Busque Saber

31.5.12

O MEU TALAR PRETO


Outro dia, lendo, descobri o historiador alemão Ulrich Bayer. Ele, na sua pesquisa, descobriu que foi o rei da Prússia, Frederico Guilherme III, quem instituiu o talar preto e o peitilho na cor branca para os ministros eclesiásticos de sua época. Conforme Ulrich, o seu decreto data do 1° de janeiro 1811.

Foi assim que, a partir daquela data, o talar preto, o peitilho branco mais a boina preta passaram a ser os uniformes oficiais para os pastores da época. Friedrich teve poder para instituir essa “lei” porque, além de ser rei, era a Liderança Maior da Igreja Evangélica e, como tal, também alguém muito envolvido nas questões litúrgicas.

Com essa “prescrição”, o rei prussiano visava organizar o “caos” existente no que diz respeito às indumentárias usadas pelos sacerdotes. Naquela época uns subiam no púlpito vestidos com ternos, outros com guardapós e terceiros com vestes compridas. Ora, isso tinha que ser mudado. Mais do que isso, o intuito do rei era promover ao povo uma imagem unificada da Igreja.

É assim que, ainda hoje, esta “ordem” dada por Friedrich Wilhelm III tem impacto sobre nós. A lei do uso do talar rezava assim: “O talar deve ser preto (ausência de cor) e ter seu comprimento marcado pelo tornozelo do ministro. O peitilho deve ser branco. A boina preta deve ser usada somente ao ar livre.”

Era esse o “uniforme” para os serviços religiosos na Igreja da Prússia. O modelo do talar devia seguir o modelo de um vestido pliçado e abotoado de cima para baixo. Pode-se dizer que o talar teve sua origem numa espécie de “jaqueta profana” que, em ocasiões especiais, também era usada por ministros eclesiásticos. O Reformador Martin Luther usou, pela primeira vez, este modelo de talar por ocasião da prédica que proferiu em 1524. Esse fato fez com que, a partir daquele dia, o talar fosse conhecido como a “vestimenta do Luther”.

Vai daí que a tradição do talar dura até os dias de hoje. Lá se vão 201 anos. A partir dos Documentos Normativos da IECLB eu, como pastor ordenado, devo usá-lo. Aliás, gosto de usá-lo. Quando da celebração de um Culto, o talar preto faz com que só meu rosto e minhas  mãos apareçam. Ele esconde o colorido da minha gravata e ou o corte da minha camisa e aí então só “aparece” mesmo a Palavra de Deus. Ora, isso tem tudo a ver com o entendimento evangélico de “adoração”.

Sim, o talar preto é símbolo indicador da nossa “identidade luterana” por excelência. Se nós, como IECLB, possuimos um símbolo, então este é o talar preto que tanto deve ser usado em Cultos como em Ofícios (Santa Ceia, Batismo, Confirmação, Casamento).

28.5.12

Venha a nós o Teu reino... (Mateus 6.10a)


Que a graça e a paz de Deus, nosso Pai, e do nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador, esteja com cada uma, com cada um de nós. Hoje nos colocaremos diante de uma frase extremamente curta: “Venha a nós o Teu Reino!” No que terminamos de pronunciá-la, já vem a segunda: “Seja feita a Tua vontade!” Penso que seria um bom exercício, se orássemos a oração do “Pai Nosso” em câmara lenta. As palavras que expressam a oração sensinada por Jesus contribuiriam muito mais para o nosso crescimento, se a orássemos bem devagar; de forma pausada. “Santificado seja o Teu Nome!”... “Venha a nós o Teu Reino!”...
 
O que passa pela cabeça de cada uma, de cada um de vocês quando dizem: - “Venha a nós o Teu Reino?” O que é que o “Reino de Deus” significa para nós? E se este “Reino de Deus” se concretizasse, assim, de repente, no meio das nossas lidas? Eu não me admiraria se gagejássemos, ao tentarmos responder estas perguntas. O fato é que estamos tratando de um assunto grandioso. Se, com calma, buscarmos resposta a estas perguntas, então, provavelmente, iremos apontar para as testemunhas que já oraram essa oração antes de nós; para as testemunhas que já ousaram se comunicar com palavras e imagens, a respeito do “Reino de Deus”; para testemunhas que já nos auxiliaram a crer a nunca perdermos a esperança...  

