Busque Saber
27.2.12
Robinson Cavalcanti - Recife, 11 de setembro de 1992!
A notícia de que o Bispo Robinson Cavalcanti e sua esposa assassinados a facadas e que seu filho adotivo é o principal suspeito chocou-me agora mesmo.
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20120227073634&assunto=70&onde=VidaUrbana
Convivi com este teólogo nos inícios dos anos 90. Naquela época escrevi um livro que ele prefaciou em Recife, no dia 11 de setembro de 1992. Nunca mais o vi, só li. Foi com saudades que reli seu carinhoso escrito:
Cristão não se preocupa com política. Renato se preocupa. Cristão não se mete em política. Renato se mete. Cristão deve fazer apenas discurso sobre política (“profetismo retórico”). Renato se engaja. Cristão faz simpósio sobre política em hotel cinco-estrelas, debate filigranas em salas de aula de seminário, pesquisa em confortáveis gabinetes, bibliotecas e museus. Renato atola os pés no barro. Estranhíssimo esse Renato! Parece que gosta de nadar contra a maré, com esperança de que ela reflua em seu favor. Em vez de escrever dissertação de mestrado ou tese de doutorado, Renato nos apresenta um depoimento vivo.
A IECLB é uma Igreja de alemães, com os pés aqui e a cabeça na Europa? Renato Luiz Becker, pastor da IECLB, assume a causa da justiça em terras de Santa Cruz (Alta) da cabeça aos pés. Evangelical só quer saber do céu? O evangelical Renato sabe o que é preciso fazer na terra enquanto o céu não vem. (“seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”), lamentando as limitações dos que só aspiram ao céu ou se esgotam na terra.
Abraham Kuyeper, pastor reformado, muda a face da Holanda, Martin Niemoeller resiste ao nazismo, o mesmo regime martiriza, Dietrich Bonhoeffer. Martin Luther King Jr. tem um sonho, que uma bala assassina quer transformar em pesadelo, mas que termina por socializar esse sonho em milhões de corações. Desmond Tutu faz tremer os alicerces do apartheid. Arriscados são os caminhos dos ungidos do Senhor, desinstalados e desinstaladores, que ousam além da rotina paroquial. Oscar Romero nos lembra que os que “perdem a cabeça” de João Batista ainda o fazem literalmente, enquanto que leigos conservadores ou clérigos amofinados apenas (e “bondosamente”) o fazem ao nível do simbólico.
Creio que nos anos 90 não vamos mais discutir se devemos ou não nos envolver na vida política, mas por que, como e para que: ética, métodos, partidos etc. Em uma sociedade de classes, os interesses de cada um poderão falar mais alto do que o núcleo comum dos valores do Reino, os cristãos estarão divididos, com interesses e projetos institucionais antagônicos. Os pastores voluntários ou de tempo parcial – e os leigos – levam a vantagem de serem menos vulneráveis, de terem menos ameaçado o leite de suas crianças.
O contexto externo, secular, pesará em nossa caminhada. O país fechou, a Igreja também. O país abriu, a Igreja idem. Esperamos que o país continue aberto.
Fico honrado em escrever estas palavras de apresentação do livro do Renato.
Embora de uma geração mais velha (tenho quase meio século de terráqueo), integramos a mesma confraria pioneira, martirizada, mas minoria em crescimento. Como Renato, sou cristão, protestante, evangelical, pastor, petista e... candidato derrotado a deputado estadual.
Renato, a Igreja precisa de nova Reforma, o país de nova Independência, a esquerda de uma nova Revolução, os teólogos progressistas de uma metanoia (conversão) de fé, humildade e coerência, a decaída natureza humana do constante milagre do novo nascimento.
Roma não se fez (nem se desfez) em um dia. A História é dinâmica. Não podemos fazer tudo, mas somos responsáveis por tornar o Evangelho relevante à nossa geração.
Os que têm fé no que esmagou a cabeça da serpente continuarão a andar descalços nos ninhos de cobra, não por vanglória, mas por obediência. Quem sabe, Renato, um dia, saradas as feridas, ânimo revigorado pelas orações dos imãos e uma rodada de chimarrão, você não possa dicionar um capítulo 4 a este seu livro: “O vice-versa do vice-versa” ou “Eleitores cristãos: ói nóis aqui travez”.
Sonhadores de todo mundo, unamo-nos!
22.2.12
Desesperar? - Salmo 37.7a
Aqui e ali sempre se pergunta: Onde está a justiça de Deus que permite a felicidade e o bem-estar de pessoas que não levam em conta os Seus Mandamentos? Para muitos de nós é assim que a maldade deve ser castigada e que a bondade precisa ser recompensada. Para o Rei Davi (v. 25) as pessoas afastadas de Deus até podem viver pequenos momentos de felicidade. Ele sustenta que, no fundo, Deus “ri dessa gente”, porque a felicidade que experimentam não é duradoura (v. 12-13). O Dia do Senhor está chegando e, nele, ficará evidente se a nossa felicidade é capaz de resistir diante da justiça de Deus.
Pessoas sofrem aflições, hostilidades, experiências de perda e dificuldades de todos os tipos. De repente, elas, como muitos de nós, devem ter se desesperado e então perguntado: - Como ir adiante? Esta pergunta nós nos fazemos quando temos a sensação de Deus não está fazendo nada por nós. O Senhor quer presentear às pessoas que clamam em oração a Ele com confiança; Ele quer gerar luz e vida nos vales escuros onde por ventura se caminha.
Confiemos no Senhor e não nos preocupemos tanto com nosso futuro. Deus corrigirá todos os nossos erros; Deus tem interesse em nos fazer o bem. (V. 5) Deixem de viver perigosamente. Nunca deixem de refletir sobre o que pode e o que não pode ser feito. Esperem, calma e confiantemente, pelos caminhos que Deus indicará quando experimentarem necessidades. Deus nem sempre responde os nossos pedidos prontamente, daí que “orar e trabalhar” continua sendo a melhor opção.
A nossa saída é sermos pacientes. O Senhor vai intervir – sim senhor!
18.2.12
Isso é Culto? Será! - Amós 5.21-24...
Reza a História que há 2.800 anos muitos pequenos colonos israelitas empobreceram devido à ganância de grandes “fazendeiros”. Assim, muito endividados, tornaram-se praticamente escravos de seus empregadores. Tudo parecia muito legal. Foi então que, em nome de Deus, o profeta Amós proferiu as seguintes palavras:
5.21 - O SENHOR diz ao seu povo: — Eu odeio, eu detesto as suas festas religiosas; não tolero as suas reuniões solenes. 5.22 - Não aceito animais que são queimados em sacrifício, nem as ofertas de cereais, nem os animais gordos que vocês oferecem como sacrifícios de paz. 5.23 - Parem com o barulho das suas canções religiosas; não quero mais ouvir a música de harpas. 5.24 - Em vez disso, quero que haja tanta justiça como as águas de uma enchente e que a honestidade seja como um rio que não pára de correr.
Amós percebeu que os israelitas gostavam muito de formas religiosas de Culto. O problema é que as belas liturgias e os lindos Cultos não combinavam com o tratamento aos empregados. Amós percebe este detalhe e abre o verbo. Para Amós o Culto precisa estar em sintonia com o dia-a-dia. Deus não vê com bons olhos uma celebração bonita que não se estenda para fora das portas do templo. Ele diz: - Estou com nojo de ouvir teus cânticos; para de tocar estes instrumentos! Para Deus o Culto precisa estar em sintonia com os Seus Mandamentos e com a Justiça.
Como é que alguém pode querer glorificar a Deus através de sua voz e ou de seu instrumento musical se, na intimidade do lar, tiraniza sua esposa e seus filhos; se no recôndito da sua empreza escraviza seus funcionários e ou seus subalternos?
Dietrich Bonhoeffer o nosso mártir evangélico disse numa das suas palestras em 1935: - “Só quem levanta a voz em favor dos judeus é que pode cantar hinos gregorianos.” Com certeza, esta foi uma palavra excelente durante o tempo de tirania nazista. Eu traduzo ela: Somente as pessoas que doam em favor àqueles que sofrem é que devem abrir a boca para louvar e prestar Culto a Deus. Você sente incomodado com esta palavra? Ótimo!
Deus quer encontrar-nos adorando-O em Comunidade no Culto e ali nos elevar; nos fortalecer. Ele não tem a intenção de nos punir, mas de nos exortar e lavar a sério a palavra de 1 Samuel 15.22 onde se lê: “É melhor obedecer a Deus do que oferecer-Lhe em sacrifício as melhores ovelhas.”
Hinos, orações e rituais não tem a capacidade de apagar nossas atitudes erradas; nossas ações injustas. Que Deus nos ajude a sintonizarmos; a harmonizarmos nossas atitudes no Culto com nossas atitudes na vida cotidiana. Que possamos nos converter em autênticos seguidores de Jesus Cristo.
17.2.12
QUASE COMO UM IPÊ!
“Feliz aquele que confia em Deus, o SENHOR, que não vai atrás dos ídolos, nem se junta com os que adoram falsos deuses!” (Salmo 40.4)
As pessoas se parecem com o ipê! Por quê? Ora, ambos se desenvolvem alicerçados na esperança. Num dado momento do ano nos satisfaz olhar a “boniteza” de um ipê. Suas folhas são miúdas, mas em contrapartida as suas flores cobrem toda a árvore como se fosse um lindo vestido. O ipê tem seus dias bons, mas também precisa suportar muitas tempestades. É assim que depois dos ventos ele permanece cada vez mais firme.
Aí vem o outono e do ipê só se vê o tronco e os galhos finos. Cada indivíduo percebe que nesta época a beleza se afasta da árvore em questão. É que neste período a beleza das suas cores “tira um tempo” para descansar e, assim, esperar até que o novo “suco da vida” lhe promova mais bons momentos. O nosso Criador foi muito sábio quando ordenou a Criação. Alegremo-nos e agradeçamos por causa disso. Tal como o ipê acontece e “desacontece” á nossa volta, assim também as pessoas. Elas são jovens, bonitas, cheias de vigor e entusiasmadas para a ação. Elas, desse modo, vão cruzando os estágios que lhes são propostos, entremio às primaveras; os verões; os outonos e os invernos. Sim, elas sofrem muito, tanto na alegria como na tristeza e, no “final das contas”, delas apenas permanece um conjunto de restos. E então?
