que experimentávamos quando crianças. Tu e eu, nós nascemos com a perspectiva de andarmos descalços. Quem ousar repetir esta experiência perceberá que ela é muito saudável.
Pisar a pedra, o gramado... O tato dos pés nos ajuda a melhor ver e entender o mundo que nos rodeia. Por que sempre guardar os pés dentro do “cofre” de couro ou plástico, enquanto circulamos pelo mundo de Deus? É primavera! Amanhã, depois do verão, já será o outono, tempo de buscar abono, de lutar para ser o dono e, quem sabe, até sofrer abandono... Hoje é dia de conversão. Dia de comunhão, participação, do partir do pão, do sim, nunca do não. Hoje é dia de usufruirmos a oportunidade de sermos pessoas normais, de caminharmos descalços, de desnudarmo-nos diante do nosso Deus a partir da confissão que nos presenteia o perdão.
Outro dia, pé-descalço, fui varrer a calçada da casa onde moro na Rua dos Palmitos, 501. De repente, um ruído muito forte. Era um menino, orgulhosamente “montado” num carro de plástico movido a motor. Será que aquele garoto já teve a oportunidade de andar pé-descalço? Será que no futuro ele também só vai ocupar seus pés no orquestramento de pedais de freio e ou de embreagem? Será que daqui alguns anos as nossas calças já não virão acopladas de sapatos hermeticamente fechados? Eu sonho que a criança da minha rua experimente, tal como eu experimentei, o privilégio de tocar seus pés no chão, de jogar bola na grama, de pisar na terra e isso, pé-descalça. Ande pé-descalço. Abra tua guarda diante de Deus. Busque-O sem esquemas pré-articulados de proteção. Desenvolve tua sensibilidade. Sai de dentro de ti.
Muitas pessoas sentem-se mais próximas de Deus quando tiram os calçados. Na Bíblia, andar pé-descalço é sinal de penitência, de arrependimento, de humildade e de reflexão. Em Êxodo 3.4-5 se lê: “Moisés! Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa.” Em Josué 5.15 esse assunto se repete: “Josué! Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo.”
Você já experimentou caminhar descalço no templo da Igreja que congrega? Na capela dos estudantes universitários com os quais comunguei há três anos só se podia entrar pé-descalço. Foi lá que ouvi o testemunho de uma colega: “Eu amo andar pé-descalça dentro do templo, entrar em contato com o piso. Para mim esses momentos são de grande espiritualidade. Eu necessito de um contrapeso que me equilibre, enquanto trabalho com palavras, com textos. O Culto Evangélico é muito concentrado na Palavra.”
“Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono...” Hoje é primavera, vocês têm 15, 25, 30 anos ou mais. O verão vem aí e amanhã já será outono. Vocês experimentarão 65, 85 anos de vida, mais ou menos. Sintam a vida hoje. Vivam a vida hoje. Não percam a vida hoje. Tirem os sapatos e circulem pés-descalços, bem devagar, lá no templo onde assistem os Cultos. Sintam a pedra ou o assoalho frio debaixo da sola dos pés. Caminhem sobre o tapete. Sentem nos bancos. Observem a cruz, as flores, a arquitetura, os paramentos. Percebam quantas mensagens silenciosas, prontas para serem ouvidas, percebidas somente pelos teus ouvidos, pelos teus olhos. Ouçam o que os teus pés “dizem” a respeito da experiência de andar sem sapatos. Digam sim para a vida, para Jesus Cristo, para o Espírito Santo, para Deus!
Estamos na primavera. A natureza nos convida a viver, a participarmos deste momento perfumado. É tempo de viver. Tire o casaco. Tire os sapatos. O meu pé, o teu pé, os nossos pés parecem ter se acostumado tão bem com a “jaula de couro” onde os aprisionamos, não é verdade? Tentem re-experimentar a liberdade que experimentávamos quando crianças. Tu e eu, nós nascemos com a perspectiva de andarmos descalços. Quem ousar repetir esta experiência perceberá que ela é muito saudável.
Pisar a pedra, o gramado... O tato dos pés nos ajuda a melhor ver e entender o mundo que nos rodeia. Por que sempre guardar os pés dentro do “cofre” de couro ou plástico, enquanto circulamos pelo mundo de Deus? É primavera! Amanhã, depois do verão, já será o outono, tempo de buscar abono, de lutar para ser o dono e, quem sabe, até sofrer abandono... Hoje é dia de conversão. Dia de comunhão, participação, do partir do pão, do sim, nunca do não. Hoje é dia de usufruirmos a oportunidade de sermos pessoas normais, de caminharmos descalços, de desnudarmo-nos diante do nosso Deus a partir da confissão que nos presenteia o perdão.
Outro dia, pé-descalço, fui varrer a calçada da casa onde moro na Rua dos Palmitos, 501. De repente, um ruído muito forte. Era um menino, orgulhosamente “montado” num carro de plástico movido a motor. Será que aquele garoto já teve a oportunidade de andar pé-descalço? Será que no futuro ele também só vai ocupar seus pés no orquestramento de pedais de freio e ou de embreagem? Será que daqui alguns anos as nossas calças já não virão acopladas de sapatos hermeticamente fechados? Eu sonho que a criança da minha rua experimente, tal como eu experimentei, o privilégio de tocar seus pés no chão, de jogar bola na grama, de pisar na terra e isso, pé-descalça. Ande pé-descalço. Abra tua guarda diante de Deus. Busque-O sem esquemas pré-articulados de proteção. Desenvolve tua sensibilidade. Sai de dentro de ti.
Muitas pessoas sentem-se mais próximas de Deus quando tiram os calçados. Na Bíblia, andar pé-descalço é sinal de penitência, de arrependimento, de humildade e de reflexão. Em Êxodo 3.4-5 se lê: “Moisés! Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa.” Em Josué 5.15 esse assunto se repete: “Josué! Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo.”
Você já experimentou caminhar descalço no templo da Igreja que congrega? Na capela dos estudantes universitários com os quais comunguei há três anos só se podia entrar pé-descalço. Foi lá que ouvi o testemunho de uma colega: “Eu amo andar pé-descalça dentro do templo, entrar em contato com o piso. Para mim esses momentos são de grande espiritualidade. Eu necessito de um contrapeso que me equilibre, enquanto trabalho com palavras, com textos. O Culto Evangélico é muito concentrado na Palavra.”
“Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono...” Hoje é primavera, vocês têm 15, 25, 30 anos ou mais. O verão vem aí e amanhã já será outono. Vocês experimentarão 65, 85 anos de vida, mais ou menos. Sintam a vida hoje. Vivam a vida hoje. Não percam a vida hoje. Tirem os sapatos e circulem pés-descalços, bem devagar, lá no templo onde assistem os Cultos. Sintam a pedra ou o assoalho frio debaixo da sola dos pés. Caminhem sobre o tapete. Sentem nos bancos. Observem a cruz, as flores, a arquitetura, os paramentos. Percebam quantas mensagens silenciosas, prontas para serem ouvidas, percebidas somente pelos teus ouvidos, pelos teus olhos. Ouçam o que os teus pés “dizem” a respeito da experiência de andar sem sapatos. Digam sim para a vida, para Jesus Cristo, para o Espírito Santo, para Deus!
21.10.09
Gottfried Brakemeier!
Logo que o P. Dr. Gottfried Brakemeier acabou de proferir sua palestra sobre o tema “Vocação” vieram os demorados aplausos. O auditório do Clube Concórdia de Curitiba foi testemunha da alegria dos 500 obreiros e obreiras da IECLB que, animados, sorriam, se abraçavam, olhavam para frente com seus olhos tingidos do brilho da esperança. Pois foi sentado numa das cadeiras estofadas do grande salão que o querido professor, sempre alinhado, me concedeu esta bela entrevista...
O Caminho: O senhor é dono de uma longa trajetória no ministério da Igreja. Deixou-nos claro que a “vocação” é condição essencial do ministério eclesiástico. Fale-nos mais a respeito...
Dr. Brakemeier: Um obreiro e ou uma obreira que atuam no ministério eclesiástico sem vocação assemelham-se a funcionários religiosos, nada mais do que isso. A Igreja de Jesus Cristo não pode conformar-se com tal concepção. Ela, a Igreja, reserva aos trabalhadores na seara do Senhor um papel bem mais honroso. Como obreiros e obreiras da IECLB nos cabe identificar-nos dia-a-dia com a vocação que, sempre de novo, precisa ser redefinida diante dos desafios de uma sociedade em transformação. Nunca entendamos a vocação como um diploma que, emoldurado, encontra seu lugar entre as lembranças do passado. Vocação é assunto de profundas dimensões existenciais.
O Caminho: Qual seria a diferença entre vocação e profissão?
Dr. Brakemeier: Se o ministério eclesiástico for uma questão de vocação somente, ele ficará reservado a uma categoria especial de pessoas: as "vocacionadas". Ora, isso seria uma boa desculpa para não abraçá-la. Por outro lado, se o ministério for entendido como uma profissão entre outras, basta adquirir as respectivas competências e buscar emprego junto a entidades religiosas. Eu creio que não estamos diante de uma alternativa. Defendo a tese que o ministério eclesiástico, a um só tempo, é vocação e profissão.
O Caminho: Por favor, desdobre um pouco mais essa questão...
Dr. Brakemeier: A palavra "vocação" provém do latim "vocare" que significa "chamar", "convidar", "atrair". Vocação é essencialmente sinônimo de convite. Aproxima-se do sentido de "convocação". Já "profissão" é entendida como "atividade ou ocupação especializada". Profissão é "oficio", é atividade específica. Uma pessoa profissional "professa" alguma coisa. Identifica-se com sua atividade. Aqui penso em padeiros, engenheiros, psicólogas, por exemplo. Quer dizer, há diferença entre profissão e vocação, mas também não há como separar uma da outra.
O Caminho: A vocação é um privilégio das pessoas que optam pelo ministério eclesiástico?
Dr. Brakemeier: Não! O chamado de Deus se dirige à humanidade em seu todo. Deus não só reveste sua criatura humana de singular dignidade, como também a destina a ser sua parceira. O ser humano foi criado para, em responsabilidade perante Deus e em gratidão a ele, usufruir os maravilhosos dons divinos e cuidar da criação. Portanto, ele não se encontra jogado no mundo à toa nem resulta de enigmático acaso. Ele está ai por vontade divina, incumbido de cumprir um mandato. Se a humanidade perdeu a noção de sua razão de ser, de sua destinação, do sentido das coisas, é porque se esqueceu de sua vocação.
O Caminho: O sr. está afirmando que a vocação se estende a todas as pessoas cristãs e não só às ministras e ministros da Igreja?
Dr. Brakemeier: Martim Lutero já explicitou que “ser cristão é viver a sua vocação.” Nós podemos servir a Deus onde quer que estejamos. É em sua profissão que o cristão deve glorificar a Deus e servir ao próximo. O exercício da profissão é culto a Deus no cotidiano. Sob tal perspectiva o trabalho deixa de ser algo vergonhoso, reservado a escravos, para se tornar um meio privilegiado de servir. Na concepção de Lutero importa que moldemos a nossa vida a partir da vocação, seja no trabalho ou no lazer, seja em particular ou na família, seja na Igreja ou na sociedade. Digo de outra forma: Somos chamados a nos portar como cristãos em todas as circunstâncias da vida.
O Caminho: Então quer dizer que Deus nos chama para serviços diferentes, sempre em conformidade com as nossas capacidades e para as necessidades que se apresentam...
Dr. Brakemeier: Sim! Numa Comunidade nem todos podem fazer o mesmo. Há distribuição de dons e variedade de afazeres. A uniformidade de serviços seria mortal. O mesmo se aplica à saúde do corpo social. Ela repousa sobre o fundamento da "biodiversidade". O chamado ao serviço é sempre multiforme. O Espírito sopra onde quer e desperta gente para o trabalho na “lavoura de Deus” conforme lhe agrada. Ao lado dos serviços espontâneos, porém, existem os serviços estruturados. Neste caso falamos em "ministérios". A Igreja convoca pessoas consideradas habilitadas para o cumprimento de determinadas atribuições em caráter permanente ou, pelo menos, temporário. O ministério eclesiástico foi implantado pelo próprio Deus em sua Igreja. Quer dizer, o ministério que divulga o Evangelho e se encarrega da boa ministração dos sacramentos é imprescindível. Sem ele a Igreja sucumbe.
O Caminho: Explique isso melhor professor... Se Deus implantou o ministério eclesiástico então ele é especial e nem todos podem exercê-lo... É Isso?