Uma destas testemunhas que experimenrta o “Reino de Deus” a favor de si é, para mim, o poeta Martin Behm. Ele, em 1606, escreveu uma poesia que foi convertida em canção. Nela, ele aponta Jesus Cristo como “Rei de todas as Honras” e descreve o Seu governo como verdade “já aqui e agora”: Tu Te encontras lindamente adornado. O Teu esplendor se estende por toda a terra. A Tua bondade e a Tua justiça regem a tudo e a todos. Tu proteges os piedosos através do Teu poder e da Tua força, para que eles experimentem a paz. Os ímpios não subsistirão. (Evangelisches Gesangbuch 71.4)

Agora, a gente também fica espantado quando pensa no número das testemunhas que experenciam o “Reino de Deus” contra si. “Os ímpios não subsistirão!” O mundo está repleto de pessoas ímpias. Basta olharmos em volta para percebermos isso. Mortes, homicídios, ataques terroristas, guerras, abusos sexuais, estupros... Onde, neste contexto se encontra Deus cuja “bondade e justiça rege a tudo e a todos”? Não nos enganemos a nós mesmo... Nós também já deixamos de experimentar “boas doses” da bondade de Deus. Mesmo assim, continuamos “cravando” nossos olhos no “Reino de Deus” e, sobretudo, no próprio Jesus Cristo. Em Marcos 1.15 se lê como Jesus Cristo iniciou a Sua obra: “O Reino dos Céus está próximo!  Arrependei-vos e crede no Evangelho”, diz a Palavra de Deus. Ora, a anunciada proximidade do “Reino de Deus” corresponde a uma chamada ao arrependimento; a crermos no Evangelho.   

Aí então nos é apresentada a Parábola de Jesus sobre a “Semente de Mostarda” que se transforma. Trata-se de uma bela imagem que aponta para o “Reino de Deus” que começa discretamente, a partir de inícios míseros e, no final das contas, se torna tão grande que os pássaros encontram bom abrigo nele. Não só os pássaros. Um homem cego pode ver novamente. As pessoas com deficiência física podem andar de novo. Um leproso se torna limpo e aos pobres é levada a Boa Notícia do Amor de Deus, do qual tanto carecem. É assim que se inicia o “Reino de Deus” que se volta para as pessoas com o intuito de curá-las de todos os seus males; que começa o irreversível “Reino de Deus” no meio de nós. 

O que é “irreversível”? Esta pergunta eu ouço da parte daqueles que não experimentam o “Reino de Deus” na sua totalidade. Elas perguntam: - O mundo melhorou nos últimos 2.000 anos? - Quantas pessoas pobres morrem prematuramente por causa da fome; da falta de assistência médica e de água poluída? - Quantas pessoas morrem de agonia por não existir cura para elas? - Qual é a esperança que a mensagem do “Reino de Deus” pode trazer para estas pessoas?
 
Os profetas Isaías e Miquéias também testemunham a respeito do Reino de Deus”. “Paz” e “Shalom” (paz física e espiritual) são para eles sinônimo do “Reino de Deus”. Eles estão certos de que chegará o momento em que as espadas serão reforjadas em arados e que as lanças se reforjarão em foices para que as pessoas se esqueçam da “arte da guerra”. Diante destas testemunhas do Antigo Testamento também surgem os críticos que dizem: - As pessoas nunca aprenderam nada dissa visão profetizada no passado. Esse povo afirma que estes fatos sonhados nunca se concretizarão e aponta seus dedos para as pessoas que assim creem, como indivíduos que “escondem suas cabeças na areia” para não perceberem a realidade que os cercam.
 