Há esperança. O Filho de Deus, Jesus Cristo, veio como uma criança até nós, seres humanos (Mateus 1.18-15). Foi através de sua morte na cruz, que Ele nos trouxe a salvação e, tal como Ele mesmo ressuscitou, também nos ressuscitará quando vier pela segunda vez como Rei e Senhor. O que podemos esperar depois disso?
“Ouvi uma voz forte que vinha do trono, a qual disse: — Agora a morada de Deus está entre os seres humanos! Deus vai morar com eles, e eles serão os povos Dele. O próprio Deus estará com eles e será o Deus deles. Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. As coisas velhas já passaram. Aquele que estava sentado no trono disse: — Agora faço novas todas as coisas! E também me disse: — Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e merecem confiança.” (Apocalipse 21.3-5) Não haverá mais lágrimas, tristeza, dor, separação e morte. Isso não se trata de uma esperança maravilhosa?
Tenham fé e creiam na Palavra de Deus que brota da Bíblia. Nela há a possibilidade de se aprender muito. O nosso relacionamento com Deus nos converterá em pessoas esperançosas, gentes livres para viver a felicidade pensada por Deus.
Diaconia e Tainha frita na Chapa!
O sol estava quente. Saí debaixo do guarda-sol e fui sentar-me à sombra da árvore que, generosamente, estendia seus galhos sobre a areia da praia. O mundo é mesmo pequeno. Ali, bem próximo de mim, estava sentado o meu amigo Wolfgang.
- E aí Wolfgang?
- Oi Renato! Nossa, que alegria te reencontrar... A Valmi está contigo?
Sim, esse era o meu amigo diácono de tantas jornadas. Estava com a pele avermelhada. Fruto de descuido – pensei.
- Sim, está se despedindo da água do mar. Amanhã cedo vamos voltar pro batente na São Mateus.
- Que tal nos encontrarmos hoje à noite para matarmos a saudade?
- Muito bom! Às 20h no Arante?
- Combinado Renato!
Depois do banho, fomos ao encontro. O Wolfgang já estava sentado com aquele seu jeito “três por quatro” junto a uma das mesas do restaurante. Na sua frente uma Opa Bier geladinha e três copos. Folheamos o cardápio e pedimos tainha frita na chapa. Feito o pedido ao sorridente garçom, desfreamos o verbo...
- E aí Wolfgang? Sempre diaconando?
- Tal como a Valmi, sim!
- Vocês dois vivem a diaconia nos poros da pele. Eu gostaria de saber, de uma vez por todas, com palavras bem simples, o que é verdadeiramente a diaconia? Onde começa a diaconia? Onde termina a diaconia? Onde a diaconia acontece? O que faz a diaconia? O que diz a diaconia? Alguém de vocês pode me responder isso com palavra bem resumidas?
A Valmi e o Wolfgang se entreolharam para ver quem iria me responder. Pelo jeito a resposta à minha pergunta não carecia de nenhuma pesquisa.
- É Wolfgang! “Santa de casa” não faz milagre. Reponde tu pra esse meu marido...
- Simples Renato. A diaconia sempre tem a ver com o amor ao próximo e este, nunca deixa de ter a ventilação do Espírito Santo. É por isso que a diaconia se mostra em todas as frentes da Igreja. O que mais me impressiona é que a diaconia cumpre sua tarefa sem alarde e sempre com habilidade.
Ali, diante de mim, estavam dois diáconos profissionais. Dava de perceber que seu amor pela diaconia “vazava” no brilho dos seus olhos. Daí então ousei “mexer no vespeiro”...
- Diaconia – uma palavra apenas... O que ela significa? Qual é o seu sentido? Qual é o seu conteúdo? Qual é a sua diretriz? Ela tem um “fio vermelho”?
- Ora, ora Renato – emendou o Wolfgang – a diaconia, o amor ao próximo, se deixa “tingir” pela fé. A fé cristã é a plataforma a partir da qual a diaconia ajuda as pessoas. Quer dizer, a diaconia não pode existir por si só. O seu conteúdo são as pessoas “a cavalo” de sua fé. Você, Renato, sabe melhor do que ninguém que a diaconia pode se caracterizar como uma profissão. A Valmi é diácona ordenada pela IECLB. Já as pessoas que se doam em favor da diaconia, do serviço cristão, são chamadas de “voluntárias”.
- Entendi Wolfgang.
- Quero dizer mais uma coisa. As pessoas que diaconam com seriedade e compromisso reconheceram a diaconia por causa da sua fé.
A Valmi estava ouvinte como eu, mas nesse momento decidiu entrar na conversa...
- A diaconia precisa de pessoas que não façam muitas perguntas, mas de pessoas que fazem; de pessoas que colocam suas mãos na massa a fim de mudar a conjuntura; de pessoas comprometidas e, ao mesmo tempo, sensíveis; capazes de perceber onde é que o “sapato do outro aperta”.
Neste momento veio o nosso garçom com o prato desejado. Serviu-nos com maestria mesclada de simpatia. Ficamos em silêncio observando seu trabalho. O Wolfgang ainda precisava dizer alguma coisa. E claro, eu queria ouví-lo.
- A diaconia precisa de pessoas como nós; de pessoas cujos olhos reconhecem o sofrimento daquele que sofre; de pessoas cujas bocas estejam prontas a dar “nome aos bois”; de pessoas cujos ouvidos aprenderam a ouvir. Não ouvir somente aquilo que queiram ouvir, mas o que devem ouvir; de pessoas que percebem as necessidades dos outros, mesmo que estes anseios pareçam triviais; de pessoas cujas mãos ajudem os idosos, os doentes e as crianças; de pessoas que saibam usar boas palavras em momentos necessários; de pessoas que saibam ser a voz de quem não consegue mais emitir nenhum som; de pessoas que não falam por falar, mas que colocam todo o seu ser a serviço da boa mudança; de pessoas que não se pautem pelo dinheiro e pelas posses; de pessoas que tenham coragem de ajudar.
Segurei o garfo e a faca. A Valmi e o Wolfgang fizeram o mesmo. Bebericamos em silêncio. Silêncio que o Wolfgang se encarregou de quebrar...
- E o teu pastorado em Joinville? Como vai?...
14.2.12
LÁ NO MORRO DO CHAPÉU!
Corria o ano de 1987. Naquela época eu trabalhava como pastor em Cruz Alta (RS) Meu dia-a-dia estava sempre repleto de atividades. Meus filhos cresciam meninos. Minha esposa mostrava-se engajadíssima nas coisas da vida. Meu vigor aflorava em meio aos 33 anos de idade. Chamavam-me de criativo, comprometido com o novo. Naquela época, nós ministras e ministros da IECLB dávamos tudo de nós para momentos de comunhão. Lembro que eu amava por demais aqueles reencontros de três dias com meus amigos e colegas na Casa de Retiros, em Sapucaia do Sul. Sim, eu iria viajar em torno de 600 km com a Empresa Ouro e Prata. Organizei minha saída da Comunidade Luterana. Comprei a passagem e, depois de despedir-me dos meus, embarquei à meia noite numa viagem que duraria seis horas.
Dentro de mim estava tudo muito claro. Eu viajaria até Porto Alegre. Uma vez lá, viajaria de carona com ex-colegas da Paróquia Matriz, onde trabalhei como Pastor Auxiliar, no início dos anos 80. Bons sentimentos iam brincando dentro de mim quando nosso ônibus estacionou na rodoviária de São Leopoldo, à margem esquerda do Rio dos Sinos. O céu não estava mais escuro e sim muito azul. O sol começava a esquentar a manhã daquela primavera. De volta à BR 116 vi, pela janela do coletivo, a antiga fábrica de artefatos plásticos onde meu pai trabalhava em 1967.
A vida tinha sido dura conosco naqueles tempos. Estávamos em dificuldade. Lembro que a minha primeira refeição do dia resumia-se numa banana, numa xícara de café preto e num pão com melado. Sim, meus pais viviam uma enorme crise. Meus irmãos menores não percebiam o drama familiar. Eu estudava no Ginásio da Paz, pertinho da ponte do Rio Guaíba. A mensalidade do Colégio já estava atrasada mais de meio ano. O diretor da escola já tinha me chamado ao seu gabinete para uma conversa téti-a-téti. Meus sapatos estavam com a sola quase furada e minha mãe juntava todos os “troquinhos” para eu poder ir e vir, diariamente, nos velhos ônibus verdes da empresa Central. Confesso que me envergonhava dos meus colegas por causa da situação vivida.
Meu professor de Português marcou-me muito naquela época. Ele parecia desconsiderar minha classe social. Convidava-me a participar das pequenas peças teatrais que ele mesmo escrevia. Levava-me a séria nas minhas dificuldades. Desafiava-me a ler os livros da biblioteca. Exaltava minhas virtudes diante da classe. Por tudo isso, acabei tomando-o como um modelo. Nunca me esqueço de um passeio organizado por ele, ao Morro do Chapéu. Saímos da Escola bem cedinho, com destino à cidade de Esteio. De lá, a pé, nos deslocamos ao referido Morro. A cerração era fortíssima. Foi uma caminhada inesquecível. Ainda lembro o nome de alguns dos colegas. Agora, da minha viagem eu divisava o tal Morro. Vinte anos tinham se passado. Olhei para a minha mala e não titubeei. Iria repetir aquela caminhada. Assim, sem muito refletir, fiz sinal ao motorista de que iria descer. Desci numa das paradas de Sapucaia do Sul e, de mala em punho, saí cortando caminho por entre as vilas, os “pombais” da hora.