Dr. Brakemeier: Como luteranos entendemos a vocação especial para o serviço como integrada na vocação geral de todas as pessoas. O estado de clérigo é igual ao do cristão comum. Ministério sempre tem natureza "diaconal". Todos são chamados a atender o chamado geral de Deus à humanidade e isso não muda o de status de ninguém. Observem que o chamado ao ministério acontece por mediação da instituição eclesiástica. É ela que chama, prepara, instala, cuida de obreiros e obreiras. O exercício "público" do ministério, pois, pressupõe uma vocação "legitima", isto é uma vocação de acordo com a "lei", as ordens, num rito correspondente. É da ordenação que depende a autorização para o ensino público na Igreja. É claro que todo testemunho cristão deva ser "público". Ele não pode permanecer na clandestinidade da esfera privada. Os "ministros” e as “ministras" devem estar habilitados a falar não somente em seu próprio nome, e, sim, em nome da Igreja. "Ensino público" na Igreja é discurso do qual publicamente se exige prestação de contas. As qualificações exigidas para o ministério podem ser resumidas em basicamente três: a) Competência teológica - Quem exerce um ministério na Igreja deve ser capaz da avaliação criteriosa das propostas em curso no mercado religioso. Espera-se das pessoas juízo teológico, posicionamentos próprios, zelo com respeito à confessionalidade da Igreja. b) Competência missionária - Ministros e ministras na Igreja são "propagandistas" de Jesus Cristo. Para tanto necessitam de facilidade na comunicação, no diálogo e na representação. Quem tem medo do público e prefere ficar em casa em lugar de procurar as pessoas, tem o seu ministério prejudicado. c) Competência administrativa - Esta não se refere apenas ao trabalho de secretaria que também na Igreja não pode faltar. Mais importante é saber administrar diversidade, conduzir a comunidade, trabalhar conflitos. Comunidade é sempre um fenômeno plural, cuja administração exige sabedoria.
O Caminho: Então o ministério eclesiástico não deixa de ser uma profissão...
Dr. Brakemeier: Certo! O exercício eclesiástico necessita de alto grau de "profissionalismo". Incompetência pode causar terríveis estragos, razão para não negligenciar a formação profissional dos obreiros. Mero profissionalismo é insuficiente para o exercício condigno do ministério. Claro que os servidores eclesiásticos também deverão ter garantidos os seus direitos. As comunidades têm o dever de cuidar da subsistência dos mesmos. Ainda assim a luta de classe e o sindicalismo são avessos à natureza da Igreja. As comunidades não são "patrões", representantes do "capital", empresas religiosas, das quais o "trabalho", a mão de obra, os empregados devessem arrancar sua participação nos lucros. A vocação comum da comunidade e dos obreiros o impede. Se faltar a vocação, o trabalho sofre danos. De qualquer maneira, o ministério eclesiástico é impensável sem vocação.
O Caminho: Qual seria a atribuição de de uma pessoa que exerça o ministério especial?
Dr. Brakemeier: Quero frisar que a tarefa de promover a causa de Deus neste mundo cabe tanto a membros leigos como aos membros que assumiram o compromisso espacial. No entanto, quem foi chamado para o ministério eclesiástico desempenha essa vocação em caráter oficial e, na maioria das vezes, em regime de dedicação integral. Estamos profissionalmente a serviço do reino de Deus, cooperando em sua obra. Nossa atribuição consiste em edificar comunidade, ensaiar o discipulado, denunciar a injustiça, reconciliar inimigos, capacitar para a paz, evangelizar o povo, chamar a fé, habilitar ao amor, mostrar sentido, construir esperança. Ora, a causa de Deus costuma enfrentar obstáculos, resistência ou desinteresse. O evangelho não tem procura garantida e os produtos oferecidos no mercado religioso podem servir antes a ídolos do que a Deus.
O Caminho: Quer dizer que o Evangelho de Deus pode trazer dificuldades para aqueles que com ele se ocupam...
Dr. Brakemeier: Quando os frutos demoram a aparecer, temos a tendência de pensar que a nossa pregação parece não atingir as pessoas. Sentimos o cansaço, o desânimo e a rotina nos ameaça. A fé precisa ser alimentada, re-apropriada, reaprendida. Todos os questionamentos à fé provêm de fora. Está renascendo um novo ateísmo na sociedade atual. Deus, quem ainda se interessa por ele? E se as comunidades encolhem e os membros debandam para se associar aos sem-religião? Isto significa que não basta recuperar a fé para nós mesmos. É preciso partir para a ofensiva e desafiar as pessoas com o evangelho. A fé, embora não possua provas de sua verdade, tem bons argumentos a seu favor. Importa defender a fé frente aos ataques que sofre. De qualquer maneira, sem fé abalizada o exercício do ministério eclesiástico se inviabiliza. Estamos casados com a fé. E se este matrimônio vai mal, perdemos a credibilidade. Ai de nós, se a fé sumir. Nosso discurso inevitavelmente vai tornar-se hipócrita. Faz parte de nossas atribuições a permanente reafirmação da fé frente a tudo o que parece desmenti-la. E não só isto. Cumpre-nos a arte do "discernimento dos espíritos". Aqui penso não somente nas nossas igrejas irmãs, penso em termos gerais nas exuberantes ofertas do mercado religioso. No pluralismo de nossos dias, quem fornece critérios orientadores capazes de selecionar o trigo da palha? Nosso campo de trabalho é a fé. Mas este campo é disputado e se apresenta confuso, caótico, estonteante. Nós estamos casados não com uma fé qualquer, e, sim, com a Fé cristã, evangélica, de confissão luterana. Estamos comprometidos com esta Igreja que se chama IECLB. Foi através dela que Deus nos chamou. Espera-se de ministro e ministra da IECLB que saiba justificar por que vale a pena ser membro justamente desta Igreja.
O Caminho: O Sr. está nos incitando a uma espécie de "batalha espiritual"?