Aqui eu chamo o testemunho que João dá no último Livro da Bíblia para o “Reino de Deus”. Para João o “Reino de Deus” significa o enxugamento de todas as lágrimas; a morte da morte; a completa ausência da dor e do luto. O passamento do que é velho (Apocalipse 21.4). Neste ponto as testemunhas contrárias ao “Reino de Deus” devem estar sorrindo riso maroto. Quem embelezará o mundo destas pessoas que sofrem desmensuradamente, enquanto gritam desolada e passivamente por causa da certeza da dor e da morte, a partir do enxugamento de lágrimas?  Neste momento evoco uma testemunha contemporânea do “Reino de Deus” que brota de dentro do livro de Carlos Mesters, um teólogo brasileiro. É a história da Teresinha, uma mulher simples da roça. O filho de Teresinha tinha apenas alguns meses de idade e se encontrava muito doente. Ela, naturalmente, procurou um médico, mas este se recusou a dar o devido tratamento ao seu menino. Daí então ela perambulou de hospital em hospital, na busca da cura. Como não havia vagas nos leitos hospitalares, a criança foi rejeitada e acabou morrendo em seus braços.

Passou um tempo e esta mulher contou sua triste história para uma irmã diaconisa (freira), que reagiu assim: - “Como é que a senhora aguenta sofrer tanto assim?” A sra. Tersesinha lhe respondeu: - “Eu não sei, irmã. Nós somos pobres. Não sabemos nada. A única coisa que nos resta é sofrer neste mundo. Mas não se preocupe, irmã, um dia isso vai mudar! “Deus ajuda as pessoas como nós.”Um dia isso vai mudar” – disse a mulher. A morte não terá mais poder” – escreveu João. “Deus ajuda as pessoas como nós” – disse a mulher. “Deus enxugará todas as lágrimas” – escreveu João. E ambos seguem esperançosos rumo ao futuro.

Caminhar com esperança rumo ao futuro, isso ninguém pode fazer sozinho. Meu coração é muito pequeno para uma empreitada dessas. Eu preciso de testemunhas em quem em possa me enganchar no braço. Eu preciso chegar perto de pessoas como a D. Terezinha que crê, teimosamente, no fato de que as vítimas que, aparentemente, estão “perdendo o jogo”, vão ganhá-lo no final. Preciso me aproximar de pessoas como Isaías, Jesus e João que podem me ensinar a “arte” da esperança. Com essas pessoas próximas de mim eu consigo ultrapassar as minhas incapacidades que se resumem na fala limitada da esperança; do “Reino de Deus” que é mais forte que a morte. Com pessoas desse quilate nas minhas cercanias eu me sinto mais forte para absorver as palavras tão diferenciadas que podem encher os vazios do meu jeito pequeno, estreito e atormentado de trabalhar as dúvidas que insistem em morar dentro do meu coração.

As testemunhas de acusação ainda continuam tentando nos desestabilizar na fé. Elas dizem: - “A esperança em Deus que “redime” todas as “Teresinhas” da vida apenas anestesia a dor sofrida e é incapaz de promover o poder para a mudança.” Mas aí eu retruco: - “Podemos perder tanta coisa quando desaprendemos a esperança; quando nos limitamos a conviver com a miséria; quando a música “O dia virá” ficar desaprendida.” Quando tudo isto morrer, não morrem junto os nossos sonhos? Não morre toda a nossa esperança?

Se seguirmos as pegadas de Isaías, Jesus e João, então estamos comissionados a evitar a desesperança.  Enchamos a nossa boca. Não nos deixemos pressionar pelos arautos da desesperança. A morte não pode ter a última palavra. Se ela conseguir se adonar da última palavra, então ela será maior do que Deus. A vítima não deve ficar vítima para sempre. Se a vítima se eternizar, o autor da dor será maior do que Deus. O sofrimento injusto deve ser colocado no “banco dos réus”. Se não forem julgados ali, no “banco dos réus”, eles, os sofrimentos, tem tudo para se colocar como mais fortes do que a justiça de Deus. Sim, há muitas crianças sendo assassinadas e não vamos esconder essa reallidade de Deus. Diz a palvra que Ele enxugará todas as lágrimas e, junto, presenterá de volta o riso aos que sofrem. Ele vai curar todas as feridas e trazer os mortos de volta à vida. Ora, a esperança do “Reino de Deus” não é promessa vazia; a expectativa de um “novo céu e uma nova terra” não é delírio da idade; a nossa esperança não é barata; a fé que Deus plantou em nós pode atiçar a fé nas pessoas que caminham do nosso lado.