Caminhei muito. Eu estava forte, suando. Sim, eu iria terminar aquela empreitada. Andei, andei, andei... Num dado momento comecei a me distanciar das casas populares. Sim, era aquele o caminho. Mas, que estranho! Não havia movimento sobre a estrada que se mostrava abandonada, já há alguns anos. Aqui e ali cresciam arbustos no meio da mesma. Perguntei para um senhor que capinava seu pedaço de chão, sob o sol quente, logo ali sob o barranco. Ele informou-me que o velho caminho estava impedido. Que logo ali à frente havia uma cerca de arame farpado. Que o atual dono não queria que invadissem suas terras. Que era melhor eu voltar.
Refleti um pouco sobre a informação, mas mesmo assim, teimoso, segui em frente. Tinha gastado muita energia para dar meia volta, sem mais nem menos. Com cuidado, atravessei a cerca com seus “espinhos de aço”. Caminhei por dentro do mato. Confesso que fiquei com medo de encontrar alguma cobra. A decisão de voltar ficava cada vez mais difícil. Lá ao longe eu conseguia ouvir o latido de alguns cães. Segui em frente, me esgueirando por entre a vegetação que tinha tomado conta daquele caminho que, outrora, eu tinha trilhado com meus colegas da escola.
Naquelas alturas eu já não sentia mais prazer na minha aventura. Estava um pouco irritado comigo mesmo. Que bom! O dito morro parecia mais próximo. A vegetação foi escasseando e o caminho se re-definindo. Assim, fui percebendo que estava dentro de uma propriedade particular. Apressei o passo. Queria sair dali o mais rápido possível. De repente, um grito muito rouco e raivoso: - Alto lá!
Virei-me para o sujeito que gritava e vi que empunhava um facão. Dei meia volta e fui ao seu encontro, sem largar da minha mala. Ele, com a enorme faca em riste, me ouvia deixando escapar chispas de ódio dos seus olhos. Expliquei-lhe que era pastor da Igreja. Ele se fez de desentendido. Expliquei-lhe que eu, profissionalmente, desempenhava as mesmas funções que um padre da Igreja Católica. Mostrei-lhe minha Bíblia. Deixei claro que não carregava nenhuma arma. O fato é que eu estava com a adrenalina alteradíssima. Minha boca estava seca. Depois de muita conversa, pediu que seguisse em frente. Ficaria atrás de mim. Por uns quinze minutos, caminhamos em silêncio. Pela sombra que o homem projetava à minha frente, percebi que seu facão ainda permanecia em posição de ataque. Deduzi que aqueles poderiam ser meus últimos minutos de vida. E se o caminho que seguíamos não conduzisse para fora da propriedade? Comecei a pedir a ajuda de Deus, em silêncio.
De repente, a rua. O caminho novo. Mas antes dele, um enorme portão fechado com cadeado. Para cuidar do dito cujo, uma pequena família que morava num casebre ao lado. O sujeito do facão explicou a situação ao porteiro e este, desconfiado, trocou algumas palavras com sua mulher. Depois disso, abriu o cadeado girando a chave sem tirar os olhos de mim. Saí procurando dar passos seguros. Enquanto me afastava, não ousei olhar para trás. Segui em frente. Eu queria chegar ao meu destino. O Morro parecia perto. Logo notei que havia perdido o meu melhor casaco. Que importava? Eu tinha tido a chance de uma nova vida. Comecei a caminhar ligeiro. Depois de uns quinhentos metros, corri até perder o fôlego. Nisto, ouvi o ronco do motor de um automóvel. Era um dos meus colegas que vinha motorizado ao mesmo encontro. Freou o carro e ofereceu-me carona. Perguntou-me pelo por que da minha palidez. Depois de me ouvir, deu meia volta no carro. Fomos reclamar o casaco perdido. Ao estacionarmos em frente ao portão, fomos atacados pelo sujeito que me acompanhara até o mesmo. Embarcamos no carro e fugimos em disparada.
Contei a minha história num e noutros círculos. Fiquei sabendo que ali era um lugar muitíssimo perigoso. Que algumas quadrilhas da grande Porto Alegre usavam aquelas terras para desmanche de carros roubados. Que já havia acontecido assassinatos e “queimas de arquivo” ali naquelas paragens. Que mais uma vez, Deus tinha cuidado de mim. Hoje, vinte e seis anos depois, fico a pensar: e se o sujeito tivesse “me apagado”? Só depois de quatro ou cinco dias é que a minha família iria perguntar por mim. Os colegas reunidos simplesmente imaginariam que eu tivesse desistido do encontro e não se dariam a maiores preocupações. Memórias que hoje, resolvi repartir neste Blog.
9.2.12
No Marienplatz - em Munique!
Um dia destes acomodei-me sobre o sofá e assim, sem mais nem menos, fui me deixando embalar pelo barulho da chuva leve que caía sobre os impermeáveis telhados alemães. Não demorou quase nada, eu já estava ladeado pela companhia das minhas lembranças. Sem resistência aos meus clamores internos, fui esquentar água. Com arte, enchi metade da cuia com a verde erva mate, presenteada por amigos brasileiros. No fundo do meu ouvido deixei soar velhas cantigas da gaúcha Elis Regina. Enquanto isso permiti que meu pensamento voasse solto, porque sustentado pelas asas dessa saudade que, de vez em quando, bate compassada e gera frescor na minh’alma.
Tais momentos sempre me conduzem para a rua. Vesti-me adequadamente e lá me fui para ver o movimento, ver a vida acontecendo e, no meio de tudo, também ouvir as sirenes dos carros da polícia, me enxaguar da fria realidade, colocar meus pés no chão da cidade. Entremeio os barulhos ao ar livre, ouvi a propaganda do Circo Roncalli que viajava sobre um antigo caminhão. O som dos alto-falantes remeteu-me aos tempos de guri. Já vi ruins e bons circos. Ninguém vai ao circo por causa da grandeza ou do colorido de sua lona. Ninguém o procura só para mirar o elefante ou a girafa. Os trapezistas fazem o espetáculo, mas também não são o carro chefe. A diferença quem faz sempre é o palhaço. É ele quem traz a vida ao mundo edificado debaixo da lona.
Segui caminhando por sobre as calçadas e finalmente embarquei no metrô. Já acomodado a um dos seus bancos continuo instigado a não parar minha reflexão. Sim! A Igreja é tal como um “Circo” onde eu, o ministro, sou o palhaço. Posso atrair ou até afastar as pessoas da “arquibancada”. Luto para que fiquem ali. Que venham a crer. Que seu testemunho de fé brote e cresça ao natural na família e na vizinhança. Que experimentem da esperança da qual eu tenho experimentado. Com esse objetivo crio os programas, desgasto-me, empenho até a vida da minha família, muitas vezes.
De repente, aqui e ali, “uma gargalhada”. É a Palavra de Deus que atingiu; que mexeu com alguém. A pessoa atingida não mais se contentará em estar na “arquibancada”, sentada nas cômodas cadeiras, nos cômodos bancos. Ela tentará, isto sim, fazer parte do “Circo”: quererá pisar no tablado, maquiar o rosto, dar de si para o bem comum. “Pescar” pessoas de dentro da sociedade para que também tenham o privilégio de experimentar o que experimento. Isso não é uma loucura?
Desembarco do trem subterrâneo. Opto pelas escadarias. Não me atrai o elevador, nem tampouco a escada rolante. Lá fora está o Marienplatz (a Praça Central de Munique). A chuva se converteu em garoa. Abro meu guarda-chuva e fico atraído pelo belo cântico. Eu conheço a música que está sendo cantada em alemão. A voz feminina mexe comigo e cabe muito bem no lugar, repleto de turistas: - “Deus teu amor é qual paisagem bela…” Paro para ouvir e também conversar. A irmã está motivada a testemunhar com a “ferramenta” que bem domina: o canto. Muitos passaram. Já eu e outros paramos para ouvi-la. É assim que o Reino de Deus cresce: a partir do testemunho criativo de pessoas comprometidas com a proposta cristã. Cada um com seus dons, com seu “ferramental”.
7.2.12
Metanoia no Rio Pardinho!
Chovia pouco naqueles dias e o suor escorria das axilas. A estrada estava empoeirada e, nela, nossa turma caminhava descalça. Eventuais pedrinhas machucavam nossos pés que contatavam com a terra, nada mais do que isso. Seriam seis quilômetros de caminhada até o rio. O banho nas águas frescas do rio compensaria qualquer desgaste. Eu estava receoso. Descia-me um frio na espinha, uma espécie de medo que corria pelas minhas veias, pelo fato de não saber nadar e, também, por ter fugido de casa. Mas eu não queria perder a oportunidade do convívio com meus “amigos do peito”. Nossa caminhada transcorria num ritmo alegre. Sim, lá ao longe já podíamos divisar o mato que ladeava o “Rio Pardinho”.
Eu estava vivo e sabia que deveria “honrar meu pai e minha mãe”; que não poderia ter tomado a decisão de me ausentar de casa, sem pedir permissão. Aprendera essas verdades na Igreja quando participara do Culto Infantil, da Escola Dominical e, até, do Ensino Confirmatório. No entanto, a companhia dos amigos me era importantíssima e eu não queria perdê-los. Enfim, tomei a decisão de desobedecer outro dos bons Manda-mentos de Deus. Pessoas que estão “casadas” com a Lei são, sempre de novo, atraídas a ser infiéis à mesma. Como eu não fugia à regra, novamente, dei um “chute” Naquela que deveria me resguardar das “tormentas da vida”.
Finalmente o rio. O Léon subiu numa das árvores que ladeavam o barranco e amarrou uma corda, num dos galhos mais altos. Agarrou-se com as duas mãos à madeira roliça e, incontinenti, lançou-se sobre as águas, num salto acrobático de fazer inveja a John Weissmüller – o Tarzan dos anos 60. Todos faziam fila para experimentar aquela “delícia circense”. As árvores testemunhavam nossa liberalidade. O balanço do salgueiro e todo aquele verde somado ao azul do céu, cheio de nuvens brancas, parecia gostar daquela anarquia menina. Pensativo, coloquei-me à margem dos acontecimentos. A água fria batia nas minhas canelas. Sim, todos mergulhavam dando gritos e saltos de alegria. Naquela tarde fugidia, tudo estava permitido para todos, menos para mim. Mentiam-me dizendo que as águas não eram profundas. Brincavam com a minha inexperiência e a cabeça doía por causa disso. Deixei por isso e decidi dar um último passo em direção ao banho refrescante.