Dr. Brakemeier: Nada disso! Somos chamados a procurar a afinidades dos credos religiosos em sentido micro e macro-ecumênico, sempre no esforço por construir a paz. Repudiamos a perseguição aos dissidentes. Não foi este o jeito de Jesus no trato do diferente. O mandamento do amor ao inimigo desautoriza qualquer violência em nome da religião. Mas isto não significa permissão para o "vale tudo" no mercado religioso. Obreiros e obreiras ordenadas devem às pessoas orientação em assuntos de fé. É assim que numa "religião de livre mercado" a tradição perde força. Ela já não mais segura as pessoas nos trilhos da fé tradicional. Verdade é que a comunidade cristã jamais tem sido algo dado. Sempre foi algo a construir. Mas o imperativo missionário se coloca hoje com particular insistência. Os entraves que a IECLB encontra nesse tocante merecem cuidadoso exame e disposição para ensaios reformadores. Embora missão seja tarefa decorrente da vocação geral das pessoas e mandato de todo o povo de Deus, cabe ao "ministério com ordenação" especial responsabilidade. Não basta "pastorear" o rebanho, catequizar os batizados, manter centros sociais e obras diaconais. Sem desprezar tudo isto, importa reconhecer que voltamos à estaca inicial da missão de Jesus. A IECLB não é apenas uma instituição, ela é um projeto que necessita de "simpatizantes", ou seja, de gente que se solidariza com ela na busca do reino de Deus e de sua justiça. No século 21 o ministério eclesiástico requer redefinições.
O Caminho: O sr. está apontando para dificuldades?
Dr. Brakemeier: Não! estou falando de chances, oportunidades, promessas. Vejam como é magnífica a vocação que Deus nos reservou. Por acaso, existe algo mais importante, mais relevante, mais empolgante do que o tema da fé? E é esta a nossa especialidade. A sociedade moderna esconde a fé. Considera-a um assunto privado, sobre o qual não se fala, abrindo assim as portas para chantagens e abusos da credulidade dos não avisados. É perigoso deixar a fé ao bel-prazer de cada qual, conforme o gosto e a preferência individual. Isto uma vez porque não funciona. Fé solta e presa fácil de manipulação pela mídia, pelos demagogos e charlatães. Todos querem fazer a nossa cabeça, querem nos fazer crer em alguma coisa. Pois embora não se admita, é evidente - e este é o segundo argumento para não deixar a fé surfando livre no espaço - que fé é o maior poder da história. Todas as pessoas, enquanto não forçadas, agem de acordo com as suas convicções. Fé determina a ação, é a diretriz da conduta, conduz à biografia de indivíduos e nações. Não nos iludamos: Todo mundo tem os seus credos, inclusive os ateus. A pergunta não é: se as pessoas crêem, mas o que elas crêem.
O Caminho: O Sr. afirma que somos agentes da fé no trino Deus, da fé que tem a promessa de vencer as adversidades do mundo, de curar debilidades e de abrir futuro. No seu entender, existe serviço mais relevante do que este?
Dr. Brakemeier: A pior ameaça a este mundo, a pior crise do momento é a crise da fé à qual deve ser atribuída a maioria das demais crises que nos assolam. A derrocada da ética, a idolatria do mercado, o apego ao poder a qualquer preço, a violência que prolifera em toda a parte, tudo isto de alguma forma tem sua raiz numa fé desorientada, enferma, perversa. Certamente não dispomos de receita pronta para sanar as patologias deste mundo. É Deus quem salva. Nossa vocação é mais modesta e, no entanto, altamente salutar. Cabe-nos apontar para a fonte da qual jorra a vida. Sabemos de um endereço a que nos dirigir nas angústias produzidas por pecado, dor e morte. Mais não podemos fazer. E, no entanto, isto é fundamental. Tal trabalho, eu o arrisco dizer, é não só vital como também gratificante. Pois não é de fardo que consiste o exercício do ministério eclesiástico. Quem ainda não experimentou a alegria que ele é capaz de proporcionar? Há pessoas muito gratas pelo conforto da Palavra de Deus, pela solidariedade na hora da tristeza, pela força do evangelho. E quem sabe, às vezes enxergamos também um pouco da bênção que Deus derrama sobre o trabalho de seus servos e suas servas fiéis.
O Caminho: O Sr. tem a chance de dizer uma última palavra aos leitores e às leitoras de O Caminho...
Dr. Brakemeier: Eu reafirmo que que, muito à semelhança do que acontece com o corpo humano, também a fé necessita do pão de cada dia. Ela precisa ser alimentada. Isto acontece através de oração e meditação, ou seja, através da vivência de espiritualidade evangélica. Nossas energias vêm de "cima", pelo poder do Espírito Santo, pela Palavra de Deus. Não menos importante é a reflexão teológica. A fé busca o entendimento. Ela quer munir-se do argumento, equipar-se para o testemunho. Para tanto é importante o dialogo, a discussão e o estudo conjunto de temas e problemas. Além disto, é óbvio que a equipação da fé exige a leitura. Insisto muito na formação continua, individual ou grupal, dos trabalhadores na seara do Senhor. A boa teologia sempre tem sido um distintivo de Igreja luterana. São muitas as razões para não enterrar este talento. Vocação ao ministério é simultaneamente um dom e um mandato. Importa não desprezar o compromisso nele inerente.
O Caminho: O senhor é dono de uma longa trajetória no ministério da Igreja. Deixou-nos claro que a “vocação” é condição essencial do ministério eclesiástico. Fale-nos mais a respeito...
Dr. Brakemeier: Um obreiro e ou uma obreira que atuam no ministério eclesiástico sem vocação assemelham-se a funcionários religiosos, nada mais do que isso. A Igreja de Jesus Cristo não pode conformar-se com tal concepção. Ela, a Igreja, reserva aos trabalhadores na seara do Senhor um papel bem mais honroso. Como obreiros e obreiras da IECLB nos cabe identificar-nos dia-a-dia com a vocação que, sempre de novo, precisa ser redefinida diante dos desafios de uma sociedade em transformação. Nunca entendamos a vocação como um diploma que, emoldurado, encontra seu lugar entre as lembranças do passado. Vocação é assunto de profundas dimensões existenciais.
O Caminho: Qual seria a diferença entre vocação e profissão?
Dr. Brakemeier: Se o ministério eclesiástico for uma questão de vocação somente, ele ficará reservado a uma categoria especial de pessoas: as "vocacionadas". Ora, isso seria uma boa desculpa para não abraçá-la. Por outro lado, se o ministério for entendido como uma profissão entre outras, basta adquirir as respectivas competências e buscar emprego junto a entidades religiosas. Eu creio que não estamos diante de uma alternativa. Defendo a tese que o ministério eclesiástico, a um só tempo, é vocação e profissão.
O Caminho: Por favor, desdobre um pouco mais essa questão...