Sim! O “Reino de Deus” nos conduz para Jesus Cristo. O “Reino de Deus” não nos “cega” para o sofrimento do mundo, mas nos torna solidários com os que sofrem dor; nos desafia a não recolhermos as mãos na hora de ajudar. Nós trairíamos o mundo se proclamássemos a vinda do “Reino de Deus”, pela qual pedimos na oração do “Pai Nosso”, como um “Projeto Mundano”. No momento em que entendermos o nosso chamado para o “Reino de Deus”, entenderemos que a justiça não pode vir a ser verdade apenas depois da morte; que a escravidão não pode acabar só depois da morte. Se fosse assim, a justiça teria tudo para ser “obra” dos mestres deste mundo, não de Deus. A verdade é que o Libertador da Morte ressuscitou dentre os mortos. Ele ressuscitou e agora nos chama também a ressuscitarmos, a nos rebelarmos contra os homens que nos manipulam com seus conceitos de morte.

Não podemos orar “Venha o Teu Reino” e, ao mesmo tempo, nos relacionarmos com os sinais de morte que pululam à nossa volta. Como crer em Deus como O mais forte que a morte e, ao mesmo tempo, pertencer ao grupo dos campeões do mundo em exportação de armas? Não podemos acreditar na ressurreição e, na mesma hora, colocarmos em perigo as vidas de nossos filhos e netos, dando mínima para a poluição! “Venha o Teu Reino”... Isso significa que nenhuma lágrima derramada é vã; que nenhuma ferida continuará sem cura; que nenhuma injustiça ficará sem justiça; que nenhuma morte separará de Deus. Como, quando e onde isto será realidade? Deus sabe a resposta e isso já é suficiente.

Que a paz de Deus que é maior do que a nossa razão, guarde os nossos corações e mentes em Cristo Jesus. Amém!


25.5.12

A Terceira Pessoa da Trindade - O Espírito Santo! (João 15.26-27 e 16.4-15)


Jesus sabia da crise pela qual os Seus discípulos iriam passar, depois que Ele voltasse para junto do Seu Pai. Jesus estava consciente de que seus discípulos teriam dificuldade de “aguentar o tranco” depois da Sua partida. Foi por isso que Ele eviou o Espírito Santo a todas as Suas seguidoras; a todos os Seus seguidores. Do Evangelho lido, eu destaco o verso 7 de João 16: “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.”

Para mortais como tu e eu, o Espírito Santo é um grande mistério. Em nenhum momento Ele nos é apresentado como uma pessoa. Vem daí a nossa dificuldade em imaginá-Lo. Dado a esta dificuldade, algumas pessoas chegam ao ponto de negá-Lo; a classificá-Lo como uma “força divina impessoal e relativa” – nada mais do que isso.

Aqui e ali se ouve perguntas do tipo: - Será que o Espírito Santo é mesmo tão importante para nós? Será que a nossa fé em Deus e em Jesus Cristo já não sejam suficientes? – Será que precisamos levar o Espírito Santo tão a sério como se sugere por aí? Ora, erram feio as pessoas que pensam assim. O próprio Jesus e todo o testemunho que brota de dentro do Novo Testamento nos deixam claro o quanto somos dependentes do Espírito Santo. Sem o Espírito Santo nós não poderíamos ser resgatados para dentro do Reino de Paz, Amor e Perdão de Deus!