A água me envolvia. Debati-me muito enquanto as borbulhas de ar saiam pela boca. Os pés tocavam na areia e eu voltava a subir. O azul do céu misturava-se com a natureza. Eu, desesperado, queria gritar, mas a voz não saia da garganta e o “filme da minha vida” desenrolava-se no meu cérebro, ponto por ponto. Meu organismo ia enchendo-se de líquido e a morte abraçava-me com “abraço morno”. Sim, eu estava “desquitado da Lei” e, em consequência, sofrendo por este ato.
Meus amigos pensavam que eu estivesse brincando n’água. Lógico que aqueles poderiam ser meus últimos esforços e, então, tirei um berro bem do fundo da minh’alma: Nuurrrgghhh. Eu já sentia o “bafo da morte” ao meu lado. Tinha vontade de dormir e relaxar. De repente, uma força puxou-me para a margem e fui salvo. Todos se assustaram. A água escura insistia em sair aos borbotões do interior do meu organismo. Minha boca, meu nariz e minhas orelhas faziam o papel de “canos condutores” de sujeira para fora de mim.
Da pedra sobre a qual fui jogado, corriam filetes d'água. O céu estava azulado e emoldurado pelo verde claro e sadio da copa das árvores. O rio continuava calmo no seu leito, levando pequenos galhos, numa bonita viagem sobre a superfície. Limitei-me a encarar os amigos. Confiara demais naqueles companheiros que, até ali, considerara como riqueza de valor incalculável. Sim, eu repensaria meu modo de vida. Agora, necessitava da solidão.
Precisava meditar sobre aquele momento de desilusão que o “afastamento de Deus” me promovia. Deus mostrara Sua força num amigo. Há pouco eu cheirava o “cheiro da morte” e, agora, estava vivo. No meio do “burburinho” eu parecia ouvir Deus dizer: - “Quero contar contigo para um Projeto que tenho no coração – vêm”! Preciso dizer que me senti carregado por Deus, enquanto tomava o caminho de casa.
Eu tinha “apostado todas as minhas fichas” em pessoas. Não fosse um daqueles colegas, quem sabe, naquele momento, a guarnição do Corpo de Bombeiros da cidade já estivesse acionada. A decisão estava tomada: a partir daquele dia eu tentaria viver minha vida de modo diferente. Melhor dizendo, tentaria reconstruí-la sobre outros alicerces. Eu precisava tomar uma decisão. E assim, passaram-se alguns meses.
Certo dia, fui a um armazém da nossa vizinhança. Escorado ao balcão, estava um moço que puxou conversa comigo: - “Conheço teu pai. Vi tua família na Igreja outro dia desses. Quero te convidar para participar do Grupo de Jovens do qual faço parte. Aparece!... Reunimo-nos sempre aos sábados, das 20.00 às 22.00h. Estudamos a Bíblia e cantamos músicas cristãs. Praticamos jogos de salão, fazemos excursões e um bocado de outras coisas mais. Vais gostar. Vêm conferir!...”
Desanimado da vida eu tinha praticado atitudes que nunca sonhara tentar praticar. Assim, fui me deixando levar pela “correnteza” dos acontecimentos, mas isso não me trazia a paz. Não tinha sentido viver daquela maneira, só e afastado de tudo e de todos. Sim, aquele jovem acabara de me fazer um convite. Será que o mesmo tinha a ver com o projeto de Deus comigo? Será que Deus usara-o para acordar-me de um sono?
Aquele moço mexeu comigo ao convidar-me a participar de seu grupo. Claro que reagi com carinho àquela proposta. A sala estava iluminada. De repente, chegaram as pessoas. A roda cresceu e me aqueci com o “fogo do carinho” que me doavam. Então me lembrei da conversa que tivera com meu professor de Religião. Ele disse: - Sabe Renato! Um dia desses o apóstolo Paulo ficou assustado, ao descobrir que não era o “homem bom” que pensava ser. Depois dessa constatação ele se deu conta de que quando Deus abençoa uma pessoa, ela passa a não ter problema em reconhecer seu pecado. E é justamente esse estado de espírito à liberta do peso de precisar “brilhar” como filha de Deus na sociedade. Ela passa a aceitar-se com todas as agressividades que carrega no peito e isso, porque sabe que Deus já a aceitou tal como é. Ah que coisa boa o “ar” que se respirava naquela sala. Pois passei a ser membro ativo no referido Grupo.
Outro dia fui um Retiro de Lideranças. Senti-me importante, pois iria estreitar laços com a nova turma de amigos. Eu estava cheio de expectativas. Queríamos promover uma proposta cristã na sociedade santa-cruzense e o dia de sábado dilui-se em meio aos conteúdos que sorvíamos. Planejamos idéias a curto, médio e longo prazo. Esperança - isso mesmo, essa era a palavra da hora. Sonhamos; olhamos para frente e decidimos doarmo-nos em prol dos outros. Lembro que os olhos da turma brilhavam de expectativa.
Nas primeiras horas da tarde daquele domingo vieram os jogos de salão. Depois, mais um tempo de manuseio da Bíblia. Era bom e agradável conversar com o pessoal. Dava certa vontade de ficar morando por ali naquela sala. Amanhã já seria segunda-feira e tudo voltaria ao normal. Era preciso espichar ao máximo aqueles momentos de indizível prazer. Vimos que a humanidade estava afastada de Deus o qual não queria esse afastamento. Para mudar o rumo das coisas, Ele enviara Jesus Cristo ao mundo. Este, por sua vez, envolvera-se com mulheres e homens no intuito de fazer a reaproximação com o Pai, ou seja, construir pontes de acesso ao Reino de Deus.
Acesso que estava viável a cada um de nós, ali, naquele lugar. Bastava buscar-se a Deus em oração. Dizer-lhe que estávamos arrependidos de andarmos desgarrados do nosso “Bom Pastor”. Falar-lhe da vontade de recomeçar a vida sob Suas Idéias. Embarcar de uma vez por todas dentro daquele “barco” cheio da proposta cristã que levava à ressurreição. Tudo eram palavras que “martelavam” meu consciente.
A janta seria o sinal do fim daqueles momentos domingueiros. Inconformado, pedi que o encontro fosse estendido. Os líderes reagiram positivamente. Ouvi boas respostas para minhas perguntas. Minhas incertezas deixavam-se varrer, uma a uma, pela palavra segura da liderança. Enfim, às 23.00h organizou-se um círculo. As mãos foram dadas e começamos a orar.
Lembro que naqueles momentos de oração visitou-nos uma espécie de “vento” que invadiu a sala. Moças e rapazes que, antes, nunca haviam orado, agora oravam. Cargas de culpa eram liberadas dos ombros de quase toda turma. Ao cabo de meia hora aconteceram espontâneos abraços. E, depois que todos se ausentaram, fiquei ali, refletindo, repassando os conteúdos aprendidos. Mais tarde caminhei a pé, dentro da madrugada, rumo ao meu quarto. Considerava-me um filho de Deus. Sim, eu possuía este referencial desde a meninice. Agora estes conceitos tinham se aclarado dentro do meu ser, do meu viver. Faria tudo para nunca mais perder aquela certeza.
Abri a Bíblia e entendi o que nela estava escrito. Estudei-a e não consegui mais ficar quieto. Abria a boca dentro da sala de aula e nos espaços do Grêmio Estudantil. Comecei a engajar-me na sociedade. Outro dia fui convidado a fazer a pregação, num Culto Dominical. Ousei crescer e precisei de espaço. A vida passou a ser novidade prá mim. Coisas antigas não valiam mais quando aprendi que, em Cristo, sou um alguém, possuo um nome. Ficou-me claro que, enquanto viver, sou convidado a lutar contra o pecado. Entendi que Deus me equipa com todas as forças para tais intentos.
19.1.12
Osmar Falk - O Bom Professor!
Era março de 1961 e eu encontrava-me sentado num dos bancos daquela pequena escola do interior do Brasil. Meus pais trabalhavam na roça e eu sentia-me um pouco diminuido pelo fato de ser filho de colonos. Observava tudo. Bem no meio da sala estava um fogão a lenha. Na parede, cinco quadros verdes e, em frente deles, estávamos nós, as cinco turmas de primeira à quinta série do Ensino Primário. Lá fora, inúmeros cinamomos a sombrear as lindas manhãs daquele final de verão.
Nosso professor, o Osmar Falk (hoje pastor aposentado da IECLB), era severo. Quando terminava de explicar as primeiras letras para o nosso grupinho de novatos, já se locomovia para a segunda turma e, assim, sucessivamente. Não era fácil manter a ordem na sala. Lembro que, sempre no início das aulas, debulhava uma espiga de milho num dos cantos da mesma. Quem não cumprisse com os deveres de casa devia ajoelhar-se sobre aqueles grãos. Prometi para mim mesmo nunca ajoelhar-me ali.
Certo dia nosso mestre precisou repetir alguns conteúdos e a dinâmica da nossa aula sofreu pequeno prejuízo. Quando o sino badalou para avisar a hora do almoço, os nossos cavalos, até então pacientes, alvoroçaram-se. Era ora de ir para casa. Mas, e a tarefa? Nós nunca saíamos sem tarefa da escola. Lembro do rosto franzido do nosso jovem professor. Parecia culpar-se por não ter-se preparado bem como em todas as outras oportunidades.
Tínhamos um impasse. Será que, finalmente, teríamos uma tarde livre de tarefas? De repente, os olhos do nosso professor brilharam. Sim! Ele tinha tido uma idéia: deveríamos conversar com Deus, a partir de uma oração. Seríamos cobrados no dia seguinte.