Dr. Brakemeier: A palavra "vocação" provém do latim "vocare" que significa "chamar", "convidar", "atrair". Vocação é essencialmente sinônimo de convite. Aproxima-se do sentido de "convocação". Já "profissão" é entendida como "atividade ou ocupação especializada". Profissão é "oficio", é atividade específica. Uma pessoa profissional "professa" alguma coisa. Identifica-se com sua atividade. Aqui penso em padeiros, engenheiros, psicólogas, por exemplo. Quer dizer, há diferença entre profissão e vocação, mas também não há como separar uma da outra.
O Caminho: A vocação é um privilégio das pessoas que optam pelo ministério eclesiástico?
Dr. Brakemeier: Não! O chamado de Deus se dirige à humanidade em seu todo. Deus não só reveste sua criatura humana de singular dignidade, como também a destina a ser sua parceira. O ser humano foi criado para, em responsabilidade perante Deus e em gratidão a ele, usufruir os maravilhosos dons divinos e cuidar da criação. Portanto, ele não se encontra jogado no mundo à toa nem resulta de enigmático acaso. Ele está ai por vontade divina, incumbido de cumprir um mandato. Se a humanidade perdeu a noção de sua razão de ser, de sua destinação, do sentido das coisas, é porque se esqueceu de sua vocação.
O Caminho: O sr. está afirmando que a vocação se estende a todas as pessoas cristãs e não só às ministras e ministros da Igreja?
Dr. Brakemeier: Martim Lutero já explicitou que “ser cristão é viver a sua vocação.” Nós podemos servir a Deus onde quer que estejamos. É em sua profissão que o cristão deve glorificar a Deus e servir ao próximo. O exercício da profissão é culto a Deus no cotidiano. Sob tal perspectiva o trabalho deixa de ser algo vergonhoso, reservado a escravos, para se tornar um meio privilegiado de servir. Na concepção de Lutero importa que moldemos a nossa vida a partir da vocação, seja no trabalho ou no lazer, seja em particular ou na família, seja na Igreja ou na sociedade. Digo de outra forma: Somos chamados a nos portar como cristãos em todas as circunstâncias da vida.
O Caminho: Então quer dizer que Deus nos chama para serviços diferentes, sempre em conformidade com as nossas capacidades e para as necessidades que se apresentam...
Dr. Brakemeier: Sim! Numa Comunidade nem todos podem fazer o mesmo. Há distribuição de dons e variedade de afazeres. A uniformidade de serviços seria mortal. O mesmo se aplica à saúde do corpo social. Ela repousa sobre o fundamento da "biodiversidade". O chamado ao serviço é sempre multiforme. O Espírito sopra onde quer e desperta gente para o trabalho na “lavoura de Deus” conforme lhe agrada. Ao lado dos serviços espontâneos, porém, existem os serviços estruturados. Neste caso falamos em "ministérios". A Igreja convoca pessoas consideradas habilitadas para o cumprimento de determinadas atribuições em caráter permanente ou, pelo menos, temporário. O ministério eclesiástico foi implantado pelo próprio Deus em sua Igreja. Quer dizer, o ministério que divulga o Evangelho e se encarrega da boa ministração dos sacramentos é imprescindível. Sem ele a Igreja sucumbe.
O Caminho: Explique isso melhor professor... Se Deus implantou o ministério eclesiástico então ele é especial e nem todos podem exercê-lo... É Isso?
Dr. Brakemeier: Como luteranos entendemos a vocação especial para o serviço como integrada na vocação geral de todas as pessoas. O estado de clérigo é igual ao do cristão comum. Ministério sempre tem natureza "diaconal". Todos são chamados a atender o chamado geral de Deus à humanidade e isso não muda o de status de ninguém. Observem que o chamado ao ministério acontece por mediação da instituição eclesiástica. É ela que chama, prepara, instala, cuida de obreiros e obreiras. O exercício "público" do ministério, pois, pressupõe uma vocação "legitima", isto é uma vocação de acordo com a "lei", as ordens, num rito correspondente. É da ordenação que depende a autorização para o ensino público na Igreja. É claro que todo testemunho cristão deva ser "público". Ele não pode permanecer na clandestinidade da esfera privada. Os "ministros” e as “ministras" devem estar habilitados a falar não somente em seu próprio nome, e, sim, em nome da Igreja. "Ensino público" na Igreja é discurso do qual publicamente se exige prestação de contas. As qualificações exigidas para o ministério podem ser resumidas em basicamente três: a) Competência teológica - Quem exerce um ministério na Igreja deve ser capaz da avaliação criteriosa das propostas em curso no mercado religioso. Espera-se das pessoas juízo teológico, posicionamentos próprios, zelo com respeito à confessionalidade da Igreja. b) Competência missionária - Ministros e ministras na Igreja são "propagandistas" de Jesus Cristo. Para tanto necessitam de facilidade na comunicação, no diálogo e na representação. Quem tem medo do público e prefere ficar em casa em lugar de procurar as pessoas, tem o seu ministério prejudicado. c) Competência administrativa - Esta não se refere apenas ao trabalho de secretaria que também na Igreja não pode faltar. Mais importante é saber administrar diversidade, conduzir a comunidade, trabalhar conflitos. Comunidade é sempre um fenômeno plural, cuja administração exige sabedoria.
O Caminho: Então o ministério eclesiástico não deixa de ser uma profissão...
Dr. Brakemeier: Certo! O exercício eclesiástico necessita de alto grau de "profissionalismo". Incompetência pode causar terríveis estragos, razão para não negligenciar a formação profissional dos obreiros. Mero profissionalismo é insuficiente para o exercício condigno do ministério. Claro que os servidores eclesiásticos também deverão ter garantidos os seus direitos. As comunidades têm o dever de cuidar da subsistência dos mesmos. Ainda assim a luta de classe e o sindicalismo são avessos à natureza da Igreja. As comunidades não são "patrões", representantes do "capital", empresas religiosas, das quais o "trabalho", a mão de obra, os empregados devessem arrancar sua participação nos lucros. A vocação comum da comunidade e dos obreiros o impede. Se faltar a vocação, o trabalho sofre danos. De qualquer maneira, o ministério eclesiástico é impensável sem vocação.
O Caminho: Qual seria a atribuição de de uma pessoa que exerça o ministério especial?