Jesus nos declara que o Espírito Santo abre o entendimento das pessoas a respeito do seu pecado (João 16.8); que é somente através do Espírito Santo que podemos reconhecer a nossa maldade; que podemos vir a desejar a nossa redenção. Gente querida! Nós só poderemos perceber e compreender o caminho que nos leva à salvação, se o “Espírito da Verdade” nos conduzir a toda verdade (13). Resumindo, o Espírito Santo nos atrai (14-15); nos leva até o nosso Pai do Céu.

Digo mais... O Espírito Santo de Deus também nos promove a vitória sobre os nossos pecados (Romanos 8.2). É o Espírito Santo quem amadurece os “Frutos do Espírito” em nós (Gálatas 5.22-23): amor, alegria, paz, paciência, bonade, retidão, fidelidade, mansidão e domínio próprio. É assim, e não de outra forma que a nossa vida vai se sintonizando com o Amor de Deus. O Espírito Santo promove o crescimento espiritual e desenvolve dons na vida das pessoas cristãs (1 Coríntios 12.1-11): dar conselhos sábios; aptidão para estudar e ensinar; a ter fé; a curar doentes; a fazer milagres; a profetizar e pregar; a ter discernimento sobre as mensagens que são trazidas; a falar e a compreender línguas estranhas, etc. Enfim, o Espírito Santo promove a alegria e a certeza da salavação no coração das filhas e dos filhos de Deus (Romanos 8.15-16). Sim, o Espírito Santo dá profundidade à nossa vida de oração (26-27) e nos oportuniza darmos um testemunho coerente sobre Jesus Cristo, o nosso Salvador (Atos 1.8). 

Concluo dizendo que o Espírito Santo oportuniza todos estes efeitos em nós. E assim nos fica claro o quão pobre seríamos, se o Espírito Santo não fosse o nosso Assessor; nos fica evidente o quanto Ele nos quer fazer ricos e o quanto somos dependentes Dele. Sem o Espírito Santo, nós não teríamos qualquer ajuda; nós não poderíamos ser confortados; nós estaríamos órfãos, completamente sós neste mundo (João 14.16-18); nós estaríamos perdidos, sem nenhuma esperança. Peçamos, diariamente, que o Esírito Santo nos visite para que possamos ficar “cheios” Dele (Atos 2.38-39  e 4.8-31).

24.5.12

Pai Nosso que estás nos Céus... (Mateus 6.9)


Queridos irmãs e queridos irmãos! A oração do Pai Nosso é um tesouro, uma herança preciosa. Ela foi orada pelos nossos pais, quando do nosso Batismo. Alguns já a aprenderam no tempo do Jardim de Infância. Outros a decoraram no Primário, na Escola Fundamental. Como era bom poder reconhecer esta Oração quando da nossa participação no Culto. Hoje ninguém de nós precisa mais decorá-la, pois já a sabemos de cor. Podemos nos esquecer de algumas “falas”, quando na Liturgia dos nossos Cultos. Também podemos nos esquecer de alguns Textos da Bíblia. Eu conheço pessoas que não conseguem decorar Hinos Cristãos. Agora, da Oração do Pai Nosso, ah isso ninguém se esquece. Há pessoas que não deixam passar um dia sequer, sem pensar e ou orar estas palavras da Oração que o Senhor Jesus Cristo nos ensinou a orar.

A oração do Pai Nosso pode ser orada em meio aos escombros de um terremoto, como o que aconteceu no Haiti. Ela também pode ser orada no leito de morte de uma pessoa querida. Se sabe que, em muitos casos, a oração do Pai Nosso já ajudou pessoas a “largarem mão” desta vida terrena. Outro dia presenciei um acidente de pequena monta em que a pessoa ferida, já sobre a maca do Corpo de Bombeiros, orava o Pai Nosso. O “Pai Nosso” é orado em circunstâncias difíceis. Aqui lembro que sempre há muita dor, quando se leva um corpo à sepultura. O momento de se baixar o caixão é extremamente doloroso. Nestas horas é boa a experiência de se ouvir: “Pai Nosso que estás nos céus...
 