Fiz o trajeto para casa debaixo de grande preocupação. Aquela tarefa era difícil de ser cumprida. Entrei em casa. Nossa família estava toda reunida para o almoço. Meus irmãos estavam alegres em torno da mesa. Ainda recordo o cheirinho da comida daquele dia. O fato é que não me alimentei direito, pois aquela dúvida me atordoava. Como é que eu iria conversar com Deus?
Decidi mentir que tinha dialogado com Deus. Mas e se o professor perguntasse detalhes? Eu certamente ficaria vermelho e acabaria dando mostras de que não estava sendo sincero. Fazer o quê? Eu não queria ajoelhar-me sobre o milho debulhado. Não! Eu teria que dar um jeito de resolver o meu problema.
Pensei no nosso pastor. Ele falava alto e Deus parecia entendê-lo. Não. Ele poderia taxar-me de bobo. Quem sabe minha avó... Ela sempre fora tão sincera comigo. Também não me senti vontade. Assim, saí da mesa e recolhi-me lá no fundo do pátio, debaixo de uma ameixeira para refletir mais.
Decidi que iria conversar com Deus, tal como conversava com meu amigo Hugo. Olhei em volta! Ninguém por perto. Esbocei algumas palavras imaginando Deus do meu lado, mas senti-me inseguro. Falava alto demais. E se uma vizinha me ouvisse falando sozinho. Pensaria que eu era louco. Saí dali, impaciente.
Meus irmãos brincavam no pátio, quando me dirigi ao único quarto da nossa casa, cuja porta podia ser trancada por dentro. Fechei a janela para escurecê-lo. Tinha consciência de que precisava ficar só. Quanto menos barulho melhor porque Deus não falava alto. Sim, mas e o volume da minha voz? Eu não poderia dialogar com Ele como dialogava com minha mãe.
Cruzei por ela, na cozinha. O barulho dos pratos sendo lavados na pia desviava sua atenção de mim que me esgueirava para dentro do quarto escuro. Uma vez ali, decidi enfiar-me debaixo das cobertas que cobriam a cama da minha irmã. Lá de baixo, sentindo um pouco de falta de ar, acabei sussurrando: - Deus! Fala comigo! Diz-me alguma coisa! Não quero ajoelhar-me sobre o milho! Não quero passar vergonha diante dos colegas. Por favor! Preciso que fales comigo...
Fiquei quieto, esperando ouvir Àquele a quem suplicara por um sinal. Lá fora, o movimento dos caminhões. Eu me esforçava para ouvi-Lo. E se Ele verdadeiramente se comunicasse comigo? Como seria o timbre da sua voz? Seria carregada com os tons enérgicos do meu pai? Seria doce como a da minha avó?
Nunca consegui explicar direito o que me aconteceu nos instantes seguintes. A paz que tomou conta de mim fez com que os cobertores passassem a ser desnecessários. O sentimento de inferioridade tinha sumido de dentro de mim. Eu estava alegre. E assim, lá no meu interior, fui sendo banhado com a sensação indizível de ouvir Deus falando: Te amo! Diga ao teu professor que falei contigo. Que te guardo! Que te faço feliz! Que Sou teu amigo! Que não precisas ter medo de Mim...
Não consegui conter-me. Abri a janela do quarto. O céu estava muito azul. As nuvens brancas passeavam pelo mesmo testemunhando minha alegria. Lembro de ter fixado os olhos numa grande amoreira de folhas verde-claras. Senti vontade de correr. Depois corri. Só parei de correr quando cansei. Eu não esqueceria jamais daquele momento: - do dia em que Deus se comunicou comigo daquela forma tão pessoal.
No outro dia, um tanto afoito, vesti o uniforme escolar. Saboreei minha xícara de café com leite. Comi o pão com doce de banana e, em seguida, passei a mão na minha bolsa escolar e lá me fui. Estava ansioso para ser perguntado pelo professor se tinha cumprido a “tarefa”. Diria que sim.
A aula começou como sempre e, dois minutos depois, já me ficou claro que o professor não iria cobrar o tema dado no dia anterior. Num primeiro momento, entristeci-me. Mais tarde percebi que estava bom assim. Eu tinha tido uma experiência que me acompanharia pelo resto da vida. Esta, não aumentaria em importância se a compartilhasse com toda a turma. Ela me dizia respeito e assim guardei-a como impulso para um contato mais estreito com Deus.
Faz alguns anos, reencontrei meu ex-professor. Ele não se lembrava daquele dia. A verdade é que aquele tema de casa ajudou-me em muito. Na época, fui jogado para dentro de uma crise. Eu não queria ser castigado. Eu não queria sofrer vergonha e, em vista disso, procurei e achei a solução. Hoje, atuo como pastor nas Comunidades por onde passo. Aqui e ali, desafio crianças e jovens a conversar com Deus, tal como conversei e ainda converso.
10.1.12
Mudança de Estilo!
Fiz essa prédica em agosto de 1984. Naquela época eu já morava em Cidade Gaúcha. Nossa! Meu estilo mudou muito nestes quase 30 anos...
4.1.12
2012 - Autoestima!
Era quinta-feira, dia 29 de dezembro de 2011. A Valmi e eu fomos fazer uma pequena viagem para Bombinhas, uma das praias mais bonitas de Santa Catarina. Havia muitos carros na BR 101. O trajeto que, normalmente, se faz em uma hora e trinta minutos, acabou “custando” mais do que o dobro do tempo. Menos mal que meus compadres nos esperaram com comida e bebida saborosa. O fato é que a nossa festa de fim de ano começava a ser excelente.
Num dado momento, o nosso assunto descambou pro lado da Psicologia. Meu afilhado, o André, sustentou que a “autoestima”, essa avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma, pode ser elevada e ao mesmo tempo frágil e ou baixa, porém segura. Não sou psicólogo e por isso pedi que me explicasse melhor...
- É simples tio. Pensa numa pessoa narcisista. Sua autoestima é elevada, mas ao mesmo tempo frágil. Agora imagina uma pessoa humilde. Sua autoestima é baixa e ao mesmo tempo segura.
A Camila que até então se dispunha só a ouvir a nossa conversa, atalhou com aquele seu jeito simples de dizer as coisas com sotaque maringaense:
- Entendo um pouco deste assunto. No semestre passado eu fiz uma “Cadeira” de Psicologia. A autoestima foi um dos nossos assuntos. Minha professora defende a tese de que a autoestima de uma pessoa pode ser constante através do tempo; pode ser independente diante das condições particulares e ou pode estar entranhada num nível psicológico básico...
Minha sobrinha estava querendo dizer que a autoestima tanto pode ser estável, como corajosa e ou automática. Sim, eu precisaria estudar aquele assunto com mais cuidado... Percebi que o André tinha mais a dizer e dei-lhe ouvidos...
- Outro dia li no Antigo Testamento que rainha Vasti foi dona de grande autoestima...
- Onde você leu isso André?
- Li isso no primeiro capítulo do livro de Ester.
- Verdade? Me conta mais...
- Deduzi da minha leitura que, muitas vezes é assim que encontramos os verdadeiros heróis em papéis secundários. Reza a história que esta tal de Vasti foi a primeira e a mais bonita esposa do rei Xerxes, o governante mais poderoso do Império Persa. Ela tinha tudo o que queria no palácio. O mundo simplesmente estava a seus pés...
- Maininho querido! O que você quer dizer com “mundo aos seus pés”.
- Olha só Camila. A rainha Vasti contava com um sem-número de empregados que estavam sempre à sua disposição. Daria para se dizer que ela vivia num destes palácios dos contos de fadas, como aquele que vimos lá na Baviera. Schwanscholl, se não me falha a memória.
- Ora, ora “Schwanscholl”. Presta atenção André: Neuschwanstein!
- Isso daí! Os vestidos que ela usava eram todos de seda macia e ela sempre se perfumava com os perfumes mais exóticos e, por isso mesmo, caríssimos.
- Continue afilhado!
- A tal rainha viveu três anos cercada de muito luxo. Daí então, num belo dia, ela e o “maridão” mandaram ver numa festa que duraria em torno de uma semana. Enfeitaram o pátio do castelo com cortinas de algodão brancas e azuis, amarradas com cordões de fino linho vermelho, que estavam presos por argolas de prata a colunas de mármore. O piso do castelo era feito de ladrilhos azuis, de mármore branco, de madrepérola e de pedras preciosas. Colocaram sofás de ouro e de prata no pátio, onde os convidados podiam tomar suas bebidas em copos de ouro, todos eles diferentes uns dos outros. O rei não poupou dinheiro e mandou que o vinho fosse servido à vontade também aos seus súditos na cidade. Todos podiam beber o quanto quisessem.
Nesse momento a minha comadre Carmem, o meu cunhado Ernani, a Valmi, todos nós embarcamos neste assunto... Alguém de nós sugeriu que o André continuasse desenvolvendo seus conhecimentos bíblicos e ele não se fez de rogado...
- Num dado momento da festança o rei, totalmente bêbado, quis mostrar a beleza de sua esposa aos convidados. Assim, ele ordenou que os seus funcionários trouxessem a “sua” rainha para que ela fosse apresentada para toda a sociedade.
- Conta mais, conta mais – sugeriu a Camila com olhar claro e suplicante...
- Sabem o que aconteceu?... A rainha Vasti recusou vir a aparecer em público. Para ela não importava o que o seu prepotente marido iria pensar da sua atitude. Ela não se exibiria diante daquela gente como se fosse um “produto” que se pode manusear daqui pra lá e de lá pra cá. Ela entendeu a sugestão do seu marido como insulto e humilhação à sua pessoa.
Meu compadre Ernani se mostrava orgulhoso da sapiência do seu menino. Lia-se este orgulho no seu jeito, enquanto de pé, recostado à mesa... Entrei na conversa.
- Pois é André! Podemos dizer que a Vasti foi uma mulher muito linda, mas, ao mesmo tempo, inteligente e confiante. Para ela estava claro que sua decisão colocava sua vida sobre o “fio da navalha”, mas e daí? Ela não precisava manter a sua posição social a qualquer custo. Era melhor ser colocada de lado; ter que divorciar-se e ir para o exílio, do que abdicar da sua dignidade interior.
- Concordo contigo Renato...
