Que a graça e a paz de Deus, nosso Pai, e do nosso Senhor
Jesus Cristo, nosso Salvador, esteja com cada uma, com cada um de nós. Hoje nos
colocaremos diante de uma frase extremamente curta: “Venha a nós o Teu Reino!” No que terminamos de pronunciá-la, já vem
a segunda: “Seja feita a Tua vontade!” Penso que seria um bom exercício, se
orássemos a oração do “Pai Nosso” em câmara lenta. As palavras que expressam a
oração sensinada por Jesus contribuiriam muito mais para o nosso crescimento,
se a orássemos bem devagar; de forma pausada. “Santificado seja o Teu Nome!”... “Venha a nós o Teu Reino!”...
O que passa pela cabeça de cada uma, de cada um de vocês
quando dizem: - “Venha a nós o Teu Reino?”
O que é que o “Reino de Deus”
significa para nós? E se este “Reino de
Deus” se concretizasse, assim, de repente, no meio das nossas lidas? Eu não
me admiraria se gagejássemos, ao tentarmos responder estas perguntas. O fato é
que estamos tratando de um assunto grandioso. Se, com calma, buscarmos resposta
a estas perguntas, então, provavelmente, iremos apontar para as testemunhas que
já oraram essa oração antes de nós; para as testemunhas que já ousaram se
comunicar com palavras e imagens, a respeito do “Reino de Deus”; para testemunhas que já nos auxiliaram a crer a
nunca perdermos a esperança...
Uma destas testemunhas que experimenrta o “Reino de Deus”
a favor de si é, para mim, o poeta Martin Behm. Ele, em 1606, escreveu uma
poesia que foi convertida em canção. Nela, ele aponta Jesus Cristo como “Rei de todas as Honras” e descreve o Seu
governo como verdade “já aqui e agora”: Tu
Te encontras lindamente adornado. O Teu esplendor se estende por toda a terra.
A Tua bondade e a Tua justiça regem a tudo e a todos. Tu proteges os piedosos através
do Teu poder e da Tua força, para que eles experimentem a paz. Os ímpios não subsistirão. (Evangelisches Gesangbuch 71.4)
Agora, a gente também fica espantado quando pensa no
número das testemunhas que experenciam o “Reino
de Deus” contra si. “Os ímpios não
subsistirão!” O mundo está repleto de pessoas ímpias. Basta olharmos em
volta para percebermos isso. Mortes, homicídios, ataques terroristas, guerras,
abusos sexuais, estupros... Onde, neste contexto se encontra Deus cuja “bondade e justiça rege a tudo e a todos”?
Não nos enganemos a nós mesmo... Nós também já deixamos de experimentar “boas doses” da bondade de Deus. Mesmo
assim, continuamos “cravando” nossos
olhos no “Reino de Deus” e,
sobretudo, no próprio Jesus Cristo. Em Marcos 1.15 se lê como Jesus
Cristo iniciou a Sua obra: “O Reino dos
Céus está próximo! Arrependei-vos e
crede no Evangelho”, diz a Palavra de Deus. Ora, a anunciada proximidade do
“Reino de Deus” corresponde a uma
chamada ao arrependimento; a crermos no Evangelho.
Aí então nos é apresentada a Parábola de Jesus sobre a “Semente de Mostarda” que se transforma.
Trata-se de uma bela imagem que aponta para o “Reino de Deus” que começa discretamente, a partir de inícios
míseros e, no final das contas, se torna tão grande que os pássaros encontram
bom abrigo nele. Não só os pássaros. Um homem cego pode ver novamente. As
pessoas com deficiência física podem andar de novo. Um leproso se torna limpo e
aos pobres é levada a Boa Notícia do Amor de Deus, do qual tanto carecem. É assim
que se inicia o “Reino de Deus” que
se volta para as pessoas com o intuito de curá-las de todos os seus males; que
começa o irreversível “Reino de Deus”
no meio de nós.