As palavras da oração do Pai Nosso nos acompanham “do berço ao caixão”. Ela é a oração mais orada que existe na História. Suas palavras nos ajudam não apenas em momentos decisivos da vida. Repito: elas são um tesouro, um patrimônio precioso...

As palavras da oração do Pai Nosso testemunham da nossa boa relação com Deus. Deus é nosso Pai Celestial – Isso é mais importante e decisivo do que as Sete Petições que vamos estudar nas próximas semanas. A relação de Deus conosco não depende de qualquer visibilidade Sua. Se a nossa relação com Deus dependesse de visibilidade, então ela se igualaria à relação que eu tenho com uma amiga ou com um amigo. No contato com Deus eu também não preciso me desgastar com muito vocabulário, como se o ato de orar fosse uma espécie de luta em prol de conquista. Também não vem ao caso se eu oro em voz alta ou em voz baixa; se eu agradeço ou se eu peço; se eu reclamo ou não de Deus. Sempre há boas razões para se orar. É importante que levemos a sério esta relação com Deus e que, assim, permanentemente, nos coloquemos, de corpo e alma, diante Dele; em relacionamento com Ele. Aqui podemos contextualizar a Palavra de Deus: Peçam! Já está dado a vocês... Busquem! Vocês já encontraram... Batam! A porta já está aberta... O que conta é encontrarmo-nos na relação com Deus, a partir desta oração. É por isso que Jesus nos chama a atenção no Sermão da Montanha: “não sejais como os hipócritas que se mostram nas sinagogas e nas esquinas...”,  mas “optai pelo silêncio do quarto com a porta trancada...” e “não não exagerem tanto nas palavras como os pagãos fazem. Eles entendem que serão ouvidos pela articulação das suas muitas falas” (cf. Mateus 6.5ss.)

O teólogo Karl Bart afirmou que a oração é “uma demonstração de fé disfarçada de  pregação; que a oração é um “instrumento de edificação”; que a oração é uma “brilhante travessura”, mas não uma oração”. A oração não é oração quando se quer dizer alguma coisa para outro alguém que não seja Deus. Daí que é primordial refletir-se sobre a oração, que sempre tem a ver com a minha relação com Deus. Jesus não quis dizer: - É assim que vocês precisam; devem orar. Vocês podem orar assim porque Deus, na Sua bondade; na Sua misericórdia se mostrou a vocês.  Ele se mostrou a “vocês”, não a um de vocês. Jesus nos desafia a orarmos a oração do Pai Nosso em Comunidade, nunca no silêncio do nosso quarto... Se olharmos este texto de forma bem literal vamos perceber que não temos uma relação exclusiva com Deus. Uma oração onde nos referimos a “meu Pai que stá nos céus” ou “meu pão diário” iria nos separar da Comunidade; nos promoveria a busca de uma salvação egoísta. Ora, um relacionamento com Deus que exclui os outros não é um relacionamento com Deus.

E sobre a imagem de “Pai”? Para Jesus o ato de falar de Deus como um “Pai” era algo muito natural. Se a Bíblia fosse traduzida de forma apropriada, leríamos: “Tu, ó Deus, nos é Pai e Mãe nos Céus.” Penso que uma tal tradução seria correta! A palavra “pai” pode me levar a pensar num “pai de sangue”, mas e se ele não foi um bom pai? Quais os sentimentos que eu carregarei dentro do meu peito quando dizer a palavra “Deus-Pai”, se as experiências com meu pai não foram boas? A imagem de “Deus-Pai” deve ser diferente da do nosso pai de sangue. Se “Deus-Pai” fosse como eu sou, então eu não poderia aprender com Ele; não teria esperanças maiores das que eu carrego comigo mesmo.