- Continua Valmi...
- A Vasti foi uma grande mulher. E ela se mostrou grande porque permaneceu fiel aos seus valores, mesmo em meio à crise. Para ela, a beleza do seu caráter era mais importante do que a beleza do seu corpo e todos os confortos palacianos.
O assunto da autoestima tinha mexido conosco. Ela, a autoestima é fator fundamental nas nossas vidas. Tínhamos refletido ali na sacada daquele prédio azul com profundidade leiga, sim, mas e daí? Nós tínhamos refletido. Vi que a Carmem queria dizer algo e não errei.
- Penso que para nos mantermos fiéis a nós mesmos; para conservarmos os nossos bons princípios e para ouvirmos nossa voz interior nem sempre é muito fácil. Há ofertas extremamente tentadoras batendo toda hora às nossas portas. No final das contas, depois da luta é que vem a hora da satisfação. A felicidade só se alcança com auto-estima e boa consciência...
Neste momento estourou um rojão dos grandes na vizinhança. Levantamo-nos e misturamos nossos assuntos. Faltava sol na praia...
27.12.11
2012 - Um bom ano pra Paola!
Neste final de 2011, fui visitar meu cunhado em São Gabriel (RS). Gosto muito daquela região da fronteira e tenho admiração pelo sotaque que transparece nas vozes daquela gente gaúcha. Foi na tarde do dia 31 de dezembro que me sentei debaixo da bergamoteira, na companhia da minha sobrinha Paola.
- Tio! A mãe disse que o senhor é pastor e que pode me dar uma “mãozinha” sobre a “palavra da Bíblia” que a professora de religião pediu para interpretar...
- Legal Paola! E que palavra bíblica é esta?
- Aqui ó Tio... Está escrita em Filipenses 3.13-14. Já li umas seis vezes, mas não entendo muito não: “Uma coisa eu faço: esqueço aquilo que fica para trás e avanço para o que está na minha frente. Corro direto para a linha de chegada a fim de conseguir o prêmio da vitória. Esse prêmio é a nova vida para a qual Deus me chamou por meio de Cristo Jesus.”
- Hummm! Interessante...
Ali, bem à minha frente, estava uma menina com olhos negros, cheia de curiosidade e expectativa para ouvir explicações de um tio pastor em férias num recanto gaudério. Acomodei-me na cadeira preguiçosa, sorvi mais um gole do verde chimarrão e reli o texto de Paulo. Ela, a minha sobrinha, me olhava, esperando resultados...
- Vamos lá Paola... O Natal passou – certo?
- Certo tio!
- Agora há pouco vi tua mãe jogando os restos dos ramos de cipreste que formavam a coroa de advento que estava sobre a mesinha da sala de vocês no lixo – certo?
- Certo tio!
- Os presentes que você recebeu no dia 24 já perderam um pouco do encanto – certo?
- Os senhor está certo tio!
- Agora, reflete comigo. O novo ano de 2012 já começa hoje à meia-noite. Sabe Paola! Por um lado eu me sinto um pouco entristecido pelo fato de já ter passado mais um ano de vida. Por outro, me sinto animado em relação ao futuro que vem aí.
- É! Eu já notei que o senhor tem certa dificuldade de se desfazer daquilo que conquistou. Ouvi a tia dizendo pra minha mãe que o senhor sofre com mudanças; que é meio conservador.
- Você é uma menina perspicaz. Sim, é verdade. Gosto de segurar algumas das minhas conquistas. O problema é que a “roda do tempo” continua girando implacavelmente e, tanto eu como você, nós não temos a mínima chance de ficarmos parados.
- Minha professora falou que precisamos dar passos à frente; deixar coisas velhas para trás; articular novos começos.
- E ela está certa Paola. O problema de quase todas as pessoas é que elas gostariam muito de fazer as duas coisas: Abraçar-se ao que deu certo e não poupar esforços no sentido de continuar conquistando o que lhes agrada.
- Tio! Ainda não estou entendendo o texto de Filipenses 3.13-14...
- É verdade Paola. Ficamos filosofando e tudo continua um pouco obscuro... O Paulo escreve que “esquece aquilo que fica para trás e que avança para o que está à sua frente.” (Filipenses 3.13)
- Será que daria para se dizer que o apóstolo está se declarando uma pessoa aberta para novas idéias e, ao mesmo tempo, focado no seu objetivo?
- Muito bem Paola! Paulo deixa claro que o passado não é capaz de detê-lo. Essa palavra sempre me impressiona.
- Por quê tio?
- Porque nela Paulo mostra toda a força; toda a energia que ele aplica para enfrentar os fatos que ainda virão pela frente. Nada pode detê-lo no seu intento.
- Acho que entendi. Quando o apóstolo escreve que “esquece”, ele não está comunicando o “esquecimento” dos fatos passados, mas deixando claro que estes fatos ocorridos não vão impedí-lo de continuar nos seus propósitos.
- Ótimo Paola. Paulo está abdicando dos acontecimentos passados e, ao mesmo tempo, avançando; investindo todas as suas forças e energias naquilo que, para ele, vale a pena.
- Tenho a impressão que o apóstolo esteja se mostrando um tanto ansioso para “mergulhar de cabeça” no novo projeto que tem pela frente.
- Isso! Isso Paola... Tua conclusão se mostra correta na leitura de Paulo: “Corro direto para a linha de chegada a fim de conseguir o prêmio da vitória.” Explique assim o texto na aula de Religião e vais te dar bem - odes ter certeza.
- Mas ainda falta alguma coisa tio...
- Você ainda pode colocar uma “cereja no bolo”.
- Como assim?
- Desafia tua professora e teus colegas a se perguntarem: Como é que isso é comigo? Onde é que eu me seguro para sobreviver no dia-a-dia? Quais são os meus objetivos? Eles perderão sua validade em um, dois ou 10 anos? Persigo um objetivo que valha a pena ser perseguido?
- Nossa tio... Deixa eu anotar isso...
- Sabe Paola. O Paulo sempre foi um sujeito que perseguiu “o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3.14 b). Ou seja, ele sempre foi em busca da vida eterna que Deus reservou para ele. Esse sempre foi o seu foco de vida. Para ele, os outros objetivos se mostravam pequenos, quase inúteis. Paulo queria viver ao lado de Deus, o resto era história.
- Tio! Também tenho vontade de fazer isso: viver minha vida com Deus e gastar meu tempo; minha energia para alcançar este “prêmio”. É sério... Eu gostaria de investir tudo de mim para alcançar este objetivo. Como eu faço?
Eu estava estupefato. Ali, diante de mim, estava uma menina de 13 anos de idade, inteligente como ela só. Por um momento imaginei-a teóloga, atuando numa das Comunidades da IECLB como missionária; como catequista; como diácona ou como pastora. Neste instante nosso diálogo foi quebrado pela sua mãe, minha comadre que, mesmo simpática, acabou quebrando nosso diálogo.
- Paola! O tio está de férias. Vá terminar as tuas tarefas.
- Vá Paola! Continuamos a nossa conversa amanhã...
26.12.11
Consegue um quarto pra gente?
Quando José bateu à porta da estalagem em buscfa de abrigo para ele e sua Maria, o dono da mesma deve ter pensado: - “Esta mulher está para dar a luz e eu detesto gritaria de mulher no meu albergue. O que é que eu vou fazer? Não sou uma pessoa sem sentimentos, por isso vou abrir uma excessão. Sim, vou permitir que esse casal passe a noite na estrebaria. Lá eles terão a companhia de burros e camelos, mas em contrapartida a palha é quentinha. É isso daí!”
Assim, Maria e José não tiveram outra escolha, senão acomodar-se naquele espaço insalubre. Logo depois que a criança nasceu, puseram-na dentro de um cocho (mangedoura) para não ser pisoteada pelos animais.
Passaram-se os anos e Jesus ficou conhecido em toda a Palestina. O tal dono daquela estalagem deve ter se atormentado com acusações do tipo: - “Meus canecos! Por que é que naquela noite eu não liberei um bom quarto para aquele casal? Se eu tivesse tomado essa decisão, certamente o nascimento do Filho de Deus teria sido mais tranquilo...”
O fato é que o proprietário teve as suas razões para decidir daquele jeito. Agora, será que isso também não acontece conosco? Ando por aí e percebe que muitos se desculpam por não terem tempo para Jesus; por não darem espaço para o Filho de Deus em suas vidas.
O dono da estalagem perdeu boa oportunidade de promover um bom lugar a Jesus Cristo no seu pequeno hotel. Ora, O Salvador veio ao mundo com o objetivo de encontrar lugar em nossas vidas para nos oferecer paz. Ele não veio ao mundo porque os filhos de Deus eram queridos, mas porque Deus nos ama.
24.12.11
Quero asas em 2012!
Falar de cura e de salvação é referir-se a Jesus Cristo. Lembram do Bartimeu - o cego de nascença que foi curado por Jesus? Como ele, somos “pessoas cegas” quando estamos no escuro; quando não vemos mais saída; quando só nos envolvemos com nossos próprios problemas; quando só permitimos espaço ao passado em nós; quando não damos mais importância ao dia de hoje.
Importa “ver a vida” com outros olhos. Não penso em sanar deficiências visuais, mas em oportunizar boa reocupação às pessoas que estão à margem; promover perspectivas para quem vive tateando em lúgubres buracos de depressão. Sim! Estou apontando para um novo caminho; para uma nova rota que fica evidenciada na afirmação que se faz sobre Bartimeu: - “Ele seguiu Jesus”!
Jesus entende a cura como um caminho que leva à re-orientação. Essa cura não é fácil quando se faz da doença um vício. Muitas gentes optam por carregar doenças em suas vidas porque veem as mesmas como um “peso” mais leve do que a própria existência. Aqui, o novo caminho para a cura física e psicológica passa por uma decisão: - Chega! Vou mudar!
Li sobre uma jovem que sofreu um grave acidente, logo após a sua formatura em Medicina. Paraplégica, escreveu um livro intitulado: A dádiva da dor. Ela conta que pediu “pés” a Deus e que Este lhe deu “asas”. Asas que lhe promoveram maior aptidão para compreender e se envolver com seus pacientes leprosos.