Dr. Brakemeier: Quero frisar que a tarefa de promover a causa de Deus neste mundo cabe tanto a membros leigos como aos membros que assumiram o compromisso espacial. No entanto, quem foi chamado para o ministério eclesiástico desempenha essa vocação em caráter oficial e, na maioria das vezes, em regime de dedicação integral. Estamos profissionalmente a serviço do reino de Deus, cooperando em sua obra. Nossa atribuição consiste em edificar comunidade, ensaiar o discipulado, denunciar a injustiça, reconciliar inimigos, capacitar para a paz, evangelizar o povo, chamar a fé, habilitar ao amor, mostrar sentido, construir esperança. Ora, a causa de Deus costuma enfrentar obstáculos, resistência ou desinteresse. O evangelho não tem procura garantida e os produtos oferecidos no mercado religioso podem servir antes a ídolos do que a Deus.
O Caminho: Quer dizer que o Evangelho de Deus pode trazer dificuldades para aqueles que com ele se ocupam...
Dr. Brakemeier: Quando os frutos demoram a aparecer, temos a tendência de pensar que a nossa pregação parece não atingir as pessoas. Sentimos o cansaço, o desânimo e a rotina nos ameaça. A fé precisa ser alimentada, re-apropriada, reaprendida. Todos os questionamentos à fé provêm de fora. Está renascendo um novo ateísmo na sociedade atual. Deus, quem ainda se interessa por ele? E se as comunidades encolhem e os membros debandam para se associar aos sem-religião? Isto significa que não basta recuperar a fé para nós mesmos. É preciso partir para a ofensiva e desafiar as pessoas com o evangelho. A fé, embora não possua provas de sua verdade, tem bons argumentos a seu favor. Importa defender a fé frente aos ataques que sofre. De qualquer maneira, sem fé abalizada o exercício do ministério eclesiástico se inviabiliza. Estamos casados com a fé. E se este matrimônio vai mal, perdemos a credibilidade. Ai de nós, se a fé sumir. Nosso discurso inevitavelmente vai tornar-se hipócrita. Faz parte de nossas atribuições a permanente reafirmação da fé frente a tudo o que parece desmenti-la. E não só isto. Cumpre-nos a arte do "discernimento dos espíritos". Aqui penso não somente nas nossas igrejas irmãs, penso em termos gerais nas exuberantes ofertas do mercado religioso. No pluralismo de nossos dias, quem fornece critérios orientadores capazes de selecionar o trigo da palha? Nosso campo de trabalho é a fé. Mas este campo é disputado e se apresenta confuso, caótico, estonteante. Nós estamos casados não com uma fé qualquer, e, sim, com a Fé cristã, evangélica, de confissão luterana. Estamos comprometidos com esta Igreja que se chama IECLB. Foi através dela que Deus nos chamou. Espera-se de ministro e ministra da IECLB que saiba justificar por que vale a pena ser membro justamente desta Igreja.
O Caminho: O Sr. está nos incitando a uma espécie de "batalha espiritual"?
Dr. Brakemeier: Nada disso! Somos chamados a procurar a afinidades dos credos religiosos em sentido micro e macro-ecumênico, sempre no esforço por construir a paz. Repudiamos a perseguição aos dissidentes. Não foi este o jeito de Jesus no trato do diferente. O mandamento do amor ao inimigo desautoriza qualquer violência em nome da religião. Mas isto não significa permissão para o "vale tudo" no mercado religioso. Obreiros e obreiras ordenadas devem às pessoas orientação em assuntos de fé. É assim que numa "religião de livre mercado" a tradição perde força. Ela já não mais segura as pessoas nos trilhos da fé tradicional. Verdade é que a comunidade cristã jamais tem sido algo dado. Sempre foi algo a construir. Mas o imperativo missionário se coloca hoje com particular insistência. Os entraves que a IECLB encontra nesse tocante merecem cuidadoso exame e disposição para ensaios reformadores. Embora missão seja tarefa decorrente da vocação geral das pessoas e mandato de todo o povo de Deus, cabe ao "ministério com ordenação" especial responsabilidade. Não basta "pastorear" o rebanho, catequizar os batizados, manter centros sociais e obras diaconais. Sem desprezar tudo isto, importa reconhecer que voltamos à estaca inicial da missão de Jesus. A IECLB não é apenas uma instituição, ela é um projeto que necessita de "simpatizantes", ou seja, de gente que se solidariza com ela na busca do reino de Deus e de sua justiça. No século 21 o ministério eclesiástico requer redefinições.
O Caminho: O sr. está apontando para dificuldades?
Dr. Brakemeier: Não! estou falando de chances, oportunidades, promessas. Vejam como é magnífica a vocação que Deus nos reservou. Por acaso, existe algo mais importante, mais relevante, mais empolgante do que o tema da fé? E é esta a nossa especialidade. A sociedade moderna esconde a fé. Considera-a um assunto privado, sobre o qual não se fala, abrindo assim as portas para chantagens e abusos da credulidade dos não avisados. É perigoso deixar a fé ao bel-prazer de cada qual, conforme o gosto e a preferência individual. Isto uma vez porque não funciona. Fé solta e presa fácil de manipulação pela mídia, pelos demagogos e charlatães. Todos querem fazer a nossa cabeça, querem nos fazer crer em alguma coisa. Pois embora não se admita, é evidente - e este é o segundo argumento para não deixar a fé surfando livre no espaço - que fé é o maior poder da história. Todas as pessoas, enquanto não forçadas, agem de acordo com as suas convicções. Fé determina a ação, é a diretriz da conduta, conduz à biografia de indivíduos e nações. Não nos iludamos: Todo mundo tem os seus credos, inclusive os ateus. A pergunta não é: se as pessoas crêem, mas o que elas crêem.
O Caminho: O Sr. afirma que somos agentes da fé no trino Deus, da fé que tem a promessa de vencer as adversidades do mundo, de curar debilidades e de abrir futuro. No seu entender, existe serviço mais relevante do que este?