O que é “irreversível”?
Esta pergunta eu ouço da parte daqueles que não experimentam
o “Reino de Deus” na sua totalidade.
Elas perguntam: - O mundo melhorou nos últimos 2.000 anos? - Quantas pessoas
pobres morrem prematuramente por causa da fome; da falta de assistência médica
e de água poluída? - Quantas pessoas morrem de agonia por não existir cura para
elas? - Qual é a esperança que a mensagem do “Reino de Deus” pode trazer para estas pessoas?
Os profetas Isaías e Miquéias também testemunham a
respeito do “Reino de Deus”.
“Paz” e “Shalom” (paz física e espiritual) são para eles sinônimo do “Reino de Deus”. Eles estão certos de que
chegará o momento em que as espadas serão reforjadas em arados e que as lanças
se reforjarão em foices para que as pessoas se esqueçam da “arte da guerra”. Diante destas
testemunhas do Antigo Testamento também surgem os críticos que dizem: - As
pessoas nunca aprenderam nada dissa visão profetizada no passado. Esse povo
afirma que estes fatos sonhados nunca se concretizarão e aponta seus dedos para
as pessoas que assim creem, como indivíduos que “escondem suas cabeças na areia” para não perceberem a realidade que
os cercam.
Aqui eu chamo o testemunho que João dá no último Livro da
Bíblia para o “Reino de Deus”. Para
João o “Reino de Deus” significa o enxugamento
de todas as lágrimas; a morte da morte; a completa ausência da dor e do luto. O passamento do que é velho (Apocalipse 21.4). Neste ponto as testemunhas contrárias ao “Reino
de Deus” devem estar sorrindo riso maroto. Quem embelezará o mundo destas
pessoas que sofrem desmensuradamente, enquanto gritam desolada e passivamente
por causa da certeza da dor e da morte, a partir do enxugamento de
lágrimas? Neste momento evoco uma
testemunha contemporânea do “Reino de
Deus” que brota de dentro do livro de Carlos Mesters, um teólogo
brasileiro. É a história da Teresinha, uma mulher simples da roça. O filho de
Teresinha tinha apenas alguns meses de idade e se encontrava muito doente. Ela,
naturalmente, procurou um médico, mas este se recusou a dar o devido tratamento
ao seu menino. Daí então ela perambulou de hospital em hospital, na busca da
cura. Como não havia vagas nos leitos hospitalares, a criança foi rejeitada e acabou morrendo em seus braços.
Passou um tempo e esta mulher contou sua triste história
para uma irmã diaconisa (freira), que reagiu assim: - “Como é que a senhora aguenta sofrer tanto assim?” A sra. Tersesinha
lhe respondeu: - “Eu não sei, irmã. Nós
somos pobres. Não sabemos nada. A única coisa que nos resta é sofrer neste
mundo. Mas não se preocupe, irmã, um dia isso vai mudar! “Deus ajuda as pessoas como nós.” “Um dia isso vai mudar” –
disse a mulher. “A morte não terá
mais poder” – escreveu João. “Deus
ajuda as pessoas como nós” – disse a mulher. “Deus enxugará todas as lágrimas” – escreveu João. E ambos seguem esperançosos rumo ao futuro.
Caminhar com esperança rumo ao futuro, isso ninguém pode
fazer sozinho. Meu coração é muito pequeno para uma empreitada dessas. Eu preciso
de testemunhas em quem em possa me enganchar no braço. Eu preciso chegar perto
de pessoas como a D. Terezinha que crê, teimosamente, no fato de que as vítimas
que, aparentemente, estão “perdendo o
jogo”, vão ganhá-lo no final. Preciso me aproximar de pessoas como Isaías,
Jesus e João que podem me ensinar a “arte”
da esperança. Com essas pessoas próximas de mim eu consigo ultrapassar as
minhas incapacidades que se resumem na fala limitada da esperança; do “Reino de Deus” que é mais forte que a
morte. Com pessoas desse quilate nas minhas cercanias eu me sinto mais forte
para absorver as palavras tão diferenciadas que podem encher os vazios do meu
jeito pequeno, estreito e atormentado de trabalhar as dúvidas que insistem em
morar dentro do meu coração.