19.12.11
16.12.11
Fome Saciada - 1 Reis 17.4 e 6!
Deus cuida de nós, mesmo quando não estamos contando com o Seu cuidado. Às vezes, Ele permite que passemos por situações difíceis. Quem já não passou por momentos complicados? No final das contas, certamente poderemos computar as dificuldades sofridas como boa escola onde muito aprendemos. Em 1 Reis 17.4 e 6 está escrito: - “Eu mandei que os corvos levem comida para você, Elias. E eles, os corvos, trouxeram, todas as manhãs e todas as tardes, pão e carne para você.”
A Bíblia dá atenção à animais. Se na Palavra de Deus os mesmos são pintados como queridos e ou assustadores – isso não vem ao caso. O que sempre importa é o valor simbólico da participação dos mesmos...
No texto em questão não são os corvos que ocupam o lugar central da história, mas o profeta Elias. Aqueles tempos eram difíceis para o povo de Israel. O rei Acabe tinha acabado de implantar, com “mão de ferro”, a idolatria no seu reino e, agora, estava forçando o povo a praticá-la. A vida estava simplesmente insustentável. Quase não havia perspectivas e o pior de tudo é que Jesabel, a rainha com a qual ele acabara de se casar, era muito dominadora; tinha sede de poder impressionante. Foi para dentro deste difícil contexto que Deus chamou o profeta. Deus o comissionou para anunciar ao rei Acabe que, doravante, não cairia mais nenhuma gota de chuva; não se formaria mais nenhuma gota de orvalho nas terras por ele governadas.
Elias deveria levar a sério o mandado de Deus. Ir viver contextualizadamente naquele inferno de seca e de necessidades. No verso 3 se lê a ordem de Deus: “Saia daqui, vá para o leste e esconda-se perto do riacho de Querite, a leste do rio Jordão.” Sim, Elias foi alimentado por corvos durante todo o tempo em que passou ali naquele lugar. Esquisito isso, não é? Será que, quando em dificuldades, também poderemos ser alimentados por corvos? Nossa cultura vê os corvos como aves imundas. Para nós é difícil pensar numa situação como a retratada na Bíblia, mas foi isso que aconteceu: Na história bíblica Deus mandou corvos levarem pão e carne ao profeta Elias. Por que Deus pediu ajuda justamente aos corvos? Ora, isto não vem ao caso. O que importa é que Deus matou a fome do seu servo Elias.
Livremo-nos desta imagem dos corvos tratando Elias com pão e com carne. Há momentos em que a Palavra de Deus se mostra como um pão duro, difícil de ser mastigado, indigesto até. Mas dura ou não, é a Palavra de Deus – sim senhor! Para Elias, os corvos pareciam não ser obstáculo para que ele aceitasse aquele alimento. Em Jeremias 15.16 lemos o profeta dizendo: “Comi as Tuas palavras. Elas encheram o meu coração de alegria e de felicidade.” Isso acontece tanto em tempos bons quanto em tempos difíceis. Na história, Elias ainda precisará mergulhar mais na pobreza e na privação, mas no final da mesma quem lhe trará pão será um anjo. Porque Deus cuidou dele, ele pode seguir sua jornada até o fim. Acontece o mesmo conosco...
15.12.11
Maria - Teste de gravidez positivo!
A pintura é inusitada. Nela percebemos que Maria leva um grande susto. Susto que pode ser percebido nas feições do seu rosto. Notem que na mão direita ela segura o “teste de gravidez positivo”. Com o choque, ela leva a mão esquerda à boca. Eis aí uma pintura da “Virgem Maria” como nunca vimos antes.
O pintor “batizou” este quadro de “Maria está viva e bem”. O cartaz foi pendurado numa das paredes da Paróquia São Mateus da Nova Zelândia.
Para Maria, a descoberta da sua gravidez é um choque porque é mulher jovem; pobre e solteira – argumentam as lideranças da Igreja. Ela certamente não foi a primeira nem a última mulher a experimentar esta situação.
Com a exposição deste quadro os cristãos neozelandeses tiveram a intenção de fazer frente ao “sentimentalismo banal” que sempre de novo se mostra nos tempos de Natal. Mais do que isso: A Igreja quer estimular a reflexão e a discussão sobre este assunto no seio da Comunidade.
13.12.11
Deus e Jesus estão aqui - 2 Samuel 7.1-16!
Eu vou pregar assim no próximo domingo. Vou pedir que pessoas se levantem na hora da prédica e façam perguntas; questões que vou responder do púlpito. De repente ajuda na reflexão destes tempos de Advento. Abraços!
Adamastor: Ô pastor! Vi nas Senhas Diárias que hoje a sua prédica vai se alicerçar sobre o texto de 2 Samuel 7.1-16... Nós já lemos o texto que fala do rei Davi e do profeta Natã. Sabe pastor, li que este rei foi muito competente, também em termos militares; que ele conseguiu unir todas as Doze Tribos de Israel num só Reino; que ele resgatou a “Arca da Aliança” de mãos inimigas para, logo depois, guardá-la com toda segurança em Jerusalém. É isso mesmo?!
Pastor: Muito boa sua leitura Adamastor. Sim, Davi foi um grande rei. A maioria dos Salmos o exalta como tal. O Antigo Testamento também testemunha que Davi tinha talento de sobra para a música. Só uma coisa lhe faltava para estabilizar o seu reino... Como você bem disse, Davi centralizou o poder em torno de si; do palácio seguro onde morava. Agora ele queria edificar um grande “santuário” com o objetivo de proteger a tal “Arca” da qual você falou há pouco. Mais do que isso, Davi tinha a intenção de concentrar a fé das pessoas que compunham o seu o Império, naquele referido “santuário”. Tudo estava se encaminhando para isso até que, de repente, o profeta Natã fez uma visita a Davi. O pessoal do “Acolhimento” passou para as mãos de vocês o texto bíblico de 2 Samuel 7.1-16, que vocês já devem ter lido...
Godofredo: Li o texto pastor! Entendi que Deus não quer um templo para Si. Que o “negócio” de Deus não é se “encastelar” num determinado lugar; numa determinada região; numa cultura pré-estabelecida... Fiz a leitura correta desta Palavra?
Pastor: Corretíssima Godofredo! Deus não simpatiza com afirmações do tipo: - “Olhem! Ele está aqui” ou “Prestem atenção! Ele não está ali!” Deus sempre se mostrou ao Seu povo como um Deus que conduz pelo meio do deserto; como um Deus que está desinstalado; como um Deus que é intinerante; como um Deus que prefere a instabilidade da barraca;como um Deus que não quer ser adorado num santuário; como um Deus que não quer ser acomodado num templo. Godofredo e Adamastor: Deus sempre se mostra mais preocupado em promover vida abundante às pessoas que vivem no mundo, do que se concentrar em lugares específicos.
Bernardino: Estava aqui ouvindo a conversa de vocês e decidi contribuir com a discussão: - Concordo com o senhor, pastor! No passado Deus conduziu o Seu povo da escravidão para a liberdade; deu-lhe os Mandamentos para ajudar na sua organização familiar e política porque sempre detestou a desordem e o caos...
Pastor: Excelente Bernardino! É exatamente por isso que Deus rejeita o “santuário” planejado por Davi. O sucessor de Davi, o Filho de Deus, é quem haveria de edificar este “Templo de Adoração”. Vocês estão percebendo a diferença entre a idéia de Davi e a idéia de Deus? O “Templo de Deus” deverá ser construído a partir do Nome de Deus. Este “Santuário” não deverá ser construído para Deus! Guardem isso Bernardino, Godofredo e Adamastor: Deus não se deixa domesticar. Ele sempre se faz presente lá o Seu Nome é pronunciado.
Edeltraud: Entendi pastor! É por isso que sempre iniciamos o Culto “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Estas palavras nos deixam claro que “Deus está no meio de nós”.
Pastor: Grande Edeltraud! É em Nome de Deus que batizamos crianças e que nos compromissamos no sentido de acompanhá-las na sua caminhada cristã. No momento do Batismo, quando mencionamos o nome de Deus, as crianças batizadas se convertem em filhas e filhos de Deus. Maquele momento o Nome de Deus é santificado - como testemunham os Mandamentos – porque Deus está no meio de nós, não porque estamos em um “santuário” ou porque participamos de uma Igreja. Deus está conosco porque invocamos o Seu Nome e nos reunimos em torno Dele; porque ouvimos a Sua Palavra; porque dirigimos as nossas orações a Ele; porque nos deixamos renovar por Ele. Jesus Cristo disse que Ele e Deus estão ali onde “dois ou três estiverem reunidos em Seu Nome”. Para nós, cristãos, está claro que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Aquele que veio fazer do Nome de Deus um “Templo de Adoração”. O Reino de Jesus Cristo é de eternidade a eternidade, tal como o profeta Natã prometeu.
Ana Rita: Puxa pastor. Nunca aprendi tanto como hoje. Quer dizer que Jesus imita o Seu Pai quando não se permite o aprisionamento; quando se faz presente no pão e no vinho; quando se coloca ao nosso lado no dia-a-dia.
Pastor: Você Ana Rita, como os outros que usaram a palavra aqui neste lugar, me anima por causa do seu raciocínio claro. Sim, se Jesus não estivesse presente aqui e agora, a nossa fé não teria sentido. Jesus Cristo caminha de forma contextualizada conosco, no nosso tempo e se mostra interessado em cada uma, em cada um de nós. Ele se autodenomina “Templo Sagrado”. Templo “que será demolido e reconstruído depois de três dias”. Para Jesus também não é importante que Deus habite num lugar particularmente sagrado. Para Ele importa, isto sim, que Deus esteja conosco. Quando celebramos a Santa Ceia em nome de Jesus, como vamos celebrar daqui a pouco, então poderemos “saborear” a Sua presença como só a cristandade pode fazê-lo.