Dr. Brakemeier: A pior ameaça a este mundo, a pior crise do momento é a crise da fé à qual deve ser atribuída a maioria das demais crises que nos assolam. A derrocada da ética, a idolatria do mercado, o apego ao poder a qualquer preço, a violência que prolifera em toda a parte, tudo isto de alguma forma tem sua raiz numa fé desorientada, enferma, perversa. Certamente não dispomos de receita pronta para sanar as patologias deste mundo. É Deus quem salva. Nossa vocação é mais modesta e, no entanto, altamente salutar. Cabe-nos apontar para a fonte da qual jorra a vida. Sabemos de um endereço a que nos dirigir nas angústias produzidas por pecado, dor e morte. Mais não podemos fazer. E, no entanto, isto é fundamental. Tal trabalho, eu o arrisco dizer, é não só vital como também gratificante. Pois não é de fardo que consiste o exercício do ministério eclesiástico. Quem ainda não experimentou a alegria que ele é capaz de proporcionar? Há pessoas muito gratas pelo conforto da Palavra de Deus, pela solidariedade na hora da tristeza, pela força do evangelho. E quem sabe, às vezes enxergamos também um pouco da bênção que Deus derrama sobre o trabalho de seus servos e suas servas fiéis.
O Caminho: O Sr. tem a chance de dizer uma última palavra aos leitores e às leitoras de O Caminho...
Dr. Brakemeier: Eu reafirmo que que, muito à semelhança do que acontece com o corpo humano, também a fé necessita do pão de cada dia. Ela precisa ser alimentada. Isto acontece através de oração e meditação, ou seja, através da vivência de espiritualidade evangélica. Nossas energias vêm de "cima", pelo poder do Espírito Santo, pela Palavra de Deus. Não menos importante é a reflexão teológica. A fé busca o entendimento. Ela quer munir-se do argumento, equipar-se para o testemunho. Para tanto é importante o dialogo, a discussão e o estudo conjunto de temas e problemas. Além disto, é óbvio que a equipação da fé exige a leitura. Insisto muito na formação continua, individual ou grupal, dos trabalhadores na seara do Senhor. A boa teologia sempre tem sido um distintivo de Igreja luterana. São muitas as razões para não enterrar este talento. Vocação ao ministério é simultaneamente um dom e um mandato. Importa não desprezar o compromisso nele inerente.
20.10.09
Ovelhas VIP
Muitas pessoas entram em crise, depois dos 40. Planejaram tudo tão bem e, de repente, percebem que alguns dos seus sonhados alvos não foram e nem serão mais alcançados. Fazer o quê? Que tal pedir ajuda a Deus, em oração, nessa hora?
Em Gênesis 12 pode-se entender que Abraão estava com a vida ganha. Ele conhecia os vizinhos pelo nome, acordava pela manhã e, depois do café, dava uma olhada no rebanho e, quando a fome batia, sentava-se para almoçar. Só uma coisa não estava legal: faltava-lhe um filho. Pois foi justamente nesse momento difícil da sua vida que ele ouviu a voz de Deus e, assim, resolveu os seus assuntos.
Pessoas que ouvem a Deus sempre acabam tomando bons rumos na vida. Jesus, certa vez, dirigiu-se aos seus discípulos e por tabela a toda cristandade, quando disse: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz" (João 10.27).
Outro dia perguntei a um estudante se ele já tinha ouvido a voz de Deus. A resposta veio rápida: "Quem sou eu para ouvir Sua voz? Sou uma criatura insignificante, nada mais do que isso...". Fiquei pensando... Para Jesus não existem "ovelhas VIP" (Very Important Person = pessoa muito importante) que ouvem sua voz. Para ele, "todas as suas ovelhas ouvem a sua voz".
Quando no meio de uma semana intensa de trabalho me vem o pensamento: "Eh, companheiro! Tu bem que poderias escrever um e-mail para a pessoa X ou até, quem sabe, fazer-lhe uma visita". Sinto-me usado por Deus quando reajo positivamente a uma idéia dessas. Isso mesmo! Sou um daqueles que ouve a voz de Deus desse jeito. Se porventura pensamentos radicais me vêm à cabeça, reparto-os com irmãs e irmãos na fé. Eles sempre têm uma boa palavra para mim. A comunhão é excelente para indicar bons denominadores comuns.
Em Gênesis 12 pode-se entender que Abraão estava com a vida ganha. Ele conhecia os vizinhos pelo nome, acordava pela manhã e, depois do café, dava uma olhada no rebanho e, quando a fome batia, sentava-se para almoçar. Só uma coisa não estava legal: faltava-lhe um filho. Pois foi justamente nesse momento difícil da sua vida que ele ouviu a voz de Deus e, assim, resolveu os seus assuntos.
Pessoas que ouvem a Deus sempre acabam tomando bons rumos na vida. Jesus, certa vez, dirigiu-se aos seus discípulos e por tabela a toda cristandade, quando disse: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz" (João 10.27).
Outro dia perguntei a um estudante se ele já tinha ouvido a voz de Deus. A resposta veio rápida: "Quem sou eu para ouvir Sua voz? Sou uma criatura insignificante, nada mais do que isso...". Fiquei pensando... Para Jesus não existem "ovelhas VIP" (Very Important Person = pessoa muito importante) que ouvem sua voz. Para ele, "todas as suas ovelhas ouvem a sua voz".
Quando no meio de uma semana intensa de trabalho me vem o pensamento: "Eh, companheiro! Tu bem que poderias escrever um e-mail para a pessoa X ou até, quem sabe, fazer-lhe uma visita". Sinto-me usado por Deus quando reajo positivamente a uma idéia dessas. Isso mesmo! Sou um daqueles que ouve a voz de Deus desse jeito. Se porventura pensamentos radicais me vêm à cabeça, reparto-os com irmãs e irmãos na fé. Eles sempre têm uma boa palavra para mim. A comunhão é excelente para indicar bons denominadores comuns.
19.10.09
Convenção Nacional de Obreiras e Obreiros da IECLB!
Saímos “faceiros” de casa no dia 13 de outubro de 2009. Nosso destino? Curitiba, Paraná, sim senhor! Estávamos afoitos. Nunca na história desta IECLB (parafraseando o atual presidente do Brasil) se reuniram tantas obreiras e obreiros para ter comunhão; para repartir sobre sua vida familiar e vocacional.
Já na chegada, os abraços. Quantos abraços. Inúmeros abraços. Todos os dias, abraços, boas palavras e sorrisos, nada de brigas, discussões. Aqui se falava de lembranças. Lá se ouvia de perspectivas. Acolá se apreendia conteúdos e o tempo foi passando, ligeiro, fagueiro...
Nossos ex-professores Gottfried Brakemeier e Wilfried Buchweitz ladeados pela colega Anelise Lengler Abentroth e pelo colega Nelso Weingärtner mais as psicólogas Roseli Künrich de Oliveira e Dorothea Wulfhorst nos fizeram pensar, refletir, meditar, reavaliar, tomar posições, olhar pro horizonte, alegrar-se com o novo momento que se avizinhava. Eu não queria que aquilo tudo acabasse.