Eu, por mim, desejo um “pai terreno” que mostre o seu próprio rosto, que pense, viva e se relacione “teti-a-teti” comigo. Será que um “pai terreno” nunca agiria com força e nem tampouco com violência; não me dobraria quando estou no fim das minhas forças; não se irritaria com minhas fraquezas e meus erros; se inclinaria para mim quando me percebesse deitado no chão. É meio assim a minha idéia de um “pai de sangue”. Ora, de um “pai terreno”, que seja companheiro, não se aprende muita coisa. Será que o nosso pensamento sobre o “Pai do Céu” não está meio fora de foco?

O desejo do “pai terreno” em relação a nós é ver-nos crescidos; desenvolvidos; não imaturos e dependentes Dele. Por um longo tempo eu ainda não sou e não posso. Nessas horas ele ainda é o meu representante. Ele se desincumbirá deste papel até o momento em que eu souber  falar por mim; assumir meus atos. É assim que eu, instintivamente, desejo um “pai terreno”. Dessa forma eu não sou capaz de imaginar o nosso “Deus-Pai” assim como Ele é. 

Penso que com esta reflexão eu tenha conseguido colocar os limites entre “Deus-Pai” e um “pai terrestre”. Se o “pai terrestre” for bom e sábio, então ele abdica do seu papel. Felizmente Deus não abdica nunca do Seu papel. Mas Ele também não quer ser nosso “Tutor” durante toda a vida. Ele nos quer como parceiros. Será que os filhos de Deus, aqueles que sempre querem continuar sendo filhos de Deus, não estão se esquecendo deste fato de que Deus os espera parceiros?  

Bons pais não são apenas fortes e superiores. Um tal comportamento seria intolerável. Eles também são criaturas vulneráveis e também necessitam do carinho e do amor de seus filhos. Isso também não é assim com Deus? Eu creio que Deus carece do nosso amor. Um Deus que não necessita de nada, que só é superioridade, é um Deus intolerável. Nós precisamos reaprender que Deus anseia por amor, como todo amante anseia sua mada e viceversa. Assim, o Seu rosto deve se iluminar quando oramos: Pai Nosso que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome!...

Notem que não é por acaso que a Primeira Petição, “Santificado seja o Teu Nome”, seja coloca como quela que antecede as demais. O “Nome de Deus” está acima de tudo o que se confere a Deus. “Deus-Pai” nos prometeu o Seu Reino; a Sua boa vontade; os Seus bons dons; o perdão que Ele quer presentear; a preservação e salvação que Ele quer fazer acontecer através de Jesus Cristo.

O próprio nome de Deus valeria uma prédica por si só. Deus se revelou a Moisés de forma misteriosa e velada: - EU SOU O QUE SOU...Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros. (Êxodo 3.14) No início dos Dez Mandamentos se lê: - “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.” (Êxodo 20.2) “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.” (Êxodo 20.7) E o conhecimento de Deus não está longe. Quando o Nome de Deus é profanado e jogado no chão, daí não demora muito o atropelamento do primeiro Mandamento.

Deus permite que o Seu Nome habite no templo em Jerusalém. Os Salmos levantam muitas vozes de louvor ao Nome de Deus. As judias e os judeus santificam o nome de Deus sem expressar as quatro letras do alfabeto hebreu “Iud / He / Waw / He”. (Javé)

O que significa para nós a expressão “Santificado seja o Teu Nome”? - Martin Luther, em seu Pequeno Catecismo, escreve: “Quando a Palavra de Deus é ensinada na sua verdade e pureza, e nós, como filhos de Deus, a vivemos de forma santa... ali o nome de Deus é santificado.” Repito essa frase de Luther de uma forma mais popular: “Tal como falamos e agimos, amamos e confiamos, nos relacionamos, cantamos trabalhamos e curtimos nosso lazer, assim também respeitamos o Nome de Deus.

“Pai Nosso que estás Céus. Santificado seja o Teu Nome”. Orar esta oração é abster-se de olhar para si e olhar para Deus; é estender a mão para Ele...

Através da oração pode acontecer muita coisa, inclusive um encontro com Jesus Cristo. Para tal, o silêncio do quarto é de suma importância.


OLHA SÓ!