Arquimedes: Deduzi deste diálogo que Deus se permitiu a pregação na cruz para estar presente conosco na Santa Ceia, onde temos o privilégio de participarmos do Seu Corpo Vivo. Que coisa! Isso é um mistério da fé... Deus não se permite prender ou se deter num espaço “x” ou “y”, mas nós podemos incorporá-Lo em nós.
Pastor: Sim Arquimedes! Podemos incorporar Deus em nós, baseados na Sua Palavra que diz que “somos santos porque Ele é santo”. Onde Deus é chamado de Deus; onde orações e batismos são feitas em Seu Nome; onde se louva em Seu nome; onde a Santa Ceia é celebrada, ali está Deus. Nós temos esta promessa. Deus não está aqui porque construímos este templo há quarenta anos. Não! Este templo até pode nos ajudar a concentrarmo-nos Nele, nada mais. Deus está aqui porque nos ama. É como diz a canção: “Deus está presente, todos o adoremos, com respeito nos prostremos! Deus está conosco, tudo em nós se cale, Deus a nossas almas fale! Quem o ouvir ou sentir, baixe os olhos, crente! Vinde ao Pai clemente! Deus vem a nós no pequeno Menino Jesus.” Amém!
9.12.11
Jeremias - o entrevistado!
A nossa querida IECLB está fazendo deferência ao profeta Jeremias quando, na proposta de edificação da Igreja para o ano de 2012, nos desafia a trabalharmos o pequeno texto escrito em Jeremias 1.5a, onde se lê: “Antes que eu te formasse no ventre, te conheci.” Pois refleti e pesquisei sobre este profeta. Ói uma entrevista dele pra mim:
Entrevistador: Grande profeta Jeremias... Seja bem-vindo aqui na nossa Paróquia. Muitas pessoas se reportam ao senhor como sendo um masoquista. Há alguma razão para classificá-lo como masoquista?
Jeremias: De uma certa forma todos os profetas são masoquistas... É assim que as verdades inconvenientes que proclamamos ao mundo quase nunca trazem alegria a quem às ouve. Um teólogo do seu tempo escreveu que “aquele que ousa carregar a tocha da verdade não deve ser surpreendido com as fagulhas que possam vir a queimar suas barbas.” Hoje, tal como ontem, os profetas continuam sendo punidos com desprezo pelas pessoas. Na pior das hipóteses eles até são apedrejados. A vida é assim.
Entrevistador: Convenhamos! Este parece ter sido o seu caso. O senhor precisou se esconder durante anos por cusa das verdades que trouxe à luz.
Jeremias: É! Às vezes o preço que se paga por se ser profeta é altíssimo. O fato é que Deus não me prometeu um “jardim de rosas” quando me comissionou para pregar a Sua mensagem.
Entrevistador: Andei pesquisando um pouco sobre sua vida. O senhor tinha apenas 13 anos de idade quando foi chamado por Deus para ser profeta... Estou certo?
Jeremias: Sim, você está certo! Eu mesmo me sentia muito jovem naquela época. Minha vida era normal e eu me imaginava viver a mesma sem muitos percalços. A verdade é que o Plano de Deus foi diferente para mim do que para os outros da minha geração.
Entrevistador: O senhor poderia ter se poupado de muitos problemas e tristezas. Num dado momento o senhor optou em carregar uma canga pesada sobre os ombros. Reza a História que naqueles tempos o senhor sofria de uma terrível depressão que o corroía por dentro.
Jeremias: Sim, sim, eu poderia... Claro que a minha vida nunca foi um piquenique, mas mesmo assim posso dizer que experimentei felicidade. O meu sofrimento sempre teve um sentido. Nunca guardei segredo da verdade. Sempre expressei minha opinião de forma muito clara e transparente. Se eu quisesse me livrar da dor, então teria que ter me curvado diante dos poderosos da minha época. A questão é que se eu tivesse feito isso, então eu teria me sentido o mais infeliz de todos os homens.
Entrevistador: Até aí eu consigo acompanhar o seu raciocínio. Agora, o que eu não consigo compreender direito é o por quê dos políticos e conterrâneos de sua época o terem perseguido tanto; porque é que eles lhe dificultaram tanto a vida? Ele machucaram o senhor e, como se isso não bastasse, até pediram a Deus que Ele mesmo o castigasse. Inconcebível isso! Logo com o senhor que se entendia como um Parceiro de Deus!
Jeremias: Tudo bem, mas eu também tinha as minhas manias e, às vezes, também devo ter incomodado a Deus...
Entrevistador: Incomodado a Deus? Ora, ora! O senhor era o Porta-voz de Deus! Sem o senhor Deus não poderia ter dialogado com o povo! Em vez de pedir que Deus lhe agradecesse, o senhor pediu que Ele “lhe corrigisse”! Explique melhor essa sua atitude.
Jeremias: É verdade, mas continue refletindo comigo... Eu disse: “Puna-me com moderação e não faça cair a Sua ira sobre mim a ponto de me destruir completamente”. Eu entendo que nós, você eu, tenhamos “idéias diferentes” a respeito de “disciplina”. Você provavelmente está pensando em flagelação ou algo parecido. Eu não quis isso para mim. Às vezes eu apenas me preocupava com o fato de que eu poderia ultrapassar o alvo que Deus queria alcançar. Eu tinha receio de pregar sobre as verdades desconfortáveis de Deus e, na pregação, torná-las maiores do que elas de fato eram. O pior pecado que um profeta pode cometer é ser presunçoso. Para mim o profeta presunçoso é aquele não consegue mais distinguir se a sua palavra vem de Deus ou de si mesmo.
Entrevistador: Entendo...
Jeremias: Foi para evitar este perigo que pedi a Deus que “me corrigisse”. Eu não queria ser um daqueles profetas “sabichões” que, naqueles tempos, pululavam à nossa volta. Dizia-se deles que eram nacionalistas; que eram pagos para falar o que falavam. A gente não se sentia seguro se as suas falas eram de Deus ou se provinham deles mesmos.
Entrevistador: Sei!... Esse tipo de profetas também existe no nosso meio, aqui no século 21. Eles sempre sabem exatamente a vontade de Deus e nunca se mostram dispostos a serem questionados.
Jeremias: Observe que, mesmo para estes profetas “nacionalistas”, eu desejo algum tipo de “correção”. Não que eles sofram de dor, mas que eles possam recuperar o que distingue os falsos dos verdadeiros profetas: a humildade.
Entrevistador: Obrigado pela entrevista Jeremias...
Advento - Da escuridão à luz!
Em 2 Crônicas 33.12-13 se lê: “No seu sofrimento Manassés orou com fervor ao SENHOR, seu Deus; cheio de humildade, ele se arrependeu diante do Deus dos seus antepassados. Deus ouviu a sua oração e atendeu o seu pedido, deixando que ele voltasse para Jerusalém e fosse rei de novo. Aí Manassés declarou que o SENHOR é Deus.”
As noites começam a ser mais quentes, agora, em dezembro de 2011. Neste período do ano, já se pode ficar sentado ao ar livre, curtindo o silêncio das altas horas. Foi o que eu fiz um dia destes: sentei-me na área dos fundos da casa onde moro para ainda “curtir” o tempo de Advento. De repente, um barulho estranho me chamou atenção. Um inseto batia suas asas com extrema força no vidro do abajur que estava sobre a mesinha de centro. O problema dele era o vidro denso; aquele tapume fortíssimo que “matava” seu desejo de se chegar à luz; que lhe tirava a liberdade de se chegar mais perto da luz. Pensei em ajudar aquele inseto, encaminhando-o pelo grande espaço aberto na parte alta e na parte baixa do abajur. Por que é que aquele inseto insistia em se aproximar da luz através do caminho impossível pois, como eu já explicitei, havia uma abertura em cima e outra embaixo para ele acessar a lâmpada que iluminava meu ócio. O problema é que a claridade o enganava. As laterais do abajur precisariam escurecer para que aquele inseto compreendesse qual o caminho que deveria tomar.
Volto meu pensamento pro texto de 2 Crônicas e “mergulho na História de Israel. O rei Manassés foi um dos piores governantes da sua época. Quem não se encontrava próximo para deixar se deixar persuadir por suas palavras, era obrigado a crer nelas. O profeta Isaías e muitas outras pessoas passaram apertado com o jeito de governar desse rei. A vida de Manassés mudou somente no dia em que ele foi levado cativo pelos assírios; quando ele precisou amargar bom tempo numa prisão babilônica. Ali, no silêncio; no ócio; na solidão; na amargura foi que ele, o grande Manassés, entendeu que “Deus é Senhor”. (v. 13)
Porque é que isso sempre precisa ser assim? Porque é que, primeiro, nós quase sempre precisamos passar apertos, para só então percebermos o caminho certo a ser tomado? Será que nós também precisamos passar pela experiência do rei Manassés? Ele, durante anos, passava batido pelo conselho de Deus, mesmo que Deus o quisesse trazer de volta ao caminho certo.
Volto meu olhar pro inseto que continua a lutar com o vidro do abajur. Ele está exausto. Mesmo assim ele insiste em perfurar o vidro opaco. Daí então eu pequei uma toalha que estava pendurada no varal e enrolei o vidro do abajur. Naquele momento a luz brilhou tanto na parte baixa como na parte alta do abajur que a indicação do bom caminho ficou explícita. A luz que antes brilhava sem muita intensidade, estava apagada. O inseto entendeu as diferenças do contexto e, mais rápido do que eu imaginei, se achegou pertinho da luz pelo caminho de cima. Por que é que o tal inseto só tomou aquela decisão libertadora naquele momento? Será que a luz opaca lhe prometia mais liberdade?
Fiquei com a impressão de que o mesmo acontece conosco. Nós nos deixamos enganar por certas luzes que, na realidade, não nos oferecem boa claridade. Jesus Cristo disse que “Ele era a luz do mundo e que quem o seguisse não andaria nas trevas, mas teria a luz da vida.” (João 8.12) O que estamos esperando? Agora, eis a oportunidade de confiarmos em Jesus; de optarmos pela verdadeira luz. Nomino A vela de “verdadeira luz”!
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