Quase no finalzinho de tudo, fui emocionado por uma das organizadoras curitibanas. De microfone em punho ela disse: - Nós somos suas ovelhas. Continuem trabalhando. Precisamos da palavra que vocês proferem. Carecemos do seu cuidado. Confesso que não aguentei e chorei. Hoje estou em casa escrevendo, animado. Obrigado Senhor por este chamado!
Já na chegada, os abraços. Quantos abraços. Inúmeros abraços. Todos os dias, abraços, boas palavras e sorrisos, nada de brigas, discussões. Aqui se falava de lembranças. Lá se ouvia de perspectivas. Acolá se apreendia conteúdos e o tempo foi passando, ligeiro, fagueiro...
Nossos ex-professores Gottfried Brakemeier e Wilfried Buchweitz ladeados pela colega Anelise Lengler Abentroth e pelo colega Nelso Weingärtner mais as psicólogas Roseli Künrich de Oliveira e Dorothea Wulfhorst nos fizeram pensar, refletir, meditar, reavaliar, tomar posições, olhar pro horizonte, alegrar-se com o novo momento que se avizinhava. Eu não queria que aquilo tudo acabasse.
Quase no finalzinho de tudo, fui emocionado por uma das organizadoras curitibanas. De microfone em punho ela disse: - Nós somos suas ovelhas. Continuem trabalhando. Precisamos da palavra que vocês proferem. Carecemos do seu cuidado. Confesso que não aguentei e chorei. Hoje estou em casa escrevendo, animado. Obrigado Senhor por este chamado!
Ser amigo!
Quem caminhar com os olhos abertos logo perceberá que existe um grande número de pessoas que precisam ser ajudadas. Em Marcos 2.3 se lê que quatro amigos carregaram um paralítico para perto de Jesus. Uma boa história.
É assim que, muitas vezes, não cruzamos apenas com pessoas portadoras de deficiência física. Hoje o número de pessoas com deficiência psíquica é bem maior que no passado recente. O desemprego, as doenças, o luto e o isolamento são momentos que podem fazer com que uma pessoa se torne deficiente. Daí a importância de se ter amigos, amigos dispostos a também caminhar conosco por caminhos não tão cômodos.
O amor busca novos caminhos. Ele sempre faz mais do que se espera que ele faça. Os quatro amigos do homem do texto escrito pelo evangelista Marcos trilharam por caminho pedregoso, uma vez que não tinham o caminho livre para chegar a Jesus. Fazer o quê? Baixar o amigo pelo telhado – era o único jeito. Certamente ouviram conselhos do tipo: - Olha! Nestes casos a gente precisa entrar pela porta, sempre se entra pela porta, nunca pelo telhado. Ou ainda: O que é que o dono da casa vai dizer dessa nossa idéia? E se alguém se ferir? O que é que Jesus vai pensar dessa atitude?
Tais pensamentos também visitam nossas cabeças quando membros da nossa Comunidade ousam querer caminhar caminhos diferentes para trazer pessoas a Jesus Cristo. Estamos meditando sobre quatro pessoas dispostas a caminhar um novo caminho com o objetivo de levarem o seu amigo a Jesus. Aqui também nós somos perguntados: - Jesus ainda deseja que levemos pessoas a Ele? Temos interesse de fazer isso? Será que hoje nós ainda conseguimos ser amigos das pessoas que nos circundam?
Às vezes somos nós que estamos no fim das nossas forças, precisando de auxílio. As preocupações e os medos da vida nos põem no chão e isso já pela manhã. Coisa boa quando podemos confiar em amigos, amigos que não andam somente caminhos fácies de ser andados, mas que, se preciso for, também enfrentam intempéries para nos carregar; para nos aproximar de Jesus e nem que para isso tenham que andar jornadas estranhas aos olhos comuns. Não! O amor nunca é teoria. O amor é prático. Ainda hoje o amor encontra novos caminhos. Só precisamos caminhá-los em confiança na pessoa de Jesus Cristo.
5.10.09
Nosso querido pastor!
O nosso pastor era querido, tinha prestígio entre nós adolescentes. Foi apoiados nele que montamos um pequeno grupo de Juventude Evangélica. Foi ali que orando, louvando e lendo a Bíblia até ousamos articular pequenos projetos sociais; encarar a vida de frente. Na retaguarda, o nosso pastor. Um homem com palavras fortes que se comportava como se forte fosse.
Crescemos em número e em idéias. Agora uma diretoria era preciso. Nosso “mestre”, ao natural, passou a dirigir o processo da eleição. Quanta expectativa! Tinha chegado a hora de sistematizarmos o processo gerador de “momento novo”. Nosso pastor falava, gesticulava, impostava a voz. Estranho aquele comportamento.
Incrível! Nosso “líder” ditou os critérios da eleição. Nós queríamos tanto ter participado daquela “construção”. Ficamos estupefatos quando, de cima para baixo, fomos informados de que nosso “querido pastor” queria trabalhar somente com quem falasse a sua linguagem. A grande maioria de nós sentiu-se fora do “jogo”. Era como se todos os sonhos tivessem sido jogados dentro de uma barrica de água gelada.
Crescemos em número e em idéias. Agora uma diretoria era preciso. Nosso “mestre”, ao natural, passou a dirigir o processo da eleição. Quanta expectativa! Tinha chegado a hora de sistematizarmos o processo gerador de “momento novo”. Nosso pastor falava, gesticulava, impostava a voz. Estranho aquele comportamento.
Incrível! Nosso “líder” ditou os critérios da eleição. Nós queríamos tanto ter participado daquela “construção”. Ficamos estupefatos quando, de cima para baixo, fomos informados de que nosso “querido pastor” queria trabalhar somente com quem falasse a sua linguagem. A grande maioria de nós sentiu-se fora do “jogo”. Era como se todos os sonhos tivessem sido jogados dentro de uma barrica de água gelada.
E foi assim que perdemos a alegria de sermos os sujeitos de um “projeto de vida”. Sentimo-nos como que “marionetizados”. É triste, mas hoje, 40 anos depois, a História ainda permite que mulheres e homens sejam paridas, paridos para fazer valer propostas não inclusivas como aquela que minha turma e eu experimentamos.
1.10.09
Aporta!
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