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25.5.11

Sepultar ou cremar nossos queridos III


O sepultamento em terra foi praticado pelos israelitas. Já na Antiguidade os pagãos praticaram a queima de cadáveres, mas essa prática não era frequente.

Os primeiros cristãos se pautaram na prática dos judeus e, a partir daí, sempre sepultaram seus mortos em túmulos; cavernas cavadas na pedra e ou nas catacumbas. Esse “jeito” de se despedir dos seus queridos os “diferenciava” dos pagãos.

Em muitas religiões não cristãs e culturas diversas o ato da cremação vem sendo praticado já de longa data. Atrás desta prática existe a compreensão particular da eternidade e da divindade. Para alguns o fogo leva a matéria até Deus. Não quero me aprofundar neste aspecto – só comentar.

Os primeiros cristãos missionários enfrentaram resistências na Europa. Os inimigos do cristianismo experimentaram erradicar a idéia da ressurreição queimando mártires cristãos. Isso aconteceu em Lyon, em 177 d.C. quando espalharam as cinzas de alguns mártires na praça. A queima de cadáveres era um jeito de combater o cristianismo e os ensinos da ressurreição.

Em 784 d.C., Carlos Magno, o Grande, baixou um decreto proibindo a cremação de cadáveres. A Igreja Católica tinha poderes para fazer valer a proposta do sepultamento dos mortos em tumbas e ou em terra. Para tal ela podia usar um dogma (dogma = é e ponto final) ou a própria Palavra da Bíblia. Mas não! Ela sustentou que o ato da cremação não era cristão. A História mostrou que a Igreja Católica se equivocou porque, mais tarde, mártires cristãos vieram a ser queimados e, por isso mesmo, venerados como santos.

Mais tarde a Igreja excomungou e até queimou pessoas na fogueira. Ela fez isso com o objetivo de deixar claro que aquelas pessoas não pertenciam ao Reino de Deus. Nestes casos ela soube contornar a sua opção pelo sepultamento do corpo falecido. Durante muitos séculos foi proibido aos sacerdotes o sepultamento de uma pessoa cristã cremada nos cemitérios da Igreja Católica.

No século 17 muitos se afastaram da Igreja Católica e passaram a ver o ato da cremação com bons olhos. Foi sob a influência da Renascença e do Iluminismo que este costume da cremação foi novamente levado em conta. As pessoas que praticavam a cremação agiam assim para se mostrarem contrárias àquelas que praticavam a “fé cristã”; contra a Igreja Instituída. Para esse povo não havia absolutamente mais nada depois da morte.

Em 1905 os marxistas criaram a “Associação de Livres Pensadores para a Cremação”. Em 1920 eles criaram o grupo dos “Pensadores Livres Proletários” que optaram pela cremação e pelo abandono da Igreja. A Igreja Católica ficou contente que estas pessoas se afastaram da sua membresia. Já a Igreja Evangélica, depois de alguma hesitação, esclareceu que a cremação poderia ser “opcional”. Com isso ela se colocou na dianteira dos “anti-igrejeiros”; dos adeptos da cremação. Só em 1964 a Igreja Católica autorizou oficialmente a cremação, mas somente se, depois de tudo, as cinzas fossem enterradas numa sepultura.

Resumindo, a cremação pode ser colocada de lado a partir de bases bíblicas, mas, ao mesmo tempo, também pode ser definida como a única coisa certa a ser feita. A Bíblia não nos ajuda muito numa tomada de posição sobre este tema. No Antigo Israel há referências históricas que vão ao encontro da prática do sepultamento. Cabe frisar, no entanto que a Igreja Antiga adotou a sua prática a partir do seu contexto e que a Igreja Primitiva seguiu caminhos próprios, também a partir do seu contexto.

Quando se fala de “cremação” no Antigo Testamento, sempre há relação de mau comportamento diante de Deus e ou adoração a ídolos. É de se perguntar pelo motivo... Com aquela prática o povo de Israel se diferenciava dos povos pagãos.

Na ressurreição para a vida eterna o corpo humano não tem mais nenhum papel para cumprir. Receberemos de Deus um novo corpo; um corpo “deificado”. Se optarmos pelo sepultamento por causa da ressurreição, estaremos tomando uma decisão com base em falso conhecimento da ressurreição e da vida eterna.

A pessoa cristã pode decidir livremente que tipo de ofício ela quer ter quando morrer. Neste sentido a sua decisão pessoal não tem nada a ver com a sua salvação pessoal. O nosso corpo ficará deste lado em que estamos aqui e agora. Isso quer dizer que com a morte o nosso corpo não é mais nada.

Toda pessoa cristã deveria refletir em vida sobre o momento de sua morte. Sobre o ritual do velório; sobre como deverá ser o enterro. O que será melhor para os que ficam: Organizar o sepultamento ou a cremação. Isso significa que os que ficam também podem optar pelo que é melhor para ser feito.

Quero deixar claro que os cristãos não são falsos ou biblicamente errados se, depois da morte, optarem pela cremação. O corpo humano veio da terra e voltará para a terra. Bem devagar, depois do sepultamento ou rapidamente, depois da cremação. O resultado é o mesmo. Nós, como cristãos, deveríamos nos preocupar com o dia do nosso enterro. Quem colocar estas coisas no papel com antecedência, estará ajudando em muito os seus parentes a tomar boas decisões: Testamento, herança, serviços funerários, Culto em Memória, história de vida.

Os cristãos crêem que depois da morte vão estar com Jesus Cristo. O novo corpo que vão ganhar depois da morte não terá nenhuma base terrena, mas será composto de elementos do alto. Não tem nada a ver com cristianismo, dá até para dizer que tem tudo a ver com paganismo imaginar-se a preservação deste nosso corpo terrestre na eternidade. Para a esperança que brota do Novo Testamento, pouco importa se o nosso corpo apodrece; se ele for queimado ou consumido de uma ou outra forma. Os funerais sempre são de acordo com a cultura reinante no tempo e no espaço. Não existe ofício que se possa dizer: esse jeito é cristão! Não se pode avaliar a espiritualidade de uma pessoa, se ela é sepultada ou cremada. No nosso tempo temos que nos perguntar sobre finanças. O que sai mais barato: O sepultamento tem atrás de si todos os cuidados com o túmulo. Já o ato de cremar parece não ser tão caro... Esta é uma decisão que precisa ser bem conversada em família.

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