As testemunhas de acusação ainda continuam tentando nos
desestabilizar na fé. Elas dizem: - “A
esperança em Deus que “redime” todas as “Teresinhas” da vida apenas anestesia a
dor sofrida e é incapaz de promover o poder para a mudança.” Mas aí eu
retruco: - “Podemos perder tanta coisa
quando desaprendemos a esperança; quando nos limitamos a conviver com a
miséria; quando a música “O dia virá” ficar desaprendida.” Quando tudo isto
morrer, não morrem junto os nossos sonhos? Não morre toda a
nossa esperança?
Se seguirmos as pegadas de Isaías, Jesus e João, então
estamos comissionados a evitar a desesperança.
Enchamos a nossa boca. Não nos deixemos pressionar pelos arautos da
desesperança. A morte não pode ter a última palavra. Se ela conseguir se adonar
da última palavra, então ela será maior do que Deus. A vítima
não deve ficar vítima para sempre. Se a vítima se eternizar, o autor da dor
será maior do que Deus. O sofrimento injusto deve ser colocado no “banco dos réus”. Se não forem julgados
ali, no “banco dos réus”, eles, os
sofrimentos, tem tudo para se colocar como mais fortes do que a justiça de
Deus. Sim, há muitas crianças sendo assassinadas e não vamos esconder essa
reallidade de Deus. Diz a palvra que Ele enxugará todas as lágrimas e, junto,
presenterá de volta o riso aos que sofrem. Ele vai curar todas as feridas e
trazer os mortos de volta à vida. Ora, a esperança do “Reino de Deus” não é promessa vazia; a expectativa de um “novo céu e uma nova terra” não é delírio
da idade; a nossa esperança não é barata; a fé que Deus plantou em nós pode
atiçar a fé nas pessoas que caminham do nosso lado.
Sim! O “Reino
de Deus” nos conduz para Jesus Cristo. O “Reino de Deus” não nos “cega”
para o sofrimento do mundo, mas nos torna solidários com os que sofrem dor; nos
desafia a não recolhermos as mãos na hora de ajudar. Nós trairíamos o mundo se
proclamássemos a vinda do “Reino de Deus”,
pela qual pedimos na oração do “Pai Nosso”,
como um “Projeto Mundano”. No momento
em que entendermos o nosso chamado para o “Reino
de Deus”, entenderemos que a justiça não pode vir a ser verdade apenas
depois da morte; que a escravidão não pode acabar só depois da morte. Se fosse
assim, a justiça teria tudo para ser “obra”
dos mestres deste mundo, não de Deus. A verdade é que o Libertador da Morte
ressuscitou dentre os mortos. Ele ressuscitou e agora nos chama também a
ressuscitarmos, a nos rebelarmos contra os homens que nos manipulam com seus
conceitos de morte.
Não podemos orar “Venha o Teu Reino” e, ao mesmo tempo, nos relacionarmos com os
sinais de morte que pululam à nossa volta. Como crer em Deus como O mais forte
que a morte e, ao mesmo tempo, pertencer ao grupo dos campeões do mundo em
exportação de armas? Não podemos acreditar na ressurreição e, na mesma hora,
colocarmos em perigo as vidas de nossos filhos e netos, dando mínima para a
poluição! “Venha o Teu Reino”... Isso
significa que nenhuma lágrima derramada é vã; que nenhuma ferida continuará sem
cura; que nenhuma injustiça ficará sem justiça; que nenhuma morte separará de
Deus. Como, quando e onde isto será realidade? Deus sabe a resposta e isso já é
suficiente.
Que a paz de Deus que é maior do que a nossa
razão, guarde os nossos corações e mentes em Cristo Jesus. Amém!